CIDADES OBESAS
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
Semanalmente, algum jornal brasileiro publica reportagens e editoriais sobre a tendência ao crescimento dos índices de obesidades no Brasil, nos Estados Unidos e em outros países, ilustrados com dados da Organização Mundial de Saúde e outros órgãos.
Nada contra, mas penso que se deveria localizar onde esses índices estão assustando autoridades e instituições da área da Saúde. É nas cidades – e não no campo, na zona rural – onde as pessoas obesas trabalham, estudam, vivem enfim. Do sofá, nas cidades, assistimos programas televisivos que mostram trabalhadores rurais nem sempre produzindo sob as mais precárias condições laborais ... mas sempre com corpos magros esbeltos ... parecem ‘vender’ saúde se comparados com protagonistas de cenas do dia-a-dia nas ruas e avenidas urbanas. Sem estatísticas nas mãos, mas com algum raciocínio linear, podemos dizer que quanto maior a cidade, mais expressiva a quantidade de pessoas obesas. Claro, cidades maiores são mais populosas – portanto não é de surpreender que exibam maior quantidade de obeso(a)s. Porém, a linearidade do meu raciocínio não passa por esta relação diretamente proporcional. Outras considerações, que certamente não surpreenderão muito, merecem ainda assim algumas reflexões.
1 – É nas cidades – sobretudo nas grandes e médias – que, almoçar em casa nos “dias úteis” pode valer para o felizardo uns quinze minutos de fama na TV devido à raridade do ‘fenômeno’. Tendemos a almoçar na rua e, mesmo em restaurantes a quilo onde entramos apressados, saímos deles ainda mastigando os últimos bocados e quase provocando uma “chuva” com os últimos goles de refrigerante.
2 – Se a evolução da oferta nutricional dos restaurantes a quilo ainda deixa muito a desejar (comparada com a divulgação talvez insistente sobre os benefícios, para a saúde, da ingesta de legumes, verduras e frutas), imaginem nos chamados ‘restaurantes populares’ e nos treilers e carrinhos de mão.
3 – Nos restaurantes a quilo almoçamos com ilustres desconhecidos sem os termos convidado e sem sermos por eles convidados. E nos horários de ‘pique’ comemos comida ‘envelhecida’ seja na cozinha, seja na gôndola, e a disputa por uma mesa vazia quem ainda não levantou sente-se ameaçado com um banho de comida pelo ansioso e apressado às nossas costas.
4 – É nas cidades que aprendemos a abrir o bolso e a boca para comidas rápidas (sanduíches, coxinhas, pastéis ...), em ruas shopping centers e praças, tão rápidas que podemos digeri-las correndo, rapidamente, nas calçadas e, como um equilibrista, entre um encontrão e outro, salvamos nossa “refeição” de espatifar-se no calçamento.
5 – A falta de uma boa educação alimentar, nutricional e as situações estressantes se somam à falta de hábito e de disciplina para praticar atividades físicas: andar, descer um ou dois pontos antes do destino, subir escadas, varrer casa, lavar banheiros; e, nos dias de folga, caminhar ou correr.
Cinco razões apenas (deve haver mais de cinquenta) dão o peso e a altura das cidades como locus dessa preocupante epidemia: a obesidade. Um problema que tem que ocupar a pauta das políticas públicas de Saúde pelo direito às cidades.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
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