domingo, 21 de março de 2010

O PODER CONCILIADOR DOS MACACOS. OU O MACACO ESTÁ CERTO.

O PODER CONCILIADOR DOS MACACOS. OU O MACACO ESTÁ CERTO.

Vicente Deocleciano Moreira


O programa mais democrático (e, comparativamente talvez , o mais barato) para fazer com a família, aos domingos, é ir ao Zoológico com as crianças. Mesmo quando se tem apenas crianças de colo que dormem todo o tempo como se esperança tivessem que três quatro anos mais tarde ali voltarão.


Goiânia, recém apontada como a cidade mais desigual (distância entre ricos e pobres) do Brasil e uma das mais (desiguais) do Mundo tem um Zoológico dos mais interessantes do país. Vale à pena ir lá num domingo desses. Depois, almocem "Peixe na Telha" ... uma delícia. À tardinha, parem um carrinho que vende produtos do milho, pelas ruas; e mandem a dieta pelos ares com cheiro de selva e de rio cheio que a cidade transpira.



Para a meninada é um diversão diferente e, cá entre nós, até instrutiva para quem só vê leão e hipopótamo na TV. Para os pais, recordações de sua própria infância e um teste de resistência à compra de algodão doce, doces, refrigerantes, cataventos e pequenos brinquedos . Sei que muitos pais ficam com a impressão de que as emas, as grirafas, as zebras ... são as mesmas que ele viu quando criança, há décadas e décadas. Sei, também, que a maioria deles dirá que fazer esse programa uma vez ao ano é até demais; que podia ser bem menos.


É o tédio ... levar a família ao Zoológico e dar pipocas aos macacos; Raul Seixas tem razão.



(Mas, humanos visitantes não devem dar comida aos animais. Eles têm rações nutricionais apropriadas dadas na hora certa por humanos especializados no assunto.. Humanos comem outros tipos de ração; “cada macaco no seu galho alimentar/nutricional”).


Papais e mamães de todas as idades, alegrem-se e pensem que o prazo de validade da diversão termina quando os filhos deixam de ser crianças; é bom aproveitar enquanto são crianças. Depois, ultrapassada a criancice, um convite ao Zoológico pode ser ofensivo ... o pai, a mãe podem, com isso, pagar um grande “mico”.


Os micos, os macacos ... já falo deles. No Zoo de Salvador, talvez pelo arranjo geográfico dos cercados que protegem animais e humanos uns dos outros, os visitantes seguem todos pelo mesmo lado, vêem os mesmos bichos pela ordem: primeiro, segundo, terceiro, direita, esquerda, direita novamente. E, bem comportados, seguem (todos e todas) descendo a ladeira.

Quando vou ao zoológico, me divirto mais em olhar os humanos visitantes que os outros animais ... os visitados


Felinos e mais felinos, bovinos (!), ursos vistos de longe, jacarés, ovinos, aves e pássaros, hipopótamos ... e a vez dos macacos. Os macacos ... no fim da ‘aventura’. Não existe nenhum animal (ao menos no Zoológico de Salvador) que concentre maior quantidade de adultos e crianças ante sua jaulas e ‘quintais’ do que os macacos, os mais diferentes tipos de macacos. Felinos ... até mesmo aves ... não prendem tanto a atenção dos visitantes como os macacos. Depois dos macacos, é hora de subir a ladeira (enladeirado zoológico de Salvador).. e ir-se em boa hora.



Pessoalmente, nunca vi nenhum transgressor da ordem desse roteiro. Sinais de estacionamento (vagas para idosos), de trânsito e semáforos que invejem toda essa obediência.



As perguntas inevitáveis são: por que isso acontece? Por que os macacos apaziguam, diante de si, evolucionistas e criacionistas? Nesse momento em que escrevo e (espero) que sou lido, nos zoológicos de todo o Mundo, a esta hora exatamente, o que pensam os evolucionistas? O que pensam os criacionistas? Todos apaziguados pelos macacos.


E pensar que os humanos ainda não conseguimos promover um encontro entre esses dois grupos, mais e mais antagônicos, num mesmo espaço de silêncio e meditação ... E de alegria.


Uma pergunta tendenciosa não quer calar: Será que ambos os grupos e suas crianças não vêem nos sábios macacos galhos de um mesmo tronco a que pertencem admiradores e admirados?


Amig@s: contem ao menos até 10, quero dizer, 2010, antes de continuar a leitura. Vem heresia por aí. Eis: humanos e macacos são diferentes “galhos” de um mesmo “tronco”, tronco este que esteve (está?) apoiado no solo dos répteis - estes nascidos do solo da água ... fonte de toda a vida ... todas as vidas ... vida que vem do “pó” (isto é, do inorgânico, dos nitritos) e que ao “pó” (isto é, inorgânico, os nitritos) voltará com a morte, todas as mortes. “Lembra-te, homem” – mesmo num domingo como este, sol aqui, chuva ali – “que és pó e em pó te hás-de voltar ... Porque és pó e em pó hás de voltar” (Bíblia. Gênesis. 3:19)


Ao escrever o parágrafo anterior, sinto (e sinto muito) que estive cometendo uma heresia imperdoável: ousar metaforizar em poucas e pobres palavras a obra de uma vida: “A Origem das Espécies” , de Charles Darwin – que honrou a Bahia com sua visita no século XIX e que, jamais em tempo algum e em lugar algum, disse que os humanos descendiam do macaco; se assim o fosse, não mais restariam hoje (manhã de domingo, 21 de março de 2010 d.C) um só macaco, nos zoológicos, nas novelas de TV, nos circos e nas selvas, para “contar” a história. Todos já teriam ‘evoluído’ para humanos; e, tristes, os zoológicos e as árvores teriam perdido, há séculos, a graça, a algazarra e a alegria ... dos humanos quando crianças e dos macacos em todas as idades.


Todo@s ao zoológico, no próximo domingo. Levem as crianças ... as suas e/ou as do vizinho. O macaco está certo.

Para vocês, para todos nós, um domingo cheio de perdão.


Vicente
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário