DIA E SEMANA INTERNACIONAIS DA MULHER
“ Oh carne, carne mía, mujer que amé y perdí,
a ti en esta hora húmeda, evoco y hago canto.
Como un vaso albergaste la infinita ternura,
y el infinito olvido te trizó como a un vaso.
Era la negra, negra soledad de las islas,
y allí, mujer de amor, me acogieron tus brazos”.
(“Veinte poemas de amor y una canción desesperada”/ “La Canción desesperada”, de Pablo Neruda, poeta chileno (1904-1973), Prêmio Nobel de Literatura de 1971)
MULHERES QUE NÃO SÓ DIZEM SIM: violência sexual contra prostitutas em Feira de Santana – Bahia
(FINAL)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na década de 30, do século passado (sec XIX), em meio a numa conferência, Freud ouviu o segunie pedido: “E sobre a mulher, fale sobre a mulher, Doutor Freud”. Ao que ele respondeu: “Sobre a mulher, pergunte aos poetas”.
“O que quer uma mulher?”. Este é o enigma que uma mulher coloca para o outro – para outra mulher, que uma mulher coloca para o outro - um homem, que uma mulher coloca para o Outro – a sociedade, a cultura.
Há quem tente responder este enigma com a poesia. Mas há quem tenta respondê-lo com a fé cega no conselho: “Bata em sua mulher todos os dias; um dia, você nem saberá porque está batendo, mas ela saberá porque está apanhando”. Ou com a faca amolada da infibulação.
A infibulação (comum na Africa saariana e em países árabes cujos grupos religiosos seguem de modo ortodoxo as religiões mulçumanas. Porém é um ato de violência sexual que tem no caráter preventivo sua maior gravidade. A infibulação consiste na extirpação, sem anestesia, do clitóris e, muitas vezes, também de parte dos pequenos lábios vaginais de jovens pré-adolescentes levadas a este ritual pelos próprios pais. Tal amputação, na crença corrente, evita, previne, que a mulher tenha orgasmo e, por isso, se transforme numa prostituta; afinal, acredita-se que sentir prazer no sexo é coisa de prostitutas. A infibulação é praticada por parteiras ou por homens através de facas e canivetes sem assepsia; e, como se trata de uma região muito vascularizada, tenta-se com papa de farinha estancar a inevitável hemorragia. A infibulação – alvo da condenação de organizações defensoras dos direitos humanos em todo o mundo - cumpre não só objetivos religiosos mas também financeiros. Os pais recebem muito dinheiro do pretendente, do futuro noivo, por terem lhe oferecido uma filha virgem, ou seja, infibulada – visto que a infibulação tende a extirpar também os desejos e os interesses eróticos da joevm. Anualmente, centenas de jovens fogem da infibulação, migrando principalmente para a Europa. São no mínimo dramáticas as fotos (circulando no mundo) que exibem a expressão intraduzível de horror estampada no rosto destas jovens no momento em que estão sendo infibuladas. Que violências sexuais são praticadas contra as prostitutas nesses lugares? Não responder é, às vezes, responder quase tudo.
É verdade que, salvo engano ou desinformação da nossa parte, não há notícias de práticas infibulatórias no Brasil. No entanto, miremo-nos no exemplo daquelas mulheres das arábias: das que conseguem fugir da infibulação (se escondendo dos homens perseguidores durante o dia e correndo deles durante a noite); e das que não conseguem fugir. Mas, mesmo assim, num caso ou no outro, nenhuma delas diz SIM à infibulação.
As mulheres de lá e as mulheres daqui têm em comum uma teimosia: “a estranha mania de ter fé na vida”.- como poetizam Milton Nascimento e Fernando Brandt.
REFERÊNCIAS
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SHAW, Bernard. A profissão da senhora Warren. São Paulo, Abril, 1976 (Teatro Vivo)
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Este artigo integrou as comemorações dos dez anos do Núcleo de Antropologia da Saúde (NUAS) (1999-2009)/Área de Conhecimento de Antropologia/Departamento de Ciências Humanas e Filosofia/Universidade Estadual de Feira de Santana e foi publicado, em 2009, por duas revistas (depois de submetido às diferentes sugestões do conselho editorial de cada uma delas):
LEVS (Laboratório de Estudos da Violência e Segurança. Marília, São Paulo, Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), Ped. 3, n. 3, mar/09 (versão on line)
METÁFORA EDUCACIONAL (ISSN 1809-2705), Feira de Santana, Bahia, n. 6, jun/2009,
sexta-feira, 12 de março de 2010
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