quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A CIDADE NAS (RE)INVENÇÕES DO RESTAURANTE (5)

A CIDADE NAS (RE)INVENÇÕES DO RESTAURANTE (5)



Os bóias-frias quando tomam umas birita
Espantando a tristeza
S
onham com bife-a-cavalo, batata-frita
E a sobremesa
É goiabada-cascão com muito queijo
Depois café, cigarro e um beijo
De uma mulata chamada Leonor ou Dagmar
Amar
O rádio-de-pilha, o fogão-jacaré, a marmita, o domingo
no bar
Onde tantos iguais se reúnem contando mentiras
Pra poder suportar
Ai, são pais-de-santo, paus-de-arara são passistas
São flagelados, são pingentes, balconistas
Palhaços, marcianos, canibais, lírios, pirados
Dançando dormindo de olhos abertos à sombra da alegoria
Dos faraós embalsamados

(“Rancho da Goiabada” – João Bosco)

Ouçamos João Bosco e Elis Regina:
João Bosco

Elis Regina
Fantástica... Adoro a Elis.
Me hubiera encantado poder estado en alguna de sus presentaciones en vivo... Aunque estoy en España, tengo casi toda su discografía y algunos DVD. Qué pena que se nos haya ido tan pronto. Elis, serás siempre eterna y ¡GRANDE!
 Vicente Deocleciano Moreira





Ponho-me a imaginar que um  bife a cavalo (ou meio bife), ou seja, bife bovino sob um ovo frito), de maior ou de menor tamanho, seria suficiente para suprir as necessidades nutricionais de um cachorro, de um gato ou (quem sabe?) de um cavalo ...  durante um bom tempo. Cachorro, gato e cavalo são exemplos de seres da necessidade, seres NA linguagem. Alguém já perguntou se o cachorro tem realmente esse nome ... em português ? E o gato, e o cavalo? Humanos os colocamos NA nossa e só nossa linguagem. Um dos manejos que,humanos, inventamos para domesticar os outros animais é dar-lhes a nossa comida que produzimos seja em nossa cozinha, seja em nossas indústrias (rações, enlatados, leites, etc.).

Vejamos o caso dos humanos,  ... seres do desejo ...  seres DA linguagem.  Ao bife a cavalo adicionamos batatas fritas (e sabe-se mais o que), sobremesa de doce goiabada cascão com muito queijo (e mais houvera!); e vamos adiante bebendo café (talvez depois do suco, refrigerante ou cerveja), fumamos um cigarro ... etc. ...


Bife a cavalo (carne vermelha frita) acompanhado de batatas fritas (e calóricas, além da ‘má’ gordura), tendo sobremesa goiabada cascão (açúcar) e MUITO (e calórico) queijo (queijo diet ?, queijo light?, queijo minas frescal, queijo cottage/kässchmier ? ... não o creio). O cafezinho (com açúcar, sem dúvida) e, como se não bastara, cigarro. 



No parágrafo/menu  acima, temos  mais do que uma refeição ‘pouco saudável’;  trata-se de uma -feição com feição de ré considerada ‘culpada’ e  merecedora da condenação de médicos e nutricionistas.


Por outro lado, temos uma refeição típica do  que se chama ‘restaurante popular’; afinal os fregueses ...

São flagelados, são pingentes, balconistas
Palhaços, marcianos, canibais, lírios, pirados

... ou seja, são pessoas chamadas  ‘ do povo’.

São boias  frias, ou  seja, trabalhadores que moram em núcleos urbanos e mesmo cidades e, depois de viajar quilômetros sobre um caminhão, chegam ao local de trabalho:  a zona rural, a fazenda. O nome boia  fria , com que ficaram conhecidos nacional e internacionalmente, esses trabalhadores, se deve ao fato de eles levarem, para o local de trabalho, o almoço numa marmita (ou em qualquer outro recipiente, de plástico) que já estava frio antes da chegada ao local de trabalho.

Em postagem anterior, dissemos que restaurantes e, também, shopping centers, são poderosos templos do consumo inclusive de comida. São, em outras palavras, verdadeiros paraísos do comer e do beber   ...  embora  a gente não queira só comida e nem só de pão viva o ser humano ... mas também de sonhos e de fantasias. 

Aliás, a palavra paraíso é de origem persa e significa jardim fechado. Os paraísos urbanos chamados restaurante e shopping centers são, cada um a seu modo, jardins fechados. Interessante observar que os partidos arquitetônicos internos adotados pelos primeiros shoppings permitiam que, do interior, os mortais consumidores vissem q rua, a avenida; claro que isto nos distraía. E o que é, na etmologia, distrair? É desviar a atenção, os sentidos, para longe do que realmente intereessa atentar, olhar, ver ... Empresários constataram que não seria recomendável distrair a atenção e os sentidos do consumidor para longe do que realmente lhes interessava: as vitrines, as lojas, as ‘ofertas’. Desde então,   shopping centers passara a ser caixas fechadas ... “presídios” onde ficamos presos mas felizes e entusiasmados a consumir roupas e refeições. Para não perecer radical ou, pior, leviano, direi que a moderna arquitetura dos mais e mais  modernos shopping centers – graças aos seus tetos  transparentes nos permite  a graça de ver o céu ... e assim nos fazer crer que o céu é o  limite ... para consumir roupas e refeições.


E qual o limite do  jardim fechado, quero dizer, do paraíso chamado restaurante? Nesta momento difícil, nessa resposta difícil, por Zeus, socorra-nos Platão!. A cidade ideal de Platão deveria ter o tamanho (igualmente ideal) equivalente ao limite máximo onde o mais distante cidadão, reunido na ágora, conseguisse ouvir a voz do orador. Se hoje ainda vivesse, talvez Platão tivesse que reformular essa sua proposta de tamanho da cidade, pressionado e talvez convencido pelo alcance das transmissões nacionais e internacionais, em tempo real,  das emissoras de TV. Talvez. Ora, em nos ajuda Platão ...  ora pois pois. Serei breve: o restaurante termina onde houver alguém  comendo/bebendo  sobre uma mesa com pratos e talheres ... ou devorando o conteúdo da marmita  sobre as pernas ou/num  banco de jardim.


Ou no meio de uma plantação.



O restaurante, ao menos no conceito que estamos praticando nesta série. "Paraíso" - no sentido original persa (jardim fechado) ele dispensa o móvel chamado mesa. Seu limie é onde estiver alguem comendo ... FORA DE CASA ... seja numa praça de Buenos Aires ou de qualquer outra cidade ou nicho ecológico urbano ou mesmo rural.

(...)
Mulher, não vá se afobar;
Não tem que pôr a mesa, nem dá lugar.
Ponha os pratos no chão e o chão tá posto
(...)
(“Feijoada Completa” – Chico Buarque de Hollanda)


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