EVENTOS ESPECIAIS DO BLOG PARA 2010 - ALBERT CAMUS (50 ANOS DA MORTE DE ALBERT CAMUS) (1)
► 50 ANOS DA MORTE DE ALBERT CAMUS (1913, Mondovi-Argélia – 1960, Villeblevin-França), escritor francês de origem argelina, Nobel de Literatura de 1957. Autor de livros como “O Estrangeiro” (1942), “A Peste” (1947), e outros ...
Na postagem de 23 de fevereiro do ano em curso, anunciamos as celebrações de eventos especiais:
► 95 ANOS DE HANSEN BAHIA (1915, Hamburgo-Alemanha – 1978, São Félix-Bahia-Brasil), artista xilogravurista alemão-baiano; muitas de suas gravuras expõe, nos momentos delicados de seus personagens, a intimidade e a extimidade de uma cidade ao modo de uma fita de Moebius (Topologia): está dentro (intimidade), mas está fora (extimidade) no ato da torção para a colagem das pontas
► 100 ANOS DE NOEL ROSA - (1910, Rio de Janeiro-Brasil – 1937, Rio de Janeiro), compositor brasileiro; São 192 letras de sua autoria (e coautoria) como, p. ex. “Conversa de Botequim”:
“Seu garçom faça o favor de me trazer depressaUma boa média que não seja requentadaUm pão bem quente com manteiga à beçaUm guardanapo e um copo d'água bem geladaFeche a porta da direita com muito cuidadoQue eu não estou disposto a ficar exposto ao solVá perguntar ao seu freguês do ladoQual foi o resultado do futebol” ...
► 100 NOS DO CINEMA BAIANO (outubro de 1910 – outubro de 2010) – “A grande feira” , 1961, direção de Roberto Pires, e tantos outros filmes emblemáticos.
► 50 ANOS DA MORTE DE ALBERT CAMUS (1913, Mondovi-Argélia – 1960, Villeblevin-França), escritor francês de origem argelina, Nobel de Literatura de 1957. Autor de livros como “O Estrangeiro” (1942), “A Peste” (1947), e outros ...
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► 50 ANOS DA MORTE DE ALBERT CAMUS (1913, Mondovi-Argélia – 1960, Villeblevin-França), escritor francês de origem argelina, Nobel de Literatura de 1957. Autor de livros como “O Estrangeiro” (1942), “A Peste” (1947), e outros ...
Hoje postaremos a primeira parte do ensaio de Clayton Melo “A MORTE E O ELOGIO DA VIDA” sobre o livro “A Peste” de Camus. Amanhã, sábado, a segunda parte deste ensaio.
A MORTE E O ELOGIO DA VIDA (1)
Clayton Melo
Escrevi este ensaio por ocasião do curso de pós-graduação em literatura de que participei. É um pouco longo. Mas, quem se interessar por literatura e tiver um tempinho, está aí. A Peste é um livro apaixonante.
O romance A Peste, de Albert Camus, foi interpretado por vários críticos como uma alegoria ao nazismo e, por extensão, a todo regime totalitário. O próprio autor admitia que o conteúdo evidente era a resistência européia a Hitler (1). Não bastasse ter sido preparado durante a Segunda Guerra Mundial e publicado em 1947, pela Gallimard, o livro contém alusões à Ocupação ou a ditaduras, como a decretação do estado de sítio na região onde se passa a história ou o fato – provocado justamente pela medida de exceção – de um dos personagens, o jornalista Raymond Rambert, ser proibido de sair da cidade, um símbolo do cerceamento da liberdade de imprensa.
Se o romance pode ler lido pela ótica da resistência política, também é verdade que abre espaço para uma interpretação de cunho filosófico-existencial. A Peste permite a reflexão, por exemplo, sobre como a iminência da morte relembra ao homem sua finitude e o faz agarrar com todas as forças a vida, que teme perder a qualquer momento. A dor, o medo e a solidão gerados pela doença podem resgatar sentimentos até então anestesiados pelo cotidiano, como solidariedade, amor e compaixão. Em outros termos, A Peste mostra que a perspectiva da morte modifica a postura do homem perante o mundo e a si próprio, redefinindo valores e crenças e gerando perdas e ganhos, como o resgate da essência das relações humanas. Além de trazer conceitos que permeiam toda a obra de Camus, o romance se relaciona com as teorias de Heidegger, como a angústia. A aproximação com o autor de Ser e Tempo se estende também à concepção de morte, tema recorrente à filosofia heideggeriana.
A Peste se passa em Oran, pequena cidade da Argélia cuja vida é monótona. Os habitantes vivem para o trabalho e para o acúmulo de riquezas. Seguem meticulosamente a rotina, inclusive nas questões do coração, com casais que vivem juntos por força do hábito. Não há espaço para devaneios amorosos. “Em Oran, como no resto do mundo, por falta de tempo ou reflexão, somos obrigados a amar sem saber” (2)
Subitamente, a normalidade cai por terra quando ratos agonizam por toda a cidade. Logo depois, a morte alcança também os moradores. No início, há um estranhamento com o fenômeno cuja causa ou explicação é desconhecida. Mas com o avanço da doença, o que era uma simples preocupação torna-se motivo de horror generalizado. Ninguém está livre desse inimigo cuja identidade só é reconhecida depois muitos cadáveres: peste bubônica.
Trata-se de um romance que coloca o homem frente à situação-limite que mais o assusta: a morte, não como resultado do ciclo da existência, o que é natural, mas trágica, dolorosa, com sofrimento. E mais: gratuita, um capricho cruel que surge repentinamente, impondo um fim gradual e pavoroso. Dada sua onipresença e força simbólica, a morte é uma personagem nesse livro da separação e da esperança.
Romance e filosofia
Um dos caminhos para melhor entender o ficcionista Camus é analisar o pensamento filosófico do escritor franco-argelino, relacionando as idéias do texto estudado ao restante de sua obra. O ponto de partida dessa investigação é saber que Camus se servia da ficção como meio para expressar reflexões, que exercitou sob a verve do ensaísta – seus dois maiores testamentos filosóficos são O Mito de Sísifo e O Homem revoltado. “Um romance nunca passa de uma filosofia posta em imagens. Em um bom romance, toda a filosofia passa pelas imagens.” (3)
Duas idéias centrais norteiam a obra de Camus, o absurdo e a revolta. Para ele, o absurdo surge pelo fato de o homem procurar no mundo ordem e racionalidade, mas encontrar somente o irracional e a desordem. Em outras palavras, o absurdo consiste na incompatibilidade entre um anseio humano de explicação para o mundo e o mistério essencial desse mundo inexplicável, entre a consciência da morte e o desejo de uma impossível eternidade, entre o sonho de felicidade e a existência do sofrimento, entre o amor e a separação dos amantes. (4)
Em Camus, a morte surge como um dos pólos do absurdo, como observa Jean Paul Sartre na introdução de O Estrangeiro, de Camus:
O absurdo fundamental manifesta antes de tudo um divórcio: o divórcio entre as aspirações do homem à unidade e o dualismo intransponível do espírito e da natureza, entre o impulso do homem em direção ao eterno e o caráter finito de sua existência, entre a “preocupação” que é a sua própria essência e inutilidade de seus esforços. (5)
(CONTINUA AMANHÃ - SÁBADO)
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