domingo, 11 de abril de 2010

MUNDO VASTO MUNDO DE 10 DE ABRIL DE 2010 - RIO, RIOS, EU NÃO RIO

MUNDO VASTO MUNDO DE 10 DE ABRIL DE 2010

Rio de Janeiro: um vasto mundo devastado pelos rios de chuva que se unem à devastação secular causada pela indiferença com que as elites e os políticos sempre trataram os pobres.


"Culpar as chuvas é demagogia. Os mortos do Rio de Janeiro que o Brasil chora foram vítimas da política criminosa de dar barracos em troca de votos"

(Capa da revista Veja de hoje, domingo, 10 de abril de 2010)

RIO, RIOS, EU NÃO RIO

Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA: Blog http://www.viverascidades.blogspot.com

“E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos”

(Chico Buarque , “Futuros Amantes”)


Nesse trecho de “Futuros Amantes”, Chico Buarque fala da possibilidade de a orla e toda a cidade do Rio de Janeiro ser submersa pelo mar que, ano após ano, avança sobre os continentes. A ironia é que moradores dos morros do Rio, Niterói e outras cidades cariocas estarem, nestes primeiro dias de abril de 2010, sofrendo a tragédia de de desabamentos, desmoronamentos com centenas de mortos e outras centenas de desaparecidos provocados por chuvas que não cessam e movimentam a solidariedade de outros brasileiros. O Rio de Janeiro, neste abril de chuvas mil, está submerso pelos rios formados por águas da incessante chuva e pelo habitual descaso secular que as elites e os poderes públicos vêm destinando aos pobres do Rio e de outras cidades e zonas rurais do Brasil.



“Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem”

Esta frase de Bertolt Brecht é mais que oportuna neste momento para além das possíveis paródias e trocadilhos. O Rio de Janeiro é uma cidade violenta – isto se diz nos quatro cantos do mundo – mas ninguém diz a violência das margens de exclusão, penúria e miséria a que elites e políticos construíram em cinco séculos de história.

Os poderes do Rio de Janeiro discutiram e fizeram tanta gritaria pelo pré sal a ponto de esquecer a pré chuva. Agora, que a chuva cegou e matou tantos, está chorando lágrimas de pitanga. Mas vai esquecer que sonegou verbas para evitar que tantos morressem e, alegremente, irá sorrir para o pré sal no pós chuva.
O humorista Chico Anísio criou um personagem, um deputado de terno bem recortado, gravatas e sapatos sofisticados, cujo bordão é: “Eu quero que o povo (e os pobres) se exploda”. Nenhuma análise histórica e sociológica da sociedade brasileira foi tão feliz em retratar o Brasil, como esta frase.

Mas eu não rio, principalmente quando ouço técnicos e/ou autoridades dizerem: “as pessoas foram morar nos morros por falta de alternativas habitacionais”. É ridículo, pois a conversa verdadeira é outra: “as pessoas foram morar nos morros porque nunca o estado se sentiu obrigado a lhes possibilitar políticas públicas habitacionais (educação, saúde, emprego, transporte público ...) e que, depois disso, impedisse a essas pessoas morar em cima de aterros sanitários, os quais agora todos afirmam desconhecer.

“Eu quero que o povo (e os pobres) se exploda”. Foi isso o que políticos e elites do Brasil sempre disseram e fizeram, no lugar das políticas públicas dirigidas à elevação da dignidade das pessoas e à conquista da cidadania.


Rio, rios, eu não rio. Mas me solidarizo com povo do Rio que sofre faça sol, faça chuva. Brasileiros e cariocas não merecem isso.


CARIOCAS

Adriana Calcanhotto


CARIOCAS SÃO BONITOS
CARIOCAS SÃO BACANAS
CARIOCAS SÃO SACANAS
CARIOCAS SÃO DOURADOS
CARIOCAS SÃO MODERNOS
CARIOCAS SÃO ESPERTOS
CARIOCAS SÃO DIRETOS
CARIOCAS NÃO GOSTAM
DE DIAS NUBLADOS
CARIOCAS NASCEM BAMBAS
CARIOCAS NASCEM CRAQUES
CARIOCAS TÊM SOTAQUE
CARIOCAS SÃO ALEGRES
CARIOCAS SÃO ATENTOS
CARIOCAS SÃO TÃO SEXYS
CARIOCAS SÃO TÃO CLAROS
CARIOCAS NÃO GOSTAM
DE SINAL FECHADO

Nenhum comentário:

Postar um comentário