quarta-feira, 1 de setembro de 2010

BARRACAS, FONTE NOVA. LUTO COLETIVO EM SALVADOR/ 2

BARRACAS, FONTE NOVA. LUTO COLETIVO EM SALVADOR/ 2


(continuação)


Nessa cidade todo mundo é d'Oxum
Homem, menino, menina, mulher
Toda gente irradia magia
Presente na água doce
Presente na água salgada
E toda cidade brilha

Seja tenente ou filho de pescador
Ou importante desembargador
Se der presente é tudo uma coisa só
A força que mora n'água
Não faz distinção de cor
E toda cidade é d'Oxum
É d'Oxum
É d'Oxum

Eu vou navegar ...
Eu vou navegar nas ondas do mar
Eu vou navegar ...

Iá aguibá Oxum aurá olu adupé

(Gerônimo - "É d'Oxum)



Vicente Deocleciano Moreira


A Fonte Nova é, para o conteúdo manifesto do jornal "Correio da Bahia", uma "MÃE". Para o conteúdo inconsciente de quem escreveu - E DE QUEM LEU - a matéria é também uma MÃE. As mães são sempre fontes novas pois, na condição feminina da mãe tudo é novo pois, da mulher, sobre a mulher, quanto mais se fala menos se diz. A fonte mãe/mulher é sempre nova ... não bastasse a forma uterina do falecido estádio com sua abertura ... 'pernas' abertas ... para as ´para as águas do Dique do Tororó ... como se estivesse semnpre a cantar: "Nesta cidade/ Todo mundo é d'Oxum" .. fazendo coro adjuvante do cantor/compositor Jerônimo.

Fonte Nova ... aberta (para o Dique do Tororó e para mundo) com sua atitude de entrega ... cantaria Pablo Neruda. Parece-me que a nova Fonte Nova conservará as pernas abertas (desta feita MODERNAS) para o mundo e para o Dique do Tororó.



(Fonte Nova: um estádio esportivo, sempre aberto para o Dique do Toroó. Uma MÃE que não mais existe, a não ser na memória coletiva de Salvador)



Também as extintas/demolidas barracas de praia eram MÃE. Era lá que aos sábados e domingos ... dias em que a lei/ o pai permitia, autorizava ... muit@s bebiam muito álcool (cervejas, caipiroscas - isto é vodka com frutas - cachaças mil), em que muitos bebiam os mares; Tudo isso sob a proteção dos braços e do útero das MÃES barracas; tod@s sob os toldos e tetos, tod@s protegidos maternalmente do sol, da chuva, do sereno. Tod@s bebendo os mares como se retornassem ao seio materno para beber mares de leite.

Muitos choraram no funeral da mamãe grande (Gabriel Garcia Marques)Órfãos da MÃE (estádio e barracas) vivem e sofrem seus dias de luto.


#####

Garcia Marquez "Os funerais da mamãe grande"


"García Marquéz juntou neste livro sete contos e uma novela que dá o título à obra. A Mamã Grande era uma imponente senhora que se dizia reinar sobre Macondo. Quando aos 92 anos se vê às portas da morte, chama os herdeiros e um notário e enumera os seus bens. Sabendo da proximidade da morte da Mamã Grande, acorrem à cidade um enorme séquito de gente, desde vendedores, contrabandistas, feiticeiros, mineiros e camponeses na esperança de fazer negócio. A importância da Mamã Grande era tanta que ao seu funeral assistem o Presidente da República e o Papa.

Cada conto traz ao leitor uma visão diferente do dia-a-dia da aldeia de Macondo. Desde a velha estação dos caminhos de ferro, passando pela igreja e pelo hotel, García Marquéz apresenta-nos alguns dos seus habitantes. Um livro que me agradou pela escrita do autor que transmite sensações através das descrições.
Classificação: 3/5

"Ninguém conhecia a origem, nem os limites, nem o valor real do património, mas toda a gente se tinha habituado a crer que a Mamã Grande era dona das águas correntes e paradas, chovidas e por chover, e dos caminhos municipais, das estações do telégrafo, dos anos bissextos e do calor, e que tinha além disso um direito herdado sobre vidas e fazendas. Quando se sentava a tomar o fresco da tarde na varanda de sua casa, com todo o peso das suas vísceras e da sua autoridade amassado na sua velha cadeira de baloiço de cipó, parecia na verdade infinitamente rica e poderosa, a matrona mais rica e poderosa do mundo."

Escrito por Isabel Maia no dia 13.12.09
Autor: Gabriel García Marquéz


#####

MÃE YEMANJÁ, MÃE OXUM


Na mitologia religiosa do Candomblé, Yemanjá e Oxum são duas orixá (orixá assim mesmo no singular pois não são palavras do idioma português), são duas mães muito poderosas. Quem, fiel do Candomblé, não gostariam de ser amparado(a) ou protegido(a) por essas mães. Yemanjá - 'rainha' do mar. Oxum - 'rainha' da água doce: rios, lagos, cachoeiras e ... Dique do Tororó, uma de suas moradas.

Se, brasileiros, tivéssemos sido colonizado não por portugueses mas por franceses, chamaríamos mar de mer e mãe de mére. Para os franceses, o mar é uma mulher e (quem sabe?) uma mãe.


#####

"Eu fui no Tororó
Beber água e não achei
Encontrei bela morena
Que no Tororó deixei ..."

(música de roda)

####


Os baianos, principalmente os filhos da Fonte Nova e das barracas de praia estão órfãos. Estão de luto sim, mas não com melancolia! Freud explicará na postagem de amanhã sexta, dia 3 de setembro/ 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário