quinta-feira, 22 de abril de 2010

INTERFACES 8 (final) – MUSEU CASA DO SERTÃO

Interfaces Antropologia e História do urbano. CIDADESSERTÃO: A CIDADE RECEBE E ACOLHE O SERTÃO: 8 – Museu Casa do Sertão – Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) - Feira de Santana – Bahia – Brasil.



Por ser de lá
do Sertão, lá do cerrado
lá do interior do mato
da caatinga do roçado.
Eu quase não saio
eu quase não tenho amigos
eu quase que não consigo
ficar na cidade sem viver contrariado.

Por ser de lá
na certa por isso mesmo
não gosto de cama mole
não sei comer sem torresmo.
Eu quase não falo
eu quase não sei de nada
sou com rês desgarrada
nessa multidão boiada caminhando a esmo.
(

Dominguinhos e Gilberto Gil – “Lamento Sertanejo”)


Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com

Desde já, permitam-me e perdoem-me o festival de subjetividades que segue. Quem o ler as lerá.

Ao falar de Feira de Santana, mais particularmente de seu Museu Casa do Sertão (no campus da UEFS), não quero falar apenas da Casa do Sertão, mas também da casa do sertão e de seus variados museus que, ao fim e ao cabo de tudo, mostram como uma cidassertão recebe e acolhe o sertão; de ser tão sertão. Então, não venha me dizer que não é museu cada escultura e xilopintura de Jurací Dórea, fincadas no centro da cidade, na UEFS e alhures.

Parodiando Leon Tolstoi, eu diria que falar de uma cidade, com toda a orgia do subjetivo, é falar do mundo. É dizer, como Caetano Veloso, “São Paulo é como o mundo todo” (Caetano – “Vaca Profana”). Ou como Fernando Pessoa na pessoa de Alberto Caeiro (“O Tejo é mais belo”):

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia,

O Tejo tem grande navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.


Museus são planetas de memória, quer se trate de uma Casa (como a Casa do Sertão) ou de cada escultura, coreto ou estátua ... tendo o céu por abrigo e teto.
Museus, em geral, são o presente recebendo e acolhendo o passado. Museus sertanejos são a cidade recebendo e acolhendo a história e a cultura do Sertão. É fazendo referência a este último aspecto (ou tipo) de museu que podemos dizer que o Museu Casa do Sertão da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) é um abraço de boas vindas que a cidade Feira de Santana – chamada “Princesa do Sertão” por Rui Barbosa – oferece ao Sertão.


Além do acervo documental do Monsenhor Renato de Andrade Galvão (), um padre sertanejo, a Casa do Sertão mostra a síntese concreta de tudo o quanto dissemos e refletimos nas sete postagens anteriores.

- 500 peças de pequeno e grande porte de palha, fibra, couro, madeitra, tecido, barro, metal, pedra, flandre
- peças fonográficas sobre forró, baião, xaxado, modas de viola, canbtorias, aboios, toadas, discos do início de carreira de Luiz Gonzaga.
- acervo bibliográficos nas áreas de história, antropologia, sociologia, cultura popular.
- acervo expressivo de literatura de cordel.
- painéis artísticos com temas sertanejos.
- acervo fotográfico sobre manifestações populares do Sertão.
- pinturas, esculturas, cerâmica, xilogravura, clichês..
- brinquedos populares, utensílios de cozinha (panelas, tachos, moringas, potes ...)
- adereços de palha: chapéus, abanadores.
- peças do vestuário usado pelos vaqueiros.
- instrumentos musicais.
- instrumentos de trabalho, (arado, cangalhas, bangüês) de caça e pesca.
- armas (cravinotes, espingardas, pistolas)
- instrumentos de montaria: arreios, rabichos, peias.
- mobiliário do quarto do sertanejo.
- periódicos, revistas, jornais.
- acervo de revisas do início do século XX e de jornais do século XIX.

O Museu Casa do Sertão, a exemplo dos congêneres, é a forma e o braço amigo com que a cidade recebe e acolhe o Sertão. É um lugar de sínteses concretas..

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