sábado, 12 de junho de 2010

CALCANHOTO(6),CAEIRO E A ROMARIA FUGAZ NA FUGACIDADE DAS CIDADES (Segunda Parte - Final)

CALCANHOTO(6),CAEIRO E A ROMARIA
FUGAZ NA FUGACIDADE DAS CIDADES (Segunda Parte - Final)

Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
Blog http://www.viverascidades.blogspot.com

Calcanhoto e Caeiro são dois caminhantes solitários:



Mais inclinados para Heráclito do que para Parmênides, sentem água diferentes sobre si, depois de cada mergulho no ‘rio’ urbano. Os dois olham a cidade de algum lugar; um das janelas concretas (do carro, do quarto ...), outro das janelas do olhar, dos sentidos. Há quem duvide que os olhos são janelas da alma?
Caeiro e Calcanhoto são testemunhos da velocidade com que as pessoas e as coisas da cidade transitam pelas sua retinas. Velocidade e efemeridade. Tudo, na cidade é rápido e passageiro. Cada momento Caeiro vê o que havia visto antes, seu olhar e o que seu olhar olha têm a nitidez do olhar de um girassol; desta flor que na sua busca frenética do sol vê a falsa nitidez das coisas e das pessoas face a fugacidade da cidade e de tudo o que ela contem.

Calcanhoto vê as cores (esmaecidas, distantes) de Almodóvar e de Frida Khalo ... porque ante a velocidade de fatos, notícias e automóveis, coisas e pessoas têm cores esmaecidas, pastéis. Impossível parar para ver as cores mais nítidas de coisas e pessoas simplesmente. Porque é impossível parar. Parar, corre-se o risco de pensar ... e, segundo Caeiro, “pensar é estar doente dos olhos”

Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...


Quem é ela? A velocidade e efemeridade do mundo urbano criam dificuldades para identificarmos pessoas; “Quem é ela? Quem é ela?” Tudo corre diante do sujeito de “Esquadros”: crianças, automóveis, gentes.

O sujeito de “Esquadros” se deixa levar pelo roldão dos acontecimentos da cidade ... e tal imobilidade móvel. Tão sem controle que o controle não é remoto como aquele aparelho que utilizamos, próximo a nós e dentro das nossas mãos, para mudar de canal quando assistimos TV.

Trata-se, pelo contrário, de um controle remoto controle; remoto no sentido de distante ... longe das nossas mãos. É a câmara que nos vigia e, por antecipação, nos pune ... em supermercados, shopping centers, ruas e praças, ônibus e lojas. ... um panótico foucualtiano contemporâneo.

“Sorria, você está sendo filmado”

No passar rápido da cidade e de tudo quanto ela abriga (e desabriga) existe um presente inalcançável e inapreensível; a presente é efêmero, em nada se fixa, é nômade e nos escapa das mãos.

Assim é a cidade. Assim é nossa romaria fugaz na fugacidade da cidade.

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