terça-feira, 1 de junho de 2010

EPÍSTOLAS DA TERCEIRA IDADE AOS FEIRENSES (1)

EPÍSTOLAS DA TERCEIRA IDADE AOS FEIRENSES (1)


Antes de mim vieram os velhos
Os jovens vieram depois de mim
E estamos todos aqui
No meio do caminho dessa vida
Vinda antes de nós
E estamos todos a sós
No meio do caminho dessa vida
E estamos todos no meio
Quem chegou e quem faz tempo que veio
Ninguém no início ou no fim
Antes de mim
Vieram os velhos
Os jovens vieram depois de mim
E estamos todos aí

(Adriana Calcanhoto – “Velhos e jovens”)


Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
Blog http://www.viverascidades.blogspot.com


Em dezembro de 1994, coordenei uma Oficina da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). O produto desta Oficina – “Epistolas da Terceira Idade aos Feirenses” – resultou da contribuição textual sob forma de cartas sobre o passado da cidade de Feira de Santana (Bahia – Brasil) e dirigidas aos moradores dessa cidade, a maior do interior do estado da Bahia..

Pedi que o assunto das cartas fosse o passado de Feira de Santana que ele(a)s testemunharam e viveram: suas lembranças, memórias, recordações desta cidade.

Dezesseis anos depois – quando os participantes estão com dezesseis anos de idade a mais – eis que aqui estamos começando a postar muitas dessas epístolas, utilizando pseudônimos para preservar o anonimato de seus autores 16 anos depois. E, quando a idade em 1994 foi revelada, mencionamos a atual idade: quantos anos o missivista completou ou estará completando este ano, 2010.

Vicente Deocleciano Moreira

*****


A FEIRA DE FEIRA

A extinção da “Feira de Feira”, considerada o maior mercado ao ar livre do Nordeste, deixou não só aos saudosistas, mas a todos que ouviram falar neste importante entreposto comercial nordestino, uma grande lacuna. A feira, sem sombra de dúvida, era bela. Mas, para muitos, nem tanto. Era tida como anti-higiênica e incompatível com o desenvolvimento da cidade.

Falar da feira nos vem à memória tipos humanos diversos. Lembro de dois vendedores de carne do sol de Rui Barbosa, moços, baixinhos, curiosos e atenciosos ao vender este produto no Mercado Municipal aos seus fregueses. Curioso é que, a maioria das pessoas sempre tinha uma barraca de preferência onde mantinha a freguesia. Importante destacar também a venda de produtos que hoje não se encontram mais. Citamos aqui o marmelo (fruta de sabor inigualável, da qual se fazia um delicioso doce caseiro), o acaçá (feito de milho branco moído, cozido em panela de barro e enrolado em folha de bananeira) geralmente vinha de Cachoeira, considerado até como “fortificante” era vendido nos bares batido com leite (como uma espécie de vitamina para lanche). O requeijão não é mais como antigamente. Vinha sempre de uma fazenda especial e não podia faltar na feira de segunda-feira.”

“FEIRA AMBIENTAL


LEMBRANÇAS

- Os burros carregando água – quando Feira não tinha água encanada, e mesmo assim até algum tempo depois, ainda se encontrava pelas ruas os “aguadeiros” a vender água em barris carregados pelos burros na rua, de porta em porta.

- Os coretos, aos domingos à tarde, havia a tocata das filarmônicas (principalmente na Praça da Matriz) onde as famílias se reuniam para ouvir se reecontrarem.

- A Estação ferroviária (Estação Velha) – onde nas madrugadas ou tardes ia-se esperar ou embarcar familiares para a BAHIA no “motriz”.

- A santa Casa de Misericórdia 0 casa de saúde, mantida pelos irmãos da Santa Casa e administrada pelas freiras da cidade.

- A Ponte do Rio Branco – escoamento agro-pecuário, servindo de ligação entre Feira e Bomfim, era admirada por sua beleza arquitetônica construída toda em ferro na época de D. Pedro II.

- O campo do gado e o matadouro – também chamado “currais”; interessante se ver o comércio que era feito, onde cada fazendeiro tinha o seu curral para negociar os bois, caprinos, etc... além de vender artefatos de couro (alpercatas, chapéu, gibão, etc ...) e os arreios em geral.

- A Marinete – conhecida como meio de transporte para os que viajam para Salvador.”

Maria do Carmo Lopes – 92 anos.
(Maria do Carmo Lopes é, aqui, pseudônimo)



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