HÁ 35 ANOS MORRIA UMA FEIRA LIVRE NORDESTINA
FEIRA DE SANTANA - BAHIA - BRASIL
Feira de Santana (Bahia - Brasil) localiza-se a 110 quilômetros de Salvador, capital do estado da \Bahia e a ela está ligada pela rodovia federal BR 324, com quatro pistas (duas X duas) e dois postos de Pedágio. É chamada "Portal do Sertão" por se situar geoeconomicamente numa zona de transição entre o Recôncavo (e suas lavouras de cana-de-açúcar) e o Sertão (semiárido) e suas caatingas.
Em Feira de Santana, há 35 anos, exatamente no dia 10 de janeiro de 1977, um decreto municipal (assinado pelo então prefeito José Falcão da Silva) selava o fim da feira que batizara a então futura cidade depois que o povoado Campos da Caxoeira (como era denominado) desligou-se da Vila de Nossa Senhora do Porto de Cachoeira do Paraguaçu, fundada em 1698 e mais conhecida por simplesmente Cachoeira - uma das cidades com arquitetura civil e religiosa mais preservadas do Recôncavo da Bahia.
No dia 10 de janeiro de 1977, centenas de feirantes começaram a ser transferidos em massa para o conjunto de galpões denominado Centro de Abastecimento; ou "centro de aborrecimento" como apelidavam fregueses e feirantes a enfrentar as dificuldades de transporte coleitvo e de acesso ao local.
Poderosos e influentes, os inimigos da feira e da preservação da identidade e da memória cultural de Feira de Santana, utilizavam pejorativamente a expressão medieval para fortalecer as ameaças de extinção que tiveram início nos anos 60 (século XX). Eram inimigos sinceros da feira livre e popular real e deliravam febrilmente com uma Feira de Santana canhestramente utópica e insensada pela fumaça das chaminés fabrís. Estes senhores e vassalos das elites feirenses, alegavam, sem meias palavras, que a feira contrariava os interesses dos comerciantes e dos motoristas já que (segundo eles) 'escondia', dos olhos dos consumidores, as fachadas das casas comerciais e, por outro(?) lado, atrapalhava a circulação de automóveis nas sextas e segundas-feiras quando semanalmente era montada. Era preciso amputar, das ruas da cidade, a "feiúra" e o "atraso" daquela feira para aguardar, alegremente, as belas próteses trazidas pelo "progresso".
Senhores e vassalos alardeavam, sem pudor, a morte anunciada da feira de Feira, que se localizava e, com tentáculos extraordinários de sons e cores, se expandia nas ruas do centro presbítero da sede de Feira de Santana.
Nas décadas de 60 e 70 (século XX), o Brasil - e Feira de Santana particularmente - vivia a febre do Milagre \Brasileiro ... discurso ideológico dos governos militares (instalados no Brasil desde 31 de abril de 1964). Segundo esse discurso, a industrialização seria a salvação econômica do país ... e as chaminés fumegantes das fábricas seu símbolo mais forte do que militares, políticos e economistas de plantão entendiam por progresso.
A vocação comercial de Feira de Santana (que ainda hoje/2012 permanece viva e robusta) causava uma cert. a vergonha às elites da cidade (mesmo os comerciantes). Um centro industrial é criado (o centro Indiustrial do Subaé) e passa a ser utilizado inclusive pelo governo municipal para justificar a "higienização" e a "modernização" da cidade. E, por conseguinte, a "impossibilidade" da convivência destes sinais de "progresso" com a velha feira. Mesmo sendo do conhecimento geral de sua importância nordestina e nacional a ponto de rivalizar com a Feira de Caruaru (Caruaru - Pernambuco) ainda viva , bela e mantem a infinitamente rica identidade cultural de Pernambuco.
Sem sua alma e seu coração, que era a velha feira livre, Feira de Santana ficou igualzinha aos seres inanimados por ter-lhes rasgado o peito e arrancado o coração.
10 de janeiro de 1977. Foi o fim.
Sem sua alma e seu coração, que era a velha feira livre, Feira de Santana ficou igualzinha aos seres inanimados por ter-lhes rasgado o peito e arrancado o coração.
10 de janeiro de 1977. Foi o fim.
Vicente Deocleciano Moreira
MAIS INFORMAÇÕES E MAIS LEITURAS SOBRE A EXTINÇÃO DA FEIRA DE FEIRA DE SANTANA, CLICAR OS LINKS DOSARTIGOS DE AUTORIA DE VICENTE DEOCLECIANO MOREIRA PUBLICADOS PELA REVISTA SITIENTIBUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA (BAHIA - BRASIL:
nº 4, 1984, pp. 132-138
nº 4, 1984, pp. 132-138
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/4/projeto_memoria_da_feira_livre.pdf
nº 5, 1986, pp. 171-176
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/5/projeto_memoria_da_feira_livre_de_feira_de_santana.pdf
nº 6, 1986, pp112-115
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/edicoes/6.htm
nº 8, 1988, pp. 131-132
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/8/comunicacoes.pdf
nº 10, 1992, pp. 185-198
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/5/projeto_memoria_da_feira_livre_de_feira_de_santana.pdf
nº 12, 1994, 193-200
http://www2.uefs.br:8081/sitientibus/pdf/5/projeto_memoria_da_feira_livre_de_feira_de_santana.pdf
A Feira voltou, está contente agora? Feira e seus ambulantes, uó!
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