segunda-feira, 30 de abril de 2012

FCCV - CRIME VAI CAINDO NO COSTUME




FCCV - FORUM COMUNITÁRIO 

DE COMBATE À VIOLÊNCIA


SALVADOR - BAHIA - BRASIL

Leitura de fatos violentos publicados na mídia

Ano 12, nº 02, 18/04/2012 

CRIME VAI CAINDO NO COSTUME:
 EIS A NOVIDADE

           
No primeiro mês do ano, os bancários da Bahia lançaram uma nota à imprensa demonstrando as suas preocupações relativas aos frequentes casos de assaltos às agências do Estado. De acordo com o documento, “só nos primeiros 15 dias de janeiro de 2012 oito agências foram assaltadas”, duas delas na capital e as outras em cidades do interior. A categoria reivindica mais segurança para funcionários e clientes, informando que estes crimes, em 2011, levaram à morte de 49 pessoas em todo o País.


O volume de assaltos a banco noticiado sugere um aumento incontrolável de casos, dando-se clara demonstração que este tipo de ação criminosa “descobriu” lugares pequenos e pacatos como espaços adequados para estes “investimentos”. Pelas narrativas jornalísticas, tem sido possível observar certas características que se tornam comuns nas ações. O grupo é grande, chega em carros possantes e espaçosos; tem o cuidado de criar obstruções nas estradas que dão acesso à cidade, usando, por exemplo, o incêndio de veículos sobre as vias de acesso à cidade para impedir a chegada de socorro vindo de outros locais. Este procedimento evidencia que os criminosos se supõem capazes de neutralizar a segurança pública disponível no local a ser assaltado.

Outro aspecto que se tem repetido é um toque de provocação às autoridades locais e à sociedade. Um exemplo dessa prática foi verificado no assalto da agência do Banco do Brasil da cidade de Baixa Grande, em 5 de janeiro desse ano. De acordo com as notícias, 12 homens chegaram à cidade em um Honda Civic e em um Honda Mitsubishi, atirando para o alto; em seguida, uma parte foi arrombar a agência bancária e outra ficou com pistolas, escopetas e submetralhadoras apontando para as pessoas. Como tem sido normal, os criminosos saíram do banco com o cofre, o gerente e mais dois funcionários da agência e foram embora da cidade atirando e cantando parabéns para um integrante da quadrilha que aniversariava. Os reféns foram obrigados a cantar e bater palmas para o homenageado e é nestas salvas que reside o aludido toque de provocação.


Em 29 de fevereiro desse ano, as agências do Banco do Brasil e do Bradesco foram “reassaltadas” (foi a segunda vez em Amargosa), através da mesma modalidade que tem assumido espectro de modelo de assalto típico dos bancos das pequenas cidades. Mais uma vez no script se incluem os carros possantes, muitos homens armados (oito), queima de automóvel, sequestro de funcionários do banco.


Observando-se algumas imagens do evento que foram registradas, em sua maior parte por celulares e disponibilizadas na internet, é possível verificar uma característica que sugere a familiaridade de muitos moradores com a ocorrência. Em algumas cenas, notam-se pessoas que se encontram pela rua e passam a acompanhar o acontecimento, tecendo comentários explicativos sobre a sequência dos atos. Em vez de apavoradas, elas se mostram curiosas, tornando excitante o episódio. E quando os ladrões começam a jogar moedas pela rua, eles não se intimidam, correm em direção às pratinhas, se abaixam e começam a catá-las, não obstante as armas, os tiros e um carro em chamas a poucos metros. As cenas dão a impressão de incorporação do evento pela cidade, pelos seus habitantes. E não são poucos os que aplaudem os atos finais do “ritual” na rua ocupada pela ação dos malfeitores. Embora aquele adeus envolva, invariavelmente, sequestros de pessoas da cidade, as cenas não sugerem aflição, provavelmente porque os residentes já conhecem o script e sabem que os raptos têm a função de garantir a fuga da quadrilha que, mais adiante, se desvencilha dos reféns e dos carros, tomando destino desconhecido através de outros veículos roubados.


Causa incômodo a desproporcionalidade entre a segurança local e o modelo de ação criminosa, cujo ingrediente básico é a surpresa, à semelhança da visita que chega de repente e pega desprevenida a família, que fica desapontada por não poder eliminar as falhas e as carências do viver cotidiano.  Ao final, para relaxar, todos ficam à vontade e sorriem até dos apertos, dos apuros, das desilusões.
Informações vindas de Amargosa [Bahia, grifo nosso] dão conta, também, de certo aprendizado das tramas dos assaltos por habitantes da localidade. A parte prática está em estágio avançado e, portanto, em plena vigência na cidade. Diariamente, sem carros grandes ou armas potentes, alguns moradores adotaram práticas de assalto contra o comércio local e já está se tornando difícil encontrar um pequeno comércio sem a história do assalto próprio para declarar.   

As lições dos assaltos bem sucedidos e cinematográficos podem fascinar. E a reapresentação dos atos pode dar confiança e ânimo aos interessados ou vulneráveis aos convites de ingresso na carreira do crime.


domingo, 29 de abril de 2012

NOSSO BLOGUE VISTO NO BRASIL E NO MUNDO


NOSSO BLOGUE VISTO NO BRASIL E NO MUNDO
SEMANA DE 22 DE ABRIL DE 2012, 21h
A 29 DE ABRIL DE 2012, 20h

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EMCONTOS COM AS CIDADES - MACHADO DE ASSIS


EMCONTO COM AS CIDADES


POSTAGENS DOMINICAIS DE CONTOS QUE EXIBAM ALGUM DESTAQUE  À CIDADE


  

OS TESOUROS PERDIDOS

Machado de Assis

Uma tarde, eram quatro horas, o sr. X… voltava à sua casa para jantar. O apetite que levava não o fez reparar em um cabriolé que estava parado à sua porta. Entrou, subiu a escada, penetra na sala e… dá com os olhos em um homem que passeava a largos passos como agitado por uma interna aflição.
Cumprimentou-o polidamente; mas o homem lançou-se sobre ele e com uma voz alterada, diz-lhe:
— Senhor, eu sou F…, marido da senhora Dona E…
— Estimo muito conhecê-lo, responde o sr. X…; mas não tenho a honra de conhecer a senhora Dona E…
— Não a conhece! Não a conhece! … quer juntar a zombaria à infâmia?
— Senhor!…
E o sr. X… deu um passo para ele.
— Alto lá!
O sr. F… , tirando do bolso uma pistola, continuou:
— Ou o senhor há de deixar esta corte, ou vai morrer como um cão!
— Mas, senhor, disse o sr. X…, a quem a eloqüência do sr. F… tinha produzido um certo efeito, que motivo tem o senhor?…
— Que motivo! É boa! Pois não é um motivo andar o senhor fazendo a corte à minha mulher?
— A corte à sua mulher! não compreendo!
— Não compreende! oh! não me faça perder a estribeira.
— Creio que se engana…
— Enganar-me! É boa! … mas eu o vi… sair duas vezes de minha casa…
— Sua casa!
— No Andaraí… por uma porta secreta… Vamos! ou…
— Mas, senhor, há de ser outro, que se pareça comigo…
— Não; não; é o senhor mesmo… como escapar-me este ar de tolo que ressalta de toda a sua cara? Vamos, ou deixar a cidade, ou morrer… Escolha!
Era um dilema. O sr. X… compreendeu que estava metido entre um cavalo e uma pistola. Pois toda a sua paixão era ir a Minas, escolheu o cavalo.
Surgiu, porém, uma objeção.
— Mas, senhor, disse ele, os meus recursos…
— Os seus recursos! Ah! tudo previ… descanse… eu sou um marido previdente.
E tirando da algibeira da casaca uma linda carteira de couro da Rússia, diz-lhe:
— Aqui tem dois contos de réis para os gastos da viagem; vamos, parta! parta imediatamente. Para onde vai?
— Para Minas.
— Oh! a pátria do
fg(517,’Tiradentes’)
Tiradentes! Deus o leve a salvamento… Perdôo-lhe, mas não volte a esta corte… Boa viagem!
Dizendo isto, o sr. F… desceu precipitadamente a escada, e entrou no cabriolé, que desapareceu em uma nuvem de poeira.
O sr. X… ficou por alguns instantes pensativo. Não podia acreditar nos seus olhos e ouvidos; pensava sonhar. Um engano trazia-lhe dois contos de réis, e a realização de um dos seus mais caros sonhos. Jantou tranqüilamente, e daí a uma hora partia para a terra de
fg(167,’Gonzaga’)
Gonzaga, deixando em sua casa apenas um moleque encarregado de instruir, pelo espaço de oito dias, aos seus amigos sobre o seu destino.
No dia seguinte, pelas onze horas da manhã, voltava o sr. F… para a sua chácara de Andaraí, pois tinha passado a noite fora.
Entrou, penetrou na sala, e indo deixar o chapéu sobre uma mesa, viu ali o seguinte bilhete:
“Meu caro esposo! Parto no paquete em companhia do teu amigo P… Vou para a Europa. Desculpa a má companhia, pois melhor não podia ser. — Tua E…”
Desesperado, fora de si, o sr. F… lança-se a um jornal que perto estava: o paquete tinha partido às oito horas.
— Era P… que eu acreditava meu amigo… Ah! maldição! Ao menos não percamos os dois contos! Tornou a meter-se no cabriolé e dirigiu-se à casa do sr. X…, subiu; apareceu o moleque.
— Teu senhor?
— Partiu para Minas.
O sr. F… desmaiou.
Quando deu acordo de si estava louco… louco varrido!
Hoje, quando alguém o visita, diz ele com um tom lastimoso:
— Perdi três tesouros a um tempo: uma mulher sem igual, um amigo a toda prova, e uma linda carteira cheia de encantadoras notas… que bem podiam aquecer-me as algibeiras!…
Neste último ponto, o doido tem razão, e parece ser um doido com juízo.
Machado de Assis
Conto originalmente publicado em A Marmota 
(1858)

TEMPOESIA NAS CIDADES - DRUMMOND


TEMPOESIA NAS CIDADES  
POSTAGENS 
DE POESIAS QUE EXIBAM  
ALGUM DESTAQUE À  CIDADE








CIDADEZINHA QUALQUER

Carlos Drummond de Andrade


Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus. 
 De Alguma poesia (1930)