terça-feira, 30 de abril de 2013

LIXO URBANO: TRADIÇÃO OU MALDIÇÃO? (3)


LIXO URBANO: TRADIÇÃO OU MALDIÇÃO? (3)



O que nós nos acostumamos a chamar de lixo urbano (resíduos sólidos ... resíduos orgânicos ... metais ... e até poluição sonora, visual ... etc ) na verdade representa apenas o lado visível/sensível do fato e da questão. Por exemplo: há cidades brasileiras - e o Rio de Janeiro não é o único caso - cujos aquíferos (rios, aguadas,  lagoas,  fontes ... ) de percursos francamente urbanos   apresentam elevados índices de contaminação.



Tais contaminações  são - por assim dicer - invisíveis e têm presença inversamente proporcional à sua visibilidade/sensibilidade ordinária. Na Salvador colonial (Bahia- Brasil), as elites sociais e econômicas habitavam as  beiras das encostas (hoje chamadas Pelourinho, Carmo, Santo Antonio Além-do-Carmoou, mais exatamente, os casarões alí situados. Hoje (2013),  essas elites - atualizadas historicamente claro! - habitam as beiras das encostas do Corredor da Vitória ou, mais precisamente, as elevadas torres com triplex e coberturas,  teleféricos  e iates - elites superendinheiradas que vivem e vêem a baia de Todos os Santos sobre o metro quadrado  mais caro daquela cidade.



Na Salvador colonial, os casarões não dispunham  de vasos sanitários; e, assim,  as fezes eram armazenadas em tonéis, chamados "tigres", que - quando abarrotados de excrementos elitistas (!)  eram conduzidos nos ombros dos escravos que desciam até a praia onde despejavam a carga pesada daqueles recipientes fétidos.



Tudo era visto e sentido, mas tudo era tolerado pela cultura e pelas circunstâncias históricas.



Blogue CIDADE 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

BOAS VINDAS A ALLAN DOUGLAS

BOAS VINDAS A ALLAN DOUGLAS

TRAGA-NOS SUA ALEGRIA E SUA CONTRIBUIÇÃO AO NOSSO BLOGUE.

SEJA BEMVINDO.

Blogue CIDADE

domingo, 28 de abril de 2013

NOSSO BLOGUE VISTO NO BRASIL E NO MUNDO

 NOSSO BLOGUE VISTO NO BRASIL E  NO MUNDO

SEMANA DE 21/04/2013 18:00 A 28/04/2013 17:00

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LIXO URBANO: TRADIÇÃO OU MALDIÇÃO? (2)

LIXO URBANO: TRADIÇÃO OU MALDIÇÃO? (2)

É inimaginável que o meio urbano não produza excessos/sobras/excedentes econômicos. O meio rural também produz isto ... mas trata-se de ambientes econômicos e ecológicos diferentes. Em princípio, o lixo urbano difere do çixp produzido pela área rural. Inimaginável sim, mas isto não autoriza ou justifica o descaso ante a deposição incorreta e até mesmo nociva à saúde do lixo (urbano, no  caso). Diz-se que, ante essa inevitabilidade comum a cidades de todo o porte e importância econômica, o que faz a diferença é o vínculo educacional das diversas populações urbanas com o lixo e e as mesmas produzem.

Grosso modo, podemos dizer que houve melhoria e avanços educacionais generalizadas aqui e ali, em todo o Mundo. A  defesa dos bons hábitos de higiene coletiva - defesa insistente e incansável - ajudou a criar e desenvolver ma certa consciência que vem marcando desde o simpes ato de não jogar papel no chão até a deposição adequada dos resíduos domésticos, industriais  e dos chamados 'resíduos de saúde', ou seja, ixo produzido por consultórios, hospitais, centros e postos de saúde. 

sábado, 27 de abril de 2013

LIXO URBANO: TRADIÇÃO OU MALDIÇÃO? (1)

 LIXO URBANO: TRADIÇÃO OU MALDIÇÃO? (1)


Nas últimas semanas, ao menos no Brasil, a mídia (jornais, revistas, rádio, TV) tem se dedicado a noticiar sobre  o crescente acúmulo de lixo nas cidades brasileiras ... independentemente do tamnaho ou da maior o menor beleza delas. Todo esse movimento talvez  tenha sido provocado pela divulgação de uma pesquisa que aponta o Rio de Janeiro, (a 'cidade maravilhosa' e uma das mais belas e mais provilegiada  pela natureza e pela eleição de  prefeitos e adminstrações competentes) como uma das cidades mais sujas do Mundo (!)

As primitivas e mal cheirosas ruas dos embrionários burgos medievais na verdade eram verdadeiras cloacas. Esgotos domésticos e de águas servidas, corriam a ceu aberto,  restos de feiras, resíduos domésicos e, por assim dizer, 'industriais' considerados imprestáveis eram atirados porta a fora

Lixo urbano: tradição ou maldição?

Blogue CIDADE


sexta-feira, 26 de abril de 2013

SEJA BEMVINDO ALBENISIO FONSECA

SEJA BEMVINDO ALBENISIO FONSECA

AO NOSSO BLOGUE. ESTAMOS JUNTOS

PARA, MAIS E MAIS,  APERFEIÇOÁ-LO


Blogue CIDADE

terça-feira, 23 de abril de 2013

BOAS VINDAS A FLAVIO ALESSANDRO AMORIM

BOAS VINDAS A FLAVIO ALESSANDRO AMORIM


Flavio.

Sentimo-nos bastante honrados com sua vinda.

Blogue CIDADE

OBSERV DE VIOL E ACIDENTES/ BA - REUNIÃO - 24/ABRIL



GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA
Observatório de Violências e Acidentes


Of. SE ObViA  nº 16/2013 - Circular
Salvador,  18 de abril de 2013

Para o Colegiado Ampliado
Observatório de Violências e Acidentes do Estado da Bahia


Senhores e Senhoras

Gostaríamos de contar com a participação de todos na reunião do Colegiado Ampliado do Observatório de Violências e Acidentes, no dia 24 de abril próximo, das 9 às 12 h, no auditório da Diretoria de Vigilância e Atenção à Saúde do Trabalhador – DIVAST, esquina das ruas Araújo Pinho e Pedro Lessa, no Canela, com a seguinte pauta:
ü  Estrutura e conteúdo do site do Observatório
ü  Logomarca
ü  Ações do Observatório em 2013
Lembrando a dificuldade de estacionamento na área da DIVAST e nas suas imediações, sugerimos que, na medida do possível, não utilizem automóvel particular para vir para a reunião.
Atenciosamente,

Maria Eunice X. Kalil
Pela Secretaria Executiva
Observatório de Violências e Acidentes do Estado da Bahia


domingo, 21 de abril de 2013

PEDRO AGOSTINHO - Boletim - MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA

Este número do Boletim Informativo do Museu de Arqueologia e Etnologia é inteiramente dedicado ao Professor Pedro Manuel Agostinha da Silva, fundador desta instituição universitária. A vida e a obra de Pedro Agostinho, homem de indiscutíveis méritos acadêmicos, são aqui revistas por alguns de seus companheiros de trajetória (Consuelo Pondé, Olympio Serra, Ordep Serra, Carlos Caroso, ) numa reunião de depoimentos que dão testemunho veraz do quão sua ação foi importante Cláudio Pereira na vida política e social baiana, e, em especial, no campo da etnologia indígena e do indigenismo. Afirma-se aqui ademais, e em definitivo, quão crucial foi sua presença para o desenvolvimento de uma antropologia  baiana sólida, e com expressão dentro da antropologia brasileira. São achegas, que esperamos, possam um dia se juntar a um honesto reconhecimento do papel crucial de Pedro Agostinho, e de seu legado,
na Universidade Federal da Bahia nas últimas décadas.
.
Edição especial sobre Pedro Agostinho.
Editor: Cláudio Luiz Pereira  Salvador | abr/mai de 2013 | Informativo bimestral | Número 4 | Ano 1 | www.mae.ufba.br
Foto: Pedro Agostinho/ Ilustração: MAE
As mudanças socioambientais nos levam a rememorações que não imaginávamos ocorrerem. As atividades comuns em relação a povos indígenas são obvias. Outras, ainda são redutos dos arquivospessoais recônditos. Minha vizinhança no povoado de Velha Boipeba, Cairu, era um estaleiro de excelente construtor de barcos.

Hoje, o estaleiro se transformou em pousada e botequim. Tais acontecimentos me levaram a relembrar,dentre os muitos trabalhos em comum, a inestimável contribuição de Pedro Agostinho da Silva para  repensarmos o patrimônio cultural naval do Brasil, assunto que já merecia a sua atenção desde o Recôncavo (1). A nossa iniciativa   resultou na criação no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a ARCHENAVE (Comissão de Arqueologia História e Etnografia Naval), encarregada de promover a pesquisa e o estímulo à consciência social e estatal para com um dos patrimônios arqueológicos e etnográficos mais extensos do Brasil. Pedro Agostinho Silvacompunha a referida Comissão e, nela, propôs um projeto de criação de Centros de Estudos do patrimônio cultural naval em todas as regiões do País, levando em conta os 8.500 Kms da costa atlântica e a maior rede hidrográfica do mundo – o primeiro dos centros dessa proposta foi instalado no Forte de São Marcelo, Salvador, Bahia. Nossas iniciativas ruíram muito cedo e, alémde uma publicação sobre o tema (2),  tudo o mais foi para no nosso baú de fracassos. Espero que herdeiros remexam o baú e levem adiante nossas propostas d’antanho.

Navegar é preciso.

A trejetória ímpar de Pedro Agostinho o tornou um Mestre de muitos méritos. Como professor presentou capacidade única de atrair estudantes, levando-os a sonhar com um mundo do detalhe etnográfico e estimulando seus interesses pela antropologia. Suas aulas sempre foram recheadas de informações de todos os tipos, sempre apaixonadas por cada palavra que proferia com seu sotaque lisboeta, mesmo distante de seu país de origem desde a infância.

Ao reconhecer seus incontáveis méritos e prestar-lhe mais uma homenagem, o  MAE prazerosamente cumpre um de seus papéis como casa de boas memórias e valorização do patrimônio cultural. Pedro Agostinho, juntamente com outros contemporâneos, teve papel  fundamental na implantação deste Museu e na constituição de seu patrimônio. Os objetos da cultura material Kamayurá incorporados aos acervos do MAE foram coletados e doados a esta instituição por esse professor que, não só participou intensamente da concepção deste museu, como de sua qualificação e montagem de exposições. Se não fosse bastante este gesto de desprendimento ao doar toda uma coleção adquirida com seus próprios recursos, alguns dos objetos arqueológicos que compõem o acervo resultaram de seu trabalho e de seus alunos.

Redescobriu e estimulou seus estudantes a perseguirem pistas as mais diversas sobre as populações indígenas na nBahia, contribuindo para redesenhar o mapa dos povos indígenas no Estado. Atuou na defesa e promoção desses povos em todos os âmbitos, vindo a ser o mais influente de seus porta-vozes, respeitando e defendendo seus direitos às terras que ancestralmente habitavam, autonomia e autodeterminação.

No momento em que comemora 30 anos de sua fundação, instalado no sítio que representa os mais claros preservados vestígios arquitetônicos do Colégio dos Jesuítas que completa 460 anos de resistência às intempéries e demolições, e, no mês em que se comemora o Abril Indígena, o MAE, por dever e justiça homenageia este emérito mestre que se associa a sua própria história. Deve-lhe o Departamento de Antropologia o merecido título de Professor Emérito, há muito aprovado por seu plenário.


Prof. Carlos Caroso
Departamento de Antropologia e Etnologia da UFBAe Diretor doMAE

Ficha Técnica
Editorial
Velho Marinheiro
MAE/UFBA
Direção
Carlos Caroso
Museólogo
Antônio Marcos Passos

Conservadoras
Mara Lúcia C. Vasconcellos (Restauradora)
Celina Santana (Técnica de Restauração)
Corpo Funcional
Geovane Hilário da Silva (Eletricista)
Helio Cerqueira Sousa (Porteiro)
Alice Gomes (Assistente de Administração)
Izania Santos (Assistente de Administração)
Regina Lemos (Secretária Administrativa)
Corpo Técnico de Nível Superior
Gustavo Wagner (Prof. Dr. em Arqueologia)
Estudantes Bolsistas
Anne Alencar (Ciências Sociais)
Hildelita Marques (Museologia)
Maiara Dias (Ciências Sociais)
Mauricéia Santos (Museologia)
Tamires Pacheco (Museologia)

Redação
Alice Meira Gomes
Antônio Marcos Passos
Celina Santana
Mara Lúcia C. Vasconcellos

Diagramação
Alice Meira Gomes
Funcionamento: Segunda à sexta, das 09h às 17h.
Terreiro de Jesus, s/n, Prédio da Faculdade de
Medicina da Bahia - Pelourinho. 40025-010.
Salvador-BA. Tel.: 71 3283-5530
mae@ufba.br | www.mae.ufba.br
Por Olímpio Serra, antropólogo
| abr/mai de 2013 |
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2
Um mestre de muitos méritos
Banco Ornitomorfo

Coleção: Pedro Agostinho
Origem: Parque Indígena do Xingu, Mato Grosso
Material: Madeira

O objeto foi talhado em um só bloco de madeira, representando um animal bípede, da categoria das aves, levemente ovalado, tendo como base dois trilhos sem prolongamento. O assento termina nas duas extremidades com duas cabeças e um rabo. Como recurso decorativo, tem a presença de pinturas na cor preta do tipo grafismo. Pode também ser consideradocomo decoração própria, devido à forma do objeto.

Pente Singelo de Duas Hastes
Coleção: Pedro Agostinho
Origem: Tribo Karajá, Parque Nacional Araguaia/Tocantins
Material: Piaçava, fibra vegetal.

O objeto caracteriza-se por ser usado no toucador, constituído por duas barras transversais, sendo que uma é formada por hastes de madeira (superior) e a outra é formada pelo arremate de fios de palha (fibra vegetal), dado segundo a técnica do contratorcido combinando que é um trabalho em trama, uma torção executada em movimento unificado com o uso de quatro fios, que depois de pronto, apresenta a forma de trança. Entre as barras se inserem lascas de piaçava paralelas fixadas pela entremação de fios de palha (fibra vegetal) pela técnica do trançado do tipo entretecido sarjado, correspondendo no trançado, à técnica de entrecruzar.

A produção de Pedro Agostinho é vasta: 38 artigos completos publicados em periódicos especializados, 24 capítulos de livros, 13 artigos em jornais e revistas, 3trabalhos completos publicados em Anais, além de 7 livros, abaixo
relacionados.

Livros de Pedro Agostinho

EMBARCAÇÕES DO RECÔNCA VO: UM ESTUDO DAS ORIGENS. SALVADOR: OITI EDITORA, 2012. 160 p.

AGOSTINHO DA SI LVA - PENSAMENTO À SOLTA (UM MANUSCRITO AUTÓGRAFO).NOTA   INTRODUTÓRIA : CRITÉRIOS , MÉTODO E PROBLEMAS NA FIXAÇÃO DO TEXTO. SALVADOR: FUNDAÇÃO AGOSTINHO DA SILVA, 2002.

IMAGEM E PEREGRINACAO NA CULTURA CRISTA. UM ESBOCOINTRODUTORIO. SALVADOR: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 1985. 41p .

COMIDA E PRESENTES EM T EMPO D E PA S S AGEM. ANIVERSARIOS DE CRIANCA EM SALVADOR, BAHIA . SALVADOR: UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, 1983. 102p .

KUARIP, MITO E RITUAL NO ALTO XINGU. SAO PAULO: ED. PEDAGOGICA E UNIVERSITARI A/UNIVERSIDADE DE SAO PAULO, 1974. 205p .

MITOS E OUTRAS NARRATIVAS
. .
Peças da coleção Pedro Agostinho em Destaque
Bibliografia de Pedro Agostinho
K AMAY U R A . S A LVA DOR : UNIVERSIDADE FEDERAL DA
BAHIA, 1974. 190p .

EMBARCAÇÕES DO RECONCA VO.UM ESTUDO DE ORIGENS.
S A LVA D O R : MU S E U
D O ESTADO, 1973. 46p .
. .
Por Cláudio Luiz Pereira
| abr/mai de 2013 |
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3
Como se faz um antropólogo? A resposta é simples: através de um aprendizado antropológico, que pode ser curto ou longo, superficial ou profundo, profuso ou difuso, dependendo muito de uma dedicação pessoal incansável, e, sobretudo, de quem o candidato vai se aproximar no correr de sua carreira profissional.

Para mim o gosto pela antropologia veio de um impulso interior inexplicável, porém tornar-me antropólogo foi um trabalho árduo, que dependeu, quase sempre, de muitas coisas terríveis e complicadas na vida acadêmica, para a qual nunca me senti com vocação. Por isso mesmo ter encontrado Pedro Agostinho, lá no começo dos anos 80, no Museu de Arqueologia eEtnologia da UFBa foi capital para minha formação, jovem fascinado por essa obscura coisa que se chama antropologia.

Já aí, a figura | abr/mai de 2013 |   de Pedro reunia qualidades admiráveis e espantosas, bem de acordo com os heróis fundadores da nossa disciplina.

Pedro Agostinho para mim é um dos últimos românticos da antropologia brasileira. Foi um personagem heróico num tempo em que cada vez mais as personalidades se burocratizavam. Com o “rigor da disciplina”, imersa em currículosacadêmicos tacanhos, os carismáticos profetas de inolvidáveis acertos foram substituídos por sacerdotes medíocres cheios de erros solenes e bizarros. A empáfia desta gente, aliás, ainda se sustenta por sob pedestais vazios de cátedras que nada ensinam, ou quase nada. Formam apenas igrejinhas onde não se reza pra santo algum.

No melhor da minha memória Pedro aparece trajando o habitus da disciplina. Cabelo esvoaçado pelo vento, barba branca cheia, colete caqui por sobre a roupa, caderneta de campo em um dos bolsos, esferográficas a mão cheia, observando tudo, atento com umolhar inquisidor, escutando cuidadosamente seus informantes. E ai abstraia coisas em conversas deliciosas, e com elas construía estruturas no ar, movidas por ousados moinhos de ventos teóricos: coisas que só os antropólogos fazem, quando são verdadeiramente antropólogos.

Pedro sempre foi um sujeito inquieto intelectualmente, e, além de tudo, mantinha um raro senso de justiça. Fora disso, era um técnico dentro da técnica (...e um louco fora dela, como escreveu o célebre poeta português), empenhado em formar novos intelectuais, eu e tantos outros que tivemos a sorte de conhecê-lo na universidade e dele se aproximar.

Simplesmente Pedro
Por: Cláudio Luiz Pereira*
Rosinha entre os Kamayurá
| abr/mai de 2013 |
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Na minha memória avultam inúmeros gestos de solidariedade desinteressada dele. Pedro era quase um franciscano que respeitava seu voto de pobreza. Não raro, semanifestava austero quanto qualquer dispêndio excessivo e desnecessário.

Não se tornou rico, num tempo em que mesmo os antropólogos tornam-se endinheirados. Pedro como o próprio pai era Agostinho. Cresceu num mundo peculiar, cheio de narrativas e argumentos, daqui e além mar.

Cheio de livros e cartas de um pai que pregava um humanismo moderno para seres humanos reais. Como menino, Pedro era cioso de aventuras. Como antropólogo, sempre foi um militante em defesado homem, não um homem abstrato, mas aquele real e concreto, abandonado injustamente numa terra devastada. Humanista belicoso, Pedro era um menino versado nas artes da guerra.
Sua pasta de contenciosos, da qual ele falava com orgulho, era enorme: brigou contra o poder instituído e seus mandatários tacanhos, inclusive reitores da nossa própria universidade. Brigou, também, contra latifundiários e a favor dos oprimidos, defendeu direitos imemoriais, frutificou a emergência de povos indígenas baianos, ensejou tribunas de modo a dar voz a povos antes subalternos. Pedro é, sem dúvida, o artífice de toda etnologia indígena baiana contemporânea.

Fascinado pelo indigenismo foi ao Xingu nos anos 60, orientado por outro antropólogo carismático, que era Eduardo Galvão. Pedro, inclusive, me tratava como “Crôudio”, como ele dizia que os índios chamavam meu xará dos Villas-
Bôas. “Crôudio...” assim começava ele, e eis que agora passa na minha cabeças os muitos casos contados no fim da tarde no MAEUFBa.

Uma vez me contou a história da revista Veja que ele levou ao Xingu, e que documentava a chegada do homem a lua. A revista funcionou como uma prova
de que a mitologia indígena esta correta quanto a ordem do mundo, tornando-se objeto de um grande capital simbólico, circulando por todas as tribos. Outra vez ele me contou que ele e Rosa, sua inseparável companheira, uma das mais importantes lingüistas brasileiras, voltavam de uma viagem ao Xingu, às pressas, para pegar um avião para retornar a Brasília. Disse queo fusquinha derrapou e caiu numa vala lateral a estrada. Saíram docarro e Rosa dizia “Só um milagre nos Salva! Só um milagre nos faz pegar o avião”. Em seguida, viramaproximar-se uma Kombi, de onde saltam oito halterofilistas que iam a um concurso, que pegaram o fusquinha na “unha”, como explicouele, e puseram de volta na pista. E teve ainda o caso das muitas baratas selvagens que ele comeu durante as refeições noturnas “Você pegava o peixe, botava na boca, e quando sentia um “crack e um gosto salgadinho...”.

Pedro era assim, um feixe de narrativas divertidas contadas com eloqüência inigualável.Pedro era assim mesmo: esse êre-luso, demiurgo mirim, um espírito jovial em busca de sua gaia ciência.

Não posso esquecer, ademais, que foi através de Pedro que publiquei meu primeiro artigo antropológico. Foi na Revista “Índio na Bahia”, publicada pela FCEBA, e era sobre os índios tuxás, que então viviam acossados pela construção da Barragem de Itaparica. Neste mesmo ano, aliás, junto com Gustavo Falcón, fiz um interessante entrevista com Pedro, publicada na Revista da Bahia. Pedro era assim, um homem que facultava oportunidades aos neófitos.

Os antropólogos sabem quão zelosos devem ser com suas filiações intelectuais. A antropologia, como uma aldeia utópica formada por uma gente antropofágica, obrigatoriamente observa um respeitoso culto aqueles que representam seu espírito de grandeza e sua estrita disciplina científica, já que é isto que a faz tão incisiva socialmente, bem como tão árdua pessoalmente. Para mim, por tudo isso, Pedro tem, indiscutivelmente, lugar garantido no nosso panteão maior dos ícones da antropologia brasileira.
*Antropólogo CEAO/FFCH/UFBA
5
Pedro Agostinho da Silva foi, com toda a certeza, um dos mais importantes antropólogos brasileiros de sua geração. Na história da antropologia no Brasil muito poucos foram os que tiveram, como ele, um trabalho inaugural, muito poucos os que abriram novos campos de pesquisa e fizeram ampliar-se, deste modo, o espaço de reflexão em nossa disciplina. No horizonte das pesquisas etnológicas sobre   indigenato brasileiro, na grandiosa construção da nossa etnologia dos povos indígenas, pode-se falar em um “antes” e um “depois” de Pedro Agostinho. Antes dele, havia uma lacuna considerável, que pode ser encontrada até mesmo em obras de alguns dos nossos mais notáveis antropólogos, nomes marcantes, “estrelas” desse mesmo domínio etnológico: a lacuna sombria representada pelo vasto desconhecimento e até mesmo pela denegação dos índios do Nordeste brasileiro, que até autoridades das mais respeitáveis davam como extintos ou em vias de extinção. Pedro Agostinho foi pioneiro como pesquisador e formador de pesquisadores, acrescentando de forma direta e indireta um valioso cabedal de conhecimento que teve repercussões na elaboração teórica sobre os índios do Brasil. Ele fez isso ao compasso de um outro trabalho muito importante e muito frutífero: semeou antropólogos, que formou, orientou e treinou em campo, que estimulou e encaminhou na disciplina. Produziu uma bela safra de doutores, de estudiosos muito respeitados em todo o país. Foi, por longo tempo uma das colunas principais do nosso Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. Mas também antes disso, ainda na UnB, teve uma participação muito importante no antigo Centro Brasileiro de Estudos Portugueses, fundado por seu pai, Agostinho da Silva, ajudando a constituir uma valiosa biblioteca e a promover estudos de grande importância.

Desde essa época, Pedro Agostinho se empenhou em pesquisas historiográficas e antropológicas de peso e teve papel decisivo na formação de
antropólogos. Lembro-me bem dos ricos seminários do efêmero Centro de Estudos Indígenas que ele mesmo criou em Brasília; aí tive a minha primeira aproximação com a antropologia, assim como aconteceu com Rafael Bastos, por exemplo: ele nos atraiu, a ambos, para esta disciplina, foi responsável por nosso engajamento nela. Em Brasília, no CEI, Pedro foi o primeiro a promover
uma discussão sistemática sobre a Antropologia Estrutural de Claude Lévi-Strauss.

Ao mesmo tempo, ao lado de Olympio Serra e de outros, já desde o começo de   sua carreira ele se empenhou de modo tenaz nas lutas em defesa dos direitos dos povos indígenas do Brasil, lutas em que se mostrou incansável combatente: colaborou com a floração de campanhas em favor do indigenato tanto em Brasília como no Rio de Janeiro e em Salvador, onde foi o principal inspirador e um dos fundadores da ANAÍ-BAHIA. Deu um exemplo magnífico ao associar de forma inseparável a criação de conhecimento, o ensino lúcido e a preocupação ética, a atuação política no melhor sentido: marcou sua carreira a busca de justiça, a pregação e o exercício da cidadania, com uma dedicação
apaixonada a um segmento ainda hoje marginalizado e maltratado de nossa sociedade.

Pedro Agostinho abriu picadas em mais de um terreno. Não foi apenas o grande iniciador dos estudos sistemáticos dos índios do Nordeste Brasileiro. Escreveu um clássico da etnologia sobre os povos do Xingu, seu magnífico Kwaryp, um livro até hoje marcante, indispensável ao especialistas nessa área, e fez um estudo pioneiro sobre as velas do Recôncavo, por exemplo. Seu trabalho incansável no sentido de preservar a herança de Calderón e seu empenho em fomentar o interesse pela pesquisa arqueológica foram decisivos para a UFBA e para a Bahia: sem ele, nada teríamos nesse domínio.

O Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia em grande medida lhe deve a existência e a permanência. Ele o enriqueceu com uma valiosa coleção e foi por longo tempo sua coluna mestra. Por isso e por muito mais merece da UFBA, da Bahia e do Brasil todas as homenagens.


Nota breve sobre Pedro Agostinho da Silva
Por Ordep Serra*
*Antropólogo, Professor aposentado do Departamento de
Antropologia e etnologia da UFBA.
| abr/mai de 2013 |
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6
Nunca se pode prever o que o destino nos reserva. Muito menos admitir que a adversidade possua a sutileza de sustentar determinadas amizades. Dizia meu pai com sua proverbial sabedoria: “A prosperidade granjeia amigos, a adversidade experimenta-os”.

Tal condição tem-se confirmado ao longo da vida de cada ser humano, quando se lhe anuvia o impressentido torpor. O ser humano é imperfeito e, com o correr dos tempos, ao afastamento natural das pessoas, por esse ou aquele motivo, sobrevêm o esquecimento.

Assim ocorre com os que passam a experimentar o isolamento, a vontade subtraída, os desejos mortos, para mergulhar no mundo das sombras, sem que possa nutrir qualquer esperança, tolhido pela pungente mordaça do insondável.Aí então, as ambições são esquecidas, os conhecimentos se esmaecem, a vontade deixa espaço para que a tranqüilidade se instale de maneira irreversível. Não lhe doem mais as ofensas, nem lhe causam mágoa as dores do mundo. Apagam-se as paixões, desaparecem as desavenças, sepultam-se os medos.

Mas, a amizade verdadeira continua, sem anuviar a nossa lembrança, sem toldar o sentimento de fraternidade, acompanhando os passos daqueles que estimamos, cega a todos os obstáculos que impedem a comunicação entre pessoas que se ligam desinteressadamente, unidos apenas pelos laços da solidariedade, do companheirismo, da sintonia de interesses, das afinidades. Nada de fraqueza, de engano, de estremecimento, mas a sensação de estar praticando a cortesia, exercitando a caridade no seu sentido mais amplo, que se traduz em benevolência, bondade, comiseração e amor.

Foi com esse sentimento de estima e admiração pessoal que me dispus a escrever sobre Pedro Agostinho da Silva, contemporâneo das lides universitárias, colega e companheiro do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Ufba, amigo sempre.

Sobre ele, estudante ainda, escutei o Prof. José Calasans afirmar categórico ser o mais brilhante dos seus discípulos, aquele que intuía sobre o que o Mestre ainda deveria anunciar. Entretanto, não foi na Bahia que Pedro concluiu o Curso de História, mas na Universidade Federal Fluminense, em 1962. Em Brasília, na UNB, fez o mestrado de Antropologia, finalizado
em 1968, e transferiu-se para a Bahia, passando a atuar, como docente, e no Departamento de Antropologia e Etnologia da UFBA. Especializou-se em Antropologia,com ênfase no Simbolismo e Ritual, preocupando-se fundamentalmente com os estudos etnológicos e a política indigenista. Sua monografia de mestrado intitula-se: Kwarip, festa dos mortos. Índios Kamayurá, Alto Xingu, e foi orientada pelo professor Eduardo Galvão. Convivemos durante muito tempo, o suficiente para avaliar a bravura do seu espírito e a disposição para enfrentar a luta. Por seu intermédio conheci dois ilustres intelectuais portugueses, ambos amigos de seu pai, o inesquecível professor e intelectual lusitano, George Agostinho da Silva. Foram eles: Fernando de Pamplona e Manoel Viegas Guerreiro, o primeiro, voltado para o estudo das Artes, o segundo, antropólogo e humanista, estudioso povos boshimanes e cultor da literatura oral de expressão popular, com os quais tive valiosa e enriquecedora aproximação.

Pedro Agostinho da Silva manteve sempre intensa atividade em vários Conselhos da Universidade. Em 1998 ajudou a instalar o Museu de Arqueologia e Etnologia da Ufba. Lecionou, durante muitos anos na graduação e no mestrado em Ciências Sociais. As disciplinas por ele ministradas foram: Antropologia das Sociedades Indígenas-Contato Interétnico, Sociedades Camponesas – Economia, Pesquisa Orientada, Etnoarqueologia.
Alcançou tanto prestigio profissional que enorme foi a sua atuação nos Cursos de


Pedro Agostinho, um grande amigo
Por Consuelo Pondé de Sena*
| abr/mai de 2013 |
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Foto de Kamayurá tirada por Pedro Agostinho (Acervo MAE)
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Extensão Universitária. Recebeu inúmeros prêmios e títulos, a exemplo da Ordem Militar de Santiago da Espada (Ciências, Letras e Artes), noGrau de Comendador, Presidência da República Portuguesa- Mestrado da Ordem de Santiago (1994), tendo anteriormente recebido: Medalha de Valor – Prata, União dos Escoteiros do Brasil (1959), Prêmio Grande Concurso Escolar (âmbito nacional), e medalha comemorativa do Primeiro Vôo do mais Pesado que o Ar, Ministério da Aeronáutica do Brasil. Participou de inúmeras bancas de Mestrado, Conclusão de curso de graduação e foi professor orientador de várias teses de mestrado. Autor de muitos artigos científicos, dentre os quais: “Limitações de uma guerra sertaneja: reflexão sobre aspectos militares do Contestado. Argumentos” – Revista Semestral do CRH, Salvador, 2003; “Agostinho da Silva – um pensamento vivo“. Quinto Império Revista de Cultura e Literaturas da Língua Portuguesa, Salvador, v. 14, p25-37, 201; “Império e Cavalaria na Guerra do Contestado. Stilus, Faro, Portugal, v.3, n.139, p139-167, 2001; “Agostinho da Silva: Pressupostos, Concepção e Ação de Uma Política Externa do Brasil Com Relação A África”. Boletim da Associação Agostinho da Silva, Lisboa, 2001. Aqui não se esgotam os frutos doseu trabalho, mas devo limitar-me apenas a alguns aspetos do seu currículo. Outros colegas o farão melhor e mais amplamente e melhor.

Também escreveu e organizou alguns livros, dentre os quais assinalo: “Agostinho da Silva – Pensamento à solta (um manuscrito autógrafo) Nota introdutória: critérios, método e problemas na fixaçãodo texto”, Fundação Agostinho da Silva, 202; “Imagem e Peregrinação Na Cultura Cristã. Um Esboço Introdutório. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1985, 41 p; “Comida e Presentes Em Tempo de Passagem”. Aniversários de Criança em Salvador: Universidade Federal da Bahia, 1983. 102 p.; “Embarcações do Recôncavo. Um estudo de Origens. Salvador: Museu do Estado. Este livro foi reeditado, no ano pela OAS Empreendimentos, numa edição primorosa de 2010.

Pedro Agostinho da Silva foi um Mestre na melhor extensão da palavra, desses que estimulam os discípulos ao conhecimento e lhes apresentam as trilhas a serem percorridas. Dedicou-se à
Universidade Federal da Bahia de 1971 até 2007.

Muito mais poderia ele contribuir, com sua inteligência e amor ao saber, para as Culturas brasileira e portuguesa.

Todavia, as tramas do destino não o permitiram, sem que se saiba porque tantas inteligência vivas e lúcidas mergulham inteiramente nas brenhas da adversidade. A fonte de Pedro Agostinho secou antes do tempo. Sempre imagino o quanto ainda poderia dar de contribuição à Antropologia, aos estudos indígenas e à defesa desses povos espoliados, emnosso país, na terra que habitavam há mais de quinhentos anos. Era como se Pedro quisesse recompensá-los pela perda do paraíso em que habitavam, desde quando os portugueses passaram a ocupar a América Portuguesa. Com Pedro, tinha eu afinidade pelo estudo dos povos Tupis, ele conhecedor profundo dos Kamaiurá, que estudou apaixonadamente, durante sua experiência, como antropólogo, no Xingu. Eu, pelo gosto pelo estudo da língua tupi, conhecimento alimentado pelo Prof. Frederico Edelweiss, de quem herdei o ensino da disciplina e a lecionei durante 31 anos. Ele pelo amor acendrado aos povos indígenas do Brasil, que estudou e defendeu enquanto não lhe faleceram as forças.

Pedro foi um homem feliz, mesmo consideradas algumas limitações que se lhe impuseram, desde cedo, alguns problemas de saúde. Feliz pela esposa que escolheu, Rosa Virgínia Mattos e Silva, intelectual reconhecida pelos inegáveis méritos, feliz pelos filhos que ambos geraram: Olavo, Oriana, João Rodrigo e Lianora Mattos e Silva, dignos representantes de uma linhagem de escól.

Sedimentados pelo ideal comum, cada um na sua área de conhecimento, Rosa e Pedro viveram harmoniosamente, antes que o imprevisto houvesse interceptado suas caminhadas. A inteligência, a competência de Rosa, no conhecimento e domínio do d português antigo, nunca ameaçou a inteligência máscula do vibrante antropólogo Pedro. Diria que se completavam no interesse, na dedicação às tarefas que sempre cumpriam com responsabilidade e devoção.

Em todos nós, seus amigos, permanecem as lembranças de seus exemplos de vida, da nossa grande e contínua amizade, mesmo porque, um dia, na Vida de cada ser humano, tudo se converte em silêncio ...

*Presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e
Membro da Academia de Letras da Bahia
| abr/mai de 2013 |
w w w.mae.ufba.br
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Pesquisador não identificado, Pedro Agostinho, Rosa Virgínia e Valentin Calderón