CRÔNICA DOMINICAL DE 19 DE SETEMBRO DE 2010
QUAL A COR DO DOMINGO?
Domingo tem cor? Dias da semana têm cores?
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...
Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...
Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu...
Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Brando navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul...
Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...
Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...
Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...
De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...
Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...
Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá)
(“Aquarela”, de Toquinho e Vinicius de Moraes)
Vicente D. Moreira
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Quando nossos pensamentos e nossas fantasias nos fazem imergir numa aquarela, numa aquarela dominical para ser mais preciso, a subjetividade voa, corre e navega solta no universo das nossas emoções. Qual seria, pois, a cor do domingo? Teria uma só cor, uma cor predominante ou diversas cores, distribuídas igualmente - ou não - numa ampla aquarela ...?
Penso que o domingo é, efetivamente, colorido.
1 - Apelando para a narrativa bíblica da criação do Universo por Deus, direi que, nos momentos que se seguem às trevas que cobriam a face do mundo, ou seja no day after do Fiat Lux (“Faça-se a Luz) divino, tudo o que estava mergulhado na escuridão ganha, por justiça, todas as cores a que tudo tem direito.
2 – Quando amanhece e prossegue chovendo, o domingo tem as matizes cinzentas permitidas pelo acordo entre o sol e as nuvens carregadas.
3 – Quando amanhece e prossegue fazendo sol, a nossa “estrela rainha” faz com que tudo sejam cores.
Mas há também as cores do nosso mundo interior que não têm qualquer obrigação de ser espelho do que se passa “lá fora”, “fora” de cada um de nós. O interior pode até negar o exterior – e vice-versa.
Bem. Para mim se há um dia amarelo este é domingo – mesmo quando é cinza “cá” dentro ou “lá” fora. Para outras pessoas que têm tempo para tais tipos de reflexões (“quem tem tempo faz colher e borda o cabo” – diz o dito popular) a cor do domingo é azul; e não se fala mais nisso.
Tudo bem. E alguém acrescentaria: ‘tudo bem’ até porque “o que seria do azul se todos gostassem do amarelo?”.
Eu diria, só para encerrar a crônica e, talvez, a polêmica: o azul não existe, o amarelo também não existe; existem, sim, coisas azuis, coisas amarelas, coisas vermelhas ...
Ah, e existe para uns o domingo azul e para outros o domingo amarelo. Há mais algumas outras cores para que possamos pintar o domingo ou (de) como pintar no domingo?
domingo, 19 de setembro de 2010
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