JOSÉ SARAMAGO (1922-2010) (5)
José Saramago, 87, o Nobel da língua portuguesa
Reproduzido de O Globo, 19/6/2010
Um cético que manteve até o fim sua crença na literatura e no comunismo, José Saramago tornou-se durante as últimas três décadas a figura central da literatura contemporânea em português. Já era um autor consagrado e traduzido em diversos países quando recebeu em 1998 o Prêmio Nobel de Literatura — o primeiro, e até agora único, concedido pela Academia Sueca a um escritor da língua portuguesa —, mas foi nos anos seguintes à premiação que recebeu um reconhecimento crítico quase consensual como um dos maiores escritores de nosso tempo.
Entre os pesos-pesados da literatura atual, foi talvez o mais empenhado em manifestar suas opiniões políticas, e certamente um dos mais comprometidos com a militância de esquerda, à qual, no entanto, muitas vezes emprestou a ironia típica de sua obra literária. Exceção numa época de escritores-celebridades, manteve sua atuação pública circunscrita ao modelo do escritor-intelectual público estabelecido no século XIX pelo francês Émile Zola.
Seus artigos e críticas lhe valeram confrontos com o Vaticano, com Israel e com o governo de Portugal.
Apesar de um romance publicado aos 25 anos ("Terra do pecado", 1947), a vocação de Saramago para a escrita se realizou tardiamente. "Foi em 1980 que eu me tornei um escritor de verdade", repetia nas entrevistas, referindo-se ao ano de publicação de seu romance" Levantado do chão", história sobre três gerações de uma família de camponeses.
A supressão de parte dos sinais de pontuação — ideia que segundo o escritor lhe surgiu de repente, um pouco depois da página 20 do livro —, e as novas formas de dar ritmo ao texto decorrentes desse gesto tornaram-se o ponto de partida de um estilo inconfundível, em que o virtuosismo das longas frases se combinava à ironia, à digressão e à metalinguagem. "Memorial do convento", publicado dois anos depois, representa a consumação dessa escrita, que combinava mordacidade, crítica social e imaginação a uma sintaxe complexa e exuberante.
Depurada em seus livros seguintes, a escrita de Saramago foi um dos mais importantes momentos de renovação e ampliação do repertório expressivo do romance contemporâneo.
Sobrenome foi acrescentado pelo tabelião Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922, na aldeia de Azinhaga. Seus pais queriam chamá-lo José de Sousa, mas o tabelião responsável pelo registro resolveu acrescentar ao nome o apelido do pai do autor: "Saramago", denominação de uma planta silvestre da região.
Aos 2 anos, José de Sousa Saramago foi viver em Lisboa com a família, embora ainda passasse férias com os avós na cidade natal (o período foi relembrado por ele na autobiografia "Pequenas memórias", de 2006). Nessa época, morreu seu irmão Francisco. A busca por seu registro de óbito, empreendida anos depois, serviria de inspiração para seu romance "Todos os nomes" (1997).
Saramago deixou a escola antes de completar o ginásio e ainda jovem foi trabalhar numa oficina para ajudar a família.
Por muito tempo, lia apenas o que pegava emprestado em bibliotecas públicas, pois não tinha dinheiro para comprar livros.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
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