sexta-feira, 29 de outubro de 2010

VIVALDO E O MACIEL (2) - Vicente D. Moreira

VIVALDO E O MACIEL (2) - Vicente D. Moreira

(continuação)


A exemplo do que ocorre no teatro e no cinema, onde um diretor dirige os atores, numa instituição pública, numa empresa particular, há diretores e estes dirigem, regem os profissionais que atuam, que agem (atores). Pensar Vivaldo e o Maciel é pensar Vivaldo como o diretor de um grande projeto social, envolvendo o Maciel e demais áreas do Pelourinho e diversas cidadees do interior da Bahia.

Um grande projeto social que dava conteúdo humano à restauração arquitetônica dos imóveis, à pesquisa história e à pesquisa social; pensar professores, arquitetos, bibliotecárias, sociólogos, desenhistas, maestros, assistentes sociais, músicos, diretores de teatro, historiadores, restauradores, fotógrafos, economistas ... é pensá-los como importantes atores do projeto social que durante muito tempo ajudou os moradores do Maciel a construírem suas próprias esperanças de permanecer no Maciel, no Pelourinho, sonhos possíveis de elevação da qualidade de vida, de emprego, de cidadania enfim; de um projeto social. O ofício e a paixão daqueles profissionais pelo trabalho que estavam fazendo no Maciel, davam respaldo às ações políticas externas e de resistência contra interesses poderosos ...

Estou convicto que foi absolutamente ímpar, a experiência humana - além de profissional - que cada um de nós bibliotecários, fotógrafos, maestros, professores, diretores de teatro, sociólogos, músicos, economistas, arquitetos, historiadores, antropólogos, desenhistas, restauradores, assistentes sociais ... vivemos no Maciel e com a população do Maciel.

Depois do Macie, o que quer que tenhamos feito e onde o tenhamos realizado, creio que nada superou a experiência com o Maciel, sua gente, seus incontáveis probelmas, suas esperanças sem limite. O Maciel foi, antes de tudo e com a licança do lugar comum, uma escola. Uma escola que bastaria nos ter ensinado apenas a lição de acreditar na possibilidade de mudança do ser humano pela educação e já teria sido tudo; e se este lugar comum dificulta a tradução de um sentimento diremos que o Maciel foi uma sinfonia que, enquanto durou e se muito durou, é porque foi regida por um maestro singular: Vivaldo da Costa Lima.

As várias gerações de sociólogos, antropólogos, arquitetos e tantos outros profissionais vda Fundação do Patrimônio Artísitico e Cultural da Bahia mostraram, urbe et orbe, a tragédia avassaladora do preconceito contra um lugar, um território, um espaço de vida: o Maciel. Preconceito que ajudou a manter - décadas após décadas - esgotos a céu aberto, cortiços como diríamos hoje, abaixo da linha da pobreza e da humanidade - crianças roídas por rato, lixo às toneladas de descuido, miséria, drogas, exploração, doenças, abandono, violência de todo o tipo e desesperança.

A ação da polícia de Costumes, através de métodos violentos forçou continuamente o "confinamento" da população em áreas determinadas ... como forma eficaz de controloe, a prostituição é obrigada a circunscrever-se a um espaço sendo classificada para a "proteção" da população. O Maciel tornou-se uma destas áreas, socialmente condenada, chegando através de racionalizações, a ser considerada uma subcultura, uma comunidade. (BACELAR, 1979 : 136)

Ainda ressoa em nossas mentes a frase, uma obstinação mais que um projeto de vida, que escrevíamos tanto quanto falávamos noMaciel, em outros locais de Salvador e emvárias outras cidades do Brasil e deste vasto mundo: queremos restaurar as casas do Maciel, mantendo os moradores, e lhes possibilitando melhores condições de vida, saúde, educação, emprego, habitação, alimentação, lazer ...

(continua amanhã, sábado)

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