FEIRA DE SANTANA (BAHIA - BRASIL) NO TEMPO DO CÓLERA (1)
Vicente Deocleciano Moreira
A intertextualidade entre a Literatura (Gabriel Garcia Marquez - "O Amor no tempo do Cólera" e Thomas Mann - " A Morte em Veneza") e a História dá destaque a este artigo.
A história da morte em uma cidade, em uma comunidade, não é a soma das mortes dos indivíduos "isolados" ou nos respectivos grupos sociais, mas as mortes coletivas, marcadas pelas epidemias, pelos desastres, tragédias ... que, numdeterminado período, causam comoção comunitária, ocupam os noticiários e as conversas de bares e esquinas. Essas conversas são, enfim, capazes de mobilizar grandes massas e envolver, além de comprometer, todos - parentes ou não -das vítimas, conhecidos ou desconhecidos dos mortos.
Há 155 anos (1855), Feira de Santana era tomada pelo pânico diante de um acontecimento epidêmico de Cólera. Mortes, desespero, fugas ... e uma cidade abandonada e impotente para combater a epidemia. No dia 19 de agosto de 1855, registraram-se as primeiras vítimas fatais em Feira de Santana.
(Avenida Senhor dos Passos no século XIX - Feira de Santana)
O Cholera Morbus (Cholera Asiático)é uma doença infecciosa e aguda, geralmente de ação epodêmica e manifesta-se através de vômitos, diarréia, arrepios, câibras e lividez.
Tem caráter epidêmico toda doença acidental, transitória, infecciosa que, na maioria dos casos, atinge um grande número de pessoas (ricas ou pobres, brancas ou negras) ao mesmo tempo e no mesmo lugar.
Este texto está entremeado de citações extraídas do livro O Amor no tempo do Cólera do romanciosta colombiano Gabriel Garcia Marquez e do conto " A Morte em Veneza" do escritor alemão Thomas Mann. Garcia Marquez utilizou episódios ligados à epidemia de Cólera na cidade de Cartagena das Índias (Colômbia). Mann escreveu sobre a paixão de um homem maduro por adolescente na Veneza do século XIX, assutada pelo Cólera.
O levantamento de informações sobre a epidemia de Cólera (1855), em Feira de Santana, foi realizado em 1990 pelas então estudantes de História da Universidade Estadual de Feira de Santana: Emília Maria Ferreira da Silva e Rita Soraya Barbosa de Almeida.
Mil oitocentos e cinquenta e cinco foi o ano da Cólera na Bahia. Os primeiros casos foram registrados no então povoado (hoje bairro) do Rio Vermelho, em 21 de julho. A epidemia se fez presente depois em Cachoeira, Santo Amaro, Itaparica, Valença, Nazaré das Farinhas; seguiu a direção Norte até Geremoabo, o Sul até Barra do Rio de Contas ... e chegou a Feira de Santana. Na região feirense, os primeiros eventos foram conhecidos em 19 de fevereiro de 1855, com três vítimas fatais. No dia seguinte, a Câmara Municipal reuniu-se, deu conhecimento oficial da ocorrência ao governo da Bahia e designou o cirurgião José Caetano Alvimpara o tratamento dos enfermos.
"O número de casos da doe~ça, de mortes, se eleva a vinte, a quarenta, mesmo a cem e mais e, logo depois, qualquer existência da epidemia, quiando não desmentida ca0tegoricamente, era atribuída a casos isolados trazidos de fora." (MANN, p. 151)
Cercada por lagoas, rios e nascentes, Feira de Santana, na expressão da Medicina da época, atribuía a oridem da doença aos miasmas, gases que eram inalados pela população, efluídos dos espelhos d'água, nascentes, aguadas e canaletas que irrigavam as hortas. No entanto, os produtos hortifrutigranjeiros continuavam sendo comercializados na feira-livre do centro da cidade e consumidos pela população sem maiores suspeitas.
"Porém, provavelmente, os alimentos tinham sido infeccionados, as verduras, a carne ou o leite, pois, desmentida e encobertamente, a morte devorava nas estreitas ruas e o calor veranil prematuro, que aquecia as águas dos canasi, era especialmente favorável à propogação" (MANN, p. 160)
Enquanto aguardava providências de Salvador e a própria extinção da epidemia, a Câmara Municipal de Feira de Santana tomava as medidas possíveis e limitadas pela Medicina da época: pagava homens para que fizessem fogueiras com arbustos aromáticos
para, atrtavés da expansão dos odores, prevenir contra o avanço do Cólera, chegando, em setembro de 1855, cada homem receber 11 mil réis. No conjunto dessas medidas, a Câmara designou o boticário (farmacêutico, dono de farmácia) Victorino José Fernandes Gouvêa, a fornecer medicamentos par pacientes pobres mediante receita assinada pelo cirurgião José Caetano Alvim. Em 3 de novembro de 1855, o boticário enviou ofício à Câmara recusando qualquer recompensa pelos serviços prestados ao combate na epidemia.
(Continua amanhã, quinta-feira, 9 de setembro/2010)
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