quinta-feira, 4 de novembro de 2010

À CIDADE COM CARINHO - PARIS/DANUSA LEÃO (2-FINAL)
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Depois de Paris

(continuação)


Meu bairo, minha cidade

Um dos primeiros capítulos do livro de Colin Jones se chama "Dos Primórdios do Ano Mil". Eu, que modestamente conhecí Paris em 1952, não vou chegar nem perto do que diz o autor.

Mas vou falar que aconteceram no meu bairro que ele talvez desconheça e dar a terrível notícia: Saint-Germain-des-Prés está acabando.

Lembro quando, na esquina da rua de Rennes com o bulevar St Germain, havia um café que foi demolido e ali surgiu um drugstore. Foi uma grita geral, mas aos poucos os parisienses foram se acostumando.

A drugstore tinha uma ou duas salas de cinema pequenas, livraria, delicatessen, loja de pequienos presentes de última hora, jornaleiro, fechava às duas da manhã e era passagem obrigatória ante de ir para casa.

O tempo passou, Armani comprou o ponto, e outra grita: ninguém precisava de Armani no "quartier" [bairro]. E Saint-Germain, que era um típico pequeno bairro com lojinhas, foi se transformando.

O hotel onde fico sempre, na esquina da rua de Seine com o bulevar Saint-Germain, tinha bem na frente uma peixaria. Fechou. Na pracinha de Saint-Germain, em frente à igreja mais antiga de Paris, que data do século 6º, foi aberta uma loja Louis Vuitton - isso merecia um processo.

A Cartier já está instalada na rua Saint-Benoit foi aberto um desses detestáveis hotéis butique chamado Bel-Ami, tudo que pode haver de mais moderno no seu pior sentido, e na rua de Buci, um outro que, de tão moderno e horrendo, dá vontade de chorar.

Não é Nova York

A farmácia que fica aberta até tarde no largo do bulevar, rua de Rennes, rua Bonaparte, da última vez que vi estava com algumas prateleiras vazias, um mau sinal, a tradicionmal Maison de L'Orient et Chine, coberta de tapumes e, para completar, na esquina da rua des Saint Péres está anunciada num desenho garrafal a próxima abertura de Ralph Luren.

Essa loja que combina tão bem na Madison, em Nova York, não podia ficar lá mesmo e deixar Paris em paz?

Numa cidade que tem, ali pertinho, a Sorbone, fundada no século 13, é revoltante que coisas como essas aconteçam e desfigurem a cidade mais linda do mundo.

Paris, que em 1962 passou por uma limpeza total e, no lugar de cinza, voltou a ser branca e bege, não deveria ceder assim ao império das grandes marcas, que nem francesas são.

Por volta do ano 2000, houve um movimento em prol de Vieux Paris [Velha Paris], para conservar as velhas construções. O preeito Bertrand Delanoë quis conservar Paris como ela é e propôs a construção de edifícios de mais de 200 metros de altura nos arredores da cidade, mas uma consulta pública mostrou que os parisienses não concordaram com a idéia.

Minha tristeza maior é com meu bairro; na rua de Seine, no lugar onde existiam ao lado da peixaria, pequenos comércios como a "fromagerie" que vendia laticínios e todos os queijos que se possa imaginar [com direito a uma consultoria, se era para comer naquela noite ou no almoço do dia seguinte], a "cochonerie", com patês e saucissons [embutidos] de todaa as procedências, o boulanger [padeiro] da esquina, que foi vendido à cadeia Paul, e por aí vai.

É natural que um pequeno comerciante se sinta tentado a passar seu ponto por um caminhão de dinheiro, sem nem pensar que com isso está ajudando na degradação de sua cidade, mas é triste.

Café de Flore - bairro Saint-Germai-des-Prés - Paris - França


Por enquanto, ainda contamos com a Brasserie Lipp, o Café de Flore, o Deux Magots e as livrarias La Hune e L'Écume des Jours. Mas, se qualquer delas tombar, só nos restsrá csntsr s csnção que cantava Juliette Grécco: "Il n'y a plus d'après à Saint-Germain-des-Prés' [não há mais depois em Sait-Germain-des-Prés], pois aí todos nós teremos morrido um pouco

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