domingo, 12 de setembro de 2010

MUNDO VASTO MUNDO - A saga dos mineiros do Chile.

A saga dos mineiros do Chile: um dia típico sob a terra


Após um mês, trabalhadores chilenos permanecem a 700 metros de profundidade

No último dia 5 de agosto, 33 trabalhadores entraram na mina San José, perto de Copiapó, no norte do Chile, para o que seria um turno de oito horas de trabalho. Mais de um mês depois, porém, continuam a 700 metros de profundidade, presos sob a terra após um desmoronamento que ocorreu naquela quinta-feira e bloqueou a entrada da mina.

Faltando ainda algumas semanas para o dia em que finalmente sairão das profundezas e reencontrarão suas vidas na superfície, os mineiros encaram obrigações diferentes daquelas que os levaram para o local que agora têm como casa – mas ainda cultivam uma rotina de tarefas.

– Eles já passavam entre 10 e 12 horas lá embaixo. É isso que os psicólogos têm reforçado: este é um turno longo, muito longo de trabalho – observa o médico André Llarena.

Confira como é um dia típico na vida dos trabalhadores da mina San José:

MANHÃ

Nascer do “sol”

O dia nas profundezas da mina San José começa às 7h30min, momento em que uma fraca luminosidade tira os mineiros da completa escuridão. A iluminação vem de um equipamento formado por uma série de lâmpadas e alimentado por baterias de caminhão e geradores portáteis, improvisado por um dos mineiros, o eletricista Edison Peña. Assim, eles têm entre oito e 12 horas diárias de luz, para forjar a sensação de dia e noite.

Refeição matinal

O café da manhã começa a chegar às 8h30min, pelas perfurações que ligam a superfície ao local onde estão os mineiros. Na ponta do buraco, três trabalhadores recebem os tubos de metal com três metros de comprimento cheios de comida (geralmente, garrafas de água e sanduíches quentes, como na foto acima), remédios e cartas dos familiares. O procedimento dura cerca de uma hora. Depois disso, os homens colocam suas cartas no tubo, que então, lentamente, sobe para a superfície.

Faxina

Após o café da manhã, os homens limpam a mina.

– Eles sabem como manter o local limpo. Designaram áreas distintas para usar como banheiro e descartar o lixo. Estão até reciclando. Separam os plásticos dos orgânicos em buracos diferentes – diz o médico André Llarena, da marinha chilena.

Banho

Os mineiros conseguiram driblar a falta de chuveiros. Para tomar o banho matinal, eles precisam subir em um veículo que os leva a um ponto da galeria distante 300 metros de onde ficam. Lá, há uma espécie de “cascata” (resultado da infiltração de água na mina). Os trabalhadores contam com produtos de higiene pessoal enviados pelas equipes da superfície.

Tarefas diárias

Vencidas estas etapas, os mineiros começam a cumprir tarefas de rotina, algumas sob instrução da equipe de resgate, outras determinadas pelo próprio grupo preso sob a terra. No geral, cada mineiro assumiu um papel diferente.




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Patrulhas de segurança

Um grupo de homens reforça as paredes da mina e acaba com infiltrações de água perigosas nas galerias. Alguns mineiros fazem patrulhas à procura de sinais de possíveis desmoronamentos. Outros retiram grandes pedaços de rocha que ameaçam cair do teto. O que os mineiros mais temem é que mesmo a queda de uma pequena pedra possa ocasionar um grande desmoronamento, deixando-os confinados a um espaço ainda menor.

Ronda de saúde

Quando sonhava em ser médico, Yonni Barrios nunca imaginou que seu desejo se realizaria a 700 metros de profundidade. Com treinamento avançado em primeiros socorros, é ele quem observa o estado de saúde dos colegas na mina e faz relatórios repassados à equipe médica do governo chileno, em uma “reunião” diária por telefone. Até o momento, micoses, dores de dente, problemas de pele em geral e prisão de ventre têm sido os problemas mais frequentes.

Quando um mineiro passa a ser considerado “doente”, seu nome é transferido para uma categoria chamada “unidade de terapia intensiva”. Barrios já vacinou todo o grupo contra difteria, tétano e pneumonia. Ele anda tão ocupado administrando remédios e atualizando os prontuários de seus pacientes que pediu ajuda para Daniel Herrera, que ganhou o cargo de assistente.

Equipe de comunicação

A “equipe de mídia” da mina é formada por Florencio Ávalos, o cinegrafista oficial, e dois engenheiros de som, Pedro Cortez e Carlos Bugueño. Eles têm a tarefa de gravar os vídeos e manter as linhas de telefone funcionando.

Condições da mina

Jymmi Sánchez, 19 anos, é o “assistente ambiental”, que caminha pelas galerias com um equipamento computadorizado que mede os níveis de oxigênio, dióxido de carbono e a temperatura na mina. Ele envia diariamente um relatório para a equipe de resgate.

Trabalho futuro

Daqui a cerca de três semanas, quando uma outra perfuratriz começará a aumentar o buraco por onde será feito o resgate, os mineiros terão de retirar, por hora, uma quantidade de rocha e terra estimada em 500kg que cairá do local da perfuração.



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TARDE

Almoço

Às 12h, é iniciada a entrega da comida quente para o almoço dos mineiros. Dura entre 60 e 90 minutos.

Reunião e prece

Ao terminar de almoçar, os mineiros têm uma reunião geral – é quando começam suas orações diárias, sob a liderança de José Henríquez, nomeado o “padre oficial” do grupo.

Notícias de cima

É no início da tarde que, geralmente, são realizados os telefonemas e as videoconferências.

Descanso e lazer

Depois do almoço, os mineiros estão livres para relaxar. Grande parte deles passa a tarde escrevendo cartas aos familiares, usando as lâmpadas de segurança de seus capacetes. Além disso, eles pediram livros, blocos de rascunho e tocadores de MP3 para passar o tempo.

Vida cultural

Com as necessidades básicas agora totalmente supridas, os homens decidiram também definir os “cargos culturais” sob a terra. Víctor Segovia é o biógrafo oficial do grupo, anotando os acontecimentos desde o primeiro dia em que estão presos na mina, em um esforço para registrar todos os infortúnios dos mineiros. E, em um país de escritores vencedores do Nobel, como Gabriela Mistral e Pablo Neruda, não chega a ser surpreendente que o grupo tenha nomeado até um “poeta oficial”, Víctor Zamora. Suas palavras – uma combinação de esperança, gratidão e humor – estão entre as mais lidas na superfície.

NOITE

Novos prazeres

Os psicólogos passaram a permitir alguns prazeres extras aos mineiros. No início da semana, os 33 trabalhadores se reuniram para assistir a sua primeira partida de futebol, em que a seleção do Chile perdeu para a Ucrânia por 2 a 1. O ex-jogador Franklin Lobos improvisou os comentários.

Fim da jornada

Às 22h, as luzes estão apagadas, e os mineiros preparam suas camas – colchões infláveis enviados da superfície. Antes de pegar no sono, os 33 homens estão certos de que, ao menos, na pior das hipóteses, a maior saga de suas vidas foi encurtada em mais um dia.


APF
: um dia típico sob a terra
Após um mês, trabalhadores chilenos permanecem a 700 metros de profundidade

No último dia 5 de agosto, 33 trabalhadores entraram na mina San José, perto de Copiapó, no norte do Chile, para o que seria um turno de oito horas de trabalho. Mais de um mês depois, porém, continuam a 700 metros de profundidade, presos sob a terra após um desmoronamento que ocorreu naquela quinta-feira e bloqueou a entrada da mina.

Faltando ainda algumas semanas para o dia em que finalmente sairão das profundezas e reencontrarão suas vidas na superfície, os mineiros encaram obrigações diferentes daquelas que os levaram para o local que agora têm como casa – mas ainda cultivam uma rotina de tarefas.

– Eles já passavam entre 10 e 12 horas lá embaixo. É isso que os psicólogos têm reforçado: este é um turno longo, muito longo de trabalho – observa o médico André Llarena.

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