terça-feira, 31 de janeiro de 2012

CENTRO DA CIDADE (10) - RIO: COMÉDIA X TRAGÉDIA

CENTRO DA CIDADE: REDESCOBERTA E RETORNO (10)

NA  FRENTE  A  COMÉDIA,  ATRÁS A TRAGÉDIA


Vicente Deocleciano Moreira



No dia 25 de janeiro de 2010, autoridades, políticos, cidadãos, técnicos não redescobriram e retornaram ao centro antigo da capital do Rio de Janeiro para renovar, rejuvenescer ou requalificar espaços e imóveis. E sim para constatar, ser tomado pelo pavor, lamentar e chorar os mortos ... vítimas do desabamento de três predios da Rua 13 de maio atrás do Teatro Municipal.  (na foto  abaixo os prédios, destacados em cor de rosa)






As três hipóteses principais das razões decisivas do desabamento são: reformas, estruturais e fundação. Até ontem (dia 30), 17 corpos encontrados (dos quais 13 tinham sido identificados e 5 desaparecios.  Agora busca no Rio é por restos mortais. "(Folha de São Paulo. São Paulo, (SP - Brasil). 30 de janeiro de 2012, p. C4)









"Ali está a miséria humana retratada. É inacreditável que alguém numa situação como essa vá roubar - aquilo é roubo - de um entulho vindo de uma tragédia como aquela. Eu vejo com muita tristeza, com certa raiva." - Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro. (Folha de São Paulo. São Paulo, (SP - Brasil). 30 de janeiro de 2012, p. C4)


Na frente, um espaço destinado à Comédia (e outros gêneros teatrais), o Teatro Municipal do Rio de Janeiro (foto) de prestígio internacional.  Atrás, a tragédia brasileira.



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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

ODED GRAJEW - CIDADE DESIGUAL

[fonte - jornal Folha de São Paulo. São Paulo (SP - Brasil), 29 de janeiro de 2012, p. A3]

CIDADE DESIGUAL

ODED GRAJEW

Em 26 distritos da cidade de São Paulo, não há nenhum leito hospitalar; o Itaim Bibi tem mais de 2.000 vezes mais empregos do que Marsilac





Um estudo da Rede Nossa São Paulo divulgado recentemente apresenta o quadro da desigualdade em São Paulo. Os dados da cidade mais rica do Brasil são vergonhosos.


São Paulo é dividida em 31 subprefeituras e em 96 distritos. A população média de cada subprefeitura supera os 350 mil habitantes. Em cada distrito, há mais de 110 mil habitantes (eles são maiores do que 95% das cidades brasileiras).


Verificamos em vários distritos a ausência de equipamentos públicos. Alguns exemplos: em 44 distritos não há nem sequer uma biblioteca municipal, 56 distritos não mantém nenhum equipamento esportivo público e 59 não têm nenhum centro cultural.



Isso sem mencionar os 1,3 milhões de paulistanos que vivem em favelas e os milhões que, em função da sua baixa renda, têm enorme dificuldade de ter acesso à cultura, ao esporte e à moradia digna. 

Em 26 distritos, não há nenhum leito hospitalar. Segundo pesquisa Irbem/Ibope, o tempo médio de marcação de consultas nos serviços de saúde públicos é de 52 dias. Entre a marcação e a realização de exames, gasta-se 65 dias. Entre a marcação e a realização de procedimentos mais complexos, como cirurgias, são necessários 146 dias.


Muita gente pobre, que depende do sistema público de saúde, certamente morre no meio do caminho. 

As desigualdades são enormes. No item emprego, por exemplo, a diferença entre o melhor distrito (Itaim Bibi) e pior (Marsilac) é de 2218,6 vezes -cerca de 300 mil empregos no primeiro distrito, apenas 136 no segundo. Para ter acesso ao trabalho, quem ganha até um salário mínimo fica, em média, duas horas ao dia no transporte público.


Milhões de paulistanos precisam percorrer enormes distâncias para ter acesso ao trabalho, à saúde, à cultura e ao esportes, entupindo as vias de circulação. Assim, no item mortes no trânsito, a diferença entre o melhor (Barra Funda) e o pior distrito (Marsilac) é de 32,2 vezes.


No item mortalidade infantil, a diferença é de 13 vezes (Cambuci e Jaguara); em gravidez na adolescência, de 24 vezes (Moema e Marsilac); e em homicídios, de 28,5 vezes (Barra Funda e Pinheiros são os melhores, o Brás é o pior).

A diferença entre a melhor (Capela do Socorro) e pior subprefeitura (Itaim Paulista) no item área verde por habitante é de 176,3 vezes. Na porcentagem de domicílios sem ligação com o esgoto, a diferença é de 44 vezes (Sé e Cidade Ademar).

Por que aquilo que se atingiu nos melhores distritos não pode ser atingido em todos? 

Mais de 174 mil crianças, basicamente de famílias pobres, estão sem creche. No item analfabetismo, a diferença entre a melhor e pior subprefeitura é de 2,4 vezes. O abandono e a distorção entre a idade e a série são, respectivamente, 52 e 42 vezes menores no ensino privado do que no ensino público. 

Educação de qualidade, fundamental para o acesso à cidadania e ao trabalho mais bem remunerado, é, portanto, privilégio da população de maior renda.

Não é por acaso que todas as grandes lideranças religiosas, sociais e humanas sempre lutaram pela justiça social.

Do ponto de vista ético, moral, social e econômico, não há nada mais insustentável, danoso, antiético, vergonhoso e degradante em uma sociedade do que a desigualdade. Ela está na origem de todos os problemas que afetam a qualidade de vida da população.

O quadro da desigualdade completo, com 91 indicadores, está disponível no sitewww.nossasaopaulo.org.br. Queremos que ele seja útil aos cidadãos na cobrança dos seus direitos e que ele sensibilize os candidatos nas eleições de 2012. 

É necessário que eles elejam a justiça social como a prioridade dos seus programas (mesmo sabendo que as pessoas de menor renda não financiam campanhas eleitorais). 

Do próximo prefeito, esperamos que o plano de metas que, por força de lei, ele deve apresentar 90 dias após a posse, tenha como eixo principal a redução das desigualdades. 
__________________________
 ODED GRAJEW, 67, empresário, é coordenador-geral da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos. É idealizador do Fórum Social Mundial e integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)



domingo, 29 de janeiro de 2012

NOSSO BLOGUE VISTO NO BRASIL E NO MUNDO

NOSSO BLOGUE VISTO NO BRASIL E NO MUNDO
SEMANA DE 22 DE JANEIRO DE 2012, 20:00H 
A  29 DE JANEIRO DE 2012,  19:00H
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Itália .......................................................... 15

Alemanha .....................................................13...13

Espanha .......................................................13


OBRIGADO AMIGOS E AMIGAS DESTE 
MUNDO VASTO MUNDO.

Vicente


MUNDO VASTO MUNDO MAIS DEFINIDO DO QUE NUNCA

MUNDO VASTO MUNDO
PLANETA TERRA MAIS DEFINIDO DO QUE NUNCA


Imagem da Nasa tem 8000 x 8000 pixels. (Foto: NASA/NOAA/GSFC/Suomi NPP/VIIRS/Norman Kuring)



Nasa divulga imagem da Terra com maior definição já feita
Yahoo! NotíciasPor Redação Yahoo! Brasil | Yahoo! Notícias – 7 horas atrás
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A Nasa (Agência Espacial Americana) divulgou nesta quarta-feira (25) uma imagem da Terra com a mais alta resolução já feita: 8000 por 8000 pixels. A foto, uma nova edição da famosa “Blue Marble” (“Bola de Gude Azul" ou "Mármore Azul", em inglês), foi captada no dia 4 de janeiro pelo satélite de observação Suomi NPP e retrata a América do Norte e América Central. Segundo a Nasa, a “Blue Marble 2012” é a “mais incrível imagem em alta definição da Terra”.

GARCIA MARQUEZ - "OS FUNERAIS DA MAMÃE GRANDE" (2)

GARCIA MARQUEZ

2012 - 60 ANOS DA PUBLICAÇÃO DE
 "OS FUNERAIS DA MAMÃE GRANDE"
(2)

GARCIA MARQUEZ, Gabriel - Nesta terra não há ladrões.  Os funerais da Mamãe GrandeTrad. de Édson  Braga. Ilustrações de Carybé. 3ª ed. Rio de Janeiro, José  Olympio, 1975. pp 31-70.

Comentando o conto "NESTA TERRA NÃO HÁ LADRÕES" 


Vicente D. Moreira


Mantemos fidelidade ao partido metodológico adotado na postagem anterior desta série (22 de janeiro). Assim sendo, nos   interessa destacar o que há de urbanidade, de problemas urbanos, nos contos (desta obra de GARCIA MARQUEZ) que selecionamos para comentar.

"Nesta terra não há ladrões" expõe a trajetória de Dámaso decide  viver e  se sustenta (mal) e à mulher, Ana, gravidez avançada, roubando num povoado  e vendendo noutro os frutos de sua atividade delituosa. Rouba, do salão de bilhar três bolas - duas  brancas e uma vermelha e 25 centavos que estavam  dentro de uma gaveta.

O roubo é descoberto, os jogadores se entristecem. Luto. Um negro é preso e espancado sob a acusação, sem provas, claro!,  de ter roubado não só as três bolas mas também uma quantia de 200 pesos.




Em minhas andanças pelo interior do Brasil e, mesmo não sendo  domingo, naquele momento  da minha passagem ou hospedagem, eu me perguntava o que as pessoas faziam nos fins de semana (notadamente aos  domingos à tarde) daquela cidadezinha resumida numa praça vigiada por uma igreja. Para além  da inanição diante de u m aparelho de TV  ... cúmplice da falta-do-que-mostrar/falta-do-que-ver dos domingos televisivos brasileiros.

Quantas vezes em quantas e tantas cidades,  eu ficava sentado, cadeira na calçada da pensão ou do hotel, observando  moças a rodopiar em pequenos grupos na pracinha (pracinha mesmo !!!)  principal e, às vezes única, solo,  daquela cidade.  Rapazes, igualmente em grupos, localizavam—se estrategicamente para dizer coisas às mocinhas que, depois do dito, sorriam sorrisos falsamente tímidos. Até que o sono me dominava e eu me recolhia ao leito, pensando em seguir viagem na manhã seguinte.

O que cidadezinhas como aquelas teriam a oferecer, a velhos e moços, além dos poucos metros quadrados de uma pracinha ou de uma sala onde imperava o aparelho de TV?  O rádio de pilha, o dominó, o baralho talvez e ...  para poucos e teimosos idosos.

Conheci, neste mais que imenso Brasil, pequenas cidades em que  às 10 da noite o “motor desligava” e tudo mergulhava num breu comparável, em termos de energia e de energia elétrica,  às trevas que Deus encontrou e enfrentou com o Seu “faça-se a luz” na criação do Mundo.

Talvez eu olhasse tudo aquilo com os olhos de homem eternamente despatriado  já que, como Pessoa, minha pátria era o lugar onde eu não estava.

Corrija-me o leitor desta obra de  Garcia Marquez, mais atento e menos cansado do  que eu. “Cansado de que? -  Cansado” ...  eis novamente Pessoa. Corrija-me e advirta-me, pois, nobre leitor ... mas o povoado (sim, povoado!) oferece os seguintes meios de diversão e lazer: o bilhar exclusivamente  para homens; a máquina musical dependente de moedas; o cinema ;  o salão de danças e suas mulheres francamente disponíveis às demandas masculinas. Mas,  o enredo privilegia o bilhar. Tanto que, quando as bolas são roubadas por Dámaso, a mesa e a respectiva diversão masculina (o bilhar)  coe adornada como se estivesse – e estava! – de luto:

A mesa  de bilhar tinha sido coberta por um pano arroxeado que emprestou ao estabelecimento um caráter funerário. Puseram um letreiro na parede: “Não há serviço por falta de bolas”. As pessoas entravam para ler o letreiro como se fosse uma novidade. Alguns permaneciam um longo momento diante dele, relendo-o com uma devoção indecifrável. (GARCIA MARQUEZ, Op. Cit., p. 44)




TEMPOESIA NAS CIDADES - TORQUATO NETO


TEMPOESIA NAS CIDADES  
POSTAGENS 
DE POESIAS QUE EXIBAM  
ALGUM DESTAQUE À  CIDADE


TRÊS DA MADRUGADA

Torquato Neto

Três da madrugada
Quase nada
Na cidade abandonada
Nessa rua que não tem mais fim
três da madrugada
tudo é nada
a cidade abandonada
e essa rua não tem mais
nada de mim...
nada
noite alta madrugada
na cidade que me guarda
e esta cidade me mata
de saudade
é sempre assim...
triste madrugada
tudo é nada
minha alegria cansada
e a mão fria mão gelada
toca bem leve em mim
saiba:
meu pobre coração não vale nada
pelas três da madrugada
toda palavra calada
nesta rua da cidade
que não tem mais fim
que não tem mais fim

sábado, 28 de janeiro de 2012

HÁ 35 ANOS MORRIA UMA FEIRA LIVRE NORDESTINA

HÁ 35 ANOS MORRIA UMA FEIRA LIVRE NORDESTINA

FEIRA DE SANTANA - BAHIA - BRASIL

Feira de Santana (Bahia - Brasil) localiza-se a 110 quilômetros de Salvador, capital do estado da \Bahia e a ela está  ligada pela rodovia federal BR 324, com  quatro  pistas (duas X duas) e dois postos de Pedágio. É chamada "Portal do Sertão" por se situar geoeconomicamente numa zona de transição entre o Recôncavo (e suas lavouras  de cana-de-açúcar) e o Sertão (semiárido) e suas caatingas.


Em Feira de Santana, há 35 anos, exatamente no dia 10 de janeiro de 1977, um decreto municipal (assinado pelo então prefeito José Falcão  da  Silva) selava o fim da feira que batizara a então futura cidade depois que  o povoado Campos da Caxoeira  (como era denominado) desligou-se da Vila de Nossa Senhora do Porto de Cachoeira do Paraguaçu, fundada em 1698 e mais conhecida por simplesmente Cachoeira - uma das cidades com arquitetura civil e religiosa mais preservadas do Recôncavo da Bahia.


No dia 10 de janeiro de 1977, centenas de feirantes começaram a ser transferidos em massa para o conjunto de galpões denominado  Centro de Abastecimento; ou "centro de aborrecimento" como apelidavam fregueses e feirantes a enfrentar as dificuldades de transporte coleitvo e de acesso ao local.




Poderosos e influentes, os inimigos da feira e da preservação da identidade e da memória cultural de Feira de Santana, utilizavam pejorativamente a expressão medieval para fortalecer as ameaças de extinção que tiveram início nos anos 60 (século XX). Eram inimigos sinceros da feira livre e popular real e deliravam febrilmente com  uma  Feira de Santana canhestramente utópica e insensada pela fumaça das chaminés fabrís. Estes senhores e vassalos das elites feirenses,  alegavam, sem meias palavras,  que a feira   contrariava os interesses dos comerciantes e dos motoristas já que (segundo eles) 'escondia', dos olhos dos consumidores,  as fachadas das casas comerciais e, por outro(?) lado, atrapalhava a circulação de automóveis nas sextas e segundas-feiras quando semanalmente era montada. Era preciso amputar, das ruas da cidade, a "feiúra" e o "atraso" daquela feira para aguardar, alegremente,  as belas próteses trazidas pelo  "progresso". 

Senhores e vassalos alardeavam, sem pudor, a morte anunciada da feira de Feira, que se  localizava  e, com tentáculos extraordinários de sons e cores,  se expandia nas ruas do  centro presbítero da sede de Feira de Santana. 


Nas décadas de   60 e 70 (século XX), o Brasil - e Feira de Santana particularmente - vivia a febre do Milagre \Brasileiro ... discurso ideológico dos governos militares (instalados no Brasil desde 31 de abril de  1964). Segundo esse discurso, a industrialização seria a salvação econômica do país ... e as chaminés fumegantes das fábricas seu símbolo mais forte do que militares, políticos  e economistas de plantão entendiam  por progresso.



A vocação comercial de Feira de Santana (que ainda hoje/2012 permanece viva e robusta) causava uma cert. a vergonha às elites da cidade (mesmo os comerciantes). Um centro industrial é criado (o centro Indiustrial do Subaé) e passa a ser utilizado inclusive pelo governo municipal para justificar a "higienização" e a "modernização" da cidade. E, por conseguinte,  a "impossibilidade" da convivência destes sinais de  "progresso" com a velha feira. Mesmo sendo do conhecimento geral de sua  importância nordestina e nacional a ponto de rivalizar com a Feira de Caruaru (Caruaru - Pernambuco) ainda viva , bela e mantem a infinitamente rica identidade cultural de Pernambuco.


Sem sua alma e seu coração, que era a velha feira livre, Feira de Santana ficou igualzinha aos seres  inanimados por ter-lhes rasgado o peito e arrancado o  coração.


10 de janeiro de 1977. Foi o fim.

Vicente Deocleciano Moreira

MAIS INFORMAÇÕES E MAIS LEITURAS SOBRE A EXTINÇÃO DA FEIRA DE FEIRA DE SANTANA, CLICAR OS LINKS DOSARTIGOS DE AUTORIA DE VICENTE DEOCLECIANO MOREIRA PUBLICADOS PELA REVISTA SITIENTIBUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA (BAHIA - BRASIL:


nº 4, 1984, pp. 132-138
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/4/projeto_memoria_da_feira_livre.pdf

nº 5, 1986, pp. 171-176
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/5/projeto_memoria_da_feira_livre_de_feira_de_santana.pdf

nº 6, 1986, pp112-115
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/edicoes/6.htm

nº 8, 1988, pp. 131-132
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/8/comunicacoes.pdf

nº 10, 1992, pp. 185-198
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/5/projeto_memoria_da_feira_livre_de_feira_de_santana.pdf

nº 12, 1994, 193-200
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/5/projeto_memoria_da_feira_livre_de_feira_de_santana.pdf






sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

CENTRO DA CIDADE (9) - SP NÃO PRECISA DA NOVA LUZ ...



CENTRO DA CIDADE: REDESCOBERTA E RETORNO (9)

SÃO PAULO NÃO PRECISA DA  NOVA  LUZ  


[Rede Brasil Atual, 21 de dezembro  de 2011]


SÃO PAULO NÃO PRECISA DA NOVA LUZ, diz urbanista
  
Uma das iniciativas mais polêmicas da administração Gilberto Kassab, o projeto Nova Luz vem atraindo a atenção de ativistas, do meio acadêmico e demais interessados nos rumos do planejamento em São Paulo. Um dos resultados desse interesse é o trabalho Outra Luz: Alternativas Urbanísticas para o Projeto Nova Luz, realizado pelo arquiteto e urbanista Vitor Coelho Nisida como Trabalho Final de Graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

No texto, Nisida questiona o tipo de intervenção planejada pela Prefeitura para a área da Santa Ifigênia. Ao contar a história da ocupação e dar voz a seus atuais ocupantes, ele tenta descontruir a ideia de que o local necessite de uma revitalização, pelo menos nos termos que estão sendo propostos até agora. Para ele, quaisquer que sejam esses termos, o importante é que eles sejam discutidos com a população local. "As alternativas devem ser construídas coletivamente dentro de um processo amplo de discussão envolvendo o maior número de atores possível e contemplando as complexidades da região", acredita.

O trabalho do urbanista pode ser acessado neste link . Abaixo, uma entrevista detalha alguns problemas e possível soluções do projeto Nova Luz.

DU - Qual sua motivação para pesquisar sobre a Nova Luz? Você acredita que esse tipo de intervenção seja algo que estará mais presente em São Paulo no futuro?

Vitos Coelho Nisida - Espero, sinceramente, que este tipo de projeto não se torne um paradigma de intervenção nem pra São Paulo e nem pra nenhuma outra cidade do país. Eu acredito que um projeto urbano para uma área consolidada, como a região da Santa Ifigênia, deve ser algo  construído coletivamente, só que a Nova Luz é um projeto impositivo desenhado sem participação alguma da população.

Uma proposta de requalificação do bairro precisa nascer das demandas e das questões colocadas por aqueles que vivem lá, ou porque moram ou porque trabalham. Esse Projeto Nova Luz, que propõe a demolição de mais da metade da superfície da região pra viabilizar a exploração comercial dos terrenos com novos empreendimentos, não é uma solução pra nenhum dos problemas do bairro. Pode perguntar para os moradores de lá, ou para seus comerciantes.
E um dos aspectos mais preocupantes é o modelo da intervenção, baseado na Concessão Urbanística. A prefeitura alega que é o instrumento ideal, para que a execução do projeto não onere os cofres públicos, mas a mesma prefeitura já reconheceu que vai ter que desembolsar milhões e milhões de reais pra "fechar a conta". Isso fora o que já foi pago para o consórcio elaborar o projeto. 
Tudo isso para justificar esse absurdo de transferir prerrogativas do Estado para empresas. Elas podem desapropriar e demolir mais da metade dos terrenos do bairro, e o projeto chama isso de requalificação. O que se quer mesmo é eliminar o que existe para construir um novo bairro em cima, e não melhor o contexto urbano dado.

Qual a sua opinião sobre o projeto da Prefeitura para a 'revitalização' de Santa Ifigênia? São Paulo precisa desse tipo de intervenção?

Confesso que da primeira vez que vi a apresentação do projeto fiquei me perguntando: "Mas o que tem de errado? Ele é até bonito!" Só que quando você para pra pensar a quem serve e quem se beneficia com tudo que se propõe, você começa a enxergá-lo de uma maneira diferente. O Projeto Nova Luz é uma proposta pra substituir todo o contexto urbano, social, a dinâmica econômica a riqueza das relações estabelecidas, etc... 

Essa visão de que requalificar parte da cidade significa refazê-la por inteiro precisa ser superada. A região da Santa Ifigênia tem tantas qualidades e valores que deveriam ser utilizados em benefício do próprio bairro. Este termo "revitalização" também precisa ser superado: só se revitaliza o que não tem mais vida e o centro de São Paulo - o que inclui a Santa Ifigênia - é um lugar de uma vitalidade incomparável.

Não, São Paulo não precisa de um projeto como este!

Aliás, esse conceito de revitalização usado também é questionável. Como você enxerga a tentativa de mudar e gentrificar completamente aquela área?

O grande problema dessas transformações propostas é justamente este aspecto da gentrificação, ou, do processo de enobrecimento. As mudanças previstas no projeto não são feitas para aqueles que vivem na Santa Ifigênia, ou seja, para melhorar a vida cotidiana de quem mora ali, e sim são pensadas em detrimento de sua permanência. O entendimento geral da proposta é de que nada, ou quase nada, do que existe na região tem algum valor e que para recuperá-la é necessário mudar tudo. 

Se não fosse assim, a base do projeto Nova Luz seria qualificar de fato o que já existe em vez de propor a reconstrução de tantas áreas.
Além do óbvio deslocamento das atividades econômicas e dos moradores que deverão deixar seus imóveis a serem demolidos, a valorização imobiliária da região deve ainda responder por um processo progressivo de substituição da população atual, por uma outra que possa pagar os novos e mais altos preços de aluguel e do metro quadrado.
Esse é um problema da visão de que a degradação da área central está associada à população de baixa renda, como se os moradores mais pobres fossem os responsáveis pela condição de deterioração da área central. Aí, cria-se a ilusão de que a solução do problema deve passar eliminação destes e sua substituição por grupos de maior renda, quando, na verdade o que levou o centro ao estado em que se encontra hoje está diretamente vinculado às políticas públicas e às prioridades dos governos que deslocaram os seus investimentos, ao longo dos anos, para outras áreas da cidade, precarizando a região central.

Tendo em vista o exemplo da Nova Luz, São Paulo está ficando menos democrática?

Acho que dá pra usar o exemplo da Nova Luz, mas também o exemplo da Copa e das Olimpíadas, que, não só em SP, mas em outras cidades do Brasil, estão evidenciando a falta de espaços de participação popular e estruturas mais democráticas de decisão

Infelizmente não é só no projeto Nova Luz que a população sente falta de abertura para dar sua opinião, participar das decisões; ter voz de verdade. A gente tem visto que nos grandes projetos urbanos, e a Copa tem mobilizado muitos recursos públicos para eles, as propostas são impostas de cima pra baixo como se a solução apresentada fosse óbvia e consensual. 

Os conflitos e os impactos que as intervenções do grande projetos de mobilidade sequer são colocados pra população em geral e tampouco para aqueles que são diretamente afetados pelas obras. No caso da Nova Luz não é diferente.
O único espaço democrático que existe dentro do processo da Nova Luz é o Conselho Gestor da ZEIS da Santa Ifigênia: uma conquista que tem fortalecido a luta conjunta de moradores e comerciantes, mas que, ainda assim, tem suas restrições por compreender só uma parte do projeto Nova Luz. As audiências públicas feitas pela prefeitura e pelo consórcio responsável pelo projeto são meras formalidades de caráter informativo: não trazem a possibilidade da participação efetiva.

Na sua opinião, quais as alternativas para melhorar a qualidade de vida dos moradores da Santa Ifigênia?

Essa é a pergunta que eu fiquei me fazendo ao longo deste último ano no meu TFG (trabalho final de graduação) e, por mais que eu tenha levantado algumas possibilidades na proposta alternativa que eu coloco no trabalho, a única conclusão que pude tirar é que essas alternativas devem ser construídas coletivamente dentro de um processo amplo de discussão envolvendo o maior número de atores possível e contemplando as complexidades da região. Coisas que, na minha opinião, passam batido pelo projeto Nova Luz.

Outra certeza que eu tenho é que dá para pensar em uma outra forma de se  qualificar a Santa Ifigênia sem utilizar o instrumento da Concessão Urbanística. O Estado tem certa prerrogativas, que são de sua exclusividade porque uma de suas obrigações ée garantir o interesse público em cada uma de suas ações. Transferir poderes para terceiros (empresas, concessionárias, etc) é um absurdo, pois quem tem que operar melhorias na cidade é o poder público: essa é uma de suas atribuições.
Em termos de estratégias, acho que existem algumas possibilidades para que intervenções menos agressivas e destrutivas possam ser feitas aproveitando os vazios que existem na região. E para isso, levantei alguns instrumentos urbanísticos que poderiam ser acionados ou até mesmo alterados (como é o caso do zoneamento) para viabilizar mudanças que não excluam a população loca, mas integrem novos moradores e melhorem a dinâmica urbana local.
Acho que a escala e o programa funcional dos equipamentos culturais que o Estado e a Prefeitura vem propondo na região também deveriam ser diferentes. É claro que é importante consolidar a centralidade daquela região, mas atender as necessidades locais e respeitar suas diferenças em relação ao resto da cidade é uma estratégia importante para uma proposta que busca qualificar a região.