domingo, 31 de outubro de 2010

VIVALDO E O MACIEL (4) - Vicente D. Moreira

VIVALDO E O MACIEL (4)

Vicente D. Moreira

(continuação)

Artesanato

Em 1979, 113 jovens, a partir dos 10 anos, moradores do Maciel, freqüentavam as aulas do Priograma de Educação-Artesanato; estavam assim distribuídos: 23 na tecelagem, 18 em fibra, 17 em madeira, 11 em cerâmica e 25 na encadernação. Deste Programa, participavam, também 36 alunos residentes em outros bairros do Pelourihno e da periferia de Salvador. (MOREIRA, 1979 : 282-283). Em meio a estas técnicas artesanais, destacava-se a tecelagem de pano da Costa praticada com um tradicioonal tear de madeira, sob o magistério de Mestre Abdias.

Alimentação/Nutrição

Convênio assinado entre a então Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, representada por Vivaldo, e o Programa de Orientação, Nutrição e Alimentação Supervisada (PONAS)do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN)possibilitou que, em 8 de dezembro de 1976 (quando o programa começou), fossem distribuídos açúcar, fubá de milho, fécula e leite num total de 3.490 kg para 360 beneficiários: gestantes nutrizes, lactantes (6 a 11 meses) e pré-escolares (1 a 6 anos). Menos de um ano depois, em maio de 1977, o Programa de Alimentação - como todos chamavam - beneficiava 26 gestantes, 56 nutrizes, 40 lactantes e 550 pré-escolares, ou seja, 712 moradores do Maciel, aumento de ause 100%. Em 1978, o Programa recebeu 56.690 kg de alimentos, que foram distribuídos para 1.384 moradores do Maciel. (MOREIRA, 1979 : 284-285).

Condicionávamos, rigorosamente, a entrega de mantimentos: a) ao comparecimento trimestral do beneficiário ao Posto Médico mantido pela Fundação no Maciel; b) ao pré natal (gestantes) e à orientação quanto aos cuidados materno-infantís (nutrizes); c) freqüência aos consultórios pediátricos e odonto-pediátricos (crianças); d) freqüência a palestras e atividades de orientação nutricional e de uso adequado dos alimentos.

Habitação

Até outubro de 1980, a administração, a Coordenação de Conservação e Restauração e a Coordenação de Planejamento e Pesquisa Social da Fundação estavam espalhadas em diversos prédios; a primeira no sobrado de número 12 no Largo do Pelourinho e as duas coordenações em dois imóveis na Rua Gregório de Matos (Maciel). O Solar Ferrão, cuja restauração foi inaugurada em 13 de novembro de 1980, constituiu-se alternativa
para abrigar todos os setores da instituição e, ao lado disso, o momento eloqüente do nosso Programa Habitacional do Pelourinho (PROHAP). Este, sem dúvida, era o nosso programa igualmente maior e, certamente, a preocupação central de Vivaldo e sua interdisciplinar equipe: sem este programa ou na hipótese de sua desativação nada mais seria que figura de retórica o nosso lema de trabalho e de vida, domingo a domingo: queremos restaurar as casas do Maciel, mantendo os mnoradores, e lhes possibilitando melhores condições de vida, saúde, educação, emprego, habitação, alimentação, lazer ...

Quando a Fundação comprou, do Centro Operário da Bahia, o Solar Ferrão e nele interveio para fins restaurativos, encontrou este importante exemplar de inícios do século XVIII habitado por 150 pessoas reunidas em 46 famílias, além de artesãos, comerciantes, biscateiros ... todos sob as mais precárias condições de habitação, higiene e segurança: pisos apodrecidos, instalações elétricas, hidráulicas e sanitárias irregulares e danificadas.

Assim como projetávamos uso habitacional para os imóveis comprados pelo Governo do Estado, através da Fundação, teria sido inadmissível que o "santo de casa" não fizesse milagre, Daí que ela comprou imóveis desocupados no quarteirão que chamamos 2M, reformados e propiciados de condições habitacionais e sanitárias e de lazer superiores àquelas vivenciadas no Solar Ferrão. As unidades habitacionais destes imóveis foram alugadas aos moradores que desejaram permanecer no maciel, pelo mesmo valor que pagavam, anteriormente, sob condições extremas de insalubridade e insegurança. Aqueles que preferiram mudar para outro lugar receberam indenização.

O Projeto Ferrão inspirou que ambicionássemos o PROHAP para além do vínculo locatício morador/IPAC e, então, cúmplices do sonho brasileiro da casa própria, em 1982, assinamos convênio com o Banco Nacional de Habitação (BNH):

O Projeto Habitacional do Pelourinho é, finalmente, uma realidade. O convênio assinado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia com o Banco Nacional de Habitação, através da Habitação e Urbanização S/A (URBIS) foi saudado com entusiasmo pelo diretor executivo do IPAC, por seus técnicos e pelos moradores do Maciel que estiveram presentes no ato no salão nobre do Solar Ferrão. Assinalando que o convênio representava algo de novo na tradição do BNH, "que em boa hora e numa investida pioneira em todo o Brasil, decidiui ancampar o projeto", o professo Vivaldo da Costa Lima disse que o ato representava um "contrato de esperança para a população sofrida do Maciel", além de atender a toda proposta política do IPAC: restaurar para a comunidade. (ESPERANÇA ...: 1982)

(amanhã, segunda, mais detalhes deste sonho cuja realização não sobreviveu mais que o tempo de uma flor)

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