MUNDO VASTO MUNDO DE 28 DE MARÇO DE 2010.
Nazaré das Farinhas – Bahia – Brasil.
Das capitais dos matagais às capitais mundiais, católicos celebram o “Domingo de Ramos”. Plagiadores impunes das obras dos deuses, filhos de deuses, avatares e demiurgos, como todos os seres humanos católicos fazem hoje procissões empunhando ramos. Católico co -memoram (lembram juntos) a entrada de Jesus Cristo em Jerusalém onde uma multidão O acompanha exibindo ramos, nesse momento dominical em que Ele diz sim ao Pai e ao destino da cruz que Lhe reserva o desejo paterno. Para concluir essa aligeirada e introdutória apreciação antropológica, eu diria que – ontem e hoje, em Jerusalém e bem mais além - aqueles e aquelas que seguiram/seguem o Cristo estavam/estão comprometidos espiritualmente, eticamente, simbolicamente com Ele, a cruz e a cruz de seu destino e com o sacro-ofício (ou ofício sagrado ou sacrifício).
Mar-a-dentro, mar-a-fora, dois milênios de era cristã depois, saindo de Jerusalém eis que estamos em Nazaré das Farinhas – bela cidade do Recôncavo baiano (Brasil) que, infelizmente, poucos humanos conhecem.
O deus dos judeus, o deus dos cristãos e, pelo menos, o deus dos muçulmanos , inventaram Adão a partir do barro.
“Recorda-te de quando o teu Senhor disse aos anjos: ‘De barro criarei um homem. Quando o tiver plasmado e alentado com o Meu Espírito, prostrai-vos ante ele.” (Alcorão 38:71-72)
“....Prostrais-vos ante Adão! E todos se prostraram, menos Lúcifer...” (Alcorão 7:11)
O barro - depois de seco ao sol e ainda inanimado como uma coisa qualquer - recebeu o sopro, o anima, a alma divinos e, assim, adquiriu movimento vida, linguagem e um nome diferente , especial: Adão. Afinal, o ‘sopro’ divino nada mais foi que o ‘sopro’ da linguagem, da palavra – atributos exclusivos (ao menos até hoje – 28 de março de 2010 d C) dos seres humanos.
“Ele ensinou a Adão todos os nomes.” (Alcorão 2:31)
(Há mesmo um tipo de bairro chamado adão – é o barro adão ou barradão)
Mas, se entre judeus e cristãos existe a crença que Deus criou o primeiro humano (Adão significa primeiro humano) à Sua imagem e semelhança, os muçulmanos crêem que, apesar da importância de Adão ele não foi – segundo o profeta Maomé, criado à imagem e semelhança de Alá. Se Alá não criou Adão à sua imagem e semelhança, como aceitar que um(a) fiel à grandeza e à tradição cultural e religiosa do Islã se atreva a imitar a obra de Alá (gente, bichos e plantas), através da pintura, desenho e escultura. Dá, assim, para compreender a exuberância ímpar dos arabescos.
Plagiadores impunes da obra os deuses (dos judeus, cristãos e dos muçulmanos ...), os oleiros de Nazaré das Farinhas inventaram a tradição secular baiana da “Feira dos Caxixis” . Em Nazaré das Farinhas, esses deuses e deusas de corpos magros, esbeltos apolos e afrodites, pele negra, do Recôncavo negro, são carregadores de cruzes profanas, são artistas kafkanianos da fome, todas as fomes e de todos os jejuns.Exibem orgulhosamente suas obras divinas.
Existe um atavismo mítico (Bíblia, Corão) e científico (história da Tecnologia, das Civilizações) que une o barro e os seres humanos. Já falamos sobre o atavismo mítico. O atavismo científico aponta para a descoberta da cerâmica que, conveniada com a anterior descoberta do fogo, revolucionou a tecnologia da culinária (de alimento crus ou assados a alimentos cozidos), a arquitetura e a dinâmica e funcionalidade dos dentes humanos e do trato digestório desses mamíferos.
Para não dizer que não falei de arte: uma das cenas mais expressivas do cinema e mais competentes para representar a ‘sétima arte’ dos terráqueos em futuras (futuríssimas) competições com outros (possíveis e sonhados) habitantes do universo é do filme Ghost. (Ghost, do outro lado da vida, EUA, 1990, direção de Jerry Zucker, com Patrick Swayze e Demi More, 126 minutos) que, faz 10 anos, encanta e emociona platéias em todo o planeta Terra. A cena é o momento em que o personagem vivido por Swayze abraça por trás a personagem de Demi More e as mãos juntas dos dois dão contorno a um objeto de barro em pleno movimento giratório do torno.
Convido-vos a Nazaré , nesta Semana Santa, para, coletivamente, reinventarmos o Mundo. Até mais, até 2011, 2012, 2013 ... até a consumação e a repetição pascal dos séculos, em Nazaré ... a do Oriente e a do Recôncavo.
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário