terça-feira, 10 de janeiro de 2012

CENTRO DA CIDADE: REDESCOBERTA E RETORNO (1)


CENTRO DA CIDADE: REDESCOBERTA E RETORNO (1)


[jornal Folha de São Paulo, São Paulo, 9 de janeiro de 2012, p. C3]


VOLTAMOS OS OLHOS PARA O CENTRO 
DO RIO DE JANEIRO



Entrevista com Eduardo Paes 
Prefeito do Rio  de Janeiro (RJ - Brasil)


Peemedebista afirma que está concentrando obras na região Oeste por causa da Olimpíada, mas quer recuperar área central


ITALO NOGUEIRA – FOLHA SP
DO RIO

Ao iniciar o último ano de mandato, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), 42, entende ter deixado claro seu plano para a cidade.


Enquanto concentra obras na zona oeste em razão daOlimpíada de 2016, diz querer estimular a reocupação do centro da cidade.

“Estamos voltando os olhos para o centro. Mas se há dois quintos da população morando no extremo oeste da cidade, não posso deixá-los sem transporte de alta capacidade”, diz Paes.
Em busca da reeleição, ele diz entrar em 2012 sem pensar em alianças.

Evita comparações entre a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

“Estou tão voltado para as coisas da cidade que não consigo perder meu tempo muito com política nacional. Se eu pudesse ter um cargo vitalício de prefeito do Rio, eu ficava por aqui.”

Após ajuste fiscal no primeiro ano à frente da prefeitura, Paes ampliou a taxa de investimento da cidade de 3,4% a 12%, entre 2009 e agosto de 2011.

Apoiado no bom momento do Rio, o prefeito já ironizou São Paulo -disse que a vista do Rio dava “chinelada na paulistada” na disputa pelo sorteio da Copa-14.

Ele afirma, porém, que a cidade é importante para o desenvolvimento do Rio. “Uma das coisas que a gente conseguiu para o Rio é parar de perder tempo achando que São Paulo é culpado pelos nossos problemas. É um ativo para o Rio ter São Paulo tão perto.”

Folha – O sr. acha que a população vai entender o impacto das obras para a Olimpíada?

Eduardo Paes – Nas zonas norte e oeste, há efeito há mais tempo. Nosso esforço é gerar o menor transtorno possível.

O sr. sofreu críticas em razão das remoções.


É para implantar uma via que não é para atleta ou cartola. É para a população. Faz parte da mudança da cidade. É legado. É fazer em cinco anos o que não se fez em 450 anos da história. Nenhuma dessas obras é na zona sul, em área rica. É em área pobre.

É assim que o sr. se vê? Fazendo em cinco anos o que não se fez em toda a história?


Acho que sim. Vários temas que eram lendas nessa cidade nós resolvemos. Revitalização da zona portuária e saneamento da zona oeste sem dinheiro público. Vamos fechar o aterro de Gramacho e teremos o aterro sanitário mais moderno da América Latina, licitação das linhas de ônibus, bilhete único.

A maioria dessas obras só será concluída após 2012.


O que eu apresento no fim do meu mandato é [a revitalização] o porto todo equacionado, a Transcarioca [via entre a Barra e o Galeão] financiada, Transoeste [via entre a Barra e a zona oeste] pronta. São soluções definitivas para a cidade.

O trânsito ruim continua.


Mas você passa a ter alternativas. Na lógica brasileira de usar carro, o problema de trânsito vai ser cada vez mais uma realidade. Tem que dar uma alternativa para quem não quiser engarrafar.

Uma das críticas feitas ao seu governo é a falta de análise de impacto das obras. Para o sr. é claro como a cidade deve crescer?


Nosso planejamento urbano é muito claro, estamos voltando os olhos para o centro. Estimulo [a ocupação] no porto, na zona norte. Mas se há dois quintos da população morando no extremo oeste da cidade, não posso maltratá-los e deixá-los sem transporte de alta capacidade.

A área do Parque Olímpico é ambientalmente frágil.
 
Ali respeitamos todos os parâmetros urbanísticos existentes. É uma área da cidade que tem uma capacidade de se edificar muito grande. O problema é não ter a infraestrutura necessária. Transporte resolvemos com os BRTs, e o ambiental conseguimos a recuperação da baixada de Jacarepaguá.

O sr. quer ser prefeito até a Olimpíada?
 

Se eu pudesse ter um cargo vitalício de prefeito do Rio, eu ficava por aqui. Não vou ficar estressado com campanha. Fico estressado com governo.

Na eleição do ano que vem, o sr. pode ter uma aliança com mais de 18 partidos, inclusive com Fernando Gabeira, que foi seu adversário em 2008.
 

Fiz um grande conjunto de alianças no segundo turno da eleição [de 2008], e ela governa comigo sem escândalos. Tratarei no momento adequado das composições políticas. De verdade, não estou tratando dessas coisas agora. Mas respeito muito o Gabeira e seria uma honra ter o apoio dele.

As principais obras na cidade só terminam após 2012. O que vai mostrar na campanha?
 

Não falta coisa. Saúde, dobramos orçamento. Nos transportes, licitamos as linhas de ônibus e implantamos o bilhete único.

O sr. sempre faz referências a São Paulo, às vezes com brincadeiras. Já disse que ia dar uma “chinelada”… Por quê?
 

Falei só por causa da Copa do Mundo. Mas é brincadeira. Conseguimos parar de perder tempo achando que São Paulo é culpado pelos nossos problemas. É um ativo para o Rio ter São Paulo tão perto. São cidades complementares. Mas uma brincadeirinha é irresistível.

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