domingo, 20 de março de 2011

ASSIS VALENTE E OS AMORES URBANOS (1)


ASSIS VALENTE E OS AMORES URBANOS (1)

Vicente Deocleciano Moreira

Assis Valente nasceu na Bahia, mas os sambas e as marchinhas que compôs têm indisfarçável alma carioca. Foi a capital do Rio de Janeiro e não Salvador (a capital da Bahia) seu primeiro amor urbano. Tanto que ao retornar a Salvador (onde passou a cursar desenho, escultura e confecção de prótese dentária) levara o sonho de voltar ao Rio. E logo que amealhou algum dinheiro vendendo desenhos para as revistas "Shimmy" e "Fon-fon" retornou à capital carioca, sua paixão, calvário e morte; depois de tentaivas anteriores (atira-se do Corcovado, corta os pulsos ...), suicidou-se, na praia do Rússel (Rio de Janeiro)   bebendo refrigerante com formicida, às 18 horas de 10 de março de 1958.


"Logo retorna ao Rio, tentando se recuperar das dívidas que o laboratório de prótese fazia aumentar. Sozinho, separado da mulher desde 42, amargurado pelo esquecimento popular, Assis mergulha cada vez mais num poço de angústia,.


Por fim, com aquela obstinação dos suicidas, o menino que sempre viveu em Assis, junta os cacos de sua vida: passa pela SBACEM, telefona ao editor Vitale, dá instruções para o seu laboratório e vai para a praia de Rússel. Perto de um parque infantil, ingere uma garrafa de guaraná com formicida. Eram 6 horas da tarde dop dia 10 de março de 1958." (ASSIS VALENTE. Nova História da Música Popular Brasileira. Sâo Paulo (Brasil), Editora Abril, 1977, p. 12) 


Controverso e de temperamento instável (ora eufórico, ora triste, deprimido), até mesmo o local de nascimento geram polêmicas. Alguns defendem o Largo do Campo da Pólvora (bairro de Nazaré - Salvador), outros apontam o caminho entre Bom Jardim e Pateoba, no município de Santo Amaro da Purificação.

Estudiosos e críticos da MPB (Música Popular Brasileira) costumam estabelecer quase uma ancestralidade parental  espiritual/musical/temática entre Chico Buarque de Hollanda (nascido no Rio de Janeiro em 19 de junho de 1944) e Noel Rosa (nascido no Rio de Janeiro em 11 de outubro de 1910 e falecio nesta mesma cidade em 4 de maio de 1937), ambos cantores e compostores da MPB.


Este escriba eletrônico passa longe da ousadia de discordar da doutorância destes senhores e destas senhoras; passa longe também, anos luz,  tanto  da tentação de publicar, neste e em outras postagens, informações biográficas sobre o nosso bom baiano Assis Valente. É que sou apaixonado pela(s) cidade(s) e estou, por essa razão, atracado na identificação dos amores urbanos nas letras de Assis  Valente. Deppois, a vez de  de Francisco Buarque de Hollanda - Chico Buarque, Chico Buarque de Hollanda, Chico..


Calma;  porque  sou dos que defendem, com unhas, dentes e ouvidos,  as conexões entre Chico e Noel, mas também arricaria cometer alguma ligação entre Chico e Assis Valente. Tudo bem, não é uma ligação respaldada pelas academias universitárias ... e corro o risco de levar um choque elétrico ... que, oxalá, Oxalá me ajude e me deixe vivo.


Assis Valente é do tempo em que as letras de MPB de algum modo e a seu modo traduziam o imaginário geográfico e sociológico dominante que separa o morro da cidade do Rio de Janeiro. Pessoas desciam o morro na direção da cidade. Lá embaixo, a cidade. Esse imaginário chegava à resignação de comemorar o 'fato' de quem vive no morro está mais perto do céu, mais perto do que os moradores que habitam os arranha céus da cidade. Chegava, também, a criar o sambista, o malandro (*) ... e uma atmosfera amorosa/afetiva/erótica 'sui generis' para o barracão, o morro, a favela.


.Nessa atmosfera, a mulher era toda amores, toda sofrimento e amores sofridos ... ela  parecia encarnar o célegre "Soneto da Mulher Ideal"  do poeta Vinicius de Moraes:


Pra fazer poesia
Tem que ter inspiração
Se forçar ...
Nunca vai ficar boa

Se não..
É como amar uma mulher só linda
E dai !??

Uma mulher tem que ter alguma coisa além da beleza
Qualquer coisa feliz
Qualquer coisa que ri
Qualquer coisa que sente saudade

Um pedaço de amor derramado
Uma beleza ...
Que vem da tristeza
Que faz um homem que como eu sonhar

Tem que saber amar
saber sofrer pelo seu amor
E ser só perdão





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(*)
Em novembro de 2010, este Blog publicou  nove postagens da série MALANDRO, MORRO E CIDADE: PASSADO E ATUALIDADE. Consultá-las, relê-las ajudará a série que estamos hoje (20/março/2011) a iniciar.


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AMANHÃ, SEGUNDA, CONTINUAREMOS

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