quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A CIDADE NAS (RE)INVENÇÕES DO RESTAURANTE (6 - FINAL )

A CIDADE NAS (RE)INVENÇÕES DO RESTAURANTE (6 FINAL)

Gal Costa:




Quem quiser vatapá, ô
Que procure fazer
Primeiro o fubá
Depois o dendê
Procure uma nêga baiana, ô
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Procure uma nêga baiana, ô
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Que saiba mexer

Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais

Amendoim, camarão, rala um coco
Na hora de machucar
Sal com gengibre e cebola, iaiá
Na hora de temperar

Não para de mexer, ô
Que é pra não embolar
Panela no fogo
Não deixa queimar
Com qualquer dez mil réis e uma nêga ô
Se faz um vatapá
Se faz um vatapá
Que bom vatapá

Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais

Amendoim, camarão, rala um coco
Na hora de machucar
Sal com gengibre e cebola


 ("Vatapá" - Dorival Caymmi)

Vicente Deocleciano Moreira


Permitam-me resgatar os seguintes textos da postagem de ontem, 4 de janeiro/2012:


"Bife a cavalo (carne vermelha frita) acompanhado de batatas fritas (e calóricas, além da ‘má’ gordura), tendo sobremesa goiabada cascão (açúcar) e MUITO (e calórico) queijo (queijo diet ?, queijo light?, queijo minas frescal, queijo cottage/kässchmier ? ... não o creio). O cafezinho (com açúcar, sem dúvida) e, como se não bastara, cigarro. 




No parágrafo/menu  acima, temos  mais do que uma refeição ‘pouco saudável’;  trata-se de uma ré-feição com feição de ré considerada ‘culpada’ e  merecedora da condenação de médicos e nutricionistas."

Se o faço é para (ao menos) tentar recuperar outra questão abordada, aligeiradamente, em postagens anteriores desta mesma série (A CIDADE NAS (RE)INVENÇÕES DO RESTAURANTE): o desejo. Confiante de que não estarei sendo enfadonho além da conta, repito que os humanos somos seres do desejo e não - como acontece com os demais seres vivos (plantas e animais) - seres da necessidade.

A "bruta  flor do querer" ("Quereres" - Caetano Veloso) é, para nossa economia intern a, "a bruta flor do desejo" que,  de modo bruto e brusco nos é imposta desde que nascemos (ou até antes disso!) pelo Outro, vale dizer, pela sociedade/ela cultura que já encontramos aí, a "bruta flor do desejo" (bruta sem deixar de ser flor) não é obra de cada um de nós, humanos, não a inventamos, já a encontramos, topamos com ela no aí da sociedade ... a ponto de o desejo de cada um de nós é o desejo desse Outro imponente  não fora também (como cada um de nós) impotente.

O desejo e seu modus operandi faltoso está lá  nas vísceras textuais dos  dois parágrafos destacados no aqui desta presentificada postagem. O inevitável desejo está nestas vísceras. Mas inevitável e, também, inescapável a bruta flor está também nas prescrições dietéticas (assinadas por nutricionistas, médicos ...) que condenam a dieta do "bife a cavalo batatas + fritas , etc, etc." em nome da saúde, da prevenção e controle de doenças (hipertensão arterial, diabetes, mau colesterol elevado, etc ...), da baixa ingesta calórica, da beleza ....

Permitam-me, também, inserir nesta postagem um  texto também da minha autoria:



O  CIRCUITO DO DESEJO NA ALIMENTAÇÃO, NA NUTRIÇÃO E NA DIETA.

Vicente Deocleciano Moreeira  

O ser humano é o único animal (primata, mamífero e vertebrado  que é) do desejo; os outros são animais da necessidade. Essa  peculiaridade do  humano se deve, basicamente, ao fato de ser o único dotado da capacidade de linguagem. O  único que fala – e não apenas comunica (fome. saciedade, alegria, prazer, tristeza, dor, libido ...) como os outros representantes da fauna do planeta Terra.
Qualquer coisa que um humano fale (com palavras, com olhares, com sinais), pense ou escreva - seja uma palavra, frase. seja um discurso – haverá sempre um ‘buraco’, uma ’fenda’, sempre um ‘algo’ a mais dizer. De um modo geral, se diz que ‘ninguém é perfeito’;  e isto é verdade ma medida em que não existe uma única verdade sobre seja lá o que for; na medida em que sendo ‘imperfeito’, o bicho humano não pode produzir obras ‘perfeitas’ ...  a começar por sua obra prima, primeira, isto é, a linguagem. Jamais um humano dirá TUDO sobre um minúsculo fio de cabelo,
A falta é que constitui o desejo; a satisfação plena é que constitui a necessidade. Com o estômago cheio, nenhum outro animal quer mais comida até que esse órgão se esvazie novamente. O ser humano não quer só comida ou bebida; ele quer arte, diversão, balé ... Mas quando queremos apenas comida ou bebida, ainda assim a falta de comida e de bebida – mesmo quando nosso estômago está cheio – faz falta e, assim, remete ao desejo de mais comida, de mais bebida.
O abstêmio ‘absoluto’, ‘convicto’,  deseja não desejar beber nenhum tipo de bebida alcoólica.
Cena de churrascaria. Rodízio.

 Em uma mesa (mesa 1) uma pessoa faz horas que come toda a carne que passa e que lhe é oferecida;  já bebeu um litro de Coca Cola.  Se essa pessoa não  fosse um ser humano – quer dizer se fosse um outro animal – um décimo do que ele já comeu seria o suficiente para suas NECESSIDDADES  nutricionais. Mas como é um humano, ser do desejo, está  ‘com a barriga cheia’, mas não resiste ao carrinho de sobremesa. Só um pedacinho de torta de chocolate. Chama o garçom e lhe  pede um digestivo e a conta.

Em outra mesa (mesa 2), estranho no ‘ninho’ de uma churrascaria, está um vegetariano de dieta. Serviu-se de algumas folhas e de  poucos legumes. Recusou – sinal vermelho ! – todo e qualquer tipo de carne. Nem olhou para a sobremesa. Pediu um chá e a conta.

Na mesa 1,  a submissão ao desejo parece mais clara que na outra mesa. Pode ser. Mas na mesa do vegetariano dominou o desejo de não ter desejo de comer sequer um pedacinho de carne; Coca Cola, digestivo, torta ... nem pensar!.

O desejo de não desejar é uma força poderosa de desejar. O Budismo identifica no desejo  a ‘perdição’ do ser humano. Não desejar é o que todos devem buscar. Mas – como estamos falando de seres hiuiamnos (seres do desejo!), a até mesmo empenhar-se, sacrificar-se, meditar para cessar o desejo é uma forma de desejar diminuir o desejo.

Mesmo na dieta  mais  rigorosa prevalece o desejo de ser forte contra as tentações contrárias àquela dieta.















Nenhum comentário:

Postar um comentário