(* - Gerônimo, cantor e compositor baiano - Salvador - Bahia - Brasil)
CARNAVAL: ALEGRIA, LIBERDADE E LIBERTINGEM PERMITIDAS PELA AUTORIDADE.
Vicente Deocleciano Moreira
Foliões, admiridaores e brincantes do Carnaval sempre querem que nos três ou cinco dias da festa faça sol: ao menos não chova muito a ponto de inviabilizar a festa. A chuva, se houver, precisa ser pouca e seu 'direito' deve terminar onde o direito do folião (de brincar e de esquecer as agruras da vida) começa. Claro que uma chuva moderada naturalmente refresca, refrigera. Claro, também, que há saídas poéticas como "Chuva, Suor e Cerveja", de Caetano Veloso:
Não se perca de mim
Não se esqueça de mim
Não desapareça
A chuva tá caindo
E quando a chuva começa
Eu acabo de perder a cabeça
Não saia do meu lado
Segure o meu pierrot molhado
E vamos embolar
Ladeira abaixo
Acho que a chuva
Ajuda a gente a se ver
Venha, veja, deixa
Beija, seja
O que Deus quiser...(2x)
Não se esqueça de mim
Não desapareça
A chuva tá caindo
E quando a chuva começa
Eu acabo de perder a cabeça
Não saia do meu lado
Segure o meu pierrot molhado
E vamos embolar
Ladeira abaixo
Acho que a chuva
Ajuda a gente a se ver
Venha, veja, deixa
Beija, seja
O que Deus quiser...(2x)
A gente se embala
Se embora se embola
Só pára na porta da igreja
A gente se olha
Se beija se molha
De chuva, suor e cerveja...(2x)
Não se perca de mim
Não se esqueça de mim
Não desapareça
A chuva tá caindo
E quando a chuva começa
Eu acabo de perder a cabeça
Não saia do meu lado
Segure o meu pierrot molhado
E vamos embolar
Ladeira abaixo
Acho que a chuva
Ajuda a gente a se ver
Venha, veja, deixa
Beija, seja
O que Deus quiser...(2x)
A gente se embala
Se embora, se embola
Só pára na porta da igreja
A gente se olha
Se beija se molha
De chuva, suor e cerveja...(6x)
É possível, então, brincar Carnaval de baixo de chuva. Mas Sol e Carnaval têm tudo a ver. O Carnaval - que, aqui e ali, "Oropa, França e Bahia", o Ocidente contemporâneo conhece, brinca, condena ou nega - tem origem, a mais remota, na Saturnália pagã/romana quando se comemorava, com orgias de bebidas e sexo, o "nascimento incicto do Sol" - perdão, do deus Sol., A louca e desvairada Saturnália acontecia , Mutatis Mutandi, lá pelo data que conhecemos por 25 de dezembro e que passamos a comemorar - por força (muita força nisso) da Igreja Católica. Não é de surpreender que - no lugar da orgia da Saturnália - a Igreja Católica nos fizesse comemorar o Nascimento de Jesus Cristo e nos fizesse viver e nos emocionar com o clima infinitamente mais ameno, espiritualizado e místico do Natal. E - mais que isso ou além disso - ela conseguiu "empurrar" os festejos tributários da Saturnália (forma, conteúdo e simbologia) para bem longe do tranquilo, corpos cobertos, ordeiro e familial espírito do Natal; mas. claro, cobrou com o preço do arrependimento e da quaresma as cinzas de tanta nudez e de tanto fogo org[íaco, erótico e sexual.
Na Saturnália, escolhia-se - em concurso - o soldado mais bonito da tropa. Diurante três a cinco dias, a este belo rapaz eram concedidos todos os prazeres da cama e da mesa que ele exigisse. [Daí vem o nosso Rei Momo e nossas rainhas do Carnaval e de cada escola de samba.] No final dos três a cinco dias de prazeres e loucuras, o belo tinha que cortar a garganta com uma faca no altar de Saturno. Também aí a Igreja Católica interferiu e, pouco a pouco, os sacrifícios humanos foram substituídos por simbologias as mais diversas. Mas, apesar dessa interferência, o espírito de irreverência foi mantido e - por que não dizer(?) - foi incentivado.
Não só de sangue vivia a Saturnália. Escravos podiam ousar condutas impensáveis para os demais dias como, por exemplo, sentar-se à mesa, à cabeceira da mesa, fazer pilhérias com o patrão ou a patroa, dar-lhes ordens. Fim da Saturnália, "cada macaco em seu galho" e, como dizem os franceses, "honni soi qui mal y pense".
No Carnaval do Brasil e de outros países, a mais alta autoridade da urbis - Sua Excelência o prefeito, geralmente - entrega simbolicamente as chaves da cidade (uma chave "de brinquedo" de tamanho descomunal) ao Rei Momo; que, simbolicamente, passa doravante a "mandar" no local. Daí por diante, começa - sob a 'autorização' do senhor prefeito - a alegria, o sexo louco, a loucura ( a folia, a folie (a loucura) - também como dizem os franceses) .
Nessa onda de liberalidade, liberdade, libertinagem ... como queiram chamar ... por exemplo homens acima de qualquer 'suspeita' se vestem (roupas, gestos e vozes femininos e de modo caricatural) de mulher. Nada 'pesa', nenhuma 'suspeita' pode atingir esses senhores; senhores que - finda a Saturnália, quero dizer a folia momesca - certamente não prosseguirão vestido em trajes e trehjeitos femininos ... por mais que tenham gostado da experiência no Carnaval.
Se embora se embola
Só pára na porta da igreja
A gente se olha
Se beija se molha
De chuva, suor e cerveja...(2x)
Não se perca de mim
Não se esqueça de mim
Não desapareça
A chuva tá caindo
E quando a chuva começa
Eu acabo de perder a cabeça
Não saia do meu lado
Segure o meu pierrot molhado
E vamos embolar
Ladeira abaixo
Acho que a chuva
Ajuda a gente a se ver
Venha, veja, deixa
Beija, seja
O que Deus quiser...(2x)
A gente se embala
Se embora, se embola
Só pára na porta da igreja
A gente se olha
Se beija se molha
De chuva, suor e cerveja...(6x)
É possível, então, brincar Carnaval de baixo de chuva. Mas Sol e Carnaval têm tudo a ver. O Carnaval - que, aqui e ali, "Oropa, França e Bahia", o Ocidente contemporâneo conhece, brinca, condena ou nega - tem origem, a mais remota, na Saturnália pagã/romana quando se comemorava, com orgias de bebidas e sexo, o "nascimento incicto do Sol" - perdão, do deus Sol., A louca e desvairada Saturnália acontecia , Mutatis Mutandi, lá pelo data que conhecemos por 25 de dezembro e que passamos a comemorar - por força (muita força nisso) da Igreja Católica. Não é de surpreender que - no lugar da orgia da Saturnália - a Igreja Católica nos fizesse comemorar o Nascimento de Jesus Cristo e nos fizesse viver e nos emocionar com o clima infinitamente mais ameno, espiritualizado e místico do Natal. E - mais que isso ou além disso - ela conseguiu "empurrar" os festejos tributários da Saturnália (forma, conteúdo e simbologia) para bem longe do tranquilo, corpos cobertos, ordeiro e familial espírito do Natal; mas. claro, cobrou com o preço do arrependimento e da quaresma as cinzas de tanta nudez e de tanto fogo org[íaco, erótico e sexual.
Na Saturnália, escolhia-se - em concurso - o soldado mais bonito da tropa. Diurante três a cinco dias, a este belo rapaz eram concedidos todos os prazeres da cama e da mesa que ele exigisse. [Daí vem o nosso Rei Momo e nossas rainhas do Carnaval e de cada escola de samba.] No final dos três a cinco dias de prazeres e loucuras, o belo tinha que cortar a garganta com uma faca no altar de Saturno. Também aí a Igreja Católica interferiu e, pouco a pouco, os sacrifícios humanos foram substituídos por simbologias as mais diversas. Mas, apesar dessa interferência, o espírito de irreverência foi mantido e - por que não dizer(?) - foi incentivado.
Não só de sangue vivia a Saturnália. Escravos podiam ousar condutas impensáveis para os demais dias como, por exemplo, sentar-se à mesa, à cabeceira da mesa, fazer pilhérias com o patrão ou a patroa, dar-lhes ordens. Fim da Saturnália, "cada macaco em seu galho" e, como dizem os franceses, "honni soi qui mal y pense".
No Carnaval do Brasil e de outros países, a mais alta autoridade da urbis - Sua Excelência o prefeito, geralmente - entrega simbolicamente as chaves da cidade (uma chave "de brinquedo" de tamanho descomunal) ao Rei Momo; que, simbolicamente, passa doravante a "mandar" no local. Daí por diante, começa - sob a 'autorização' do senhor prefeito - a alegria, o sexo louco, a loucura ( a folia, a folie (a loucura) - também como dizem os franceses) .
Nessa onda de liberalidade, liberdade, libertinagem ... como queiram chamar ... por exemplo homens acima de qualquer 'suspeita' se vestem (roupas, gestos e vozes femininos e de modo caricatural) de mulher. Nada 'pesa', nenhuma 'suspeita' pode atingir esses senhores; senhores que - finda a Saturnália, quero dizer a folia momesca - certamente não prosseguirão vestido em trajes e trehjeitos femininos ... por mais que tenham gostado da experiência no Carnaval.
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