domingo, 27 de junho de 2010

CRÔNICA DOMINICAL – 27 DE JUNHO DE 2010

CRÔNICA DOMINICAL – 27 DE JUNHO DE 2010


Quanto tempo temos antes de voltarem
Aquelas ondas
Que vieram como gotas em silêncio
Tão furioso
Derrubando homens entre outros animais
Devastando a sede desses matagais
Derrubando homens entre outros animais
Devastando a sede desses matagais
Devorando árvores, pensamentos,
Seguindo a linha
Do que foi escrito pelo mesmo lábio
Tão furioso
E se teu amigo vento não te procurar
É porque multidões ele foi arrastar
E se teu amigo vento não te procurar
É porque multidões ele foi arrastar


“Eternas Ondas” – Zé Ramalho)


Não resisto em, na abertura da crônica de hoje (último domingo de junho/2010), fazer uma pergunta que tem tudo de retórica e nenhum vestígio de cinismo (qualquer que seja o conceito de cinismo: filosófico, moral ou patológico):

Como está sendo e continuará sendo o domingo dos nossos compatriotas alagoanos e pernambucanos vitimados pelas enchentes?

Trata-se de uma pergunta retórica porque eu já sei a resposta ou as respostas possíveis: PÉSSIMO, TRISTE, CHEIO DE LUTO, PERDAS, DE DESESPERANÇA, DE FÉ E ESPARANÇA.


Via de regra, domingo é uma dia especialmente alegre para brasileiros e nordestinos em particular. Mas este domingo... é também um domingo que clama pela nossa solidariedade em doar alimentos não perecíveis, fraldas, água mineral, medicamentos, roupas, cobertores ... e nosso amor ainda que entre lágrimas de tristeza.

Não só nesses momentos de tragédia, mas sempre e sempre, deveríamos - mesmo que não fôssemos zen budistas - visitar nossos armários de quartos, de salas e de cozinha ... e, por certo, constataríamos o quanto esses móveis guardam de coisas que não usamos, nunca usamos nem nunca usaremos ... E daríamos essas coisas abusadas ou sem uso a quem os utilizaria como se utiliza do ar para respirar e viver. Desde, claro que a nossa alma não fosse pequena a ponto de aguardar qualquer contrapartida .. nem mesmo o reino dos céus ou o reino mundano dos holofotes, fotos, dos elogios e dos vitupérios !!!

A letra de Zé Ramalho, “Eternas Ondas”, embalou, compôs uma trilha sonora ainda mais triste e sugestiva de impotência – em minha mente – do episódio do pároco da cidade de Barreiros (Pernambuco) que tocou os sinos da igreja diversas vezes (para que e por quem os sinos dobraram?), visitou casas, gritou e rezou nas ruas ... para alertar aos moradores a tragédia que estava por vir, para pedir que abandonassem suas casas e suas coisas construídas com muito tempo, pouco dinheiro e muito sacrifício. A arca de Noé não estava ali onde aquelas pessoas sempre estiveram, criaram filhos e animais domésticos. E sonharam por dias melhores

Pensei nos quatro elementos terra, fogo, ar e água – uma das lições de nossos mestres gregos.

E – vendo as águas cobrirem as faces das cidades pernambucanas e alagoanas (como in illo tempore cobriram, no Dilúvio bíblico, "a face da terra") – concluí que são extremamente frágeis e impotentes os seres humanos e seus/nossos respectivos avanços tecnológicos (preventivos, proativos e reativos. São frágeis e fracos especialmente quando a água (ou qualquer dos outros três elementos) se abate com fúria sobre nós rompendo barragens que romperam outras barragens ... e avançaram impiedosas e ímpias derrubando homens entre outros animais/devastando produtivos matagais/devorando árvores, pensamentos,/seguindo em frente ...

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