quinta-feira, 10 de junho de 2010

CALCANHOTO (4) – “ESQUADROS”, SEGUNDO NOEMI JAFFE – COMENTÁRIOS (SEGUNDA PARTE)

CALCANHOTO (4) – “ESQUADROS”, SEGUNDO NOEMI JAFFE – COMENTÁRIOS (SEGUNDA PARTE)

Jaffe prossegue mantendo o conteúdo introdutório dos primeiros parágrafos de seu artigo “Esquadros”, falando sobre a elegância de Adriana Calcanhoto que não pode ser confundida com serenidade ou com bom gosto E cita trechos de “Senhas”:

“Eu não gosto do bom gosto/
Eu não gosto de bom senso/
Eu não gosto de bons modos/
Não gosto”,



Ainda comparando (ou exercitando a complementaridade) entre Calcanhoto e Cássia |Eller. Jaffe afirma que esta última é senhora de uma força frágil; a primeira é dona de uma fragilidade forte.

Indo a “Esquadros”, Jaffe assegura que a letra ilustra o jogo fragilidade/segurança que ela identifica em Calcanhoto. Olhando o mundo e a si mesmo através do rigor , do ‘cálculo’e do filtro mediador dos esquadros, o sujeito da canção – construtivo e inquieto além de intenso - manifesta sentimentos de impotência e se dedica à investigação metonímica. Uma investigação que, por outro lado, se debruça sobre o cinema (cores) de Almodóvar e a pintura (também cores) de Frida Khjalo. Prossegue Jaffe: O sujeito vê “tudo enquadrado” – “remoto controle”, ou seja, o controle é só uma ilusão. Com a palavra, Jaffe:

Na canção, os olhos desse perscrutador do mundo estão enquadrados, “esquadrados”, inevitavelmente instrumentalizados para ver, mesmo quando, quem sabe, gostariam de não estar. Trata-se de uma hiper-consciência do mundo que, nesse momento, lembra a angústia de um poema como “Os Ombros Suportam o Mundo”, de Drummond: “Ficaste sozinho, a luz apagou-se,/ mas na sombra teus olhos resplandecem enormes”. O sujeito da canção poderia até ser o mesmo eu-lírico do poema, cujos olhos – sua consciência – teimam em manter-se abertos, mesmo quando um eu exaurido gostaria de poder fechá-los.

Um eu que diz, na canção, que quer chegar antes – antes de quem? antes de quê? por quê? – para filtrar os graus de cada coisa e sinalizar seu estar. Mas tanto os filtros quanto a sinalização parecem dissolver-se diante da coisidão, da verdade dos “meninos que têm fome” e que continuam a ter fome, a despeito desse olhar fino que se debruça sobre eles e que chora ao telefone.


O olhar do sujeito está injetado de angústia e do estar perdido no mundo: “quem é ela, quem é ela?;” Pode ser também: “quem sou eu, quem sou eui?”. Porém, em “meu amor cadê você?” essa angústia existencial ‘fingida’ no sentido pessoano (Fernando Pessoa) se dissipa.

A compositora gaúcha se entrega a um “espiral de contrastes”: segurança e fragilidade, tensão e relaxamento, consciência e desejo de inocência, rigor e simplicidade , segundo Jaffe. Concluindo ainda com Jaffe:

Para tentar dar conta de tantos paradoxos, tento, para finalizar, uma espécie de “alter-retrato” imitativo da canção analisada aqui: “Esquadros” tem consciência. “Esquadros” não quer ter consciência. “Esquadros” não sabe como perder a consciência. A melodia reconquista a inocência para a poesia. “Esquadros” sabe. “Esquadros” sabe que não sabe. A letra pergunta. A melodia responde. “Esquadros” finge uma angústia existencial. “Esquadros”, na verdade, precisa de um amor. Todos precisam.


Evidentemente que Jaffe não faz a mineração da cidade no solo de “Esquadros”, a composição de Calcanhoto. Mas vale sua contribuição inclusive para introduzir, de algum modo, o texto da postagem de amanhã, sexta-feira.

Para o(a)s interessados em diversos olhares de diferentes autores, entrevistas ... em torno de Adriana Calcanhoto, vale conferir, no livro organizado por Arthur NESTROVSKI Lendo Música: 10 ensaios sobre 10 canções. São Paulo, Publifolha, 2008)

Vejam que fortuna crítica você pode usufruir:

- Mariano del Mazo: Belleza tropical

- Edgard Scandurra: Adulta melancólica se torna criança leve

- Antonio Mattoso: Mar de Posídon, mar de Iemanjá

- Antonio Mattoso: Nos braços de Calipso

- Adriana Calcanhotto: Faixa-a-faixa

- Eucannã Ferraz: Perguntas em forma de cavalo marinho *

- Adriana Calcanhotto: Som é onda

- Mingus B. Formentor: La diva tranquila

- Bernardo Gutiérrez: Voces heterónimas

- Noemi Jaffe: Esquadros

- Martha Medeiros: A palidez

- Eduardo Harau: Uma questão de gosto

- Hugo Sukman: Crianças em fase de formação merecem isso

- Heloisa Tolipan: Meu nome é Partimpim

- Paulo Roberto Pires: Brincadeira de gente grande

- Rodrigo Sabatinelli: O pirlim-pim-pim de Adriana Partimpim

- Sandra de la Fuente: El juego del blanco sobre negro

- Andrés Casak: Canción de las simples cosas

- Fernando López: Adriana Calcanhotto: más, con menos

- Leticia Wierzchowski: Para Adrianas e Partimpins

- Fernando López: Adriana Partimpim

- Alejandro Lingenti: Cara y Ceca

- : Los chicos deben trabar contacto con las artes

- Adriana Calcanhotto: Self-Portrait

- Nelson Motta: Músicas inteligentes para crianças espertas

- Paulo Roberto Pires: Partimpim!

- Ivan Claudio: Bem distante do óbvio

- Mariano del Mazo: Adriana Calcanhotto, la insaciable

- Sérgio Maggio: Velha infância

- Paulo Celso Pereira: Calcanhotto Partimpim

- Hugo Sukman: Arte influenciada por sábias idéias infantis

- Carlos Galilea: Artista

- João Miguel Tavares: Adriana Partimpim Tintim Portintim

- Nuno Pacheco: Adriana no país das máscaras

- Nuno Pacheco: COMO SÓ AS CRIANÇAS SABEM

- Carlos Vaz Marques: “Partimpim, meu heterónimo”

- Jorge Mourinha: Adriana Partimpim

- Helena Mascarenhas: Adriana explica às crianças

- : Premio Latino Revelación

- Paulo Roberto Pires: A maestria do Vinicius aprendiz

- Violeta Weinschelbaum: Fuera de lugar

- Daniel Domínguez: Las caricias de una voz que huele a Brasil y a poe

- Gorka Elorrieta: Madurez=clasicismo+vanguardia:

- Rolling Stone: Cantada

- Apoenan Rodrigues: Spa sonoro

- Péricles Cavalcanti: Cuando vi una presentación...

- Fernando Fantinel: Cantada

- Rita Severino: Adriana Calcanhotto no Coliseu

- La Nación: Clásica y moderna

- Francisco Cruz: Adriana Calcanhotto: a falsa simplicidade da Canta

- Fernanda Levy: Adriana Calcanhotto "Cantada"

- Crítica: No Centro Cultural de Angra

- Antonio Cicero & Waly Salomão: CANTADA - A seductive approach

- Eduardo Prado Coelho: O simples tão difícil

- Jorge Lima Alves: Adriana Remix

- Silvio Essinger: Calcanhotto, clara e com clareza

- Jacinto Lucas Pires: Disco mesmo compacto

- Julio Daio Borges: Supressão de ruídos

- Miguel Francisco Cadete: Cantada

- Tárik de Souza: Contra o império do banal

- Douglas Damasceno: Adriana Calcanhotto manda sua cantada básica

- Jamari França: Minimalismo sonoro por opção

- Antonio Cicero e Waly Salomão: Release de Cantada

- Eucanaã Ferraz e A. C.: Entrevista

- João Bandeira: Adriana Calcanhotto




BOA VIAGEM PELO UNIVERSO DE ADRIANA CALCANHOTO. E ATÉ AMANHÃ

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