domingo, 25 de abril de 2010

RESENHA - "A luta por espaço” – Jean-Pierre Garnier

RESENHA - "A luta por espaço” – Jean-Pierre Garnier

RESENHA - "A luta por espaço”, por Jean—Pierre Garnier é autor de “Une violence éminemment contemporaine. Essai sur la ville, la petite bourgeoisie intellectuelle et l’effacement des classes populaires". Agone, Marselha, 2010.

GARNIER, Jean-Pierre - "A luta por espaço” - LE MONDE DIPLOMATIQUE (Instituto Pólis, São Paulo, ano 3, n. 32, março-29010, p. 8-9)


Resenhista - Vicente Deocleciano Moreira

Garnier abre seu artigo falando da dimensão planetária da reestruturação urbana pela “destruição criadora” que tem vitimado bairros populares bem localizados nos mais diversos países e continentes. A conta da revitalização desses bairros tem sido paga pelos seus antigos moradores que são mandados para conjuntos habitacionais distantes, periféricos e de baixa qualidade para dar lugar a projetos residenciais “de categoria”. A título de reforço, cita p geógrafo David Harvey para o qual “a favela entra em colisão com o canteiro de obras global, assimetria atroz que só pode ser interpretada como uma maneira gritante de confronto de classe” . Confronto )mas não necessariamente enfrentamento) não quer significar que a luta, pela conquista dói espaço urbano, entre dominantes e dominados acontece de modo imutável ou estável. Porém, enfrentamentos diretos não são verificáveis com freqüência.

Ademais, se de um lado a burguesia não para de enfraquecer o mundo do trabalho – de outro os trabalhadores perderam a consciência de seu destino histórico como classe, traçado e sonhado pelos socialistas. Por outro lado, a expansão do setor de serviços criou uma classe média urbana, educada, que fez aliança com a burguesia ao mesmo tempo em que o tecido industrial foi perdendo consistência e o movimento operário desagregou-se.

De tudo isso resultou que classes dirigentes empregaram diversas manobras para subtrair do povo seus tradicionais territórios. Garnier cita alguns exemplos de tais manobras:

“Afrontamentos entre a polícia ou o exército e moradores de ciudades cayampas e favelas "disfarçados" de luta contra a delinquência e a subversão na América Latina; despejos realizados por militares nas periferias do Magreb e da África subsaariana; deslocamento forçado de antigos habitantes e demolçição de suas casas na China "popular" para abrir terreno a infraestrutura e imóveis destinados a colocar grandes cidades em dia com a mundialização do mercado; incêndios metódicos de grande calibre em ex-bairros "alternativos" nde Berlim aproporiados pela neo-burguesia após a reunificação ..."


Todas essas práticas porém, não convergem para uma possível “destruição” (exceção feita a alguns prédios irrecuperáveis; na verdade são gestões que recebem rótulos pomposos: “reabilitação”, “requalificação”, “regeneração”, “revitalização”, “renascimento”. Tudo isso com a assinatura de urbanistas ex-críticos da luta pelo espaço urbano e com o apoio das classes médias aliadas à burguesia e às classes dirigentes. Fugindo dos termos sofisticados o que se tem feito é “descartar” moradores pobres, antigos e “fundadores” daquele espaço agora tão visível aos olhos da especulação globalizada quanto destinado a ser “requalificados” para “pessoas de qualidade”.


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Hoje postamos a última resenha da série "O futuro das cidades", publicada pelo jornal LE MONDE DIPLOMATIQUE. BRASIL, de março/ 2010.

No próximo domingo, 2 de maio, postaremos a resenha do artigo do jornalista Xavier Monthéard, "A (re)construção de Hanói", publicado no citado jornal.

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