domingo, 3 de outubro de 2010

O ALABAMA, um jornal crítico e chistoso (2)

O ALABAMA, um jornal crítico e chistoso (2)

(continuação da Nota Introdutória)

"Alabama", segundo se pode concluir da leitura dos exemplares, é o nome de uma embarcação mítica (no caso, uma caravela)que ancorou no porto e anda na terra firme de Salvador, a partir de 1863, para denunciar e "vencer" os ladrões, indiscriminadamente, que agiam nesta cidade apelidada "Latranópolis" pelo jornal ("O Alabama").

"O Alabama", pelo menos até e década de 70 (século XIX), teve formato de 25cm x 18 cm; nos anos 80 estas dimensõews foram ampliadas. Seu título completo é "O Alabama - peíódico crítico e chistoso, bi-semanal. Cidadae de Latranópolis; bordo do Alabama". Na cabeça da primeira folha aparece em desenho chapado a figura de uma caravela, ou seja, a embarcação que deu o nome ao jornal. Há, nos exemplares, caricaturas e ilustrações outras de raro valor histórico e artístico. "O Alabama" começou a ser publicado na "Tipografia do Interesse Público" até fevereiro de 1864, quando esta publicação passou para a responsabilidade da "Tipografia Marques, Aristides & Com", na rua da Misericórdia, 17.

Em 1883, já apresentando dimensões superiores a 25cm x 18cm "O Alabama" suspendeu a circulação, por motivos que não foram conhecidos, só reaparecendo em novembro de 1890O levantamento, realizado no acervo do Instituto Histórico Geográfico e Histórico da Bahia encontrou exemplares de 1863 a 1871 e, daí, somente edições de 1877 quando, ao que parece, terminou a coleção do referido instituto. Em suma, esta coleção, ao que parece, não dispõe do conjunto de edições do "O Alabama" referente ao período 1872 a 1876 e a partir de 1878.


Em sua edição de 16 de dezembro de 1863, "O Alabama" - "um jornal crítico e chistoso", segundo seu próprio subtítulo - publicou versos que dão um sentido, por assimn dizer, cripto-épico à história da embarcação, ou melho, do jornal:

"LA VAE VERSO

Havia n'uma cidade
De ladrões grossa fornalha
Ingleses, francos, brasílicos
De luso toda a canalha

Trafico humano fizeram
Moeda falsa importaram
Contrabando em larga escala
E mil roubos praticaram

Foram uns barões somente;
Um eh duque outro eh marquez;
Tem este encomendo no peito
Com um outro que nada fez

Ora aquelle he proprietário
Aquelle outro eh já banqueiro
Roubam todos e são grandes
O quem rouba tem dinheiro

O negreiro, o vil falsário
tem comendo sahe barão! ...
Faminto pobre as galés
La vae, por furtar um pão! ...

Santo tempo em que na cruz
Se pendurava o ladrão
Não era quem mais roubava
O primeiro a ser barão

Formava, porém, tal gente
O commercio da cidade
Infeliz daquelle povo!
Triste dessa humanidade!

Como viver poderia
Assim a gente a soffrer?
Sem ter quem della cuidasse
Se quem lhe fosse valer?

Vendo isto a Alabama
Para tal porto arribou,
E de dar cabo a sucia
Pelos seus deuses jurou

E eil-o pois, no posto firme,
A pique tudo a metter;
Quem for ladrão cubra as costas
Q'Alabama ha de vencer."


Na edição do dia 21 do mesmo mês e ano, "O Alabama" publicou um,a advertência que pode ser considerada, de algum modo, um atestado ideológico do jornal:

"O Alabama não é um ladrão; he inimigo acérrimo dos ladrões! Cosmnopolita, não tem por tanto contemplação com nacionalidade alguma, nem com partidos políticos oude qualquer natureza onde houver ladrões, ahi achar-se-ha.

Deesperado de seguir o systema de Diogenes, por não ter encontrado um homem, atira a lanterna ao diabo, e fechando os olhos, o primeiro que conseguir agarrar tem de ser chamado á contas. Não ha a escolher na cidade de Latronópolis. Preparem se pois, que o Alabama anda em viagem por terra.
Infeliz de quem com elle abalroar".



(amanhã, segunda-feira, continua a Nota Introdutória)

Nota do Blog

Conta-se que, em pleno meio dia, o sábio Diógenes procurava algo, aqui e ali, comm uma lanterna na mão. Um curiso teria, então, lhe indagado: "Sábio, o que estás a procurar com uma lanterna acesa num dia tão claro?". Ao que Diógenes responder: "Estou a procurar um homem honesto."

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