segunda-feira, 14 de junho de 2010

FCCV - fatos violentos - O IRÃ NOSSO DE CADA DIA:

Leitura de fatos violentos publicados na mídia
Ano 10, nº 19, 14/06/10
O IRÃ NOSSO DE CADA DIA:
QUEM IRIA?

A ONU desconfia das intenções do Irã, menos o Brasil e a Turquia. A ONU adota medidas contra o Irã, apesar dos esforços do Brasil e da Turquia. E os brasileiros assistem a esta confusa história de sucesso diplomático brasileiro e turco junto ao Irã que apesar de tudo não consegue prevalecer junto à Organização das Nações Unidas.

Há várias questões envolvidas neste caso e aquela que aqui será objeto de atenção não deve ser apreciada como o aspecto principal que se projeta como conflito entre Irã e as maiores potências mundiais. Este caso é aqui tomado como exemplo do poder da suspeição e das dificuldades encontradas quando se pretende superá-la. Apela-se para o caso iraniano para se abordar um problema cotidiano que pode ser indicado como “o suspeito nosso de cada dia”. E o apelo que aqui se faz pretende ser uma estratégia que busca encontrar maneira de colocar em suspeição a nosso irrefreável hábito de suspeitar de determinados tipos sociais.
Na geografia da suspeição “internacional” o Irã está bem cotado, assim como se deu com o Iraque, como se dá com o Afeganistão e outros países sobre os quais são colocadas as peles do mal. Estes assombros são pronunciados, midiaticamente, de modo a se criar a impressão de naturais os mantos malignos que agasalham países e nações.

Desse modo, o mundo se torna amedrontado por um povo, um grupo, uma etnia etc. E pouca gente sabe onde fica o Irã, qual a história do Afeganistão ou o que o povo do Iraque deu à humanidade. Acredita-se no que dizem as sugestões inscritas nas peles que contornam, artificialmente, desconhecidos países, nações e culturas.
Este mesmo jogo de ficção tem-se dado no diário da vida social brasileira quando o assunto é criminalidade. Aqui entre nós, temos consumido histórias de criminosos perigosíssimos, mortos em troca de tiros e detentores de manancial bélico inigualável. Temos incorporado e sustentado a idéia de que estamos em guerra e, portanto, não valem os acordos legais, como se estes fossem exclusivos para os tempos de paz.


Está mantido o estereótipo do “agressor” contra quem se deve guerrear: um sujeito forte, negro, bruto, que porta arma e é suspeito de muitos crimes. Este invencível “inimigo” morre todos os dias e não se acaba, apesar do discurso que sobre ele se constrói, dando-se conta de uma espécie de encarnação do mal. A sua morte multiplicada pelos cantos da cidade não tem contido ou destruído a violência a ele alegada. Morrem os donos das bocas, mas elas continuam ali, imóveis e iguais aos negócios legais que permanecem independentemente do falecimento de seus donos. Morrem os suspeitos sem provas e eles continuam ali, sendo condenados moralmente e passando aos familiares a busca pela reparação. Morrem as vítimas de balas perdidas, mas elas continuam ali, aumentando o número, ampliando a dor como se fizesse parte da cena, uma espécie de “núcleo inocente” da novela.

E todas as perdas têm sido justificadas pela presença da droga com seu poder devastador. E assim podemos observar como a forma através da qual é representado um problema permite a legitimidade de determinados tratamentos que são, muitas vezes, mais destruidores do que lenitivo e sem chances de se garantir o controle e a superação.

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