quinta-feira, 21 de outubro de 2010

JUVENTUDES, DIVERSIDADE E CIDADANIA (3 - FINAL)

JUVENTUDES, DIVERSIDADE E CIDADANIA (3 - FINAL)

I – Jovens mães

Em 2007, a proporção de mulheres adolescentes de 15 a 17 anos de idade com filhos era de 6,3% - na verdade, os mesmos patamares de dez anos atrás. O Norte, Centro-Oeste e Nordeste concentraram as proporções mais elevadas: 9,4%, 7,7% e 7,5% respectivamente. No Sul e no Sudeste, as mais baixas, as duas com 5%.

II – Analfabetismo

Cinquenta e dois por cento (maior percentual) do total de analfabetos brasileiros de 15 anos de idade estão no Nordeste. No Brasil, em 2007, havia 14,1 milhões de analfabetos com 15 anos (ou mais) de idade, expressando uma taxa de 10%, menor do que em 1997 cuja taxa foi de 14,7%

Em 1997, 12% da população de 15 a 24 anos era analfabetos. Esse percentual foi reduzido, em 2007, para 5,3%. Porém, Norte (6,0%) e Nordeste (6,5%) apesar de terem também experimentado essa mesma redução, de modo expressivo, ainda assim têm taxas que são quase o dobro das apresentadas pelas demais regiões brasileiras.

Em 2007, do total de pouco mais de 14 milhôes de analfabetos, no Brasil, cerca de 9 milhões (mais da metade) eram negros e pardos. Neste quadro, a taxa de analfabetismo da população branca era de 6,1% para jovens de 15 anos ou mais de idade; nessa mesma idade, negros e pardos apresentavam taxa de 14% (mais que o dobro da taxa referente aos brancos)


III – Analfabetismo funcional

Chamamos analfabeto funcional a pessoa que lê. Minimamente, letras, números, frases, textos ... mas não têm capacidade de interpretar textos ou de fazer operações matemáticas simples

Em 2007, do total de 28,3 milhões de crianças de 7 a 14 anos de idade (oficialmente em idade de estarem alfabetizadas) 2,4 milhões não sabiam ler e escrever; dentro destes 2,4 milhões, 2,1 milhões (87,2%) freqüentavam a escola. Duas grandes preocupações surgem dessa informação: 1) essa faixa etária corresponde ao Ensino Fundamental hoje praticamente universalizado para 97,6% dos jovens brasileiros; 2) dos 2,1 milhões, 7 a 14 anos de idade, que não sabiam ler (2007), apesar de freqüentarem a escola, 1,2 milhão residiam no Nordeste. Freqüentar aulas nem sempre significa receber ensino de qualidade.

Comparando os dados de 2007 com os de 1997, houve redução da taxa de analfabetismo funcional mais expressiva para jovens pardos e negros que para brancos. Isto porém não significa superação das desigualdades entre os dois grupos de jovens porque a referida taxa, em 2007, foi de 16,1% para jovens brancos e de 27,5% - mais que o dobro, portanto – para negros e pardos.

IV - Idade inadequada

O percentual de estudantes em idade inadequada (15 a 17 anos) para o nível médio aumentou de 28,6% (1997) para 48% (2007). Apesar disso, a frequência à escola cresceu, com muita força, de 1997 para 2007. Entre crianças de 0 a 6 anos, cresceu de 29,2% (1997) para 36,5%. (2002) e daí para 44,5% em 2007. Em 1997, 77,3% de jovens entre 15 e 17 anos de idade freqüentavam a escola; esse percentual subiu para 82,1% em 2007.

V - Frequência à escola

Do total de jovens brasileiros, entre 18 e 24 anos de idade (os adultos jovens) , 30,9% disseram que freqüentavam a escola quando, se não fossem as desigualdades sociais que marcam as juventudes brasileiras, eles deveriam estar na universidade. Longe disso, mais da metade deles (57,6%) cursavam ainda o ensino fundamental, médio ou pré vestibular, supletivo ou alfabetização de adultos. Na outra margem, menos da metade, 42,4% estavam cursando graduação ou pós graduação. O “consolo” é que, dez anos atrás (1997) este último percentual era quase a metade: 21,5%.

A distribuição por cor ou raça da população na faixa etária entre 15 e 24 anos, que freqüenta a escola, apresenta o seguinte quadro:

► grupo etário entre 15 e 17 anos:
Jovens branc@s – cerca de 85,2% estavam estudando, sendo que desse total 58,7% deles freqüentavam o nível médio de modo adequado a essa faixa etária.
Jovens negr@s – 79,8% freqüentavam a escola, mas apenas 39,4% cursavam o nível médio.

►grupo etário entre 18 e 24 anos
Jovens branc@s – 57,9% freqüentavam curso universitário.
Jovens negr@s e pard@s – aproximadamente 25% freqüentavam curso universitário


VI - Anos de estudo

Apesar de a média de anos de estudo d@s jovens entre 10 e 17 anos de idade ter aumentado, em todas as faixas etárias, no período 1997 – 2007, a média não atingiu os 4 anos de estudo completos para crianças com 11 anos de idade. Essas crianças apresentaram apenas 3,3 anos de estudo; as de 14 anos, somente 5,8 anos quando deveriam ter no mínimo 7 anos de estudo; os jovens de 17 anos de idade tiveram 7,9 anos de estudo quando é esperado 10 anos de estudo.
Ainda quanto aos anos de estudo (população de 15 anos ou mais) , o estudo do IBGE (BRASIL, 2008 ) aponta que a média apresenta vantagem de dois anos para jovens brancos (8,1 anos de estudos) em relação a negros e pardos (6,3 anos de estudos)

VII – Acesso à universidade

Sem muita variação entre as regiões brasileiras, em 2007 a taxa de freqüência a cursos universitários para jovens branc@s entre 18 e 25 anos foi de 19,4%. Jovens negr@s e pard@s, nessa mesma faixa etária, tiveram taxa quase três vezes menos: 6,8%; alias, estes jovens sequer alcançaram a mesma taxa que, em 1997, valeu para jovens branc@s.

Essas desigualdades no acesso e na conclusão de cursos universitários tendem a se agravar. Isto porque se em 1997 9,6% @s jovens branc@s tinham nível superior, apenas 2,2% de jovens negr@s e pard@s tinham esse nível de instrução, em 2007 esses percentuais totalizavam 13,4% em favor d@s branc@s e 4,0 para negr@s e pard@s. O quadro fica mais preocupante ao concluirmos que o ‘fosso’ que separa esses dois grupos de jovens cresceu de 7,4% (1997) para 9,4% (2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados estatísticos que acabemos de expor, mesmo apenas restritos à realidade da educação no Brasil são capazes de se somarem aos textos e avaliações qualitativas para reforçar a constatação de que, por forças das desigualdades sociais gerais da sociedade brasileira e aquelas que atingem especificamente seus jovens, temos que substituir a singularidade e a idealização da JUVENTUDE pela dura realidade concreta das JUVENTUDES plurais e desiguais no acesso è educação, à informação, na gestão das próprias vidas afetivas e sexuais, na cor da pele. JUVENTUDES, notadamente aquelas atingidas pelas variadas formas de exclusão social, incluem nas pautas de luta de seus cotidianos exposto às condições insalubres e limitantes de aprendizagem, de inserção no mercado de trabalho, e de desempenho de atividades de lazer ... mas que lutam e, com isso, ajudam no combate às desigualdades sócias e na conquista da cidadania.

Andrade e Farah (2007, p. 55-56) trazem importante contribuição ao nosso texto instrumental:

Pensar no processo de juventude e em condição social juvenil significa, necessriamente, pensar em um conjunto de processos de diferenciação. No Brasil, a situação dos jovens perante o sistema educacional é um deles. A escolaridade, relacionada com a faixa etária, opera importantes diferenciações juvenis, especialmente se cotejada com a situação de vida das famílias dos jovens – determinada, principalmente, pelo status socioeconômico -, com sexo, cor, local de moradia, clivagens intergeracionais etc. Sem dúvida, não é possível se pensar em juventude como uma categoria independente do contexto no qual ela toma sentido 9CHAMPAGNE, 1996). Assim, o processo de escolarização constitui hoje, sem dúvida, um espaço importante de sentido, que explicita, de forma incisiva, desigualdades e oportunidades limitadas que marcam expressivos grupos de jovens brasileiros. Ao mesmo tempo, é um espaço fundamental de reflexão e luta por direitos.
O cantor e compositor Gonzaguinha comparece para enriquecer nosso hálito de esperança e de sonho possível por uma sociedade brasileira mais justa e mais igual.



ACREDITO NA RAPAZIADA

Gonzaguinha

Composição: gonzaguinha

Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói
A manhã desejada
Aquele que sabe que é negro
o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos pelaí...
Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou á luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói
A manhã desejada
Aquele que sabe que é negro
o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos pelaí...
Eu acredito é na rapaziada



REFERÊNCIAS

ANDRADE, Eliane Ribeiro e FARAH, Miguel (Neto). Juventudes e trajetórias escolares: conquistando o direito à educação. ABRAMOVAY, Miriam, ANDRADE, Eliane Ribeiro e
ESTEVES, Luiz Carlos Gil (org). Juventudes: outros olhares sobre a diversidade. 1ª ed. Brasília, UNESCO/SGPR/SNJ/ME, 2007.

BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos etno-antropológicos / Introduzione agli studi etno-antropologici / Trad. A.C. Mota da Silva. Lisboa, Ed. 70, São Paulo, Martins Fontes, 1974.

BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Síntese de Indicadores Sociais – 2008. Brasília, DF, 2009.

DAVIS, Allison. A socialização e a personalidade juvenil. BRITO, Sulamita de (org). Sociologia da juventude II. Rio de Janeiro, Zahar, 1968.

GENNEP, Arnold van. Ritos de passagem ... / Les rites de passage/ Trad.Mariano Ferreira. Petrópolis, Vozes,. 1977

TURNER, Victor W. O processo ritua: estrutura e anti-estrutura. Petrópolis, Vozes, 19

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