quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CENTRO DA CIDADE ... (5) - CENTRO, QUAL CENTRO?


CENTRO DA CIDADE: REDESCOBERTA E RETORNO (5)


CENTRO,  QUAL CENTRO?


Vicente Deocleciano Moreira


Talvez devêssemos falar de centros (plural) e não de centro (singular) a julgar que, independentemente do instante histórico  e do tamanho da cidade, há centros e não apenas  um único centro. 

Quando o núcleo urbano inicial de São Paulo se 'resumia' ao (que chamamos hoje de) Pátio do Colégio, aparentemente tínhamos um único centro que (também aparentemente) se confundia com a própria cidade: só aparentemente porque a embrionária população contava com, por exemplo, algum centro de produção de alimentos: hortas, criação de animais ...




(Pátio do Colégio - São Paulo SP - Brasil, em 2012)



São Salvador, primeira capital do Brasil, teve seu berço definido, por Tomé de Souza (primeiro Governador Geral do Brasil Colônia de Portugal) na fímbria da encosta  (algo como o trecho entre as atuais Praça Municipal e Praça Castro Alves). Ali estava seu centro (ou núcleo urbano  inicial), ou melhor, um de seus centros ... visto que centros produtivos de alimentos se localizavam então (última década do século XVI), ao Norte,  no exterior do muro das Portas do Carmo (atual Largo do Pelourinho) e, mais ao Sul, nas baixas de São Bento, no extra-muros das Portal de Santa Luzia (atual Praça Castro Alves)



(Largo do Pelourinho, antigo Largo das Portas do  Carmo, Salvador - Bahia - Brasil)
O pavimento térreo do último imóvel, à esquerda, parte baixa da ladeira, (sede do Museu das Portas do Carmo)  expõe parte do muro da antiga fortaleza e porta do Carmo, construídas de cal e pedra 'amarrada' com  óleo de baleia.


Logo depois da descida  desse Largo enladeirado e de seu calçamento com pedras chamadas "cabeça de negro" (Largo do Pelourinho, o popular  "Largo/Ladeira do Pelô"), um pequeno vale, uma pequena depressão, a Rua do Taboão; à frente sobe-se a Ladeira do Carmo (antiga aldeia de índios Tupinambá, século XVI): à esquerda desce-se a Ladeira do Taboão para o bairro do  Comércio (Cidade Baixa). 



Ladeira do Taboão


Exatamente nesse meato geográfico depressivo, havia (século XVI) uma lagoa ... pequena, mas atravessá-la se fazia necessário passar por  sobre uma (ou várias) grande táboa de madeira. Daí o nome taboão. Esse lugar banhado tornou-se propício àfeitura de hortas e à produção dos respectivos alimentos. No século XVI, no hinterland , no extra-muros do então núcleo urbano de Salvador ... aí estava um segundo centro: o centro produtivo de alimentos.


Se nos primórdios do Brasil Colônia (século XVI) os núcleos urbanos tinham mais de um centro, é fácil imaginar quantos centros cada cidade brasileira dispõe cinco séculos depois.

De qual centro trata estas postagens sob o título? CENTRO DA CIDADE: REDESCOBERTA E RETORNO 
Em meio a tantos centros qual deles  está sendo redescoberto? Para qual deles estamos retornando?

Pois bem. Nosso centro é o centro genético, vale dizer, aquele que deu origem, nos tempos primevos, àquela cidade. Ou ao centro presbítero ... no sentido grego inicial, pré cristão,  que significa o 'mais velho'. Evitamos a expressão 'centro antigo' porque, dialeticamente e à façon de Heráclito, ela supõe centro novo, o qual em breve se tonará também antigo. Com  a palavra, Belchior ("Velha roupa colorida") :



"E o que há algum tempo era jovem novo
Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer"


A chamada cracolândia está localizada no centro presbítero da cidade de São Paulo. 


Em todas as grandes capitais, ao menos no Brasil, o centro presbítero foi, mais e mais, deixado para trás pelo Estado e pelos capitais privados. Por diversos séculos, moradores, imóveis e diversos mobiliários urbanos têm sido entregues ao abandono, à própria sorte por governantes e empresários. Nesses últimos anos, constata-se uma redescoberta e um retorno (a este centro) por governantes, programas sociais e empresários. Retorno do poder público e do poder do capital privado ao centro presbítero. Masnão se trata apenas de  redescoberta e retorno aos imóveis ... mas também às pessoas, aos grupos populacionais (pobres, abandonados à própria sorte, evidentemente) que, há décadas pelo menos, alí residem e/ou trabalham. Que já estavam lá.

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