PONTE SALVADOR–ITAPARICA–SALVADOR. / SALVADOR 461 ANOS
Vicente Deocleciano Moreira
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FONTE DIRETA – Blog http//:www.viverascidades.blogspot.com
Agora, um dos assuntos mais polêmicos aos 461 anos de Salvador: a ponte Salvador – Itaparica. Hoje (domingo, 3 de abril) à noite, a TV Educativa Bahiana ( TVE BAHIA) apresentará debate com o arquiteto e professor Paulo Ormindo, um morador da Ilha, o prof. Franz e o representante do governo estadual. Não tenho informações sobre o conteúdo do programa além das chamadas televisivas, nem sobre projeto além do que a imprensa tem divulgado nos últimos meses. Mesmo assim, penso poder contribuir para a discussão.
Serei breve e pontual. Até porque a edição dominical deste Blog é extensa.
1 – Adquirimos o ‘vício de linguagem’ de, sobre a ponte, falar sempre Salvador-Itaparica e nunca Itaparica-Salvador. Isto é sintomático na medida em que a ponte fará alterações de variada ordem seja em Salvador, seja em Itaparica. Por força dessas possíveis mudanças – verdadeiros desafios às duas gestões municipais e à gestão estadual – os dois municípios deverão operar alterações na circulação de veículos nas áreas próximas ao acesso à ponte. Por mais que eu não consiga me libertar de tal ‘vício de linguagem’ que é também um viés ideológico que alimenta as relações de poder entre as capitais e as outras cidades de um estado, de um país. Salvador-Itaparica-Salvador ajuda a convencer que a ponte é, também, Itaparica-Salvador.
2 – Defendo que a ponte seja construída em mãos duplas (duas para ir e duas para retornar). Penso no imenso fluxo veicular do vai-e-vem diário. Apenas uma pista trará, nos feriadões e feriados prolongados, um outro engarrafamento provocado por tantos quantos desejem ir à Ilha: o tradicional, da Jequitaia, Calçada. E o novo, sobre a ponte.
3 – Falando em duplicação, sugiro que, de imediato logo que comecem as obras da ponte, a estrada que corta a Ilha depois de Bom Despacho na direção á Ponte do Funil, seja também duplicada. Preocupa-me o inusitado crescimento do fluxo veicular sobre aquela estrada: automóveis de veranistas e de viajantes que dirigirão para o Sul da Bahia, caminhões de carga que partirão do Porto Seco Pirajá (e de outros pontos de carga da BR 324) e que a ele chegarão.
4 – A Via Expressa, ora em construção, deve pensar também na Ponte Salvador – Itaparica. Não exatamente nos termos da modificação da face original do projeto mas na antevisão larga e longe de gestões de reordenamento do tráfego para atender caminhões (e outros veículos) que, vindo da BR 324, queiram atravessar a ponte para encurtar caminho para o interior da Bahia e para outros estados; e diminuir distâncias, consumo de combustível e custos do frete.
5 – Não compartilho da crença de que a Ponte destruirá a Ilha com investimentos imobiliários gananciosos, sofisticados e excludentes dos pobres e sua habitações. Neste sentido, a Ilha não vive exatamente um ‘paraíso’. Nem com a ponte passará a ser um ‘inferno’ pior do que o que já é. As obras ainda não começaram (estamos a 4 de abril de 2010) e, talvez, seja o momento propício de começar a discutir um Plano Diretor para a Ilha com seus moradores e veranistas.
6 – Não creio que ponte vá trazer prejuízos vultosos para a empresa que opera o Ferry Boat. Muitos trabalhadores continuarão a transportar frutas, raízes e legumes em seus tradicionais cestos. Ao contrário, seria uma medida muito simpática e proveitosa se o transporte náutico de massa e o próprio turismo náutico fossem iniciados e implementados.
7 – A Ilha de Itaparica não tem culpa de estar situada entre a capital baiana e seu Recôncavo. Este destino geográfico, mais cedo ou mais tarde, seria usado. Esperemos que esse uso favoreça a sustentabilidade, a preservação ambiental e o aumento de empregos e da qualidade de vida para ilhéus e soteropolitanos. . Além do desadensamento da BR 324, e da expansão da economia da Ilha e do continente – sem a demissão sumária de saveiros, saveiristas e arrais.
8 – Salvador está colocada ‘contra a parede’ por apenas duas vias: a BR 324 e a Linha Verde. Isso é muito pouco e muito pequeno para a terceira maior cidade do maior país da América Latina. Essa condição traz orgulho ao lado de muita responsabilidade. A ponte poderá ser uma terceira ‘rota de fuga’ – quero dizer (com ‘rota de fuga’), uma terceira saída para pessoas, veículos e riquezas originárias de uma grande região pósmetropolitana e econômica. E, por que não dizer (?,) para fugir mesmo dos engarrafamentos que antecedem o acesso à BR 324.
9 – Na mesma medida em que é ‘rota de fuga’, a ponte poderá ser uma ‘rota de chegada’ de pessoas, veículos e riquezas para pessoas, veículos e riquezas destinadas a uma grande região metropolitana e econômica.
10 - Salvador precisa, portanto e faz tanto tempo, de uma terceira ‘narina’ para inspirar e expirar pessoas, veículos e riquezas. E, pensando largo e longe, não temo dizer que o trajeto (sobre o mar) Salvador/Itaparica/Salvador pode se mostrar mais viável para os trilhos de um futuro sistema ferroviário intermunicipal. Sou daqueles que ainda não aposentaram, de seus sonhos, as ferrovias urbanas e interurbanas. É claro que estou vendo uma solução de mobilidade, a longo prazo, para a capital baiana. Mas, quando contemplo a conhecida foto da Praça Castro Alves dos anos 20 (século XX) e destaco os bondes subindo e descendo sinto que, apesar de tratar-se de uma imagem do passado, enxergo que a imagem aponta o dedo para a solução do transporte de massa em Salvador; colocar a cidade (e, também seu centro antigos) nos trilhos. Na Europa o trem como solução de mobilidade está a completar cem anos ou mais. Em Salvador, é melhor pegar o bonde andando do que não pegá-lo jamais. E parece que não estou sozinho na defesa do trem (a exemplo do VLT). Leiamos Silvio Caccia Bava, em editorial “Erradicar a pobreza nas metrópoles”, do Le Monde Diplomatique. Brasil, de março de 2010:
"Na questão da mobilidade, já é um consenso priorizar o transporte coletivo. Isso significa fazer mais metrô e implantar nas principais vias o VLT – Veículo Leve sobre Trilhos-, mobilidade de transporte mais eficaz depois do metrô. Trata-se do velho bonde, agora articulado, silencioso, com ar-condicionado e design futurista. Iniciativa que permite a reconversão, ao menos em parte, da indústria automobilística para a produção desses novos veículos coletivos.”
Quando os poderes públicos voltarem, novamente, os olhos para os trilhos, Salvador-Itaparica-Salvador poderá ser uma saída a ser pensada com carinho e atenção. Quando isto acontecer, o atual sistema ferroviário suburbano (Lobato-Plataforma ... Paripe) poderá estar bem melhor que hoje a ponto de sua integração ao transporte francamente urbano de massa ser uma realidade de longa data.
Quando os poderes públicos reassentarem os trilhos sobre seus suportes programáticos, talvez a linha paralela à BR 324 não se mostre a melhor opção como trajeto ferroviário precisamente interurbano. Isto porque a conurbação Salvador-Simões Filho com horizontes alentadores para a conurbação Salvador-Feira de Santana poderá forçar o sistema ferroviário a ser pensado sobre bases físicas, logísticas e conceituais mais para o urbano que para o interurbano.
11 – Uma ponte é uma ponte é uma ponte. Pontes fazem trocas. Trocas de mercadorias e de fluxos humanos. Graças não só ao automóvel mas também ao transporte coletivo, trabalhadores residentes na Ilha poderão, com maior facilidade e rapidez, favorecer Salvador com seus serviços profissionais – e vice-versa.
12 – Afora alguns resorts, Itaparica não é bem dotada de hotéis ao menos razoáveis. Imaginando que, com a ponte, um expressivo fluxo turístico (local, nacional e internacional) demandará ao local e induzirá novas logísticas e a construção de mais estabelecimentos hoteleiros (restaurantes, bares, novas pousadas) e a criação de novas praças de qualificação profissional e de emprego para a população local.
Assim seja.
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Bom texto. Com uma linguagem acessível e com reflexões profundas acerca da dinâmica dos futuros fluxos entre Salvador e o resto do estado.
ResponderExcluirMauricio Dias.
Geógrafo - Feria de Santana - Ba.