AS PRAÇAS E A QUALIDADE DA VIDA E DO BEM-ESTAR NAS CIDADES (1)
“Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...
Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva...
Se a chuva cair
Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar...
Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto
Esse canto de amor
Oh! oh! oh...
Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo
Se você vier
Pro que der e vier
Comigo...
Eu lhe prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva...
Se a chuva cair
Se você vier
Até onde a gente chegar
Numa praça
Na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar...
E nesse dia branco
Se branco ele for
Esse canto
Esse tão grande amor
Grande amor...
Se você quiser e vier
Pro que der e vier
Comigo
Comigo, comigo”
(Geraldo Azevedo e Renato Rocha – “Dia Branco”)
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA Blog http://www.viverascidades.blogspot.com
“Se você vier/Pro que der e vier/Comigo.../Eu lhe prometo o sol/Se hoje o sol sair/Ou a chuva.../Se a chuva cair/Se você vier
Até onde a gente chegar/Numa praça/Na beira do mar/Num pedaço de qualquer lugar... “ (Geraldo Azevedo e Renato Rocha – “Dia Branco”).
Estes, na minha opinião, são dos versos mais românticos da Música Popular Brasileira. É o amor cortês verdeamarelizado. Alguém convida a(o) amada(o); e se ela(e) vier (dom) – não de jeito simples e seremo, “mas pro que der e vier” - o(a) outro(a) promete o sol e, se não houver sol, a chuva(contra dom).
Quem chega a prometer à pessoa amada o sol ou a chuva promete oferecer “simplesmente” o dia – dia branco - como dádiva.
O que tiver que ser dado (comparecimento, presença, “pro que der e vier”) e contra dado (todo o dia de um dia todo), terá apenas como limite “até onde a gente chegar”. Coragem e determinação, esse clima não poderá ‘rolar’, não poderá acontecer, num lugar qualquer … e sim no cenário de uma praça tendo o mar como pano de fundo. O que é “uma praça na beira do mar” senão “um pedaço de qualquer lugar” , diante da vastidão do mar e da infinitude do universo? “Esse tão grande amor”.
Ora pois pois, praças são pra essas coisas. Para acolher sentimentos de amor, conversas, pães e circos, paixão, protestos, ódios, louvações aos homens e aos deuses, celebrações festivas e funerárias. E, na China, para acolher o sono daquele(a)s que, com toda a cerimônia do sem cerimônia, simplesmente se deitam e dormem, em pleno dia branco, num banco de praça, sob os olhos orientais e indiferentes dos passantes.
Adjetivos são primos ricos de substantivos. Uma praça, mais que substantivo um adjetivo: Praça da Sé, senhora da ação e da contemplação, longe do mar, São Paulo – Brasil.
Mas, cidades molhadas pela água salgada, precisam construir praças na beira do mar para que também sejam senhoras da ação e da comtemplação. Ou seja, praças que disponibilizem, às pessoas de todas as idades, equipamentos de lazer ativo (aparelhos fixos de ginástica, pranchas para abdominais, argolas , módulos de parques infantis etc.) e lazer contemplativo (bancos com recosto ou não) que ajudem na visão livre do mar, o mais próximo possível dessa orgia dos sentidos que é o mar
Parodiando Vinicius de Moraes, a praça é a arte e o locus do encontro embora haja tantos desencontros pela cidade.
(COMTINUA AMANHÃ, SÁBADO, PRIMEIRO DE MAIO, DIA DO TRABALHADOR)
sexta-feira, 30 de abril de 2010
quinta-feira, 29 de abril de 2010
VIOLÊNCIA NAS CIDADES - TOQUE DE RECOLHER EM FEIRA DE SANTANA - BAHIA - BRASIL
VIOLÊNCIA NAS CIDADES - TOQUE DE RECOLHER EM FEIRA DE SANTANA - BAHIA - BRASIL
A partir de maio/2010, daremos início a uma série de postagens sobre a violência nas cidades (grandes, médias, pequenas).
Recebí do Prof. Felipe Freitas (Universidade Estadual de Feira de Santana) material informativo sobre um projeto, originário de vereador da Câmara de Feira de Santana, que propõe de Toque que ele chama de "Acolher" dirigido a crianças e adolescentes de Feira de Santana.
Aí vai o material que informa e convoca para a reação contrária ao projeto:
“Toque de Acolher” será discutido na sexta-feira (30)
A audiência pública foi solicitada pela comissão de Meio Ambiente, Direitos Humanos e Defesa do Consumidor.
Discutir e avaliar os impactos sociais do projeto intitulado “Toque de Acolher”, do vereador Luiz Augusto de Jesus (DEM), é o principal objetivo da audiência pública que será realizada nesta sexta-feira (30), às 9:00h, na Câmara Municipal de Feira de Santana.
O projeto do vereador Lulinha prevê o recolhimento de crianças e adolescentes das ruas a partir das 20h30 (até 12 anos) e a partir das 23 horas (dos 12 aos 17 anos) até as 5 horas, que estejam sem a companhia dos pais ou responsáveis. Os pais que descumprirem a lei serão advertidos em um primeiro momento e em caso de reincidência serão penalizados com multas que variam de um a dez salários mínimos.
Solicitada pela comissão de Meio Ambiente, Direitos Humanos e Defesa do Consumidor, presidida pelo vereador Angelo Almeida (PT), a audiência vai reunir palestrantes de diversos segmentos da sociedade organizada e poderes públicos. Sendo eles: o estudante da UEFS e presidente do Conselho Estadual de Juventude da Bahia (CEJUVE-BA), Felipe da Silva Freitas; o coordenador do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente, Normando Batista; o presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, Pablo Roberto Gonçalves da Silva; o presidente da Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas, Bruno Ribeiro e o coordenador do Centro Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescentes, Waldemar Oliveira.
Na UEFS,(Universidade Estadual de Feira de Santana) o Conselho de Entidades de Base, formado pelos Diretórios Acadêmicos e o Diretório Central de Estudantes, estão mobilizados para ampliar a discussão do projeto e envolver organizações, especialistas e demais interessados da comunidade local.
Segundo Thays Carvalho, membro do Diretório Acadêmico de Direito e integrante do CEB, “O tema é polêmico e a tarefa do movimento estudantil é colaborar com a discussão no sentido de construir políticas estruturantes para as crianças e jovens.”
Além do movimento estudantil, professores ligados ao Grupo de Pesquisa em Criminologia e ao Colegiado de Direito têm motivado o debate sobre o tema e alertado sobre os perigos de uma discussão dessa natureza sem a participação da comunidade. “É um absurdo que os verdadeiros interessados com a medida não sejam ouvidos. É preciso incluir os sujeitos sociais nesta tomada de posição” afirma Marília Lomanto Veloso, coordenadora do Curso de Direito e doutora em direito penal.
PORQUE SOMOS CONTRA O TOQUE DE “ACOLHER”?
1 – Porque fere o direito de ir e vir das crianças e adolescentes, é INCONSTITUCIONAL
Conforme parecer do CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), a limitação de horários ao trânsito de crianças e adolescentes pela cidade fere o art. 5º, inciso XV da Constituição Federal e art. 16º, inciso I do Estatuto da Criança e dos Adolescentes (direito de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários). O Toque de “Acolher” impede que meninos e meninas estejam nos espaços públicos destinados à convivência e livre circulação criando limites às liberdades desses adolescentes com base numa presunção de que a simples permanência na rua fora de determinado horário supõe uma justificativa a limitação da liberdade.
2 – Porque não reduz a violência
Apesar do que afirmam os defensores do toque de “acolher” não há qualquer pesquisa que aponte a redução da violência a partir da adoção da medida. As “pesquisas” apontadas dizem respeito aos registros policiais que não podem ser indicados como índices de aumento ou redução da violência juvenil. A aparente redução da violência é apenas a redução do número de registros policiais, inclusive porque com o projeto o registro passa a ser administrativo no âmbito do Conselho Tutelar não havendo, portanto, nenhum estudo consistente que sustente a fala dos que dizem que o toque de “acolher” reduz a violência.
3 – Porque resulta em criminalização de meninas e meninos negros e pobres
O toque de “acolher” resultará em mais violência contra os negros e pobres, vítimas do racismo e da discriminação, que serão potencialmente indicados como perigosos e expostos ao discurso da “situação de risco”, através das lamentáveis políticas de recolhimento que, como ressalta o CONANDA, lembram as tristes carrocinhas de menores.
Por meio do argumento de que estão “protegendo” os adolescentes essa iniciativa busca, na verdade, completar o vício escravista de setores da sociedade brasileira que apenas apreenderá meninas e meninos pretos e pobres expondo-os através dessas medidas a um perverso ciclo de violações que terá como grande propósito estigmatizá-lo como criminosos.
4 – Porque o ECA já prevê as formas de atendimento a crianças em situação de risco e/ou de abandono seja durante o dia ou durante a noite
Do art. 98 ao 101 do ECA estão previstas as chamadas, medidas de proteção que devem ser acionadas sempre que, de dia ou de noite, uma criança ou adolescente esteja sendo ameaçada em seus direitos por ação ou omissão do Estado, pais ou responsáveis ou mesmo em razão da própria conduta da criança. Ou seja, já existe lei referente aos casos de crianças em situação de abandono ou ameaça a direitos.
Desta forma, não há sentido privar a liberdade dessas crianças quando o próprio Estatuto já indica o que fazer do ponto de vista pedagógico, psicológico e social sendo descabido falar em lei que busque a privação de liberdade (ainda que temporária) dessas crianças e adolescentes.
5 – Porque o papel da polícia e dos Conselhos Tutelares é educar crianças e adolescentes e garantir os seus direitos não colocá-los em situação de perigo e privação de liberdade
A Constituição Federal veta a penalização de menores de 18 anos todo país. Deste modo, as medidas adotadas em relação a crianças e adolescentes são medidas sócio-educativas, com o objetivo de produzir inclusão social reconhecendo os princípios da proteção integral desses meninos e meninas bem como a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Deste modo, a utilização da polícia, dos Conselheiros Tutelares ou dos Comissários do Juizado da Infância e da Adolescência na tarefa de punirem as crianças e adolescentes que eventualmente estejam na rua fora do horário previsto é inconstitucional por inúmeros motivos.
Além de confrontar com o art. 228 da CF, pois verdadeiramente se constitui na criação de uma “pena” para esses meninos, representa ainda um desvio de função posto que Conselheiros Tutelares e Policiais (civis ou militares) devem é zelar pela integridade e pela garantia dos direitos de crianças e adolescentes e não tirar-lhes a liberdade sob a anuência do Estado.
6 – Porque interfere no direito da família a decidir sobre a educação dos filhos
Assim como prevê o art. 100, X, do ECA, é da família a prioridade na promoção dos direitos e na proteção dos filhos, sendo ilegal uma interferência tão grande como a que propõe o toque de “acolher”.
Ao estabelecer limites para os horários de chegada e saída das crianças e adolescentes de casa o Estado está interferindo na forma com que pais e filhos se relacionam e que constroem os seus limites. Não pode o poder público determinar qual a modalidade que os pais adotarão para educação dos seus filhos só podendo o estado intervir nessa relação quando houve uma evidente ameaça a direitos dessa criança. Ora, ir, vir e permanecer em espaço público não é ameaça a qualquer direito de crianças e adolescentes, pelo contrário é o próprio exercício do direito de locomoção que passa a ser cerceado pelo Estado que tem o dever de garanti-lo
Na hipótese em que a criança ou adolescente esteja em situação de abandono (durante o dia ou a noite) as medidas a serem adotadas são as previstas no ECA como medidas de proteção não sendo cabível falar em privação de liberdade por conta desta condição de abandono.
7 – Porque fere a convivência entre crianças e adolescentes e cria clima de terror no meio da sociedade
A interação social, a utilização do espaço público e a convivência comunitária são fundamentais para a garantia do pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes. O toque de “acolher” vai de encontro a essa orientação criando um clima de terror entre os próprios adolescentes e em toda a sociedade disseminando o medo e impedindo a saudável prática da convivência social e da exploração criativa e solidária do espaço público.
As brincadeiras nas ruas, as amizades, o namoro, as práticas esportivas, e mesmo o estudo noturno tudo é ameaçado posto que com a adoção da medida cria-se um clima de terror em que todo o jovem (mesmo os que forem maiores de 18 anos) passa a ser visto como um suspeito em potencial quando sai de casa a partir de determinado horário da noite.
8 – Porque cria estereótipos e aumenta a violência institucional
Esse clima do toque de “acolher”, além de ilegal, resulta em terror social que autoriza implicitamente as autoridades policiais e demais agentes da repressão formal do estado a agirem violentamente sob o argumento que estão a cumprir determinação legal.
Relatos dão conta que, em cidades que por meio de portaria judicial adotaram o sistema, as crianças e adolescentes sentem verdadeiro pavor sempre que um conselheiro tutelar ou viatura policial passam por perto deles, posto que, a conseqüência dessas medidas é espalhar o medo e disseminar um discurso estigmatizador que resulta em mais violência institucional e em risco para a própria integridade desses jovens.
9 – Porque confunde proteção integral com repressão penal o que conflita com o Estatuto da Criança e do Adolescente
O que prevê o ECA é que toda criança e adolescente é um sujeito de direito, portador de uma absoluta prioridade no atendimento do Estado, da família e da sociedade e que deve portanto ser protegido por meio de um forte aparato estatal e social capaz de ampará-lo e promover seu desenvolvimento.
Pelo contrário, o toque de “acolher” consiste em uma punição dos que estiverem nas ruas fora do horário determinado e não na garantia da segurança dos jovens como é necessário segundo o ECA, através de medida de proteção (quando trata-se de caso de abandono) ou de medida socioeducativa (em caso de ato infracional) tudo conforme a atual determinação legal. Não há nada de novo a ser proposto, apenas, que se cumpra aquilo que já diz a lei.
10 – Porque responsabiliza as crianças e adolescentes pela violência nas cidades
Por fim, o projeto responsabiliza os adolescentes e crianças pelo aumento da violência na sociedade. Contudo, todas as pesquisas apontam que não são os adolescentes os maiores responsáveis pelo avanço da violência nas cidades, mas, pelo contrário que eles são em verdade as grandes vítimas de todo esse processo e que é a não garantia dos direitos que marca a vida da maioria daqueles que praticam atos infracionais.
Por cidadania e participação!
NÃO AO TOQUE DE “ACOLHER”.
Feira de Santana – BA, abril de 2010.
Assembléia Popular; Campanha Nacional contra a Violência e o Extermínio de Jovens; Conselho de Entidades de Base – UEFS (Diretórios Acadêmicos e Diretório Central dos Estudantes); Consulta Popular; Grupo Direito em Questão – Direito / UEFS; Movimento de Mulheres em Defesa da Cidadania (MONDEC); Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Movimento Negro Unificado (MNU); Núcleo de Estudantes Negras e Negros da UEFS e Pastoral da Juventude (PJ).
NÃO AO TOQUE DE “ACOLHER”!!! NÃO Á CRIMINALIZAÇÃO DA JUVENTUDE POBRE E NEGRA!
Calendário de Mobilização Contra Toque de "Acolher" em Feira de Santana
28/04 – Reunião de Organização e Articulação
Local – Sindiquímica
Horário – 16h
29/04 – Ato Político durante a Sessão, Ato Político durante a Sessão Especial da Câmara Municipal
Local – Câmara Municipal
Horário – 19h
30/04 – Audiência Pública
Local – Câmara Municipal
Horário – 9 h
A partir de maio/2010, daremos início a uma série de postagens sobre a violência nas cidades (grandes, médias, pequenas).
Recebí do Prof. Felipe Freitas (Universidade Estadual de Feira de Santana) material informativo sobre um projeto, originário de vereador da Câmara de Feira de Santana, que propõe de Toque que ele chama de "Acolher" dirigido a crianças e adolescentes de Feira de Santana.
Aí vai o material que informa e convoca para a reação contrária ao projeto:
“Toque de Acolher” será discutido na sexta-feira (30)
A audiência pública foi solicitada pela comissão de Meio Ambiente, Direitos Humanos e Defesa do Consumidor.
Discutir e avaliar os impactos sociais do projeto intitulado “Toque de Acolher”, do vereador Luiz Augusto de Jesus (DEM), é o principal objetivo da audiência pública que será realizada nesta sexta-feira (30), às 9:00h, na Câmara Municipal de Feira de Santana.
O projeto do vereador Lulinha prevê o recolhimento de crianças e adolescentes das ruas a partir das 20h30 (até 12 anos) e a partir das 23 horas (dos 12 aos 17 anos) até as 5 horas, que estejam sem a companhia dos pais ou responsáveis. Os pais que descumprirem a lei serão advertidos em um primeiro momento e em caso de reincidência serão penalizados com multas que variam de um a dez salários mínimos.
Solicitada pela comissão de Meio Ambiente, Direitos Humanos e Defesa do Consumidor, presidida pelo vereador Angelo Almeida (PT), a audiência vai reunir palestrantes de diversos segmentos da sociedade organizada e poderes públicos. Sendo eles: o estudante da UEFS e presidente do Conselho Estadual de Juventude da Bahia (CEJUVE-BA), Felipe da Silva Freitas; o coordenador do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente, Normando Batista; o presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, Pablo Roberto Gonçalves da Silva; o presidente da Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas, Bruno Ribeiro e o coordenador do Centro Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescentes, Waldemar Oliveira.
Na UEFS,(Universidade Estadual de Feira de Santana) o Conselho de Entidades de Base, formado pelos Diretórios Acadêmicos e o Diretório Central de Estudantes, estão mobilizados para ampliar a discussão do projeto e envolver organizações, especialistas e demais interessados da comunidade local.
Segundo Thays Carvalho, membro do Diretório Acadêmico de Direito e integrante do CEB, “O tema é polêmico e a tarefa do movimento estudantil é colaborar com a discussão no sentido de construir políticas estruturantes para as crianças e jovens.”
Além do movimento estudantil, professores ligados ao Grupo de Pesquisa em Criminologia e ao Colegiado de Direito têm motivado o debate sobre o tema e alertado sobre os perigos de uma discussão dessa natureza sem a participação da comunidade. “É um absurdo que os verdadeiros interessados com a medida não sejam ouvidos. É preciso incluir os sujeitos sociais nesta tomada de posição” afirma Marília Lomanto Veloso, coordenadora do Curso de Direito e doutora em direito penal.
PORQUE SOMOS CONTRA O TOQUE DE “ACOLHER”?
1 – Porque fere o direito de ir e vir das crianças e adolescentes, é INCONSTITUCIONAL
Conforme parecer do CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), a limitação de horários ao trânsito de crianças e adolescentes pela cidade fere o art. 5º, inciso XV da Constituição Federal e art. 16º, inciso I do Estatuto da Criança e dos Adolescentes (direito de ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários). O Toque de “Acolher” impede que meninos e meninas estejam nos espaços públicos destinados à convivência e livre circulação criando limites às liberdades desses adolescentes com base numa presunção de que a simples permanência na rua fora de determinado horário supõe uma justificativa a limitação da liberdade.
2 – Porque não reduz a violência
Apesar do que afirmam os defensores do toque de “acolher” não há qualquer pesquisa que aponte a redução da violência a partir da adoção da medida. As “pesquisas” apontadas dizem respeito aos registros policiais que não podem ser indicados como índices de aumento ou redução da violência juvenil. A aparente redução da violência é apenas a redução do número de registros policiais, inclusive porque com o projeto o registro passa a ser administrativo no âmbito do Conselho Tutelar não havendo, portanto, nenhum estudo consistente que sustente a fala dos que dizem que o toque de “acolher” reduz a violência.
3 – Porque resulta em criminalização de meninas e meninos negros e pobres
O toque de “acolher” resultará em mais violência contra os negros e pobres, vítimas do racismo e da discriminação, que serão potencialmente indicados como perigosos e expostos ao discurso da “situação de risco”, através das lamentáveis políticas de recolhimento que, como ressalta o CONANDA, lembram as tristes carrocinhas de menores.
Por meio do argumento de que estão “protegendo” os adolescentes essa iniciativa busca, na verdade, completar o vício escravista de setores da sociedade brasileira que apenas apreenderá meninas e meninos pretos e pobres expondo-os através dessas medidas a um perverso ciclo de violações que terá como grande propósito estigmatizá-lo como criminosos.
4 – Porque o ECA já prevê as formas de atendimento a crianças em situação de risco e/ou de abandono seja durante o dia ou durante a noite
Do art. 98 ao 101 do ECA estão previstas as chamadas, medidas de proteção que devem ser acionadas sempre que, de dia ou de noite, uma criança ou adolescente esteja sendo ameaçada em seus direitos por ação ou omissão do Estado, pais ou responsáveis ou mesmo em razão da própria conduta da criança. Ou seja, já existe lei referente aos casos de crianças em situação de abandono ou ameaça a direitos.
Desta forma, não há sentido privar a liberdade dessas crianças quando o próprio Estatuto já indica o que fazer do ponto de vista pedagógico, psicológico e social sendo descabido falar em lei que busque a privação de liberdade (ainda que temporária) dessas crianças e adolescentes.
5 – Porque o papel da polícia e dos Conselhos Tutelares é educar crianças e adolescentes e garantir os seus direitos não colocá-los em situação de perigo e privação de liberdade
A Constituição Federal veta a penalização de menores de 18 anos todo país. Deste modo, as medidas adotadas em relação a crianças e adolescentes são medidas sócio-educativas, com o objetivo de produzir inclusão social reconhecendo os princípios da proteção integral desses meninos e meninas bem como a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Deste modo, a utilização da polícia, dos Conselheiros Tutelares ou dos Comissários do Juizado da Infância e da Adolescência na tarefa de punirem as crianças e adolescentes que eventualmente estejam na rua fora do horário previsto é inconstitucional por inúmeros motivos.
Além de confrontar com o art. 228 da CF, pois verdadeiramente se constitui na criação de uma “pena” para esses meninos, representa ainda um desvio de função posto que Conselheiros Tutelares e Policiais (civis ou militares) devem é zelar pela integridade e pela garantia dos direitos de crianças e adolescentes e não tirar-lhes a liberdade sob a anuência do Estado.
6 – Porque interfere no direito da família a decidir sobre a educação dos filhos
Assim como prevê o art. 100, X, do ECA, é da família a prioridade na promoção dos direitos e na proteção dos filhos, sendo ilegal uma interferência tão grande como a que propõe o toque de “acolher”.
Ao estabelecer limites para os horários de chegada e saída das crianças e adolescentes de casa o Estado está interferindo na forma com que pais e filhos se relacionam e que constroem os seus limites. Não pode o poder público determinar qual a modalidade que os pais adotarão para educação dos seus filhos só podendo o estado intervir nessa relação quando houve uma evidente ameaça a direitos dessa criança. Ora, ir, vir e permanecer em espaço público não é ameaça a qualquer direito de crianças e adolescentes, pelo contrário é o próprio exercício do direito de locomoção que passa a ser cerceado pelo Estado que tem o dever de garanti-lo
Na hipótese em que a criança ou adolescente esteja em situação de abandono (durante o dia ou a noite) as medidas a serem adotadas são as previstas no ECA como medidas de proteção não sendo cabível falar em privação de liberdade por conta desta condição de abandono.
7 – Porque fere a convivência entre crianças e adolescentes e cria clima de terror no meio da sociedade
A interação social, a utilização do espaço público e a convivência comunitária são fundamentais para a garantia do pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes. O toque de “acolher” vai de encontro a essa orientação criando um clima de terror entre os próprios adolescentes e em toda a sociedade disseminando o medo e impedindo a saudável prática da convivência social e da exploração criativa e solidária do espaço público.
As brincadeiras nas ruas, as amizades, o namoro, as práticas esportivas, e mesmo o estudo noturno tudo é ameaçado posto que com a adoção da medida cria-se um clima de terror em que todo o jovem (mesmo os que forem maiores de 18 anos) passa a ser visto como um suspeito em potencial quando sai de casa a partir de determinado horário da noite.
8 – Porque cria estereótipos e aumenta a violência institucional
Esse clima do toque de “acolher”, além de ilegal, resulta em terror social que autoriza implicitamente as autoridades policiais e demais agentes da repressão formal do estado a agirem violentamente sob o argumento que estão a cumprir determinação legal.
Relatos dão conta que, em cidades que por meio de portaria judicial adotaram o sistema, as crianças e adolescentes sentem verdadeiro pavor sempre que um conselheiro tutelar ou viatura policial passam por perto deles, posto que, a conseqüência dessas medidas é espalhar o medo e disseminar um discurso estigmatizador que resulta em mais violência institucional e em risco para a própria integridade desses jovens.
9 – Porque confunde proteção integral com repressão penal o que conflita com o Estatuto da Criança e do Adolescente
O que prevê o ECA é que toda criança e adolescente é um sujeito de direito, portador de uma absoluta prioridade no atendimento do Estado, da família e da sociedade e que deve portanto ser protegido por meio de um forte aparato estatal e social capaz de ampará-lo e promover seu desenvolvimento.
Pelo contrário, o toque de “acolher” consiste em uma punição dos que estiverem nas ruas fora do horário determinado e não na garantia da segurança dos jovens como é necessário segundo o ECA, através de medida de proteção (quando trata-se de caso de abandono) ou de medida socioeducativa (em caso de ato infracional) tudo conforme a atual determinação legal. Não há nada de novo a ser proposto, apenas, que se cumpra aquilo que já diz a lei.
10 – Porque responsabiliza as crianças e adolescentes pela violência nas cidades
Por fim, o projeto responsabiliza os adolescentes e crianças pelo aumento da violência na sociedade. Contudo, todas as pesquisas apontam que não são os adolescentes os maiores responsáveis pelo avanço da violência nas cidades, mas, pelo contrário que eles são em verdade as grandes vítimas de todo esse processo e que é a não garantia dos direitos que marca a vida da maioria daqueles que praticam atos infracionais.
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Feira de Santana – BA, abril de 2010.
Assembléia Popular; Campanha Nacional contra a Violência e o Extermínio de Jovens; Conselho de Entidades de Base – UEFS (Diretórios Acadêmicos e Diretório Central dos Estudantes); Consulta Popular; Grupo Direito em Questão – Direito / UEFS; Movimento de Mulheres em Defesa da Cidadania (MONDEC); Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Movimento Negro Unificado (MNU); Núcleo de Estudantes Negras e Negros da UEFS e Pastoral da Juventude (PJ).
NÃO AO TOQUE DE “ACOLHER”!!! NÃO Á CRIMINALIZAÇÃO DA JUVENTUDE POBRE E NEGRA!
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28/04 – Reunião de Organização e Articulação
Local – Sindiquímica
Horário – 16h
29/04 – Ato Político durante a Sessão, Ato Político durante a Sessão Especial da Câmara Municipal
Local – Câmara Municipal
Horário – 19h
30/04 – Audiência Pública
Local – Câmara Municipal
Horário – 9 h
FALA DOS CONFINS´- INSTALAÇÃO SONORA DA ARTISTA VISUAL VIRGINIA DE MEDEIROS
FALA DOS CONFINS´- INSTALAÇÃO SONORA DA ARTISTA VISUAL VIRGINIA DE MEDEIROS
ABERTURA - PRÓXIMO SÁBADO -- 1º DE MAIO - 13 ÁS 20h
LOCAL - COMPLEXO CULTURAL FUNARTE - SÃO PAULO
GALERIA FLÁVIO DE CARVALHO
ALAMEDA NOTHMANN, 1058
CAPOS ELÍSEOS - SÃO PAULO - SP - BRASIL
ENTRADA FRANCA
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA - LIVRE
VISITAÇÃO
SEGUNDA A DOMINGO - 10 ÀS 18h - OU ATÉ O INÍCIO DOS ESPETÁCULOS EM CARTAZ
INFORMAÇÕES - 11 2662-5177
www.funarte.gov.br
SOBRE O PROJETO E RELATOS DO PROCESSO CRIATIVO DO BLOG
www.faladosconfins.com.br
ABERTURA - PRÓXIMO SÁBADO -- 1º DE MAIO - 13 ÁS 20h
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quarta-feira, 28 de abril de 2010
REMOÇÃO DE FAVELAS DO RIO DE JANEIRO (3 - FINAL) - Leitores falam sobre a entrevista de Besserman
REMOÇÃO DE FAVELAS DO RIO DE JANEIRO - Leitores falam sobre a entrevista de Besserman
A Veja que se seguiu à edição que publicou a entrevista de Besserman, 28 de abril de 2010, publicou cartas de leitores da revista que opinaram sobre a entrevista:
O economista "conseguiu compilar os maiores danos causados por essas "comunidades", passando por questões como interesses políticos, descaso e imcompetência das autoridades, introm issão religiosa e criminalidade" (Maria Thereza Resende Teixeira Rio de Janeiro RJ).
José Renato Nalini (Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo - Câmara Reservada ao Meio Ambiente. Presdiente da Academia Paulista de Letras) elogiou a coragem do entrevistado em atacar a questão da remoção. Concordou sobre a indignidade, à luz da Constituição de 1988, de morar em favelas, concordou com a denúncia de as favelas serem objetos de manipulações demagógicas e criminosas que deixam espaço para a ocupação em áreas de risco, e com a perda de milhares de turistas/ano. E finaliza:
"Desfaveleizar deveria ser a palavra de ordem de qualquer governo. É uma questão que transcende o urbanismo: interessa ao meio ambiente, à educação, à pacificação social e ao cescimento pleno dos indivíduos."
Guilherme Barbosa (Lynchburg, Virgínia, EUA) elogiou a coragem e a bravura de Besserman e aifrmou que o populismo que grassa ou currais eleitorais, chamados favelas, são apenas "a ponta do iceberg".
Vianney Cardoso de Menezes (Rio de Janeiro, RJ):
"Besserman com seu irretocável equacionamento do problema "favela", nos traz a esperança de que, corrigidas essas distorções crônicas, esta cidade volte a ser, um dia, uma cidade maravilhosa."
Sérgio Borba (Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul) denunciou o oportunismo da compra de votos, as submoradias, violência e o tráfico de drogas. Mas tem esperança de que apareçam políticos interessados em soluções dignas para o problema.
A Veja que se seguiu à edição que publicou a entrevista de Besserman, 28 de abril de 2010, publicou cartas de leitores da revista que opinaram sobre a entrevista:
O economista "conseguiu compilar os maiores danos causados por essas "comunidades", passando por questões como interesses políticos, descaso e imcompetência das autoridades, introm issão religiosa e criminalidade" (Maria Thereza Resende Teixeira Rio de Janeiro RJ).
José Renato Nalini (Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo - Câmara Reservada ao Meio Ambiente. Presdiente da Academia Paulista de Letras) elogiou a coragem do entrevistado em atacar a questão da remoção. Concordou sobre a indignidade, à luz da Constituição de 1988, de morar em favelas, concordou com a denúncia de as favelas serem objetos de manipulações demagógicas e criminosas que deixam espaço para a ocupação em áreas de risco, e com a perda de milhares de turistas/ano. E finaliza:
"Desfaveleizar deveria ser a palavra de ordem de qualquer governo. É uma questão que transcende o urbanismo: interessa ao meio ambiente, à educação, à pacificação social e ao cescimento pleno dos indivíduos."
Guilherme Barbosa (Lynchburg, Virgínia, EUA) elogiou a coragem e a bravura de Besserman e aifrmou que o populismo que grassa ou currais eleitorais, chamados favelas, são apenas "a ponta do iceberg".
Vianney Cardoso de Menezes (Rio de Janeiro, RJ):
"Besserman com seu irretocável equacionamento do problema "favela", nos traz a esperança de que, corrigidas essas distorções crônicas, esta cidade volte a ser, um dia, uma cidade maravilhosa."
Sérgio Borba (Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul) denunciou o oportunismo da compra de votos, as submoradias, violência e o tráfico de drogas. Mas tem esperança de que apareçam políticos interessados em soluções dignas para o problema.
terça-feira, 27 de abril de 2010
AVE MARIA NO MORRO - Herivelto Martins
AVE MARIA NO MORRO
Herivelto Martins
Barracão
De zinco
Sem telhado
Sem pintura lá no morro
Barracão é bangalô
Lá não existe
Felicidade
De arranha-céu
Pois quem mora lá no morro
Já vive pertinho do céu
Tem alvorada
Tem passarada
Ao alvorecer
Sinfonia de pardais
Anunciando o anoitecer
E o morro inteiro
No fim do dia
Reza uma prece
À ave maria
E o morro inteiro
No fim do dia
Reza uma prece
À ave maria
Ave maria
Ave
Herivelto Martins
Barracão
De zinco
Sem telhado
Sem pintura lá no morro
Barracão é bangalô
Lá não existe
Felicidade
De arranha-céu
Pois quem mora lá no morro
Já vive pertinho do céu
Tem alvorada
Tem passarada
Ao alvorecer
Sinfonia de pardais
Anunciando o anoitecer
E o morro inteiro
No fim do dia
Reza uma prece
À ave maria
E o morro inteiro
No fim do dia
Reza uma prece
À ave maria
Ave maria
Ave
GENTE HUMILDE - Garoto/Chico Buarque/Vinicius de Moraes
GENTE HUMILDE
Garoto/Chico Buarque/ Vinicius de Moraes
Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas "tristes".
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar
Garoto/Chico Buarque/ Vinicius de Moraes
Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a como
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
São casas "tristes".
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar
REMOÇÃO DE FAVELAS DO RIO DE JANEIRO ( 2) - POR UM RIO SEM FAVELAS - entrevista com Sérgio Besserman
POR UM RIO SEM FAVELAS - entrevista com Sérgio Besserman
(Veja. São Paulo, 21 de abril de 2010 (páginas amarelas)
Ségio Besserman, 52 anos, é economista, foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1999 e 2002.
Besserman começa a entrevista apontando que um misto de demagogia e incompetência têm não só impedido a remoção de favelas, no Rio de Janeiro, mas também transformado o assunto em tabu. A idéia de que as pessoas que moram em lugares perigosos estejam colocando em risco suas próprias vidas não tem acabado com o assintecialismo barato que pensa dever prover de tudo os pobres do morros.
Por outro lado, há um 'pensamento obtuso' que acusa a remoção de favelas de ato de violação dos direitos humanos. Daí o inchaço urbano do Rio.
Besserman denuncia o populismo carioca que teve sua fase áurea na década de 80 (sec. XX) com o governo Leonel Brizola, "quando se chegou ao auge de proibir a entrada de policiais nas favelas. O resultado foi um surto de ocupações irregulares. Sem polícia, foi dado o sinal verde para o banditismo."
Deuncia, também, os currais eleitorais (nos morros há troca de votos por tijolos, cimento, dentaduras, bicas d'água) e a industria de favelização que, com seu braço imobiliário, abre caminho para grileiros que invadem terrenos para vendê-los depois. E para pessoas que nem moram nas favelas, mas que lá compram barracos para alugá-los
Em vários momentos, Bresserman aponta o crescimento do banditismo ('bandidagem')que domina a venda de botijões de gás e de acesso clandestino às redes de TV a cabo e a da 'glamourização da bandidagem' em que "criminosos são tratados como líderes populares".
"As favelas são lugares em que milhões de pessoas vivem sob outras leis que não o do estado de direito democrático. Na prática, elas não estão sob a Constituição brasileira."
Daí sua defesa de que o Estado, através das autoridades, entre em algumas favelas para recuperar o poder ... "primeiro passo do processo civilizatório que precisa continuar"
A Lagoa Rodrigo de Freitas é tomada como exemplo de remoção bem sucedida:
"A Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal da Zona Sul carioca, é um caso emblemático dos aspectos positivos que podem se seguir a uma remoção. QWuando uma favela foi retirada dali, em 1970, os imóveis da região , cujos valores vinham sendo depreciados, inverteram a curva e passaram a se valorizar, aumentando a riqueza do bairro e da cidade, em benfício de todos. A riqueza é destruída no mesmo ritmo em que a favela se alastra."
########################
Um parêntesis:
O jornalista Élio Gaspari em sua coluna publicada pela Folha de São Paulo de domingo passado (S. Paulo, 25 de abril, p. A14), publicou artigo ("Cidade de Deus nunca mais") em que faz uma certa crítica a este trecho em que Bresserman elogia a intervenção na Lagoa. Diz Gaspari:
"O economista Sérgio Bresserman, presidente do IGBE durante o tucanato, deu entrevista ao repórter Oscar Cabral defendendo as remoções de favelas e exemplificou suas virtudes. "A Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal da Zona Sul carioca ... etc, etc., etc."
Certo, mas faltou dizer onde terminou a curva dos moradores da favela da praia do Pinto. Eles foram nadados para Cidade de Deus, símbolo internacional da depreciação do Rio de Janeiro,profuto emblemático do urbanismo demófobo. A favela não foi removida de acordo com uma política pública. Numa noite, a comunidade foi incendiada, provavelmente por Nero, o imperador que limpou Roma."
##################
Retomando, então, a entrevista de Besserman. Ele reconhece haver um consenso de que é muito mais simnples e barato urbanizar que remover favelas. E aqui parece que ele e o urbanista italiano Bernardo Secchi se encontram (ver postagem de ontem, segunda-feira). Bresserman afirma que que a favelização do Rio afeta o ambiente dos negócios e reduz as chances de a cidade competir globalmente.
Encerra a entrevista com sua definição de favela:
"Para mim, a melhor de todas as definições de favela é a que a descreve como um território à margem das leis que regem o rsetante da cidade. Elas começarão a deixar de ser favelas quando o estado se livrar de seus vícios populistas paralisantes e derrotar a bandidagem que exerce poder efetivo sobre o cotidiano de milhões de brasileiros."
(Veja. São Paulo, 21 de abril de 2010 (páginas amarelas)
Ségio Besserman, 52 anos, é economista, foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1999 e 2002.
Besserman começa a entrevista apontando que um misto de demagogia e incompetência têm não só impedido a remoção de favelas, no Rio de Janeiro, mas também transformado o assunto em tabu. A idéia de que as pessoas que moram em lugares perigosos estejam colocando em risco suas próprias vidas não tem acabado com o assintecialismo barato que pensa dever prover de tudo os pobres do morros.
Por outro lado, há um 'pensamento obtuso' que acusa a remoção de favelas de ato de violação dos direitos humanos. Daí o inchaço urbano do Rio.
Besserman denuncia o populismo carioca que teve sua fase áurea na década de 80 (sec. XX) com o governo Leonel Brizola, "quando se chegou ao auge de proibir a entrada de policiais nas favelas. O resultado foi um surto de ocupações irregulares. Sem polícia, foi dado o sinal verde para o banditismo."
Deuncia, também, os currais eleitorais (nos morros há troca de votos por tijolos, cimento, dentaduras, bicas d'água) e a industria de favelização que, com seu braço imobiliário, abre caminho para grileiros que invadem terrenos para vendê-los depois. E para pessoas que nem moram nas favelas, mas que lá compram barracos para alugá-los
Em vários momentos, Bresserman aponta o crescimento do banditismo ('bandidagem')que domina a venda de botijões de gás e de acesso clandestino às redes de TV a cabo e a da 'glamourização da bandidagem' em que "criminosos são tratados como líderes populares".
"As favelas são lugares em que milhões de pessoas vivem sob outras leis que não o do estado de direito democrático. Na prática, elas não estão sob a Constituição brasileira."
Daí sua defesa de que o Estado, através das autoridades, entre em algumas favelas para recuperar o poder ... "primeiro passo do processo civilizatório que precisa continuar"
A Lagoa Rodrigo de Freitas é tomada como exemplo de remoção bem sucedida:
"A Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal da Zona Sul carioca, é um caso emblemático dos aspectos positivos que podem se seguir a uma remoção. QWuando uma favela foi retirada dali, em 1970, os imóveis da região , cujos valores vinham sendo depreciados, inverteram a curva e passaram a se valorizar, aumentando a riqueza do bairro e da cidade, em benfício de todos. A riqueza é destruída no mesmo ritmo em que a favela se alastra."
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Um parêntesis:
O jornalista Élio Gaspari em sua coluna publicada pela Folha de São Paulo de domingo passado (S. Paulo, 25 de abril, p. A14), publicou artigo ("Cidade de Deus nunca mais") em que faz uma certa crítica a este trecho em que Bresserman elogia a intervenção na Lagoa. Diz Gaspari:
"O economista Sérgio Bresserman, presidente do IGBE durante o tucanato, deu entrevista ao repórter Oscar Cabral defendendo as remoções de favelas e exemplificou suas virtudes. "A Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal da Zona Sul carioca ... etc, etc., etc."
Certo, mas faltou dizer onde terminou a curva dos moradores da favela da praia do Pinto. Eles foram nadados para Cidade de Deus, símbolo internacional da depreciação do Rio de Janeiro,profuto emblemático do urbanismo demófobo. A favela não foi removida de acordo com uma política pública. Numa noite, a comunidade foi incendiada, provavelmente por Nero, o imperador que limpou Roma."
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Retomando, então, a entrevista de Besserman. Ele reconhece haver um consenso de que é muito mais simnples e barato urbanizar que remover favelas. E aqui parece que ele e o urbanista italiano Bernardo Secchi se encontram (ver postagem de ontem, segunda-feira). Bresserman afirma que que a favelização do Rio afeta o ambiente dos negócios e reduz as chances de a cidade competir globalmente.
Encerra a entrevista com sua definição de favela:
"Para mim, a melhor de todas as definições de favela é a que a descreve como um território à margem das leis que regem o rsetante da cidade. Elas começarão a deixar de ser favelas quando o estado se livrar de seus vícios populistas paralisantes e derrotar a bandidagem que exerce poder efetivo sobre o cotidiano de milhões de brasileiros."
segunda-feira, 26 de abril de 2010
AGENDE E PINTE
Feira de Santana - Bahia - Brasil
Projeto Lua Cheia: Noite de cordel e cantoria anima o Cuca - quarta-feira
Poetas, contadores de causos, folheteiros, cordelistas e violeiros de Feira de Santana e de outras cidades da Bahia, se reúnem em noite de cordel e cantoria, na quarta-feira (28) a partir das 19h, no Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca). O público certamente vai se deleitar com uma arte simples, mas ao mesmo tempo rica; se divertir com as rimas curiosas, sejam elas tiradas dos folhetos de cordel ou dos acordes das violas .
O evento, em segunda edição, faz parte do Projeto Lua Cheia Literatura de Cordel, uma realização da Uefs/Cuca. O objetivo é apoiar e incentivar a cultura popular e de raiz que se faz na cidade e região. “Quem visitar o Cuca nessa noite terá também a oportunidade de adquirir folhetos, discos cds e dvds, xilogravuras e outros materiais da produção dos artistas”, afirma Franklin Maxado, poeta, cordelista, xilógrafo e um dos participantes do evento. Ele aproveita para lançar um folheto sobre a Copa do Mundo.
Dadinho, Erotildes Miranda dos Santos e João Ferreira (In Memorian), merecem homenagem especial durante a noite do cordel e repentes, que contará com a participação de Maria José de Macedo, Antonio Carlos Barreto e Nadinho de Riachão, Pardal e Sergio Bahialista, Luiz Natividad, Gabriel Arcanjo, Antonio Alves, Caboquinho, João Ramos, Jurival Alves, Lucas Oliveira, Cristo Neto, Ademar José, J. Caxias, entre outros poetas populares.
Os temas do cordel geralmente retratam fatos do cotidiano da cidade ou da região: festas, política, milagres, disputas, como é o caso do folheto “Os Reis do Desafio: peleja de João Sabogi com Manoel Tira-Engano”, de Antonio Alves da Silva. Traz ilustração de capa do artista plástico Juraci Dórea e é um dos títulos sugestivos que estarão à disposição dos interessados em literatura popular.
Exposição no CUCA Celebra 50 Anos das Obras Sociais Irmã Dulce
Após temporada de sucesso em Salvador e Fortaleza, a exposição “Meio século pensando no próximo", que retrata a vida e obra de Irmã Dulce chega agora a Feira de Santana. A mostra ficará de 29 de abril a 12 de maio no Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Através de painéis e recursos de áudio e vídeo, os visitantes terão a oportunidade de descobrir durante o evento episódios pouco conhecidos da trajetória da freira baiana.
A exposição celebra os 50 anos de fundação das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), completados em 2009. Fundada em 1959, a OSID é hoje o maior complexo filantrópico de saúde do país, segundo o Ministério da Saúde. A instituição realizou no ano passado mais de 5 milhões de atendimentos ambulatoriais. Segundo informações da Assessoria de Memória e Cultura da OSID, no último mês de março a exposição foi vista por mais de 50 mil pessoas durante exibição no Shopping Piedade.
Assessoria Cuca/Uefs
25/4/10
Extraído do Portal da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
Projeto Lua Cheia: Noite de cordel e cantoria anima o Cuca - quarta-feira
Poetas, contadores de causos, folheteiros, cordelistas e violeiros de Feira de Santana e de outras cidades da Bahia, se reúnem em noite de cordel e cantoria, na quarta-feira (28) a partir das 19h, no Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca). O público certamente vai se deleitar com uma arte simples, mas ao mesmo tempo rica; se divertir com as rimas curiosas, sejam elas tiradas dos folhetos de cordel ou dos acordes das violas .
O evento, em segunda edição, faz parte do Projeto Lua Cheia Literatura de Cordel, uma realização da Uefs/Cuca. O objetivo é apoiar e incentivar a cultura popular e de raiz que se faz na cidade e região. “Quem visitar o Cuca nessa noite terá também a oportunidade de adquirir folhetos, discos cds e dvds, xilogravuras e outros materiais da produção dos artistas”, afirma Franklin Maxado, poeta, cordelista, xilógrafo e um dos participantes do evento. Ele aproveita para lançar um folheto sobre a Copa do Mundo.
Dadinho, Erotildes Miranda dos Santos e João Ferreira (In Memorian), merecem homenagem especial durante a noite do cordel e repentes, que contará com a participação de Maria José de Macedo, Antonio Carlos Barreto e Nadinho de Riachão, Pardal e Sergio Bahialista, Luiz Natividad, Gabriel Arcanjo, Antonio Alves, Caboquinho, João Ramos, Jurival Alves, Lucas Oliveira, Cristo Neto, Ademar José, J. Caxias, entre outros poetas populares.
Os temas do cordel geralmente retratam fatos do cotidiano da cidade ou da região: festas, política, milagres, disputas, como é o caso do folheto “Os Reis do Desafio: peleja de João Sabogi com Manoel Tira-Engano”, de Antonio Alves da Silva. Traz ilustração de capa do artista plástico Juraci Dórea e é um dos títulos sugestivos que estarão à disposição dos interessados em literatura popular.
Exposição no CUCA Celebra 50 Anos das Obras Sociais Irmã Dulce
Após temporada de sucesso em Salvador e Fortaleza, a exposição “Meio século pensando no próximo", que retrata a vida e obra de Irmã Dulce chega agora a Feira de Santana. A mostra ficará de 29 de abril a 12 de maio no Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Através de painéis e recursos de áudio e vídeo, os visitantes terão a oportunidade de descobrir durante o evento episódios pouco conhecidos da trajetória da freira baiana.
A exposição celebra os 50 anos de fundação das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), completados em 2009. Fundada em 1959, a OSID é hoje o maior complexo filantrópico de saúde do país, segundo o Ministério da Saúde. A instituição realizou no ano passado mais de 5 milhões de atendimentos ambulatoriais. Segundo informações da Assessoria de Memória e Cultura da OSID, no último mês de março a exposição foi vista por mais de 50 mil pessoas durante exibição no Shopping Piedade.
Assessoria Cuca/Uefs
25/4/10
Extraído do Portal da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
REMOÇÃO DE FAVELAS DO RIO DE JANEIRO (1)
REMOÇÃO DE FAVELAS DO RIO DE JANEIRO (1)
Vicente Deocleciano Moreira
Tudo indica que, passadas as últimas chuvas fortes no Rio de Janeiro, passaram também as preocupações da população,da mídia, dos técnicos e das autoridades quanto à remoção de favelas do Rio de Janeiro. E quando esses quatro agentes sociais da cidadania deixam de falar no assunto, temos uma grave epidemia de amnésia social e política.
Antes que o assunto seja removido, completamente, da mídia - até que novas chuvas nos curem a todos - este Blog quer registrar que está atento e preocupado com essa calmaria de discussões que "coincide" com a calmaria dos temporaís.
Hoje faz oito dias que o jornal Folha de São Paulo (19/04/2010, Caderno Cotidiano,p.C4) publicou entrevista do urbanista italiano Bernardo Secchi ("Ideia de acabar com as favelas foi uma ilusão modernista") que não vê possibilidade de acabar com elas, transformando-as em bairros populares, normais.
Dois dias depois, em sua edição de 21 de abril, a revista Veja (21/04/2010) publicou em suas 'páginas amarelas' entrevista com o economista Sérgio Besserman ("Por uim Rio sem favelas") francamente favorável à idéia de remover favelas que expõem a vida de seus moradores, em risco, no caso de novos e bem possíveis temporais.
Aguardei a edição seguinte da Veja (ontem, 28 de abril)e constatei que cinco leitores escrevram carta comentando a entrevista de Besserman: apenas dois do Rio de Janeiro, um de São Paulo, outro de Novo Hamburgo (Rio Grande do Sul)e outro da Virgínia (Estadis Unidos)
A ENTREVISTA DE BERNARDO SECCHI
Secchi, 75 anos, é um dos dez mais respeitados urbanistas do mundo, um grupo que recebeu convite do presidente da FRança, Nicolas Sarkozy, para pensar a Paris de 2030. Em seu currículo, planos para Madri, Roma e Londres.
Em São Paulo, fez conferência para 450 pessoas e, a convite da Prefeitura, visitou a favela de Paraisópolis. Se estimativas de 2003 dão conta da existência de 1 bilhão de pessoas morando em favelas em todo o mundo, em 2010 esse número é, certamente, mais expressivo.
"Visitei Paraisópolis e fiquei chocado porque estão fazendo muitos projetos que estão avançando na hipótese de que essa favela possa se transformar em um bairro normal, moderno. Acho que não é possível. Não temos dinheiro, meios nme tempo para fazer isso."
Ainda Secchi, diante da proposta da Prefeitura do Rio de Janeiro de, atravésa de programas como Favela-Bairro, urbanizar favelas sem que precise removê-las.
"É preciso remover as populações das áreas de risco e urbanizar o restante. Essa opreação, porém, não é suficiente. A região precisa ser porosa, ter conexões com a cidade"
Complementando, vale registar a opinião do urbanista italiano sobre Brasília diante da crítica de que o plano urbano de Lúcio Costa, divide em setores a capital do Brasil, dá privilégios ao automóvel e dificulta a circulação de pedestres e ciclistas: "Não é possível falar em fracasso urbano numa cidade de 50 anos. Cidades como Roma e Londres resultam de séculos de acertos e erros.; Lúcio Costa fez uma obra de gênio."
*****
AMANHÃ, TERÇA, COMENTAREMOS A ENTREVISTA DE BESSERMAN E AS CARTAS DOS LEITORES DA VEJA (datada 28 de abril)
Vicente Deocleciano Moreira
Tudo indica que, passadas as últimas chuvas fortes no Rio de Janeiro, passaram também as preocupações da população,da mídia, dos técnicos e das autoridades quanto à remoção de favelas do Rio de Janeiro. E quando esses quatro agentes sociais da cidadania deixam de falar no assunto, temos uma grave epidemia de amnésia social e política.
Antes que o assunto seja removido, completamente, da mídia - até que novas chuvas nos curem a todos - este Blog quer registrar que está atento e preocupado com essa calmaria de discussões que "coincide" com a calmaria dos temporaís.
Hoje faz oito dias que o jornal Folha de São Paulo (19/04/2010, Caderno Cotidiano,p.C4) publicou entrevista do urbanista italiano Bernardo Secchi ("Ideia de acabar com as favelas foi uma ilusão modernista") que não vê possibilidade de acabar com elas, transformando-as em bairros populares, normais.
Dois dias depois, em sua edição de 21 de abril, a revista Veja (21/04/2010) publicou em suas 'páginas amarelas' entrevista com o economista Sérgio Besserman ("Por uim Rio sem favelas") francamente favorável à idéia de remover favelas que expõem a vida de seus moradores, em risco, no caso de novos e bem possíveis temporais.
Aguardei a edição seguinte da Veja (ontem, 28 de abril)e constatei que cinco leitores escrevram carta comentando a entrevista de Besserman: apenas dois do Rio de Janeiro, um de São Paulo, outro de Novo Hamburgo (Rio Grande do Sul)e outro da Virgínia (Estadis Unidos)
A ENTREVISTA DE BERNARDO SECCHI
Secchi, 75 anos, é um dos dez mais respeitados urbanistas do mundo, um grupo que recebeu convite do presidente da FRança, Nicolas Sarkozy, para pensar a Paris de 2030. Em seu currículo, planos para Madri, Roma e Londres.
Em São Paulo, fez conferência para 450 pessoas e, a convite da Prefeitura, visitou a favela de Paraisópolis. Se estimativas de 2003 dão conta da existência de 1 bilhão de pessoas morando em favelas em todo o mundo, em 2010 esse número é, certamente, mais expressivo.
"Visitei Paraisópolis e fiquei chocado porque estão fazendo muitos projetos que estão avançando na hipótese de que essa favela possa se transformar em um bairro normal, moderno. Acho que não é possível. Não temos dinheiro, meios nme tempo para fazer isso."
Ainda Secchi, diante da proposta da Prefeitura do Rio de Janeiro de, atravésa de programas como Favela-Bairro, urbanizar favelas sem que precise removê-las.
"É preciso remover as populações das áreas de risco e urbanizar o restante. Essa opreação, porém, não é suficiente. A região precisa ser porosa, ter conexões com a cidade"
Complementando, vale registar a opinião do urbanista italiano sobre Brasília diante da crítica de que o plano urbano de Lúcio Costa, divide em setores a capital do Brasil, dá privilégios ao automóvel e dificulta a circulação de pedestres e ciclistas: "Não é possível falar em fracasso urbano numa cidade de 50 anos. Cidades como Roma e Londres resultam de séculos de acertos e erros.; Lúcio Costa fez uma obra de gênio."
*****
AMANHÃ, TERÇA, COMENTAREMOS A ENTREVISTA DE BESSERMAN E AS CARTAS DOS LEITORES DA VEJA (datada 28 de abril)
domingo, 25 de abril de 2010
RESENHA - "A luta por espaço” – Jean-Pierre Garnier
RESENHA - "A luta por espaço” – Jean-Pierre Garnier
RESENHA - "A luta por espaço”, por Jean—Pierre Garnier é autor de “Une violence éminemment contemporaine. Essai sur la ville, la petite bourgeoisie intellectuelle et l’effacement des classes populaires". Agone, Marselha, 2010.
GARNIER, Jean-Pierre - "A luta por espaço” - LE MONDE DIPLOMATIQUE (Instituto Pólis, São Paulo, ano 3, n. 32, março-29010, p. 8-9)
Resenhista - Vicente Deocleciano Moreira
Garnier abre seu artigo falando da dimensão planetária da reestruturação urbana pela “destruição criadora” que tem vitimado bairros populares bem localizados nos mais diversos países e continentes. A conta da revitalização desses bairros tem sido paga pelos seus antigos moradores que são mandados para conjuntos habitacionais distantes, periféricos e de baixa qualidade para dar lugar a projetos residenciais “de categoria”. A título de reforço, cita p geógrafo David Harvey para o qual “a favela entra em colisão com o canteiro de obras global, assimetria atroz que só pode ser interpretada como uma maneira gritante de confronto de classe” . Confronto )mas não necessariamente enfrentamento) não quer significar que a luta, pela conquista dói espaço urbano, entre dominantes e dominados acontece de modo imutável ou estável. Porém, enfrentamentos diretos não são verificáveis com freqüência.
Ademais, se de um lado a burguesia não para de enfraquecer o mundo do trabalho – de outro os trabalhadores perderam a consciência de seu destino histórico como classe, traçado e sonhado pelos socialistas. Por outro lado, a expansão do setor de serviços criou uma classe média urbana, educada, que fez aliança com a burguesia ao mesmo tempo em que o tecido industrial foi perdendo consistência e o movimento operário desagregou-se.
De tudo isso resultou que classes dirigentes empregaram diversas manobras para subtrair do povo seus tradicionais territórios. Garnier cita alguns exemplos de tais manobras:
“Afrontamentos entre a polícia ou o exército e moradores de ciudades cayampas e favelas "disfarçados" de luta contra a delinquência e a subversão na América Latina; despejos realizados por militares nas periferias do Magreb e da África subsaariana; deslocamento forçado de antigos habitantes e demolçição de suas casas na China "popular" para abrir terreno a infraestrutura e imóveis destinados a colocar grandes cidades em dia com a mundialização do mercado; incêndios metódicos de grande calibre em ex-bairros "alternativos" nde Berlim aproporiados pela neo-burguesia após a reunificação ..."
Todas essas práticas porém, não convergem para uma possível “destruição” (exceção feita a alguns prédios irrecuperáveis; na verdade são gestões que recebem rótulos pomposos: “reabilitação”, “requalificação”, “regeneração”, “revitalização”, “renascimento”. Tudo isso com a assinatura de urbanistas ex-críticos da luta pelo espaço urbano e com o apoio das classes médias aliadas à burguesia e às classes dirigentes. Fugindo dos termos sofisticados o que se tem feito é “descartar” moradores pobres, antigos e “fundadores” daquele espaço agora tão visível aos olhos da especulação globalizada quanto destinado a ser “requalificados” para “pessoas de qualidade”.
******
Hoje postamos a última resenha da série "O futuro das cidades", publicada pelo jornal LE MONDE DIPLOMATIQUE. BRASIL, de março/ 2010.
No próximo domingo, 2 de maio, postaremos a resenha do artigo do jornalista Xavier Monthéard, "A (re)construção de Hanói", publicado no citado jornal.
RESENHA - "A luta por espaço”, por Jean—Pierre Garnier é autor de “Une violence éminemment contemporaine. Essai sur la ville, la petite bourgeoisie intellectuelle et l’effacement des classes populaires". Agone, Marselha, 2010.
GARNIER, Jean-Pierre - "A luta por espaço” - LE MONDE DIPLOMATIQUE (Instituto Pólis, São Paulo, ano 3, n. 32, março-29010, p. 8-9)
Resenhista - Vicente Deocleciano Moreira
Garnier abre seu artigo falando da dimensão planetária da reestruturação urbana pela “destruição criadora” que tem vitimado bairros populares bem localizados nos mais diversos países e continentes. A conta da revitalização desses bairros tem sido paga pelos seus antigos moradores que são mandados para conjuntos habitacionais distantes, periféricos e de baixa qualidade para dar lugar a projetos residenciais “de categoria”. A título de reforço, cita p geógrafo David Harvey para o qual “a favela entra em colisão com o canteiro de obras global, assimetria atroz que só pode ser interpretada como uma maneira gritante de confronto de classe” . Confronto )mas não necessariamente enfrentamento) não quer significar que a luta, pela conquista dói espaço urbano, entre dominantes e dominados acontece de modo imutável ou estável. Porém, enfrentamentos diretos não são verificáveis com freqüência.
Ademais, se de um lado a burguesia não para de enfraquecer o mundo do trabalho – de outro os trabalhadores perderam a consciência de seu destino histórico como classe, traçado e sonhado pelos socialistas. Por outro lado, a expansão do setor de serviços criou uma classe média urbana, educada, que fez aliança com a burguesia ao mesmo tempo em que o tecido industrial foi perdendo consistência e o movimento operário desagregou-se.
De tudo isso resultou que classes dirigentes empregaram diversas manobras para subtrair do povo seus tradicionais territórios. Garnier cita alguns exemplos de tais manobras:
“Afrontamentos entre a polícia ou o exército e moradores de ciudades cayampas e favelas "disfarçados" de luta contra a delinquência e a subversão na América Latina; despejos realizados por militares nas periferias do Magreb e da África subsaariana; deslocamento forçado de antigos habitantes e demolçição de suas casas na China "popular" para abrir terreno a infraestrutura e imóveis destinados a colocar grandes cidades em dia com a mundialização do mercado; incêndios metódicos de grande calibre em ex-bairros "alternativos" nde Berlim aproporiados pela neo-burguesia após a reunificação ..."
Todas essas práticas porém, não convergem para uma possível “destruição” (exceção feita a alguns prédios irrecuperáveis; na verdade são gestões que recebem rótulos pomposos: “reabilitação”, “requalificação”, “regeneração”, “revitalização”, “renascimento”. Tudo isso com a assinatura de urbanistas ex-críticos da luta pelo espaço urbano e com o apoio das classes médias aliadas à burguesia e às classes dirigentes. Fugindo dos termos sofisticados o que se tem feito é “descartar” moradores pobres, antigos e “fundadores” daquele espaço agora tão visível aos olhos da especulação globalizada quanto destinado a ser “requalificados” para “pessoas de qualidade”.
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Hoje postamos a última resenha da série "O futuro das cidades", publicada pelo jornal LE MONDE DIPLOMATIQUE. BRASIL, de março/ 2010.
No próximo domingo, 2 de maio, postaremos a resenha do artigo do jornalista Xavier Monthéard, "A (re)construção de Hanói", publicado no citado jornal.
CRÔNICA DOMINICAL - 25 DE ABRIL DE 2010
CRÔNICA DOMINICAL
DOMINGO: DOM E CONTRADOM. (60 ANOS DE FALECIMENTO DO ANTROPÓLOGO FRANCÊS MARCEL MAUSS - 1872 - 1950)
*******
Com esta crônica, nosso Blog inicia uma série de postagens celebrativas pelos 60 anos de falecimento do antropólogo francês Marcel Mauss. Dentre várias contribuições à Antropologia, ele desenvolveu a teoria do Dom e do Contradom, a partir das observações que fez na Melanésia, Polinésia e Nordeste dos Estados Unidos. Seu tio, Émile Durkheim, talvez seja mais conhecido que ele para a maioria das pessoas. Uma das obras mais recomendadas para a compreensão dessa teoria maussiana é o Ensaio sobre a Dádiva (1924).
A crônica deste domingo - o último de abril - quer tentar uma aproximação da teoria do Dom/Contradom com os ritos da visitação que podem ocorrer aos domingos nas sociedades ocidentais em que eu e o leitor estamos vivendo neste momento. Com isso queremos possibilitar uma compreensão inicial, mais confortável, acerca da referida teoria.
Na próxima semana, iniciaremos reflexões sobre o viver as cidades, à luz da teoria do Dom/Contradom
*******
Domingo é, dentre outras coisas, o dia especial em que muitos visitam parentes e amigos. De preferência à tarde para não chegar na hora do almoço sem avisar, “de supetão”, e assim causar um mal estar sem tamanho se não tiver sido preparado comida suficiente para os da casa e, mais, para os de fora.
De todo o modo, o hábito de visitar parentes e amigos, aos domingos, é um hábito que as cidades grandes herdaram o (e ainda não se desfez) das cidades pequenas, subúrbios , povoados e fazendas. Há moradores trabalhadores de fazendas que costumam, aos domingos, viajar de carro de bois, animais, automóveis, caminhões para a cidade mais próxima; e, embora não tenham necessariamente, algum amigo ou parente para visitar, ali, passeiam na praça, bebem, jogam sinouca nos bares, têm encontros amoroso, ou alimentam a esperança disso acontecer, paqueram .... enfim quando começar a escurecer – hora de voltar! – terá valido o domingo.
No exemplo eleito por esta crônica, chamemos de DOM a visita que as pessoas fazem a outras pessoas ou a cidades. E de CONTRADOM os agradecimentos em forma de café, doces, lanches, água, frutas, bolos, doces, cremes ... que os visitados fazem àqueles que os visitam. Tudo isso quase sempre acompanhado da desculpa de forte sotaque e colorido rurais: “Não repare não”; “Não repare não essa bobagem, é que eu ando sem tempo”. “Ainda é cedo comadre. Não vá agora não. Espera aí, comadre, que eu vou passar uma café pra gente”
Não gostaria nem de reduzir o CONTRADOM a uma reciprocidade apenas material, nem tampouco apelar para vieses psicologizantes. Todo esse cuidado é porque o domingo é o dia em que parentes, amigos – e também estranhos, desconhecidos – visitam internados em hospitais e apenados em presídios.
Religiosos, pregadores, sacerdotes, pastores evangélicos, palhaços em hospitais de crianças e voluntários em geral costumam visitar enfermos (hospitais) e presidiários (peinitenciárias). Que CONTRADOM essas pessoas podem oferecer a quem os visita? Dificilmente, têm condições de retribiur (CONTRADOM) a visita (DOM), comprando presentes ou qualquer outro meio material de agradecimento.
Penso que, nestes casos, a satisfação, a alegria demonstradas em ser visitado (em ser lembrado) – no caso, claro, destes sentimentos de reciprocidade existir – podem ser considerados CONTRADONS. Pela exigência da norma de reciprocidade, quando alguém ‘bate a porta na cara’ do visitador ou se recusa a receber visitas inclusive quando está num hospital ou num presídio, esta recusa não pode ser considerada um CONTRADOM, porque não existiu a reciprocidade esperada. Houve frustração de expectativas.
Sempre me ponho a imaginar o que se passa na cabeça de alguém que, preso num leito hospitalar ou na cela de uma cadeia, não encontra ,meios materiais para “agradecer” a gentileza da visita. Por outro lado, todos devem reconhecer o direito dessas pessoas em não desejarem receber visitas seja de parentes, seja de amigos ou de desconhecidos. Tudo depende da maneira como cada um(a) interage com sua própria condição de enfermo ou apenado.
Mudando rumo da prosa, pergunto: o que uma cidade tem a oferecr de CONTRADOM aos seus visitantes? Às vezes, nem a própria cidade e quem nela residem sabem. Nesse caso, os visitantes são os identificadores do CONTRADOM que a cidade lhes proporciona.
Morei numa (então) pequena cidade do Noroeste do Paraná. Uma cidade cercada por grandes plantações exportadoras de soja e de café, uma região de forte colonização italiana, alemã, japonesa e ucraniana. Aos domingos, os rapazes esperavam as “moças do sítio” que lá chegavam, início da tarde, em pequenos caminhões, montarias e carros de bois. Chamavam “sítio” o que nós, com os mesmo hectares no Nordeste, chamamos de fazenda, latifúndio. Nunca me souberam informar o que, para eles, era uma fazenda.
Era uma festa. Todos falavam alto. Anfitriões e visitantes vestiam a melhor roupa (a domingueira) para receber e ser recebido. Moças passeavam e tomavam sorvete ... sorridentes e sempre em grupos. Nos bares, os rapazes jogavam sinuca ou discutiam os preços de suas produções agrícolas. Até a hora de retornarem ao mundo do trabalho, n o campo, que já reclamava a presença de todos e todas.
A melancolia do retorno destes jovens parecia fazer a cidade escurecer e se recolher mais cedo, mesmo no inverno
DOMINGO: DOM E CONTRADOM. (60 ANOS DE FALECIMENTO DO ANTROPÓLOGO FRANCÊS MARCEL MAUSS - 1872 - 1950)
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Com esta crônica, nosso Blog inicia uma série de postagens celebrativas pelos 60 anos de falecimento do antropólogo francês Marcel Mauss. Dentre várias contribuições à Antropologia, ele desenvolveu a teoria do Dom e do Contradom, a partir das observações que fez na Melanésia, Polinésia e Nordeste dos Estados Unidos. Seu tio, Émile Durkheim, talvez seja mais conhecido que ele para a maioria das pessoas. Uma das obras mais recomendadas para a compreensão dessa teoria maussiana é o Ensaio sobre a Dádiva (1924).
A crônica deste domingo - o último de abril - quer tentar uma aproximação da teoria do Dom/Contradom com os ritos da visitação que podem ocorrer aos domingos nas sociedades ocidentais em que eu e o leitor estamos vivendo neste momento. Com isso queremos possibilitar uma compreensão inicial, mais confortável, acerca da referida teoria.
Na próxima semana, iniciaremos reflexões sobre o viver as cidades, à luz da teoria do Dom/Contradom
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Domingo é, dentre outras coisas, o dia especial em que muitos visitam parentes e amigos. De preferência à tarde para não chegar na hora do almoço sem avisar, “de supetão”, e assim causar um mal estar sem tamanho se não tiver sido preparado comida suficiente para os da casa e, mais, para os de fora.
De todo o modo, o hábito de visitar parentes e amigos, aos domingos, é um hábito que as cidades grandes herdaram o (e ainda não se desfez) das cidades pequenas, subúrbios , povoados e fazendas. Há moradores trabalhadores de fazendas que costumam, aos domingos, viajar de carro de bois, animais, automóveis, caminhões para a cidade mais próxima; e, embora não tenham necessariamente, algum amigo ou parente para visitar, ali, passeiam na praça, bebem, jogam sinouca nos bares, têm encontros amoroso, ou alimentam a esperança disso acontecer, paqueram .... enfim quando começar a escurecer – hora de voltar! – terá valido o domingo.
No exemplo eleito por esta crônica, chamemos de DOM a visita que as pessoas fazem a outras pessoas ou a cidades. E de CONTRADOM os agradecimentos em forma de café, doces, lanches, água, frutas, bolos, doces, cremes ... que os visitados fazem àqueles que os visitam. Tudo isso quase sempre acompanhado da desculpa de forte sotaque e colorido rurais: “Não repare não”; “Não repare não essa bobagem, é que eu ando sem tempo”. “Ainda é cedo comadre. Não vá agora não. Espera aí, comadre, que eu vou passar uma café pra gente”
Não gostaria nem de reduzir o CONTRADOM a uma reciprocidade apenas material, nem tampouco apelar para vieses psicologizantes. Todo esse cuidado é porque o domingo é o dia em que parentes, amigos – e também estranhos, desconhecidos – visitam internados em hospitais e apenados em presídios.
Religiosos, pregadores, sacerdotes, pastores evangélicos, palhaços em hospitais de crianças e voluntários em geral costumam visitar enfermos (hospitais) e presidiários (peinitenciárias). Que CONTRADOM essas pessoas podem oferecer a quem os visita? Dificilmente, têm condições de retribiur (CONTRADOM) a visita (DOM), comprando presentes ou qualquer outro meio material de agradecimento.
Penso que, nestes casos, a satisfação, a alegria demonstradas em ser visitado (em ser lembrado) – no caso, claro, destes sentimentos de reciprocidade existir – podem ser considerados CONTRADONS. Pela exigência da norma de reciprocidade, quando alguém ‘bate a porta na cara’ do visitador ou se recusa a receber visitas inclusive quando está num hospital ou num presídio, esta recusa não pode ser considerada um CONTRADOM, porque não existiu a reciprocidade esperada. Houve frustração de expectativas.
Sempre me ponho a imaginar o que se passa na cabeça de alguém que, preso num leito hospitalar ou na cela de uma cadeia, não encontra ,meios materiais para “agradecer” a gentileza da visita. Por outro lado, todos devem reconhecer o direito dessas pessoas em não desejarem receber visitas seja de parentes, seja de amigos ou de desconhecidos. Tudo depende da maneira como cada um(a) interage com sua própria condição de enfermo ou apenado.
Mudando rumo da prosa, pergunto: o que uma cidade tem a oferecr de CONTRADOM aos seus visitantes? Às vezes, nem a própria cidade e quem nela residem sabem. Nesse caso, os visitantes são os identificadores do CONTRADOM que a cidade lhes proporciona.
Morei numa (então) pequena cidade do Noroeste do Paraná. Uma cidade cercada por grandes plantações exportadoras de soja e de café, uma região de forte colonização italiana, alemã, japonesa e ucraniana. Aos domingos, os rapazes esperavam as “moças do sítio” que lá chegavam, início da tarde, em pequenos caminhões, montarias e carros de bois. Chamavam “sítio” o que nós, com os mesmo hectares no Nordeste, chamamos de fazenda, latifúndio. Nunca me souberam informar o que, para eles, era uma fazenda.
Era uma festa. Todos falavam alto. Anfitriões e visitantes vestiam a melhor roupa (a domingueira) para receber e ser recebido. Moças passeavam e tomavam sorvete ... sorridentes e sempre em grupos. Nos bares, os rapazes jogavam sinuca ou discutiam os preços de suas produções agrícolas. Até a hora de retornarem ao mundo do trabalho, n o campo, que já reclamava a presença de todos e todas.
A melancolia do retorno destes jovens parecia fazer a cidade escurecer e se recolher mais cedo, mesmo no inverno
MUNDO VASTO MUNDO DE 25 DE ABRIL DE 2010 - ET? EXISTE, MAS SERIA MUITO MELHOR EVITÁ-LOS
MUNDO VASTO MUNDO DE 25 DE ABRIL DE 2010-04-25
O jornal italiano CORRIERE DELLA SERA, em sua edição de hoje, 25 de abril de 2010, traz reportagem assinada pelo jornalista Elmar Burchia, e intitulada: EXTRATERRESTRES? EXISTEM, MAS SERIA MUITO MELHOR EVITÁ-LOS. Trata-se da divulgação de um documentário para TV em que o matemático e astrofísico britânico Stephen Hawking, 68 anos (Quociente de Inteligência – QI - igual a 180, segundo o jornal) reconhecendo a possibilidade da existência de Extraterrestres (ET), adverte que “o contato com a vida extraterrestre pode ser desastroso”. Isto porque, segundo o cientista, assim como aconteceu em 1492 com a chegada de Cristóvão Colombo à América e o que resultou disso (ou seja, a exploração dos índios e dos recursos naturais que não existiam abundantemente na Europa), assim também poderia contecer com a Terra que poderá ser colonizada e explorada por alienígenas que já terão esgotado todos os recursos de seus próprios planetas.
Por outro lado, se tivermos contato com algum ET este poderá nos transmitir virus contra os quais nós, humanos, não temos qualquer defesa - acrescenta Hawking.
O jornal italiano CORRIERE DELLA SERA, em sua edição de hoje, 25 de abril de 2010, traz reportagem assinada pelo jornalista Elmar Burchia, e intitulada: EXTRATERRESTRES? EXISTEM, MAS SERIA MUITO MELHOR EVITÁ-LOS. Trata-se da divulgação de um documentário para TV em que o matemático e astrofísico britânico Stephen Hawking, 68 anos (Quociente de Inteligência – QI - igual a 180, segundo o jornal) reconhecendo a possibilidade da existência de Extraterrestres (ET), adverte que “o contato com a vida extraterrestre pode ser desastroso”. Isto porque, segundo o cientista, assim como aconteceu em 1492 com a chegada de Cristóvão Colombo à América e o que resultou disso (ou seja, a exploração dos índios e dos recursos naturais que não existiam abundantemente na Europa), assim também poderia contecer com a Terra que poderá ser colonizada e explorada por alienígenas que já terão esgotado todos os recursos de seus próprios planetas.
Por outro lado, se tivermos contato com algum ET este poderá nos transmitir virus contra os quais nós, humanos, não temos qualquer defesa - acrescenta Hawking.
sábado, 24 de abril de 2010
O DIA DA CRIAÇÃO - VINICIUS DE MORAES
O DIA DA CRIAÇÃO
Vinicius de Moraes
Macho e fêmea os criou.
Gênese, 1, 27
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens,
ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como
as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas
em queda invisível na
terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda
e missa de sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das
águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em [cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e [sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Vinicius de Moraes
Macho e fêmea os criou.
Gênese, 1, 27
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens,
ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como
as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas
em queda invisível na
terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda
e missa de sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das
águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em [cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e [sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
- OS ELEFANTES DA "AÍDA" - CARLOS HEITOR CONY
CONTEUDO LIVRE
SEXTA-FEIRA, 23 DE ABRIL DE 2010
CARLOS HEITOR CONY Os elefantes da "Aída"
OUVI NA BBC que o prefeito de Jerusalém está ganhando um dólar por mês para desempenhar a sua função de síndico da complicada cidade, berço das três principais religiões monoteístas. Uma prática que já foi tradicional, sobretudo nos Estados Unidos, onde se criou a figura do "one dólar man". Aqui no Brasil, pelo que sei, é prática rara ou inexistente. Homens de posses quando vão para o governo não costumam abrir mão dos vencimentos do cargo que ocupam.
Conheci pelo menos uma exceção. Adolpho Bloch foi nomeado no governo de Faria Lima para a Fundação dos Teatros do Rio de Janeiro, a antiga Funterj. Recebia um cruzeiro por mês, dinheiro que ele invariavelmente jogava no bicho, tentando a sorte. Ganhou algumas vezes.
Mesmo assim, trabalhando praticamente de graça, não fez economia para os cofres do Estado. Pelo contrário: gastou muito e bem. Fez reformas substanciais no Teatro Municipal e no João Caetano, do qual só aproveitou as paredes. Construiu o Teatro Villa-Lobos, com acabamento luxuoso e um apêndice para peças infantis. Pelo que sei, foi o último teatro profissional construído no Rio de Janeiro.
Quanto à programação, gastou os tubos contratando Franco Zeffirelli para montar "La Traviata", nos moldes que o diretor italiano havia feito para a Metro, sem medir despesas. O sucesso foi tal e tanto que Zeffirelli, entusiasmado com o seu novo produtor, quis fazer uma "Aída" no Maracanãzinho, ideia que Adolpho topou com entusiasmo maior.
Como todos sabemos, uma "Aída" a preceito é caríssima e tem como padrão as famosas encenações da ópera de Verdi nas Termas de Caracalla, em Roma.
Adolpho já tinha visto uma e gostou principalmente dos elefantes que comparecem em cena durante a conhecida Marcha Triunfal. Perguntou a Zeffirelli quantos elefantes iam para a cena em Roma, o diretor garantiu que dois bastavam. Adolpho queria quatro.
Nas conversações preliminares, visitaram alguns circos das redondezas, poucos tinham elefantes, mas eram esquálidos, velhos, decadentes, caindo aos pedaços. Produtor e diretor queriam elefantes monumentais, bastavam dois, mas Adolpho não abria mão dos quatro.
Descobriram uma agência no Cairo que alugava elefantes por preços absurdos, pois além do aluguel em si, havia a obrigação do transporte de ida e volta, do seguro de vida e de acidentes, veterinário e domadores especializados em elefante. O orçamento, que já era caro com as roupas e os cantores, ficou caríssimo com a parafernália animal.
Quando Adolpho levou o orçamento para aprovação superior, o governador caiu das nuvens. Dava para matricular todas as crianças do Rio nas escolas públicas, aumentar a rede de esgoto e de galerias das águas pluviais.
Chorão como sempre, Adolpho fez um abatimento, em vez de quatro, três bastavam, mas tinham de ser elefantes cinco estrelas. Seria a maior montagem da ópera em todo o mundo, Zeffirelli traria Plácido Domingo para o papel principal, quanto às roupas, ele alugaria todas nos arquivos romanos e egípcios.
O governador ficou de pensar, mas não pensou muito. Perguntou a Adolpho se não podia montar uma "A Viúva Alegre", com roupas feitas aqui mesmo e, sobretudo, sem nenhum elefante.
Adolpho respondeu que a opereta de Lehar era digna do Teatro Carlos Gomes, que já havia montado "My Fair Lady" com absoluto sucesso. Além do mais, a produção de uma opereta, ainda que digna e famosa, não combinava com a carreira internacional do diretor nem com as dimensões do Maracanãzinho.
Resultado: o projeto gorou. Adolpho ficou uns tempos deprimido. Zeffirelli voltou para a Itália com a promessa de que, resolvidas certas "questões" na empresa, o próprio Adolpho bancaria a montagem do seu bolso particular.
Infelizmente as coisas andavam difíceis para a empresa que ia entrar no ramo da televisão. Ao se despedir da Funterj, ele recebeu elogios do governador, que o considerava um "príncipe da Renascença" desde que não cismasse com os elefantes. Foi, aliás, um dos poucos sonhos que Adolpho não conseguiu realizar.
Postado por conteudo livre . Marcador: Carlos Heitor Cony, às 9:31h
SEXTA-FEIRA, 23 DE ABRIL DE 2010
CARLOS HEITOR CONY Os elefantes da "Aída"
OUVI NA BBC que o prefeito de Jerusalém está ganhando um dólar por mês para desempenhar a sua função de síndico da complicada cidade, berço das três principais religiões monoteístas. Uma prática que já foi tradicional, sobretudo nos Estados Unidos, onde se criou a figura do "one dólar man". Aqui no Brasil, pelo que sei, é prática rara ou inexistente. Homens de posses quando vão para o governo não costumam abrir mão dos vencimentos do cargo que ocupam.
Conheci pelo menos uma exceção. Adolpho Bloch foi nomeado no governo de Faria Lima para a Fundação dos Teatros do Rio de Janeiro, a antiga Funterj. Recebia um cruzeiro por mês, dinheiro que ele invariavelmente jogava no bicho, tentando a sorte. Ganhou algumas vezes.
Mesmo assim, trabalhando praticamente de graça, não fez economia para os cofres do Estado. Pelo contrário: gastou muito e bem. Fez reformas substanciais no Teatro Municipal e no João Caetano, do qual só aproveitou as paredes. Construiu o Teatro Villa-Lobos, com acabamento luxuoso e um apêndice para peças infantis. Pelo que sei, foi o último teatro profissional construído no Rio de Janeiro.
Quanto à programação, gastou os tubos contratando Franco Zeffirelli para montar "La Traviata", nos moldes que o diretor italiano havia feito para a Metro, sem medir despesas. O sucesso foi tal e tanto que Zeffirelli, entusiasmado com o seu novo produtor, quis fazer uma "Aída" no Maracanãzinho, ideia que Adolpho topou com entusiasmo maior.
Como todos sabemos, uma "Aída" a preceito é caríssima e tem como padrão as famosas encenações da ópera de Verdi nas Termas de Caracalla, em Roma.
Adolpho já tinha visto uma e gostou principalmente dos elefantes que comparecem em cena durante a conhecida Marcha Triunfal. Perguntou a Zeffirelli quantos elefantes iam para a cena em Roma, o diretor garantiu que dois bastavam. Adolpho queria quatro.
Nas conversações preliminares, visitaram alguns circos das redondezas, poucos tinham elefantes, mas eram esquálidos, velhos, decadentes, caindo aos pedaços. Produtor e diretor queriam elefantes monumentais, bastavam dois, mas Adolpho não abria mão dos quatro.
Descobriram uma agência no Cairo que alugava elefantes por preços absurdos, pois além do aluguel em si, havia a obrigação do transporte de ida e volta, do seguro de vida e de acidentes, veterinário e domadores especializados em elefante. O orçamento, que já era caro com as roupas e os cantores, ficou caríssimo com a parafernália animal.
Quando Adolpho levou o orçamento para aprovação superior, o governador caiu das nuvens. Dava para matricular todas as crianças do Rio nas escolas públicas, aumentar a rede de esgoto e de galerias das águas pluviais.
Chorão como sempre, Adolpho fez um abatimento, em vez de quatro, três bastavam, mas tinham de ser elefantes cinco estrelas. Seria a maior montagem da ópera em todo o mundo, Zeffirelli traria Plácido Domingo para o papel principal, quanto às roupas, ele alugaria todas nos arquivos romanos e egípcios.
O governador ficou de pensar, mas não pensou muito. Perguntou a Adolpho se não podia montar uma "A Viúva Alegre", com roupas feitas aqui mesmo e, sobretudo, sem nenhum elefante.
Adolpho respondeu que a opereta de Lehar era digna do Teatro Carlos Gomes, que já havia montado "My Fair Lady" com absoluto sucesso. Além do mais, a produção de uma opereta, ainda que digna e famosa, não combinava com a carreira internacional do diretor nem com as dimensões do Maracanãzinho.
Resultado: o projeto gorou. Adolpho ficou uns tempos deprimido. Zeffirelli voltou para a Itália com a promessa de que, resolvidas certas "questões" na empresa, o próprio Adolpho bancaria a montagem do seu bolso particular.
Infelizmente as coisas andavam difíceis para a empresa que ia entrar no ramo da televisão. Ao se despedir da Funterj, ele recebeu elogios do governador, que o considerava um "príncipe da Renascença" desde que não cismasse com os elefantes. Foi, aliás, um dos poucos sonhos que Adolpho não conseguiu realizar.
Postado por conteudo livre . Marcador: Carlos Heitor Cony, às 9:31h
sexta-feira, 23 de abril de 2010
DISTRITO DE BOMFIM DE FEIRA. Feira de Santana - Bahia. MEMÓRIA AMBIENTAL, FOLHAS CHEIROSAS E RELIGIOSIDADES
Caro Vicente,
Em 2002, conheci os Lençóis Maranhenses e Sr. Antonio Vieira, sambista e compositor de São Luís, que produziu o primeiro disco aos 80 anos ou mais, se não me engano. Conhecia seus versos e presenciar seu show foi uma alegria:
“é o vento que sopra águas tão mansas/ que faz onda agitada no leito do mar/ (...) e o vento ciumento, olhando a ternura / que existe da areia com a onda do mar / só procura levá-la pra longe das praias/ e lá, bem adiante, vão as dunas formar”.
Neste tempo, eu só via as areias! Passados oito anos, outros versos dele tornam-se presentes em um trabalho acadêmico com minha participação. Não mais areias e ventos, mas folhas cheirosas! Com o título “banho cheiroso”
“Você deve tomar banho cheiroso / você deve tomar banho cheiroso pra acabar com essa mofina e o corpo ficar jeitoso / ... você sente uma moleza ... ele é feito de pequi, pau-de-angola e fuxuri, leva dedo de mulata e também patichuli, jardineira, pataqueira e também manjericão, leva rosa todo ano, amoníaco e açafrão ...”
Folhas cheirosas, banho cheiroso e manifestações culturais estão entre nossos objetivos para deslocarmos 40 km da UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana para o distrito Bonfim de Feira. Estes itens despertaram outros rumos para a pesquisa e o trabalho com a extensão.
Neste distrito de 34 km2, há 24 centros religiosos de orientação afro-brasileira (11) e de orientação cristã (13). Dentre os centros cristãos, quatro são católicos, um evangélico, sete pentecostais e dois de outra orientação cristã, considerando a classificação do IBGE. O número de fiéis não é definido, porém a população total está estimada em 4.000 habitantes. O comércio é modesto. A economia depende da pecuária e da agricultura de subsistência.
Preliminarmente, por meio de dados secundários (IBGE, Prefeitura), a avaliação ambiental indicou um baixo índice de comprometimento do substrato naquela área. Veio o trabalho de campo e ledo engano, pois o estudo in loco evidencia desmatamento, assoreamento, erosão, falta de água potável, falta de saneamento básico e lixo disposto a céu aberto. Este diagnóstico foi elaborado por Alisandra Silva (IC-Fapesb) e Gracinete Bastos (professora de Ciências Exatas). Outras pesquisas foram desenvolvidas e como conseqüência veio o projeto de extensão “Bom fim: Bonfim de Feira em foco”.
A prática da extensão tem sido muito importante, pois a população relata e contribui com informações relevantes e valiosas sobre memória, história, cotidiano e religiosidade do lugar. Quanto aos documentos que resultaram de três anos de pesquisa e um ano de extensão neste distrito, está “Cortejo dos cheiros”, no qual a identificação de itens vegetais da área de uma pedreira abandonada se revela como exemplo de restauração do meio ambiente que mostra a possibilidade de recuperação de outras áreas desmatadas. Passa pelos terreiros, o banho cheiroso, com ponto de partida em uma manifestação cristã católica - o domingo de ramos.
Em 05 de abril de 2009, documentadas por Alisandra Silva, Laina Melo, Agda Luz, Gracinete Souza e Liana Barbosa, as folhas cheirosas da procissão de ramos chamaram atenção e instigaram a questão: por que o símbolo não é a palmeira, como normalmente se apreende da cultura européia católica? Conversando com as pessoas e tentando entender a cultura do lugar, a resposta plausível foi apreendida na memória, história e cotidiano do Bonfim.
Na memória deste distrito, há farmácias de manipulação no início do século XX até a década de 1960; até bem pouco tempo teve um farmacêutico prático que aprendeu a arte de manipulação de ervas e na ausência do doutor indicava remédios caseiros; a população afro-descendente é uma das maiores do município de Feira de Santana; tem rezadeiras e zeladores para quem plantas são essenciais...
Akokô, alumã, aquarana, alfazema, alecrim de caco, alecrim de vaqueiro, romã, cidreira, capim santo, catinga de porco, arruda, guiné, hortelã, manjericão, boldo, suspiro branco, pindoba, quioiô etc etc etc. São folhas de uso mítico, místico e terapêutico.
Na área da “pedreira” abandonada, como mencionado acima, está a capacidade de recuperação da cobertura vegetal em aproximadamente 50 anos. Situado nas proximidades da entrada da fazenda São Bento, setor norte do distrito, o local de retirada de rocha produziu materiais para pavimentação de ruas e uso na construção civil em geral: brita e paralelepípedo. Porém a extração cessou na década de 1950, com isto, a provável reserva desta área permitiu a recuperação do solo (mesmo que incipiente) e possibilitou o desenvolvimento da vegetação.
Anotamos pedreira, mas apreendemos que, para o bonfinense, pedreira é onde há pedras! Para os geólogos e a economia mineral, pedreira é área de retirada de rochas! Para o bonfinense os ramos levados na procissão têm mais efeito para o uso ritual e medicinal do que aquele coletado na mata ou no quintal na hora de uso, pois os ramos são abençoados durante o cortejo e a missa. Para os pesquisadores, os ramos se constituíram em objeto de estudo, e, estão sendo identificados para construção de um cadastro das plantas medicinais do Bonfim.
Nos terreiros, as plantas estão presentes na ornamentação de barracões, nos ritos, nos instrumentos, nas oferendas e nos cânticos: “defuma com a erva da jurema, defuma com arruda e guiné, benjoim, alecrim e alfazema, vamos defumar filhos de fé”. Ou “Omulu, omulu, rei da flor”! Algumas plantas utilizadas nos terreiros são oriundas do extrativismo nas matas e outras são cultivadas nos jardins e quintais.
Até então, o quadro conta com 63 itens vegetais (pedreira, terreiros, procissão de ramos) com as denominações usadas pelos populares. Destes itens, 38 foram listados nos terreiros; 22 na procissão e 21 na pedreira. Os terreiros e o as manifestações religiosas (católicas, afro-brasileiras e evangélicas) tornaram o evento campo de observação e aprendizagem. Ao final, arriscamos dizer, que a procissão de ramos e outras manifestações religiosas locais são veículos de transmissão da sabedoria popular com o uso das plantas, e, provavelmente, uma forma de resistência da cultura afro-brasileira.
Liana Maria Barbosa
Nota do Blog
Profa. Dra. Liana Barbosa é professora de Geologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
quinta-feira, 22 de abril de 2010
INTERFACES 8 (final) – MUSEU CASA DO SERTÃO
Interfaces Antropologia e História do urbano. CIDADESSERTÃO: A CIDADE RECEBE E ACOLHE O SERTÃO: 8 – Museu Casa do Sertão – Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) - Feira de Santana – Bahia – Brasil.
Por ser de lá
do Sertão, lá do cerrado
lá do interior do mato
da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
eu quase não tenho amigos
eu quase que não consigo
ficar na cidade sem viver contrariado.
Por ser de lá
na certa por isso mesmo
não gosto de cama mole
não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
eu quase não sei de nada
sou com rês desgarrada
nessa multidão boiada caminhando a esmo. (
Dominguinhos e Gilberto Gil – “Lamento Sertanejo”)
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
Desde já, permitam-me e perdoem-me o festival de subjetividades que segue. Quem o ler as lerá.
Ao falar de Feira de Santana, mais particularmente de seu Museu Casa do Sertão (no campus da UEFS), não quero falar apenas da Casa do Sertão, mas também da casa do sertão e de seus variados museus que, ao fim e ao cabo de tudo, mostram como uma cidassertão recebe e acolhe o sertão; de ser tão sertão. Então, não venha me dizer que não é museu cada escultura e xilopintura de Jurací Dórea, fincadas no centro da cidade, na UEFS e alhures.
Parodiando Leon Tolstoi, eu diria que falar de uma cidade, com toda a orgia do subjetivo, é falar do mundo. É dizer, como Caetano Veloso, “São Paulo é como o mundo todo” (Caetano – “Vaca Profana”). Ou como Fernando Pessoa na pessoa de Alberto Caeiro (“O Tejo é mais belo”):
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
Museus são planetas de memória, quer se trate de uma Casa (como a Casa do Sertão) ou de cada escultura, coreto ou estátua ... tendo o céu por abrigo e teto.
Museus, em geral, são o presente recebendo e acolhendo o passado. Museus sertanejos são a cidade recebendo e acolhendo a história e a cultura do Sertão. É fazendo referência a este último aspecto (ou tipo) de museu que podemos dizer que o Museu Casa do Sertão da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) é um abraço de boas vindas que a cidade Feira de Santana – chamada “Princesa do Sertão” por Rui Barbosa – oferece ao Sertão.
Além do acervo documental do Monsenhor Renato de Andrade Galvão (), um padre sertanejo, a Casa do Sertão mostra a síntese concreta de tudo o quanto dissemos e refletimos nas sete postagens anteriores.
- 500 peças de pequeno e grande porte de palha, fibra, couro, madeitra, tecido, barro, metal, pedra, flandre
- peças fonográficas sobre forró, baião, xaxado, modas de viola, canbtorias, aboios, toadas, discos do início de carreira de Luiz Gonzaga.
- acervo bibliográficos nas áreas de história, antropologia, sociologia, cultura popular.
- acervo expressivo de literatura de cordel.
- painéis artísticos com temas sertanejos.
- acervo fotográfico sobre manifestações populares do Sertão.
- pinturas, esculturas, cerâmica, xilogravura, clichês..
- brinquedos populares, utensílios de cozinha (panelas, tachos, moringas, potes ...)
- adereços de palha: chapéus, abanadores.
- peças do vestuário usado pelos vaqueiros.
- instrumentos musicais.
- instrumentos de trabalho, (arado, cangalhas, bangüês) de caça e pesca.
- armas (cravinotes, espingardas, pistolas)
- instrumentos de montaria: arreios, rabichos, peias.
- mobiliário do quarto do sertanejo.
- periódicos, revistas, jornais.
- acervo de revisas do início do século XX e de jornais do século XIX.
O Museu Casa do Sertão, a exemplo dos congêneres, é a forma e o braço amigo com que a cidade recebe e acolhe o Sertão. É um lugar de sínteses concretas..
Por ser de lá
do Sertão, lá do cerrado
lá do interior do mato
da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
eu quase não tenho amigos
eu quase que não consigo
ficar na cidade sem viver contrariado.
Por ser de lá
na certa por isso mesmo
não gosto de cama mole
não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
eu quase não sei de nada
sou com rês desgarrada
nessa multidão boiada caminhando a esmo. (
Dominguinhos e Gilberto Gil – “Lamento Sertanejo”)
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
Desde já, permitam-me e perdoem-me o festival de subjetividades que segue. Quem o ler as lerá.
Ao falar de Feira de Santana, mais particularmente de seu Museu Casa do Sertão (no campus da UEFS), não quero falar apenas da Casa do Sertão, mas também da casa do sertão e de seus variados museus que, ao fim e ao cabo de tudo, mostram como uma cidassertão recebe e acolhe o sertão; de ser tão sertão. Então, não venha me dizer que não é museu cada escultura e xilopintura de Jurací Dórea, fincadas no centro da cidade, na UEFS e alhures.
Parodiando Leon Tolstoi, eu diria que falar de uma cidade, com toda a orgia do subjetivo, é falar do mundo. É dizer, como Caetano Veloso, “São Paulo é como o mundo todo” (Caetano – “Vaca Profana”). Ou como Fernando Pessoa na pessoa de Alberto Caeiro (“O Tejo é mais belo”):
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,
O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
Museus são planetas de memória, quer se trate de uma Casa (como a Casa do Sertão) ou de cada escultura, coreto ou estátua ... tendo o céu por abrigo e teto.
Museus, em geral, são o presente recebendo e acolhendo o passado. Museus sertanejos são a cidade recebendo e acolhendo a história e a cultura do Sertão. É fazendo referência a este último aspecto (ou tipo) de museu que podemos dizer que o Museu Casa do Sertão da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) é um abraço de boas vindas que a cidade Feira de Santana – chamada “Princesa do Sertão” por Rui Barbosa – oferece ao Sertão.
Além do acervo documental do Monsenhor Renato de Andrade Galvão (), um padre sertanejo, a Casa do Sertão mostra a síntese concreta de tudo o quanto dissemos e refletimos nas sete postagens anteriores.
- 500 peças de pequeno e grande porte de palha, fibra, couro, madeitra, tecido, barro, metal, pedra, flandre
- peças fonográficas sobre forró, baião, xaxado, modas de viola, canbtorias, aboios, toadas, discos do início de carreira de Luiz Gonzaga.
- acervo bibliográficos nas áreas de história, antropologia, sociologia, cultura popular.
- acervo expressivo de literatura de cordel.
- painéis artísticos com temas sertanejos.
- acervo fotográfico sobre manifestações populares do Sertão.
- pinturas, esculturas, cerâmica, xilogravura, clichês..
- brinquedos populares, utensílios de cozinha (panelas, tachos, moringas, potes ...)
- adereços de palha: chapéus, abanadores.
- peças do vestuário usado pelos vaqueiros.
- instrumentos musicais.
- instrumentos de trabalho, (arado, cangalhas, bangüês) de caça e pesca.
- armas (cravinotes, espingardas, pistolas)
- instrumentos de montaria: arreios, rabichos, peias.
- mobiliário do quarto do sertanejo.
- periódicos, revistas, jornais.
- acervo de revisas do início do século XX e de jornais do século XIX.
O Museu Casa do Sertão, a exemplo dos congêneres, é a forma e o braço amigo com que a cidade recebe e acolhe o Sertão. É um lugar de sínteses concretas..
quarta-feira, 21 de abril de 2010
BRASÍLIA 50 ANOS - A BRASÍLIA DA MINHA CABEÇA DE MENINO DE DEZ ANOS
BRASÍLIA 50 ANOS - A BRASÍLIA DA MINHA CABEÇA DE MENINO DE DEZ ANOS
Vicente Deocleciano Moreira
Não havia televisão na casa em que eu morava aos dez anos de idade, quando Brasília foi inaugurada, em 21 de abril de 1960, com toda a pompa e circunstância cabíveis ao ato. Acompanhei toda a festa pelo rádio. Porém, tudo o que eu tenho visto, pela TV e ao vivo na própria capital federal, me deixa uma dúvida tão incômoda como desprovida de sentido: será que, realmente, não ví a inaugoração de Brasília pela TV, em 21 de abril de 1960 - no quanto pode ter de exato esse dia? Apresso-me a responder que NÃO.
As imagens da construção e da inauguração de Brasília que até hoje, 50 anos depois, bombardeiam minha mente talvez sejam a causa da dúvida e da confusão. Ná época, me ajudaram bastante as fotografias em sépia que ví na revista "O Cruzeiro"; elas foram de grande valia para complementar as imagens que construí na minha cabeça a partir do noticiário bombástico, escandaloso vindo do rádio. Sim bombástico e escandaloso - pois, mesmo sem a concrorrência da TV, (cocorrência que hoje é tão trivial e abusada)o rádio já necessitava substituir pelos gritos a compreensível ausência de imagens visuais.
Houve grande conflito nas imagens que pintei desde o alarde radiofônico e as que ví em "O Cruzeiro". As do rádio que inisitiam tanto em alardear uma cidade futurista, de arquitetura a mais moderna do mundo, me mostravam uma cidade futurista daquela que eu via e lia nas revistas em quadrinhos do herói Flash Gordon. Quando ví as da revista qual não foi a minha decepção.
A Brasília real - a julgar pela qualidade e realidade das fotos de "O Cruzeiro" me mostraram uma Brasília muito aquém de uma cidade futurista, da capital que diziam ser a mais moderna do mundo.
Não guardo, de memória, os discursos de todos quantos falaram então. Porém jamais esquecí do eco, da reverberação metálica deles a chicotear os quatro cantos da sala.
Vicente Deocleciano Moreira
Não havia televisão na casa em que eu morava aos dez anos de idade, quando Brasília foi inaugurada, em 21 de abril de 1960, com toda a pompa e circunstância cabíveis ao ato. Acompanhei toda a festa pelo rádio. Porém, tudo o que eu tenho visto, pela TV e ao vivo na própria capital federal, me deixa uma dúvida tão incômoda como desprovida de sentido: será que, realmente, não ví a inaugoração de Brasília pela TV, em 21 de abril de 1960 - no quanto pode ter de exato esse dia? Apresso-me a responder que NÃO.
As imagens da construção e da inauguração de Brasília que até hoje, 50 anos depois, bombardeiam minha mente talvez sejam a causa da dúvida e da confusão. Ná época, me ajudaram bastante as fotografias em sépia que ví na revista "O Cruzeiro"; elas foram de grande valia para complementar as imagens que construí na minha cabeça a partir do noticiário bombástico, escandaloso vindo do rádio. Sim bombástico e escandaloso - pois, mesmo sem a concrorrência da TV, (cocorrência que hoje é tão trivial e abusada)o rádio já necessitava substituir pelos gritos a compreensível ausência de imagens visuais.
Houve grande conflito nas imagens que pintei desde o alarde radiofônico e as que ví em "O Cruzeiro". As do rádio que inisitiam tanto em alardear uma cidade futurista, de arquitetura a mais moderna do mundo, me mostravam uma cidade futurista daquela que eu via e lia nas revistas em quadrinhos do herói Flash Gordon. Quando ví as da revista qual não foi a minha decepção.
A Brasília real - a julgar pela qualidade e realidade das fotos de "O Cruzeiro" me mostraram uma Brasília muito aquém de uma cidade futurista, da capital que diziam ser a mais moderna do mundo.
Não guardo, de memória, os discursos de todos quantos falaram então. Porém jamais esquecí do eco, da reverberação metálica deles a chicotear os quatro cantos da sala.
BRASÍLIA 50 ANOS - REGISTRO E RECOMENDAÇÃO
BRASÍLIA 50 ANOS (21 DE ABRIL DE 1960 - 21 DE ABRIL DE 2010)
NOSSO BLOG RECOMENDA A LEITURA DO CADERNO ESPECIAL, PUBLICADO NA FOLHA DE SÃO PAULO DE HOJE - 21 DE ABRIL - COM DOZE PÁGINAS DE ARTIGOS, ILUSTRAÇÕES E MEMÓRIA.
NOSSO BLOG RECOMENDA A LEITURA DO CADERNO ESPECIAL, PUBLICADO NA FOLHA DE SÃO PAULO DE HOJE - 21 DE ABRIL - COM DOZE PÁGINAS DE ARTIGOS, ILUSTRAÇÕES E MEMÓRIA.
INTERFACES 7 – FESTAS JUNINAS
Interfaces Antropologia e História do urbano. CIDADESSERTÃO: A CIDADE RECEBE E ACOLHE O SERTÃO: 7 – Festas Juninas
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA – Blog http://www.viverascidades.blogspot.com
A série Interfaces Antropologia e História do urbano. CIDADESSERTÃO: A CIDADE RECEBE E ACOLHE O SERTÃO vive hoje, 21 de abril/2010, sua penúltima postagem e já começa a deixar saudades. Amanhã, quinta-feira, faremos a última postagem da série: “conclusão” ou “fechamento”, arremates e alguns acréscimos ... e o que faltou dizer.
De hoje a dois meses começa o solstício de junho: o sol irá atingir o ponto mais ao Norte de sua trajetória pelo cosmo. No Hemisfério Norte, começará o verão, no Sul o inverno. Quando este fenômeno solsticial acontecer, o Nordeste (e outras regiões brasileiras) já terá comemorado a Festas do Dia dos Namorados (12 de junho) e de Santo Antonio (dia 13 e, às vésperas da Festa de São João (23/24 de junho), já não caberá em si de tão contente. Não se contentará de contente. O que a Natureza, com a ajuda da própria Natureza, dos humanos e, de São José conseguirem até então produzir de milho, pinhão, laranja, amendoins ... a sorte estará lançada.
Eu plantei meu milho todo no dia de São José
Se me ajuda a providência, vamos ter milho à grané
Vou coiê pelos meus caico
20 espiga em cada pé
Pelos caico eu vou coiê 20 espiga em cada pé
Ai São João, São João do Carneirinho
Você é tão bonzinho
Fale com São José, fale lá com São José
Peça Pra ele me ajudar
Peça pra meu milho dá
20 espiga em cada pé.
(Luiz Gonzaga e Guio Morais – “São João do Carneirinho”)
Se chover no Sertão no Dia de São José (19 de março), a cidade consumirá, mais e com menos preço, milho (cozido, assado), fubá, canjica, curau, lêlê, mungunzá, pamonha de milho, amendoins cozido, bode na brasa, laranja ... além de licor. Um banquete pantagruélico à altura para comemorará a recepção e o acolhimento do Sertão pela cidade.
É possível registrar ainda, na cidades, costumes rurais, sertanejos como quermesses, festas de largo e um rito de visitas aos vizinhos que tem seu ponto alto na pergunta que os visitantes fazem ao possível ou forçado anfitrião: “São João já passou por aqui?”. Claro que, para evitar surpresas e respostas desagradáveis e desviantes da tradição, (“Não, São João ainda não passou por aqui.”) as famílias preparam e deixam sobre a mesa pratos com canjica, amendoins cozidos, pamonhas, à disposição dos animados e esfomeados visitantes. Em muitas cidades, a exemplo de Petrolina (Pernambuco), São João é, também, festa de largo.
DIA DOS NAMORADOS
As festas juninas, urbe et orbe, cidade e Sertão, são as festas do amor e da fecundidade. Começam no Dia dos Namorados, 12 de junho, de forte apelo comercial – pode-se acusar – mas também junina e coerente com o espírito amoroso, afetivo, amor cortês e casamenteiro do mês.
Numa leitura a partir da Antropologia do Amor, namoro em princípio e no princípio é processo ritual (e seus ritos de agregação, liminaridade e agregação) que marca o início da vida amorosa. Paquerar, Ficar, Namorar são faces desse mesmo processo ritual. Namorar é o começo de tudo; seu dia – como já sabemos – é 12 de junho.
SANTO ANTONIO
Se o namoro sugere, inspira, continuidade afetiva eis que – na rapidez de 24 horas depois – chegou o Dia de Santo Antonio,13 de junho, herança lusitana, santo casamenteiro, amigo de quem está só à procura de um amor, amigo de quem quer manter o amor conquistado, no Brasil e (et por cause) em Portugal.
Cá vai a marcha, mais o meu par
Se eu não trouxesse, quem o havia de aturar?
Não digas sim, não digas não
Negócios de amor são sem precaução
Já não há praça dos bailaricos
Tronos de luxo no altar de manjericos
Mas sem a praça que foi da Figueira
A gente cá vai quer queira ou não queira
Ó noite de Santo Antônio
Ó Lisboa de encantar
De alcachofras a florir
De foguetes a estourar
Enquanto os bairros cantarem
Enquanto houver arraiais
Enquanto houver Santo Antônio
Lisboa não morre mais
Lisboa é sempre a namoradeira
Tantos derriços que já até fazem fileira
Não digas sim, não me digas não
Amar é destino, cantar é condão
Uma cantiga, uma aquarela
Um cravo aberto debruçado da janela
Lisboa linda do meu bairro antigo
Dá-me teu bracinho
Vem bailar comigo(
Norberto Araújo e Raul Ferrão – “Noite de Santo Antonio”, imortalizada pela voz de Amália Rodrigues, cantora portuguesa)
Antonio é santo milagreiro da ubiquidade e endereço mágico-religioso dos querem casar – e estão passando algumas dificuldades para realizar tal sonho. A tradição religiosa manda cantar com fé:
Subie precioso incenso
Até o trono do altíssimo
Incensai glorioso Antônio
Com perfume suavíssimo
...
Esta linda esperança
Que envolve a alma pia
Seja aceita lá no céu
Por Antônio e Maria
...
Subie precioso incenso
Até o trono do altíssimo
Incensai glorioso Antônio
Com perfume suavíssimo
Até as flores se alegram
Com o surgir do vosso nome
Subie precioso incenso
Incensai glorioso Antônio
...
Subie precioso incenso
Até o trono do altíssimo
Incensai glorioso Antônio
Com perfume suavíssimo
(Autor desconhecio – “Incenso”)
SÃO JOÃO
São João, dia 24, é a festa da fogueira, do arder dos paus, da lenha, dos pênis. Vizinhos, homens na cidade e no Sertão, ficam ansiosos em mostrar aos outros homens que os paus da sua fogueira – seus próprios pênis - são mais bonitos porque ardem mais. Pau seco e duro, de boa madeira, eis o pau bom para queimar, arder. Pau velho e molhado não queima.
Dançamos quadrilha, nomeamos compadres/comadres de fogueira quem pula conosco sobre a fogueira. E como ocorre em todo compadrio, estão proibidas entre nós as relações sexuais. Não rars vezes, o compadrio de fogueira é uma forma de repressão sexual; tanto que, derrubado o muro da interdição, mandamos o compadrio e suas proibições às favas ... mas perdemos - por definição - o parentesco de compadrio.
O fogo que arde na moça e no rapaz é tanto que, zelosos, pais e mães chamam e clamam por São Paulo (Bíblia):
“Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido” (1 Co 7.2).
“Se não podem conter-se, casem-se; porque é melhor casar do que ficar ardendo em desejos, do que abrasar-se”. (v.9)
São João é também a festa dos grãos, , das sementes (milho, amendoins), do sêmem que, se for de boa qualidade, ou seja, plantado no Dia de São José – padroeiro da família, membro da Sagrada Família, virão belas espigas, pênis rijos e espigados com o maior tesão e de bom funcionamento erétil. E, além disso, exibidores de bons semens, milhos graúdos, espermatozóides velozes e óvulos francamente receptivos. São João é, também, casamento na roça e na cidade.
Lá e cá, manda a tradição que depois, do “eu vos declaro marido e mulher”, lancemos grãos de arroz sobre o alegre casal ... para desejar-lhes bons espermatozóides, bons óvulos ... fertilidade e muitos filhos enfim. Arroz é mais delicado. Jogar milho (grão tão apreciado pelas galinhas) seria profundamente ofensivo para ele e para ela - pelo significado que tem a expressão ‘galinha’ para rotular homens e mulheres de conduta sexual, erótica, desenfreada e infiel. Afinal, daqui por diante a fidelidade unirá, mais e mais, os dois numa só carne. Que não separe o homem o que Deus uniu.
A riqueza do São João – que a cidade recebe do Sertão – mostra o sexo ingênuo de crianças da Educação Infantil, nas escolas urbanas. Meninos e meninas são vestidos com a ingenuidade das roupas ‘caipiras’, chapéus de palha. Desenham-se bigodes e costeletas (suissas) no rosto dos meninos. As meninas, os rostos maquiados com exagero previsível, dançam de modo sedutor. Crianças querendo ser adultos. Há toda uma conotação, nas festas juninas, que remete à ingenuidade, à pureza dos começos:
Ai que saudades que eu sinto
Das noites de São João
Das noites tão brasileiras na fogueira
Sob o luar do sertão
Meninos brincando de roda
Velhos soltando balão
Moços em volta à fogueira
Brincando com o coração
Eita, São João dos meus sonhos
Eita, saudoso sertão(
Luiz Gonzaga – “Noites Brasileiras”)
“Meninos brincando de roda” – jogo de sedução; “Velhos soltando balão” – frustração erétil e sexual; “Moços em volta à fogueira / Brincando com o coração” – paquera, insinuação de namoro e, ante a fogueira, quentes promessas de sexualidade.
SÃO PEDRO
Encerrando as festas juninas dia 29 temos São Pedro, o viúvo. A amor que, começado com mil promessas em Santo Antonio, termina com a morte de um dos cônjuges. Daí que a tradição recomenda que só vi[uvas e viúvos acendam fogueira no Dia de São Pedro. Como praticamos inúmeros ritos de evitação da morte,. Na maioria dos lugares São João é mais animado que São Pedro. Até mesmo o dia 29 de junho, antes feriado _ tanto quanto o 24 de junho – hoje, na maioria dos lugares, é um “dia útil”, como outro qualquer. Nada de feriado, afinal o Brasil precisa crescer ... para que tanto feriado?. Essa é a boa desculpa para fugirmos da indesejável, mas inevitável, viuvez.
AINDA JOÃO
capelinha de melão
É de São João
É de cravo, é de rosas
É de manjericão
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
Meu glorioso Santo Antônio
A sua capela cheira
Cheira a cravos, cheira a rosas
Cheira a flor de laranjeiras
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
Pedro perdeu as flores
Por delas não estar junto
Não tem cravo, não tem rosas
Tem capela de defunto
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
Saudemos a São Pedro
E também a São João
Saudemos a Santo Antônio
Com canjica e balão
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
Onde está João Batista
Ele não está na igreja
Anda de casa em casa
Para ver quem o festeja
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
Fui pedir a São João
Que me fizesse casar
Dez noivos me vieram
Nenhum deles quis casar
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
São João é bem bonzinho
Porém é muito velhaco
Fui pedir me desse um noivo
Quando olhei já tinha quatro
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
(Autor desconhecido - "Capélinha de Melão")
Uma tradição, tributária da Biblia (Novo Testamento / Evangelho de São João/Apocalipse) percorre ruas do Sertão e das cidades: São João está dormindo, no seu dia. Melhor assim, pois se o acordarmos com nossos fogos – os de artifício e inclusive os da fogueira e do nosso próprio fogo sexual - o mundo se acabará. Pecadores temerários e irresponsáveis, talvez céticos, que somos, , continuamos a explodir todos os nossos fogos, no dia de São João.
Ainda cabe espaço (e advertência) para a profecia do Apocalipse:
“ O Anjo falou ainda: «Não guarde em segredo as palavras da profecia deste livro, pois o tempo está próximo. 11 O injusto, que continue com sua injustiça; o sujo, que continue com suas sujeiras; o justo, pratique ainda a justiça; o santo, continue a se santificar! 12 Eis que venho em breve, e comigo trago o salário para retribuir a cada um conforme o seu trabalho. 13 Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o último, o Princípio e o Fim. 14 Felizes aqueles que lavam suas roupas para terem poder sobre a árvore da Vida, e para entrarem na Cidade pelas portas. 15 Vão ficar de fora os cães, os feiticeiros, os imorais, os assassinos, os idólatras, e todos os que amam ou praticam a mentira”
HAVERÁ AMANHÃ. ATÉ AMANHÃ..
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA – Blog http://www.viverascidades.blogspot.com
A série Interfaces Antropologia e História do urbano. CIDADESSERTÃO: A CIDADE RECEBE E ACOLHE O SERTÃO vive hoje, 21 de abril/2010, sua penúltima postagem e já começa a deixar saudades. Amanhã, quinta-feira, faremos a última postagem da série: “conclusão” ou “fechamento”, arremates e alguns acréscimos ... e o que faltou dizer.
De hoje a dois meses começa o solstício de junho: o sol irá atingir o ponto mais ao Norte de sua trajetória pelo cosmo. No Hemisfério Norte, começará o verão, no Sul o inverno. Quando este fenômeno solsticial acontecer, o Nordeste (e outras regiões brasileiras) já terá comemorado a Festas do Dia dos Namorados (12 de junho) e de Santo Antonio (dia 13 e, às vésperas da Festa de São João (23/24 de junho), já não caberá em si de tão contente. Não se contentará de contente. O que a Natureza, com a ajuda da própria Natureza, dos humanos e, de São José conseguirem até então produzir de milho, pinhão, laranja, amendoins ... a sorte estará lançada.
Eu plantei meu milho todo no dia de São José
Se me ajuda a providência, vamos ter milho à grané
Vou coiê pelos meus caico
20 espiga em cada pé
Pelos caico eu vou coiê 20 espiga em cada pé
Ai São João, São João do Carneirinho
Você é tão bonzinho
Fale com São José, fale lá com São José
Peça Pra ele me ajudar
Peça pra meu milho dá
20 espiga em cada pé.
(Luiz Gonzaga e Guio Morais – “São João do Carneirinho”)
Se chover no Sertão no Dia de São José (19 de março), a cidade consumirá, mais e com menos preço, milho (cozido, assado), fubá, canjica, curau, lêlê, mungunzá, pamonha de milho, amendoins cozido, bode na brasa, laranja ... além de licor. Um banquete pantagruélico à altura para comemorará a recepção e o acolhimento do Sertão pela cidade.
É possível registrar ainda, na cidades, costumes rurais, sertanejos como quermesses, festas de largo e um rito de visitas aos vizinhos que tem seu ponto alto na pergunta que os visitantes fazem ao possível ou forçado anfitrião: “São João já passou por aqui?”. Claro que, para evitar surpresas e respostas desagradáveis e desviantes da tradição, (“Não, São João ainda não passou por aqui.”) as famílias preparam e deixam sobre a mesa pratos com canjica, amendoins cozidos, pamonhas, à disposição dos animados e esfomeados visitantes. Em muitas cidades, a exemplo de Petrolina (Pernambuco), São João é, também, festa de largo.
DIA DOS NAMORADOS
As festas juninas, urbe et orbe, cidade e Sertão, são as festas do amor e da fecundidade. Começam no Dia dos Namorados, 12 de junho, de forte apelo comercial – pode-se acusar – mas também junina e coerente com o espírito amoroso, afetivo, amor cortês e casamenteiro do mês.
Numa leitura a partir da Antropologia do Amor, namoro em princípio e no princípio é processo ritual (e seus ritos de agregação, liminaridade e agregação) que marca o início da vida amorosa. Paquerar, Ficar, Namorar são faces desse mesmo processo ritual. Namorar é o começo de tudo; seu dia – como já sabemos – é 12 de junho.
SANTO ANTONIO
Se o namoro sugere, inspira, continuidade afetiva eis que – na rapidez de 24 horas depois – chegou o Dia de Santo Antonio,13 de junho, herança lusitana, santo casamenteiro, amigo de quem está só à procura de um amor, amigo de quem quer manter o amor conquistado, no Brasil e (et por cause) em Portugal.
Cá vai a marcha, mais o meu par
Se eu não trouxesse, quem o havia de aturar?
Não digas sim, não digas não
Negócios de amor são sem precaução
Já não há praça dos bailaricos
Tronos de luxo no altar de manjericos
Mas sem a praça que foi da Figueira
A gente cá vai quer queira ou não queira
Ó noite de Santo Antônio
Ó Lisboa de encantar
De alcachofras a florir
De foguetes a estourar
Enquanto os bairros cantarem
Enquanto houver arraiais
Enquanto houver Santo Antônio
Lisboa não morre mais
Lisboa é sempre a namoradeira
Tantos derriços que já até fazem fileira
Não digas sim, não me digas não
Amar é destino, cantar é condão
Uma cantiga, uma aquarela
Um cravo aberto debruçado da janela
Lisboa linda do meu bairro antigo
Dá-me teu bracinho
Vem bailar comigo(
Norberto Araújo e Raul Ferrão – “Noite de Santo Antonio”, imortalizada pela voz de Amália Rodrigues, cantora portuguesa)
Antonio é santo milagreiro da ubiquidade e endereço mágico-religioso dos querem casar – e estão passando algumas dificuldades para realizar tal sonho. A tradição religiosa manda cantar com fé:
Subie precioso incenso
Até o trono do altíssimo
Incensai glorioso Antônio
Com perfume suavíssimo
...
Esta linda esperança
Que envolve a alma pia
Seja aceita lá no céu
Por Antônio e Maria
...
Subie precioso incenso
Até o trono do altíssimo
Incensai glorioso Antônio
Com perfume suavíssimo
Até as flores se alegram
Com o surgir do vosso nome
Subie precioso incenso
Incensai glorioso Antônio
...
Subie precioso incenso
Até o trono do altíssimo
Incensai glorioso Antônio
Com perfume suavíssimo
(Autor desconhecio – “Incenso”)
SÃO JOÃO
São João, dia 24, é a festa da fogueira, do arder dos paus, da lenha, dos pênis. Vizinhos, homens na cidade e no Sertão, ficam ansiosos em mostrar aos outros homens que os paus da sua fogueira – seus próprios pênis - são mais bonitos porque ardem mais. Pau seco e duro, de boa madeira, eis o pau bom para queimar, arder. Pau velho e molhado não queima.
Dançamos quadrilha, nomeamos compadres/comadres de fogueira quem pula conosco sobre a fogueira. E como ocorre em todo compadrio, estão proibidas entre nós as relações sexuais. Não rars vezes, o compadrio de fogueira é uma forma de repressão sexual; tanto que, derrubado o muro da interdição, mandamos o compadrio e suas proibições às favas ... mas perdemos - por definição - o parentesco de compadrio.
O fogo que arde na moça e no rapaz é tanto que, zelosos, pais e mães chamam e clamam por São Paulo (Bíblia):
“Mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido” (1 Co 7.2).
“Se não podem conter-se, casem-se; porque é melhor casar do que ficar ardendo em desejos, do que abrasar-se”. (v.9)
São João é também a festa dos grãos, , das sementes (milho, amendoins), do sêmem que, se for de boa qualidade, ou seja, plantado no Dia de São José – padroeiro da família, membro da Sagrada Família, virão belas espigas, pênis rijos e espigados com o maior tesão e de bom funcionamento erétil. E, além disso, exibidores de bons semens, milhos graúdos, espermatozóides velozes e óvulos francamente receptivos. São João é, também, casamento na roça e na cidade.
Lá e cá, manda a tradição que depois, do “eu vos declaro marido e mulher”, lancemos grãos de arroz sobre o alegre casal ... para desejar-lhes bons espermatozóides, bons óvulos ... fertilidade e muitos filhos enfim. Arroz é mais delicado. Jogar milho (grão tão apreciado pelas galinhas) seria profundamente ofensivo para ele e para ela - pelo significado que tem a expressão ‘galinha’ para rotular homens e mulheres de conduta sexual, erótica, desenfreada e infiel. Afinal, daqui por diante a fidelidade unirá, mais e mais, os dois numa só carne. Que não separe o homem o que Deus uniu.
A riqueza do São João – que a cidade recebe do Sertão – mostra o sexo ingênuo de crianças da Educação Infantil, nas escolas urbanas. Meninos e meninas são vestidos com a ingenuidade das roupas ‘caipiras’, chapéus de palha. Desenham-se bigodes e costeletas (suissas) no rosto dos meninos. As meninas, os rostos maquiados com exagero previsível, dançam de modo sedutor. Crianças querendo ser adultos. Há toda uma conotação, nas festas juninas, que remete à ingenuidade, à pureza dos começos:
Ai que saudades que eu sinto
Das noites de São João
Das noites tão brasileiras na fogueira
Sob o luar do sertão
Meninos brincando de roda
Velhos soltando balão
Moços em volta à fogueira
Brincando com o coração
Eita, São João dos meus sonhos
Eita, saudoso sertão(
Luiz Gonzaga – “Noites Brasileiras”)
“Meninos brincando de roda” – jogo de sedução; “Velhos soltando balão” – frustração erétil e sexual; “Moços em volta à fogueira / Brincando com o coração” – paquera, insinuação de namoro e, ante a fogueira, quentes promessas de sexualidade.
SÃO PEDRO
Encerrando as festas juninas dia 29 temos São Pedro, o viúvo. A amor que, começado com mil promessas em Santo Antonio, termina com a morte de um dos cônjuges. Daí que a tradição recomenda que só vi[uvas e viúvos acendam fogueira no Dia de São Pedro. Como praticamos inúmeros ritos de evitação da morte,. Na maioria dos lugares São João é mais animado que São Pedro. Até mesmo o dia 29 de junho, antes feriado _ tanto quanto o 24 de junho – hoje, na maioria dos lugares, é um “dia útil”, como outro qualquer. Nada de feriado, afinal o Brasil precisa crescer ... para que tanto feriado?. Essa é a boa desculpa para fugirmos da indesejável, mas inevitável, viuvez.
AINDA JOÃO
capelinha de melão
É de São João
É de cravo, é de rosas
É de manjericão
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
Meu glorioso Santo Antônio
A sua capela cheira
Cheira a cravos, cheira a rosas
Cheira a flor de laranjeiras
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
Pedro perdeu as flores
Por delas não estar junto
Não tem cravo, não tem rosas
Tem capela de defunto
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
Saudemos a São Pedro
E também a São João
Saudemos a Santo Antônio
Com canjica e balão
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
Onde está João Batista
Ele não está na igreja
Anda de casa em casa
Para ver quem o festeja
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
Fui pedir a São João
Que me fizesse casar
Dez noivos me vieram
Nenhum deles quis casar
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
São João é bem bonzinho
Porém é muito velhaco
Fui pedir me desse um noivo
Quando olhei já tinha quatro
Acordai, acordai
Acordai João
João está dormindo
Não acorda, não
(Autor desconhecido - "Capélinha de Melão")
Uma tradição, tributária da Biblia (Novo Testamento / Evangelho de São João/Apocalipse) percorre ruas do Sertão e das cidades: São João está dormindo, no seu dia. Melhor assim, pois se o acordarmos com nossos fogos – os de artifício e inclusive os da fogueira e do nosso próprio fogo sexual - o mundo se acabará. Pecadores temerários e irresponsáveis, talvez céticos, que somos, , continuamos a explodir todos os nossos fogos, no dia de São João.
Ainda cabe espaço (e advertência) para a profecia do Apocalipse:
“ O Anjo falou ainda: «Não guarde em segredo as palavras da profecia deste livro, pois o tempo está próximo. 11 O injusto, que continue com sua injustiça; o sujo, que continue com suas sujeiras; o justo, pratique ainda a justiça; o santo, continue a se santificar! 12 Eis que venho em breve, e comigo trago o salário para retribuir a cada um conforme o seu trabalho. 13 Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o último, o Princípio e o Fim. 14 Felizes aqueles que lavam suas roupas para terem poder sobre a árvore da Vida, e para entrarem na Cidade pelas portas. 15 Vão ficar de fora os cães, os feiticeiros, os imorais, os assassinos, os idólatras, e todos os que amam ou praticam a mentira”
HAVERÁ AMANHÃ. ATÉ AMANHÃ..
terça-feira, 20 de abril de 2010
Interfaces 6 – MÚSICA, DANÇA E CINEMA
Interfaces Antropologia e História do urbano. CIDADESSERTÃO: A CIDADE RECEBE E ACOLHE O SERTÃO: 6 – Música, Dança e Cinema
Quando oiei a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu,ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus óio
Se espanhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
(Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira - “Asa Branca”)
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA – Blog http://www.viverascidades.blogspot.com
Em Campina Grande (Paraíba – Brasil), as emissoras de rádio tocam forró o ano inteiro, todos os dias. É lá que acontece o maior São João do Nordeste e do Brasil, numa praça chamada “Pátio do Povo”; e que oferece aos foliões viagens no “Trem do forró”. Em São Paulo, existem animadas casas de forró ... até porque são imensas a presença e a influência cultural dos nordestinos naquela capital.
Compositores e cantores nordestinos parecem nordestinados a fazer nascer uma estrela que dance, exatamente porque têm dentro de si um caos que é o próprio Nordeste. Um caos grave e conciso como a literatura de Graciliano Ramos. Eles são heróis nietzscheanos, incorporam nas veias e nmas vísceras a frase de Nietzsche: “É preciso ter um caos dentro de si para fazer nascer uma estrela que dance”. E quantos de nós já nos deliciamos e já dançamos com Luiz Gonzaga (cantor e compositor pernambucano – 1912-1989) cantando Asa Branca”? Quanto de nós – nesses momentos de êxtase – se concentro no significado e no conteúdo de desolação e de guerra perdida que “Asa Branca” evoca?
Guerra perdida mas, mesmo assim, o sertanejo é uma fortaleza antes e depois de tudo. A cidade recebe e acolhe o Sertão quando canta suas músicas, quando dança suas danças, forró, maracatu, xaxado, maculelê, bumba-meu-boi, baião, carimbó, chula, xote, com toda alegria, ainda que nem sempre a letra seja alegre. Quando vê filmes do Cinema Novo se vê em tudo o que ali se vê: familiaridades com violência e seca, mandonismo, coronelismo, guerra entre famílias ... planetários arcaicos.
Rimando sem rimar amor e dor, Elomar (cantor e compositor baiano – 1937) também faz nascer – dum caos – uma estrela que dança:
Vai pela istrada enluarada
Tanta gente a ritirar
Levando só necessidade
Saudades do seu lugar
Esse povo muito longe
Sem trabalho, vem prá cá
Vai pela istrada enluarada
Com tanta gente a ritirar
Rumano para a cidade
Sem vontade de chegar
Passa dia, passa tempo
Passa o mundo devagar
Lembrança passa com o vento
Pidindo não ritirar
Tudo passa nesse mundo
Só não passa o sofrimento
Vai pela istrada enluarada
Com tanta gente a ritirar
Sem saber que mais adiante
Um ritirante vai ficar
Se eu tivesse algum querer
Nesse mundo de ilusão
Não deixava que a saudade sociada cum penar
Vivesse pelas estradas do sofrer a mendigar
Vai pela estrada enluarada
Com tanta gente a ritirar
Levando nos ombros a cruz
Que Jesus deixou ficar
Eu não canto por soberba
Nem tanto por reclamar
Em minha vida de labuta
Canto o prazer, canto a dor
Que as beleza devoluta
Que Deus no sertão botou
Vai pela estrada enluarada
Com tanta gente a ritirar
Passando com taça e veno
Bebendo fé e luar.
(Elomar Figueira Melo – “Retirada”)
Sábado passado, dia 17 de abril/2010, como um Zaratustra sertanejo Elomar emocionou mais de 1.400 admiradores, de vários estados do Brasil que viajaram, desde suas cidades de origem até o sertão do distrito de Iguá (20 Km de Vitória da Conquista – Bahia – Brasil). Todos extasiados sob a luz de candeeiros que iluminavam a boca de cena do palco, armado na fazenda de Elomar, que abrigou o concerto “Sete violeiros lá na Casa dos Carneiros”. Todos viveram momentos de iluminação e bemaventurança. Graças ao canto e à magia de Elomar.
Com “uma câmara na mão e mil idéias na cabeça”, Gláuber Rocha (cineasta baiano – 1939-1981), nascido, como Elomar, em Vitória da Conquista, foi um outro herói nietzscheano. Ele nos presenteou e ao mundo com “Barravento” (1962), “Deus e o Diabo na terra do sol” (1963), “Terra em transe” (1967), “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” (1968) e tantas outras estrelas dançantes.
Luiz Gonzaga, Elomar Figueira Melo e Gláuber Rocha têm sido demiurgos e portas do arco da aliança entre cidade e Sertão. Eles são deuses que dançam. E Nietzsche só acredita em deuses que dançam.
Quando oiei a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu,ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus óio
Se espanhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
(Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira - “Asa Branca”)
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA – Blog http://www.viverascidades.blogspot.com
Em Campina Grande (Paraíba – Brasil), as emissoras de rádio tocam forró o ano inteiro, todos os dias. É lá que acontece o maior São João do Nordeste e do Brasil, numa praça chamada “Pátio do Povo”; e que oferece aos foliões viagens no “Trem do forró”. Em São Paulo, existem animadas casas de forró ... até porque são imensas a presença e a influência cultural dos nordestinos naquela capital.
Compositores e cantores nordestinos parecem nordestinados a fazer nascer uma estrela que dance, exatamente porque têm dentro de si um caos que é o próprio Nordeste. Um caos grave e conciso como a literatura de Graciliano Ramos. Eles são heróis nietzscheanos, incorporam nas veias e nmas vísceras a frase de Nietzsche: “É preciso ter um caos dentro de si para fazer nascer uma estrela que dance”. E quantos de nós já nos deliciamos e já dançamos com Luiz Gonzaga (cantor e compositor pernambucano – 1912-1989) cantando Asa Branca”? Quanto de nós – nesses momentos de êxtase – se concentro no significado e no conteúdo de desolação e de guerra perdida que “Asa Branca” evoca?
Guerra perdida mas, mesmo assim, o sertanejo é uma fortaleza antes e depois de tudo. A cidade recebe e acolhe o Sertão quando canta suas músicas, quando dança suas danças, forró, maracatu, xaxado, maculelê, bumba-meu-boi, baião, carimbó, chula, xote, com toda alegria, ainda que nem sempre a letra seja alegre. Quando vê filmes do Cinema Novo se vê em tudo o que ali se vê: familiaridades com violência e seca, mandonismo, coronelismo, guerra entre famílias ... planetários arcaicos.
Rimando sem rimar amor e dor, Elomar (cantor e compositor baiano – 1937) também faz nascer – dum caos – uma estrela que dança:
Vai pela istrada enluarada
Tanta gente a ritirar
Levando só necessidade
Saudades do seu lugar
Esse povo muito longe
Sem trabalho, vem prá cá
Vai pela istrada enluarada
Com tanta gente a ritirar
Rumano para a cidade
Sem vontade de chegar
Passa dia, passa tempo
Passa o mundo devagar
Lembrança passa com o vento
Pidindo não ritirar
Tudo passa nesse mundo
Só não passa o sofrimento
Vai pela istrada enluarada
Com tanta gente a ritirar
Sem saber que mais adiante
Um ritirante vai ficar
Se eu tivesse algum querer
Nesse mundo de ilusão
Não deixava que a saudade sociada cum penar
Vivesse pelas estradas do sofrer a mendigar
Vai pela estrada enluarada
Com tanta gente a ritirar
Levando nos ombros a cruz
Que Jesus deixou ficar
Eu não canto por soberba
Nem tanto por reclamar
Em minha vida de labuta
Canto o prazer, canto a dor
Que as beleza devoluta
Que Deus no sertão botou
Vai pela estrada enluarada
Com tanta gente a ritirar
Passando com taça e veno
Bebendo fé e luar.
(Elomar Figueira Melo – “Retirada”)
Sábado passado, dia 17 de abril/2010, como um Zaratustra sertanejo Elomar emocionou mais de 1.400 admiradores, de vários estados do Brasil que viajaram, desde suas cidades de origem até o sertão do distrito de Iguá (20 Km de Vitória da Conquista – Bahia – Brasil). Todos extasiados sob a luz de candeeiros que iluminavam a boca de cena do palco, armado na fazenda de Elomar, que abrigou o concerto “Sete violeiros lá na Casa dos Carneiros”. Todos viveram momentos de iluminação e bemaventurança. Graças ao canto e à magia de Elomar.
Com “uma câmara na mão e mil idéias na cabeça”, Gláuber Rocha (cineasta baiano – 1939-1981), nascido, como Elomar, em Vitória da Conquista, foi um outro herói nietzscheano. Ele nos presenteou e ao mundo com “Barravento” (1962), “Deus e o Diabo na terra do sol” (1963), “Terra em transe” (1967), “O dragão da maldade contra o santo guerreiro” (1968) e tantas outras estrelas dançantes.
Luiz Gonzaga, Elomar Figueira Melo e Gláuber Rocha têm sido demiurgos e portas do arco da aliança entre cidade e Sertão. Eles são deuses que dançam. E Nietzsche só acredita em deuses que dançam.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Interfaces 5 – LITERATURA DE CORDEL
Interfaces Antropologia e História do urbano. CIDADESSERTÃO: A CIDADE RECEBE E ACOLHE O SERTÃO: 5 – Literatura de Cordel
“Meus leitores conterrâneos
Leiam este com atenção
Com responsabilidade
Nessa histórica missão
Noticio a mudança
Da feira de tradição
A nova não ta legal
É uma total lameira
Que até atola carro
Que descarrega na feira
Sem transporte coletivo
Só escada e ladeira
Dona de casa não pode
Ir lá fazer sua compra
Pagar táxi é prá rico
Se carregar, se estrompa
Quem subir rampa e escada
Carregada se arromba
Os feirantes já procuram
Outra feira pra vender
O Centro d’Abastecimento
Tá botando pra feder
Ninguém vende nada lá
Tudo está a apodrecer
A feira livre que tinha
Duzentos anos de história
Nos dias de segunda-feira
Era pra cidade a glória
Com turistas e sertanejos
Gente rude ou finaria”
(Franklin Machado, cordelista, advogado e jornalista). Estes versos testemunham o fim da feira livre de Feira de Santana – Bahia - Brasil, em 10 de janeiro de 1977, e as dificuldades iniciais de acesso e de comércio no então recém-construído Centro de Abastecimento para onde os ex-feirantes, a partir daquela data, foram transferidos.
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA – Blog http://www.viverascidades.blogspot.com
A literatura de cordel, ou simplesmente cordel, de antiga e crescente sobrevivência principalmente nas feiras livres e nas praças das cidades do Nordeste brasileiro, de variadas expressões culturais e demográficas, tem origens no medievo e na renascença de Portugal e Espanha, tanto quanto no romanceiro luso-holandês. Da Espanha chegou ao Brasil com o nome cordelete, depois abreviado para cordel. No século XVIII, Portugal legou ao cordel as histórias de cavalaria ali editadas. Porém, desde o início da colonização, portugueses já haviam trazido, ao Brasil, os pequenos livros de cordel. Mas foi na segunda metade do século XIX que os temas locais (nordestinos) passaram a ocupar os versos do cordel. Leandro Gomes de Barros (1865-1918) e João Martins de Athayde (1880-1859) foram dois dos primeiros autores importantes.
O Nordeste brasileiro aculturou componentes do ciclo cavalheiresco ibérico, cujos temas clássicos do combate, da narrativa de proezas, armadilhas, lutas aguerridas, dilemas de variada ordem, personagem teratológicos e satânicos, que sempre sucumbem à coragem dos heróis do Bem, foram livremente sertanizados pelos cordelistas e repentistas em livretes ilustrados por xilogravuristas e vendidos pendurados em cordões, ou cordéis, em feiras livre e praças. Na verdade, em Portugal chegou a se vender, pendurados em cordões/cordéis, até mesmo textos teatrais de Gil Vicente (1465-1536).
A cidade recebe e acolhe o cordel que, apesar de sua bem sucedida inserção no mundo urbano, trata com freqüência de temas e conjunturas afetivas, sociais e religiosas que têm as cores e as formas sociais do sertão, de sua mitologia, das histórias trágicas. Tragédia, aqui, no sentido grego da pedagogia do bem viver, da correção da convivência com o outro e do respeito aos costumes e às regras morais.
Livros de cordel são disputados, com avidez, por museus, universidades e colecionadores particulares, incrustados no mundo urbano e, portanto, longe das pelejas que – ficção ou não – têm como cenário o distante sertão.Lampião e Maria Bonita (sem falar em Getúlio Vargas,) têm cadeira cativa na literatura de cordel.
Franklin Maxado, baiano, um dos mais importantes cordelistas vivos, fala das temáticas de seus livros de cordel, emn entrevista a Lima Trindade (revista Verbo 321, de 29 de junho de 2008)
Lima Trindade – Quantos títulos de cordel você publicou até hoje? Quais fizeram maior sucesso e quais lhe agradaram mais?
Franklin Maxado – Mais de 200 em 33 anos de profissão, escrevendo desde infanto-juvenis a eróticos, romances, casos, lendas, circunstâncias, denúncias, etc: O Sapo que Desgraça o Corinthians, O Japonês que Ficou Roxo pela Mulata, O Crioulo Doido que Era um Poeta Popular, O Jumento que Virou Gente, Vaquejada de Sete Peões pra Derrubar uma Mineira, O Romance do Vaqueiro Marciano da Égua, Carta dum Pau-de-arara Apaixonado pra sua Noiva, Maria Quitéria, Heroína Baiana que Foi Homem, Profecias de Antonio Conselheiro - O Sertão já Virou Mar, A Alma de Lampião Faz Misérias no Nordeste, A Volta do Pavão Misterioso, Papagaio e as Macacas que não Estão na Mata (uma fábula urbana de bichos), o Pulo do Gato-Mestre, Os romances Feministas de Gracinha corneteira, a Malazartes de Minissaia, Horóscopo das Bichas.... Este último folheto começa assim: Se meu amigo leitor/ Não é homem ou mulher,/ Não vai ter mais o problema? Que o perturbava até? Que é ter o seu horóscopo/ Para nele crer com fé.
As raízes sertanejas da cidade trazem, ao mundo urbano, o imaginário e a riqueza criativa do Sertão.
“Meus leitores conterrâneos
Leiam este com atenção
Com responsabilidade
Nessa histórica missão
Noticio a mudança
Da feira de tradição
A nova não ta legal
É uma total lameira
Que até atola carro
Que descarrega na feira
Sem transporte coletivo
Só escada e ladeira
Dona de casa não pode
Ir lá fazer sua compra
Pagar táxi é prá rico
Se carregar, se estrompa
Quem subir rampa e escada
Carregada se arromba
Os feirantes já procuram
Outra feira pra vender
O Centro d’Abastecimento
Tá botando pra feder
Ninguém vende nada lá
Tudo está a apodrecer
A feira livre que tinha
Duzentos anos de história
Nos dias de segunda-feira
Era pra cidade a glória
Com turistas e sertanejos
Gente rude ou finaria”
(Franklin Machado, cordelista, advogado e jornalista). Estes versos testemunham o fim da feira livre de Feira de Santana – Bahia - Brasil, em 10 de janeiro de 1977, e as dificuldades iniciais de acesso e de comércio no então recém-construído Centro de Abastecimento para onde os ex-feirantes, a partir daquela data, foram transferidos.
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA – Blog http://www.viverascidades.blogspot.com
A literatura de cordel, ou simplesmente cordel, de antiga e crescente sobrevivência principalmente nas feiras livres e nas praças das cidades do Nordeste brasileiro, de variadas expressões culturais e demográficas, tem origens no medievo e na renascença de Portugal e Espanha, tanto quanto no romanceiro luso-holandês. Da Espanha chegou ao Brasil com o nome cordelete, depois abreviado para cordel. No século XVIII, Portugal legou ao cordel as histórias de cavalaria ali editadas. Porém, desde o início da colonização, portugueses já haviam trazido, ao Brasil, os pequenos livros de cordel. Mas foi na segunda metade do século XIX que os temas locais (nordestinos) passaram a ocupar os versos do cordel. Leandro Gomes de Barros (1865-1918) e João Martins de Athayde (1880-1859) foram dois dos primeiros autores importantes.
O Nordeste brasileiro aculturou componentes do ciclo cavalheiresco ibérico, cujos temas clássicos do combate, da narrativa de proezas, armadilhas, lutas aguerridas, dilemas de variada ordem, personagem teratológicos e satânicos, que sempre sucumbem à coragem dos heróis do Bem, foram livremente sertanizados pelos cordelistas e repentistas em livretes ilustrados por xilogravuristas e vendidos pendurados em cordões, ou cordéis, em feiras livre e praças. Na verdade, em Portugal chegou a se vender, pendurados em cordões/cordéis, até mesmo textos teatrais de Gil Vicente (1465-1536).
A cidade recebe e acolhe o cordel que, apesar de sua bem sucedida inserção no mundo urbano, trata com freqüência de temas e conjunturas afetivas, sociais e religiosas que têm as cores e as formas sociais do sertão, de sua mitologia, das histórias trágicas. Tragédia, aqui, no sentido grego da pedagogia do bem viver, da correção da convivência com o outro e do respeito aos costumes e às regras morais.
Livros de cordel são disputados, com avidez, por museus, universidades e colecionadores particulares, incrustados no mundo urbano e, portanto, longe das pelejas que – ficção ou não – têm como cenário o distante sertão.Lampião e Maria Bonita (sem falar em Getúlio Vargas,) têm cadeira cativa na literatura de cordel.
Franklin Maxado, baiano, um dos mais importantes cordelistas vivos, fala das temáticas de seus livros de cordel, emn entrevista a Lima Trindade (revista Verbo 321, de 29 de junho de 2008)
Lima Trindade – Quantos títulos de cordel você publicou até hoje? Quais fizeram maior sucesso e quais lhe agradaram mais?
Franklin Maxado – Mais de 200 em 33 anos de profissão, escrevendo desde infanto-juvenis a eróticos, romances, casos, lendas, circunstâncias, denúncias, etc: O Sapo que Desgraça o Corinthians, O Japonês que Ficou Roxo pela Mulata, O Crioulo Doido que Era um Poeta Popular, O Jumento que Virou Gente, Vaquejada de Sete Peões pra Derrubar uma Mineira, O Romance do Vaqueiro Marciano da Égua, Carta dum Pau-de-arara Apaixonado pra sua Noiva, Maria Quitéria, Heroína Baiana que Foi Homem, Profecias de Antonio Conselheiro - O Sertão já Virou Mar, A Alma de Lampião Faz Misérias no Nordeste, A Volta do Pavão Misterioso, Papagaio e as Macacas que não Estão na Mata (uma fábula urbana de bichos), o Pulo do Gato-Mestre, Os romances Feministas de Gracinha corneteira, a Malazartes de Minissaia, Horóscopo das Bichas.... Este último folheto começa assim: Se meu amigo leitor/ Não é homem ou mulher,/ Não vai ter mais o problema? Que o perturbava até? Que é ter o seu horóscopo/ Para nele crer com fé.
As raízes sertanejas da cidade trazem, ao mundo urbano, o imaginário e a riqueza criativa do Sertão.
AGENDE E PINTE - HANSEN BAHIA - 95 ANOS - SÂO FELIX
95 ANOS DE HANSEN BAHIA (1915-2010
Hansen nasceu em 1915, Hamburgo-Alemanha, e faleceu em 1978, em São Félix(Bahia-Brasil) cidade que adotou (e que o adotou) e onde exerceu para o mundo sua importante arte, reconhecida internacionalmente.
Artista xilogravurista alemão-baiano, muitas de suas gravuras expõem, nos momentos delicados de seus personagens, a intimidade e a extimidade de uma cidade ao modo de uma fita de Moebius (Topologia): está dentro (intimidade), mas está fora (extimidade) no ato da torção para a colagem das pontas.
Mostra comemorativa dos 95 anos de Hansen Bahia.
Abertura - hoje, 19 de maio
Mostra prossegue a partir do dia 20 deste mês - segunda a sexta, 9 às 17h e sábados, 9 às 13h. ENTRADA FRANCA
ABERTURA HOJE, DIA 19 DE ABRIL/2010, ÀS 17 HORAS
LOCAL - Casa dos Hansens
Fazenda Santa Bárbara
Museu e Memorial Póstumo
Ladeira de Santa Bárbara
São Félix
Tel - (75) 3438 - 3442
Hansen nasceu em 1915, Hamburgo-Alemanha, e faleceu em 1978, em São Félix(Bahia-Brasil) cidade que adotou (e que o adotou) e onde exerceu para o mundo sua importante arte, reconhecida internacionalmente.
Artista xilogravurista alemão-baiano, muitas de suas gravuras expõem, nos momentos delicados de seus personagens, a intimidade e a extimidade de uma cidade ao modo de uma fita de Moebius (Topologia): está dentro (intimidade), mas está fora (extimidade) no ato da torção para a colagem das pontas.
Mostra comemorativa dos 95 anos de Hansen Bahia.
Abertura - hoje, 19 de maio
Mostra prossegue a partir do dia 20 deste mês - segunda a sexta, 9 às 17h e sábados, 9 às 13h. ENTRADA FRANCA
ABERTURA HOJE, DIA 19 DE ABRIL/2010, ÀS 17 HORAS
LOCAL - Casa dos Hansens
Fazenda Santa Bárbara
Museu e Memorial Póstumo
Ladeira de Santa Bárbara
São Félix
Tel - (75) 3438 - 3442
domingo, 18 de abril de 2010
Interfaces 4 – RESTAURANTES E CULINÁRIA
Interfaces 4 – RESTAURANTES E CULINÁRIA
Interfaces Antropologia e História do urbano. CIDADESSERTÃO: A CIDADE RECEBE E ACOLHE O SERTÃO: 4 – Restaurantes e culinária.
Eu quero provar... deste feijão de corda
Temperado ao beijo dengoso do meu amor
Caruru, sarapatel, buchada de bode
Eu vou querer
É nessa feira que hoje eu vou me perder
Me de logo a cachaça de rolha, jabá, macaxeira
Pois me lembra o cochilo tranquilo
Deitado na esteira / é cuscuz acarajé
Arrumadinho de brincadeira
Me perco tentando me achar no meio da feira
Feira de Areia Branca,
Feira que é igual a tantas
Que por este mundão me leva a encontrar
Crianças pedindo sonho
A xepa pra casa levar/ eu vejo aquele futuro
Que teima comigo para não chegar
Vem que tem , tem tudo tem, se chegue madame
Pode escolher ...
Procuro a barraca que tenha cheiro de saudade
Bôlo de rôlo, cangica de milho , quentão brevidade
Na mistura tempero e flor
Bujinganga, poeira e calor
Caldo de cana , pimenta do reino e computador
(Daniel Guerra e Renato J. Andrade - "Feira de Areia Branca")
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA – Blog http://www.viverascidades.blogspot.com
Hoje é domingo (meu pé de cachimbo ...). E domingo é dia especial também no universo da culinária. Melhor dizendo, domingo é um dia em que as pessoas sonham em comer alguma coisa especial, diferente da comida e do tempero de sempre. Mesmo que não queira ou não possa almoçar fora ou comprar comida fora, dá vontade de não ir pro fogão; ou – caso sem jeito - se for , ao menos preparar alguma coisa especial. Mesmo que seja tão especial como ensopado de frango, cerveja gelada, casa da sogra e programa de auditório na TV
Isso foi só pra lembrar que hoje é domingo. E será que alguém esquece disso? Dificilmente alguém esquece que hoje é domingo ou troca de dia.
Cidades, mesmo aquelas molhadas pelo mar, têm sempre um restaurante de comida sertaneja; alguns até, aos domingos, oferecem (bem antes do almoço) um “pequeno” café da manhã sertanejo: canjica, aipim (ou macaxeira), paçoca, cuscuz (milho, tapioca), ensopado de carneiro, pamonha de milho, mungunzá, banana da terra cozida e frita, pão, queijo coalho, milho cozido, inhame, ovos fritos, bolos de aipim, de puba, milho, de ovos, formigueiro. E também café com leite.
Restaurantes sob inspiração sertaneja não enganam o mais ingênuo e mais desavisado dos transuentes, dos passantes e passeantes. Eles têm no nome, alguma palavra - nome de comida, de veículo rústico, de cidade ou de região ... tudo sertanejo ... E assim quem neles entra, senta e se refestela, sabe onde está. E, ansioso, mal pode esperar que chegue à mesa as delícias de bebida e de comida que o esperam.
Restaurantes sertanejos – e sua respectiva culinária e, não raras vezes, decoração – são uma forma de a cidade receber e acolher o Sertão.
Muitas vezes, estamos pecando pecado de gula, no céu que é um restaurante sertanejo, olhando o mar, diante do mar, vendo a água salgada e os peixes do mar. E com gosto de mar e de sertão na boca.
Interfaces Antropologia e História do urbano. CIDADESSERTÃO: A CIDADE RECEBE E ACOLHE O SERTÃO: 4 – Restaurantes e culinária.
Eu quero provar... deste feijão de corda
Temperado ao beijo dengoso do meu amor
Caruru, sarapatel, buchada de bode
Eu vou querer
É nessa feira que hoje eu vou me perder
Me de logo a cachaça de rolha, jabá, macaxeira
Pois me lembra o cochilo tranquilo
Deitado na esteira / é cuscuz acarajé
Arrumadinho de brincadeira
Me perco tentando me achar no meio da feira
Feira de Areia Branca,
Feira que é igual a tantas
Que por este mundão me leva a encontrar
Crianças pedindo sonho
A xepa pra casa levar/ eu vejo aquele futuro
Que teima comigo para não chegar
Vem que tem , tem tudo tem, se chegue madame
Pode escolher ...
Procuro a barraca que tenha cheiro de saudade
Bôlo de rôlo, cangica de milho , quentão brevidade
Na mistura tempero e flor
Bujinganga, poeira e calor
Caldo de cana , pimenta do reino e computador
(Daniel Guerra e Renato J. Andrade - "Feira de Areia Branca")
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA – Blog http://www.viverascidades.blogspot.com
Hoje é domingo (meu pé de cachimbo ...). E domingo é dia especial também no universo da culinária. Melhor dizendo, domingo é um dia em que as pessoas sonham em comer alguma coisa especial, diferente da comida e do tempero de sempre. Mesmo que não queira ou não possa almoçar fora ou comprar comida fora, dá vontade de não ir pro fogão; ou – caso sem jeito - se for , ao menos preparar alguma coisa especial. Mesmo que seja tão especial como ensopado de frango, cerveja gelada, casa da sogra e programa de auditório na TV
Isso foi só pra lembrar que hoje é domingo. E será que alguém esquece disso? Dificilmente alguém esquece que hoje é domingo ou troca de dia.
Cidades, mesmo aquelas molhadas pelo mar, têm sempre um restaurante de comida sertaneja; alguns até, aos domingos, oferecem (bem antes do almoço) um “pequeno” café da manhã sertanejo: canjica, aipim (ou macaxeira), paçoca, cuscuz (milho, tapioca), ensopado de carneiro, pamonha de milho, mungunzá, banana da terra cozida e frita, pão, queijo coalho, milho cozido, inhame, ovos fritos, bolos de aipim, de puba, milho, de ovos, formigueiro. E também café com leite.
Restaurantes sob inspiração sertaneja não enganam o mais ingênuo e mais desavisado dos transuentes, dos passantes e passeantes. Eles têm no nome, alguma palavra - nome de comida, de veículo rústico, de cidade ou de região ... tudo sertanejo ... E assim quem neles entra, senta e se refestela, sabe onde está. E, ansioso, mal pode esperar que chegue à mesa as delícias de bebida e de comida que o esperam.
Restaurantes sertanejos – e sua respectiva culinária e, não raras vezes, decoração – são uma forma de a cidade receber e acolher o Sertão.
Muitas vezes, estamos pecando pecado de gula, no céu que é um restaurante sertanejo, olhando o mar, diante do mar, vendo a água salgada e os peixes do mar. E com gosto de mar e de sertão na boca.
RESENHA - "A saturação das metrópoles", P.S. Golub
RESENHA - "A saturação das metrópoles", por P.S. Golub, professor associado da Universidade Paris 8, autor de "Power, profit and prestige: a history of America imperial expansion, Pluto Press, Londres.
GOLUB, Philip S. - "A saturação das metrópoles". Artigo de Phlip S. GOLUBpublicado no jornal LE MONDE DIPLOMATIQUE (Instituto Pólis, São Paulo, ano 3, n. 32, março-29010, p. 4-5)
Resenhista - Vicente Deocleciano Moreira
A história da humanidade registrou, entre 2007 e 2008, um episódio importante: a população urbana mundial ultrapassou, em quantidade de habitantes, a população rural. Nesse exato momento, mais de 3,3 bilhões vivem em cidades; desse total, 500 milhões em megalópoles com mais de dez milhões de pessoas ou em grandes cidades que ultrapassam 5 milhões de habitantes.
As projeções de taxas de urbanização, feitas pela Organização das Nações Unidas (ONU) não param de crescer: em 2030 59,7% e em 2050 69,6%. Na particularidade dos países desenvolvidos e dos latinoamericanos, o índice de população urbana terá aumento discreto: hoje 74% e 85% em meados do atual século. Nos países africanos, a manutenção da atual tendência: a população urbana tem multiplicado por dez, desde 1950 até o momento (de 33 milhões para 373 milhões), devendo alcançar 1,2 bilhão em 2050. No continente asiático se, em meados do século XX, a população urbana marcou 237 milhões e hoje soma 1,6 bilhão, em 2050, mais que dobrará.
Golub cita o historiador Lewis Mumford cuja 'profecia' aponta que o mundo tende a "tornar-se uma cidade". O fato é que a urbanização de países emergentes desenhou a intensificação das migrações, inventou vovas formas de estratificação social e operou transformações antrópicas no ecossistema global.
O mundo antes dessas transformações incisivas movimentava em ritmo lento a vida econômica; o possível impacto das sociedades sobre a natureza não causava desequilíbrios; pouca gente e pouco desequilíbrio entre cidade e campo. Entre 500 mil e 600 mil pessoas habitavam a Pequim de 1.300 d.C. Não se pode dizer que havia dominação urbana nem mesmo protagonizada pela Europa.
A Revolução Industrial, com sua exigência de concentração de capital e de trabalho, vai operar transformações viscerais nesse mundo calmo de cidades-mercantis e cidades-estado pouco povoadas. Dessa operação resultaram uma divisão do trabalho e um processo de urbanização sem precedentes. Uma primeira globalização tem lugar no cenário mundial, velhas indústrias locais, parentais sucumbem às novas indústrias globalizantes e impessoais. Um mundo novo e dicotomizado, centro e periferia, Norte e Sul é criado. Economias tradicionais e de raiz são 'descontinentalizadas'. Cidades latinoamericanas, africanas e asiáticas são fraturadas por pequenos bolsões de riqueza e, alí perto, imensos bolsões de pobreza e miséria.
Golub diagnostica que a urbanização como "fenômeno irreversível desafia nossa capacidade de produzir bens públicos sobretudo educação, cultura, saúde e um ambiente saudável para o conjunto das populações, pré-requisito para o desenvolvimento sustentável que garanta o bem-estar e, portanto, a expansão das liberdades individuais"
GOLUB, Philip S. - "A saturação das metrópoles". Artigo de Phlip S. GOLUBpublicado no jornal LE MONDE DIPLOMATIQUE (Instituto Pólis, São Paulo, ano 3, n. 32, março-29010, p. 4-5)
Resenhista - Vicente Deocleciano Moreira
A história da humanidade registrou, entre 2007 e 2008, um episódio importante: a população urbana mundial ultrapassou, em quantidade de habitantes, a população rural. Nesse exato momento, mais de 3,3 bilhões vivem em cidades; desse total, 500 milhões em megalópoles com mais de dez milhões de pessoas ou em grandes cidades que ultrapassam 5 milhões de habitantes.
As projeções de taxas de urbanização, feitas pela Organização das Nações Unidas (ONU) não param de crescer: em 2030 59,7% e em 2050 69,6%. Na particularidade dos países desenvolvidos e dos latinoamericanos, o índice de população urbana terá aumento discreto: hoje 74% e 85% em meados do atual século. Nos países africanos, a manutenção da atual tendência: a população urbana tem multiplicado por dez, desde 1950 até o momento (de 33 milhões para 373 milhões), devendo alcançar 1,2 bilhão em 2050. No continente asiático se, em meados do século XX, a população urbana marcou 237 milhões e hoje soma 1,6 bilhão, em 2050, mais que dobrará.
Golub cita o historiador Lewis Mumford cuja 'profecia' aponta que o mundo tende a "tornar-se uma cidade". O fato é que a urbanização de países emergentes desenhou a intensificação das migrações, inventou vovas formas de estratificação social e operou transformações antrópicas no ecossistema global.
O mundo antes dessas transformações incisivas movimentava em ritmo lento a vida econômica; o possível impacto das sociedades sobre a natureza não causava desequilíbrios; pouca gente e pouco desequilíbrio entre cidade e campo. Entre 500 mil e 600 mil pessoas habitavam a Pequim de 1.300 d.C. Não se pode dizer que havia dominação urbana nem mesmo protagonizada pela Europa.
A Revolução Industrial, com sua exigência de concentração de capital e de trabalho, vai operar transformações viscerais nesse mundo calmo de cidades-mercantis e cidades-estado pouco povoadas. Dessa operação resultaram uma divisão do trabalho e um processo de urbanização sem precedentes. Uma primeira globalização tem lugar no cenário mundial, velhas indústrias locais, parentais sucumbem às novas indústrias globalizantes e impessoais. Um mundo novo e dicotomizado, centro e periferia, Norte e Sul é criado. Economias tradicionais e de raiz são 'descontinentalizadas'. Cidades latinoamericanas, africanas e asiáticas são fraturadas por pequenos bolsões de riqueza e, alí perto, imensos bolsões de pobreza e miséria.
Golub diagnostica que a urbanização como "fenômeno irreversível desafia nossa capacidade de produzir bens públicos sobretudo educação, cultura, saúde e um ambiente saudável para o conjunto das populações, pré-requisito para o desenvolvimento sustentável que garanta o bem-estar e, portanto, a expansão das liberdades individuais"
MUNDO VASTO MUNDO - DE 18/04/2010 - Micareta de Feira de Santana
MUNDO VASTO MUNDO
DE 18 DE ABRIL DE 2010.
“É HOJE SÓ, AMANHÃ NÃO TEM MAIS”. ÚLTIMO DIA DA MICARETA DE FEIRA DE SANTANA (Bahia – Brasil)
“É hoje só amanhã não tem mais’. Hoje, 18 de abril, é o último dia da Micareta de Feira de Santana – versão 2010. É hoje só; amanhã, serão as Cinzas (depois das Cinzas da Quaresma oficial), o que restar do fogo da Micareta que queimar o material e o imaterial da festa.
A Micareta de Feira de Santana atrai foliões de todo o Brasil e – quiçá – do mundo. Pode ser que essa atração seja tão forte porque ela é a primeira Micareta do Brasil. A palavra Micareta é ‘filha’ de Micaréme (francês), ‘Meia Quaresma’, uma festa que, na França, acontecia no meio da Quaresma.
Criando ainda controvérsias, a versão oficial aponta o berço da Micareta feirense num período chuvoso de março de 1937 que impossibilitou, radicalmente, a realização do Carnaval de Feira de Santana que ocorria no mesmo período do Carnaval de Salvador.
O dilúvio quaresmal frustrou os sonhos e a alegria dos foliões sertanejos. Mas tudo bem: não houve de ser nada. Em abril de 1937, a alegria inventou a Micareta de Feira de Santana. Uma folia que alegrava o que chamamos ‘corredor cultural’, ou seja, o trecho da Rua Direita (atual Conselheiro Franco) que se unia à rua seguinte ... ambas as ruas assinaladas cada uma por uma coreto onde se apresentavam as bandas e fanfarras de então.
A Micareta cresceu para cima e para os lados e mudou para a Avenida Presidente Dutra.
Mas, antes que o sol se apague, há tempo para resgatar o ‘corredor cultural’ do passado e nele fazer acontecer fanfarras, bandas para animar os foliões a dançar no ritmo das marchas carnavalescas que nunca saem de moda.
DE 18 DE ABRIL DE 2010.
“É HOJE SÓ, AMANHÃ NÃO TEM MAIS”. ÚLTIMO DIA DA MICARETA DE FEIRA DE SANTANA (Bahia – Brasil)
“É hoje só amanhã não tem mais’. Hoje, 18 de abril, é o último dia da Micareta de Feira de Santana – versão 2010. É hoje só; amanhã, serão as Cinzas (depois das Cinzas da Quaresma oficial), o que restar do fogo da Micareta que queimar o material e o imaterial da festa.
A Micareta de Feira de Santana atrai foliões de todo o Brasil e – quiçá – do mundo. Pode ser que essa atração seja tão forte porque ela é a primeira Micareta do Brasil. A palavra Micareta é ‘filha’ de Micaréme (francês), ‘Meia Quaresma’, uma festa que, na França, acontecia no meio da Quaresma.
Criando ainda controvérsias, a versão oficial aponta o berço da Micareta feirense num período chuvoso de março de 1937 que impossibilitou, radicalmente, a realização do Carnaval de Feira de Santana que ocorria no mesmo período do Carnaval de Salvador.
O dilúvio quaresmal frustrou os sonhos e a alegria dos foliões sertanejos. Mas tudo bem: não houve de ser nada. Em abril de 1937, a alegria inventou a Micareta de Feira de Santana. Uma folia que alegrava o que chamamos ‘corredor cultural’, ou seja, o trecho da Rua Direita (atual Conselheiro Franco) que se unia à rua seguinte ... ambas as ruas assinaladas cada uma por uma coreto onde se apresentavam as bandas e fanfarras de então.
A Micareta cresceu para cima e para os lados e mudou para a Avenida Presidente Dutra.
Mas, antes que o sol se apague, há tempo para resgatar o ‘corredor cultural’ do passado e nele fazer acontecer fanfarras, bandas para animar os foliões a dançar no ritmo das marchas carnavalescas que nunca saem de moda.
CRÔNICA DOMINICAL - 18 de abril de 2010
CRÔNICA DOMINICAL
18 de abril de 2010.
Caminhar nas ruas e praças de São Paulo, “só” (? !) porque é domingo.
Tudo bem que o humano não foi feito para o domingo e sim o domingo para o humano.
Mas, também domingo é dia de andar pela cidade. Tá certo que de segunda a sábado já andamos e corremos, até a náusea, pela cidade. E ainda alguém nos sugere caminhar pelas ruas e praças da cidade ... também aos domingos (?).
Caminhar pelas ruas e praças – é isso aí. Praças e ruas de uma cidade, principalmente se ela é uma São Paulo ou uma Nova Yorque, precisam ser visitadas com o espanto e a busca ativa do olhar de um turista. Não é que se deva sentir atração por ‘povoados fantasmas’ que, de resto, as megacidades não o são.
Quem já esteve em São Paulo e nunca se deu ao prazer e aos desfrute e à falta-do-que-fazer de caminhar pela Avenida Paulista, Rua Direita, São Bento, Calçadão da Barão de Itapetininga, Consolação, Augusta ... em pleno domingo ... viu só a metade de uma grande e instigante cidade que nos desafia, a cada esquina, a ser e a crescer. É esse convite que São Paulo me faz sempre mesmo quando dela estou distante e, porisso mesmo, triste e choroso. E é assim que eu sinto, no meu coração, a cidade do meu coração.
Em respeito aos domingos nas cidades, não aconselho – embora também não sugira nem proíba - o passeio pela Praça da República ou pela rua principal da Liberdade; é que esses lugares mudam a rotina dos ‘dias úteis’ para cumprir as celebrações do domingo: feiras de artesanato, venda de bonsais, etc. etc.
Os outros lugares, além dos que eu citei, nada fazem “só” (? !) porque é domingo. Esses outros lugares são o que são, de domingo a domingo, e não fazem qualquer concessão “só” (? !) porque é domingo.
O caminhante que se dê ao trabalho de desvelar (tirar os véus) e de revelar (vestir com novos véus) o oculto dos velhos prédios velhos do centro, dos novos prédios novos da região da Paulista, sem o ‘estorvo’ das multidões apressadas.
O oculto de São Paulo que, quanto mais se oculta, mais grita as verdades, todas as verdades.
18 de abril de 2010.
Caminhar nas ruas e praças de São Paulo, “só” (? !) porque é domingo.
Tudo bem que o humano não foi feito para o domingo e sim o domingo para o humano.
Mas, também domingo é dia de andar pela cidade. Tá certo que de segunda a sábado já andamos e corremos, até a náusea, pela cidade. E ainda alguém nos sugere caminhar pelas ruas e praças da cidade ... também aos domingos (?).
Caminhar pelas ruas e praças – é isso aí. Praças e ruas de uma cidade, principalmente se ela é uma São Paulo ou uma Nova Yorque, precisam ser visitadas com o espanto e a busca ativa do olhar de um turista. Não é que se deva sentir atração por ‘povoados fantasmas’ que, de resto, as megacidades não o são.
Quem já esteve em São Paulo e nunca se deu ao prazer e aos desfrute e à falta-do-que-fazer de caminhar pela Avenida Paulista, Rua Direita, São Bento, Calçadão da Barão de Itapetininga, Consolação, Augusta ... em pleno domingo ... viu só a metade de uma grande e instigante cidade que nos desafia, a cada esquina, a ser e a crescer. É esse convite que São Paulo me faz sempre mesmo quando dela estou distante e, porisso mesmo, triste e choroso. E é assim que eu sinto, no meu coração, a cidade do meu coração.
Em respeito aos domingos nas cidades, não aconselho – embora também não sugira nem proíba - o passeio pela Praça da República ou pela rua principal da Liberdade; é que esses lugares mudam a rotina dos ‘dias úteis’ para cumprir as celebrações do domingo: feiras de artesanato, venda de bonsais, etc. etc.
Os outros lugares, além dos que eu citei, nada fazem “só” (? !) porque é domingo. Esses outros lugares são o que são, de domingo a domingo, e não fazem qualquer concessão “só” (? !) porque é domingo.
O caminhante que se dê ao trabalho de desvelar (tirar os véus) e de revelar (vestir com novos véus) o oculto dos velhos prédios velhos do centro, dos novos prédios novos da região da Paulista, sem o ‘estorvo’ das multidões apressadas.
O oculto de São Paulo que, quanto mais se oculta, mais grita as verdades, todas as verdades.
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