EPÍSTOLAS DA TERCEIRA IDADE AOS FEIRENSES (4)
Esses seus cabelos brancos, bonitos, esse olhar cansado, profundo
Me dizendo coisas, num grito, me ensinando tanto do mundo...
E esses passos lentos, de agora, caminhando sempre comigo,
Já correram tanto na vida,
Meu querido, meu velho, meu amigo
Sua vida cheia de histórias e essas rugas marcadas pelo tempo,
Lembranças de antigas vitórias ou lágrimas choradas, ao vento...
Sua voz macia me acalma e me diz muito mais do que eu digo
Me calando fundo na alma
Meu querido, meu velho, meu amigo
Seu passado vive presente nas experiências
Contidas nesse coração, consciente da beleza das coisas da vida.
Seu sorriso franco me anima, seu conselho certo me ensina,
Beijo suas mãos e lhe digo
Meu querido, meu velho, meu amigo
Eu já lhe falei de tudo,
Mas tudo isso é pouco
Diante do que sinto...
Olhando seus cabelos, tão bonitos,
Beijo suas mãos e digo
Meu querido, meu velho, meu amigo
(Roberto Carlos – “Meu querido, meu velho, meu amigo”)
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vicentedeocleciano@gmail.com
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Em dezembro de 1994, coordenei uma Oficina da Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). O produto desta Oficina – “Epistolas da Terceira Idade aos Feirenses” – resultou da contribuição textual sob forma de cartas sobre o passado da cidade de Feira de Santana (Bahia – Brasil) e dirigidas aos moradores dessa cidade, a maior do interior do estado da Bahia.
Pedi que o assunto das cartas fosse o passado de Feira de Santana que ele(a)s testemunharam e viveram: suas lembranças, memórias, recordações desta cidade.
Dezesseis anos depois – quando os participantes estão com dezesseis anos de idade a mais – eis que aqui estamos começando a postar muitas dessas epístolas, utilizando pseudônimos para preservar o anonimato de seus autores 16 anos depois. E, quando a idade em 1994 foi revelada, mencionamos a atual idade: quantos anos o missivista completou ou estará completando este ano, 20
Vicente Deocleciano Moreira
“Há 18 anos, moro em Feira de Santana. Dessa época ainda, tenho sua imagem: uma cidade que crescia comercialmente e industrialmente, com um aspecto triste, sem vida em suas ruas: uma cidade próspera, populosa, constituída de grande número de imigrantes. Daí já existirem, nessa época, alguns conjuntos habitacionais, grande número de escolas e a Universidade recém-fundada, que dispunha de poucos cursos.
Devido a esse crescimento populacional, alguns fatores contribuíram para agravar os problemas nela existentes: o mau aproveitamento do espaço urbano, feito muitas vezes de forma individual, sem integração com o já existente; a falta de estrutura básica para as habitações de baixa renda e a precariedade do sistema e esgotos presentes na parte central da cidade e agravada nos bairros periféricos.
As praças são mal conservadas. A cidade foi e continua carente de áreas verdes, jardins. Por isso, o seu quadro paisagístico se apresenta pesado e em alguns pontos desagradável.
Cabe à “Administração Pública” zelar seu patrimônio, fazendo um trabalho de conscientização popular quanto à importância de serem criados e preservados as áreas verdes e de recreação, principalmente nos bairros periféricos, para que Feira de Santana possa realmente ser chamada de “Princesa do Sertão”.
Maria Geralda Campos Silva, 75 anos – pseudônimo.
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“Caros feirenses:
Em 21 de setembro de 1956, cheguei à cidade de Feira de Santana, em companhia dos meus irmãos e meus pais. Era uma garota tímida, que saiu de um povoado do município de Jacobina sem nenhuma vivência de cidade grande.
Fiquei encantada com a cidade de Feira de Santana, pois achei tudo diferente e muito bonita; os jardins, os prédios de andares, lojas, vitrines, praças, feiras-livres, tudo aquilo era novidade.
Mas, com pouco tempo, fui me adaptando, fiz novos amigos, completei o curso Primário, o Ginasial e o Normal (Magistério), no Colégio Santanópolis.
Feira de Santana era uma grande cidade, calma com praças jardins, coretos, onde os jovens se encontravam para o lazer. As filarmônicas – Euterpe, Vitória e 25 de Março – animavam as festas da padroeira Nossa Senhora Santana durante o novenário. Havia, também,as caminhadas noturnas para apreciar as vitrines do centro da cidade que fazia parte do lazer desse povo.
Os cinemas estavam sempre lotados.
Lembro-me dos grandes comerciantes e políticos Srs. João Marinho Falcão, João Pires, Edyuardo Fróes as Mota e outros, como também dos casarões, cuja memória hoje ficou esquecida e desaparecida no meio do vandalismo, da violência e desrespeito a esta gente.
Fica aqui o meu protesto contra os políticos de hoje que estão deixando esta cidade hospitaleira perder a identidade, a sua calma e toda a beleza de Princesa do Sertão.
Que voltem as praças, jardins e a tranqüilidade da nossa cidade.
Um carinho muito especial a esta cidade”.
Cibele Marques Oliveira – pseudônimo.
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