quinta-feira, 10 de março de 2011

OS CABEÇAS-SUJAS E SEU MUNDINHO - Clinicavilarica's Blog

A pessoa que joga lixo na rua, na calçada ou na praia se revela portadora de uma disfunção mental e social que a inabilita para o sucesso no atual estágio da civilização.

Que tipo de gente joga lixo na rua, pela janela do carro ou deixa a praia emporcalhada quando sai…Uma das respostas corretas é:um tipo que está se tornando cada vez mais raro.Sim. A atual geração de adultos foi criança em um tempo em que jogar papel de bala ou a caixa de biscoitos pela janela do carro quase nunca provocava uma bronca paterna. Foi adolescente quando amaçar um maço vazio  de cigarros e chutá-lo para longe não despertava na audiencia nenhuma reação especial, além de um vai ser perna de pau assim na China.  Chegou à idade adulta dando como certo que aquelas pessoas de macacão com a sigla do Serviço de Limpeza Urbana estampada nas costas precisam trabalhar e,por isso, vamos contribuir sujando as ruas.

O zetgeist , o atual espírito do nosso tempo, pode não impedir, mas, pelo menos, não impele mais ninguem com algum grau de conexão com o atual estágio civilizatório da humanidade a se livrar de detritos em lugares públicos sem que isso tenha um peso, uma consequencia. É feio.É um ato que contraria a ideia tão prevalente da sustentabilidade do planeta e da preciosidade que são os mananciais de água limpa, as porções de terra não contaminada e as golfadas de ar puro.

O flagrante descaso com o bem público tem suas raízes fincadas na história desde o tempo do Brasil colonia. No período escravocrata, a aristocracia saia para passear sempre com as mãos livres, escoltada por serviçais que não só carregavam seus pertences como limpavam a sujeira que ia atirando às calçadas.Não raro o rei Dom João VI fazia suas necessidades no meio da rua, hábito tambem cultivado pelo filho, Pedro I, e ainda hoje presente.

Existe uma relação direta entre o nível de educação de um povo e a maneira como ele lida com o seu lixo.

Não por acaso o brasileiro está em situação pior que o cidadão do primeiro mundo quando se mede a montanha de lixo deixada nas ruas por cada um deles. As grandes cidades do mundo, que já foram insalubres um dia, só conseguiram deixar essa condição à custa de um intenso processo de urbanização, aliado à mobilização dos cidadãos e a severas punições em forma de multa. “ a concepção do bem público como algo valoroso nunca é espontanea, mas sim fruto de um forte empenho por parte do Estado e das famílias´´ diz o filósofo Roberto Romano.

Artigo adaptado da Revista Veja de 09 de março de 2011
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