domingo, 18 de abril de 2010

RESENHA - "A saturação das metrópoles", P.S. Golub

RESENHA - "A saturação das metrópoles", por P.S. Golub, professor associado da Universidade Paris 8, autor de "Power, profit and prestige: a history of America imperial expansion, Pluto Press, Londres.

GOLUB, Philip S. - "A saturação das metrópoles". Artigo de Phlip S. GOLUBpublicado no jornal LE MONDE DIPLOMATIQUE (Instituto Pólis, São Paulo, ano 3, n. 32, março-29010, p. 4-5)




Resenhista - Vicente Deocleciano Moreira


A história da humanidade registrou, entre 2007 e 2008, um episódio importante: a população urbana mundial ultrapassou, em quantidade de habitantes, a população rural. Nesse exato momento, mais de 3,3 bilhões vivem em cidades; desse total, 500 milhões em megalópoles com mais de dez milhões de pessoas ou em grandes cidades que ultrapassam 5 milhões de habitantes.

As projeções de taxas de urbanização, feitas pela Organização das Nações Unidas (ONU) não param de crescer: em 2030 59,7% e em 2050 69,6%. Na particularidade dos países desenvolvidos e dos latinoamericanos, o índice de população urbana terá aumento discreto: hoje 74% e 85% em meados do atual século. Nos países africanos, a manutenção da atual tendência: a população urbana tem multiplicado por dez, desde 1950 até o momento (de 33 milhões para 373 milhões), devendo alcançar 1,2 bilhão em 2050. No continente asiático se, em meados do século XX, a população urbana marcou 237 milhões e hoje soma 1,6 bilhão, em 2050, mais que dobrará.

Golub cita o historiador Lewis Mumford cuja 'profecia' aponta que o mundo tende a "tornar-se uma cidade". O fato é que a urbanização de países emergentes desenhou a intensificação das migrações, inventou vovas formas de estratificação social e operou transformações antrópicas no ecossistema global.

O mundo antes dessas transformações incisivas movimentava em ritmo lento a vida econômica; o possível impacto das sociedades sobre a natureza não causava desequilíbrios; pouca gente e pouco desequilíbrio entre cidade e campo. Entre 500 mil e 600 mil pessoas habitavam a Pequim de 1.300 d.C. Não se pode dizer que havia dominação urbana nem mesmo protagonizada pela Europa.

A Revolução Industrial, com sua exigência de concentração de capital e de trabalho, vai operar transformações viscerais nesse mundo calmo de cidades-mercantis e cidades-estado pouco povoadas. Dessa operação resultaram uma divisão do trabalho e um processo de urbanização sem precedentes. Uma primeira globalização tem lugar no cenário mundial, velhas indústrias locais, parentais sucumbem às novas indústrias globalizantes e impessoais. Um mundo novo e dicotomizado, centro e periferia, Norte e Sul é criado. Economias tradicionais e de raiz são 'descontinentalizadas'. Cidades latinoamericanas, africanas e asiáticas são fraturadas por pequenos bolsões de riqueza e, alí perto, imensos bolsões de pobreza e miséria.

Golub diagnostica que a urbanização como "fenômeno irreversível desafia nossa capacidade de produzir bens públicos sobretudo educação, cultura, saúde e um ambiente saudável para o conjunto das populações, pré-requisito para o desenvolvimento sustentável que garanta o bem-estar e, portanto, a expansão das liberdades individuais"

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