terça-feira, 25 de maio de 2010

ADORANDO ADONIRAN (2) - ALGUMAS LETRAS ANTOLÓGICAS - CEM ANOS DE ADONIRAN BARBOSA

ADORANDO ADONIRAN (2) - ALGUMAS LETRAS ANTOLÓGICAS
CEM ANOS DE ADONIRAN BARBOSA


SAMBA DO ARNESTO

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós voltermos com uma baita de uma reiva
Da outra vez nós num vai mais
Nós não semos tatu!
No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu desculpas mais nós não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nós não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever"
Arnesto


PRAÇA DA SÉ


Praça da Sé
Praça da Sé
Hoje você é
Madame estação Sé

Quem te conheceu
A alguns anos atrás
Como eu te conheci
Não te conhece mais
Nem vai conseguir
Te reconhecer
Se hoje passa por aqui
Alguém que já faz
Algum tempo que não te vê
Pouca coisa tem que contar
Pouca coisa tem que dizer
Vai pensar que está sonhando
É natural
Nunca viu coisa igual

Da nossa Praça da Sé de outrora
Quase que não tem mais nada
Nem o relógio que marcava as horas
Pros namorados
Encontrar com as namoradas
Nem o velho bonde
Dindindindindindin
Nem o condutor
Dois pra light e um pra mim
Nem o jornaleiro
Provocando o motorneiro
Nem os engraxate
Jogando caixeta o dia inteiro
Era uma gostosura
Ver os camelô
Correr do fiscal da prefeitura

É o progresso
É o progresso
Mudou tudo
Mudou até o clima
Você está bonita por baixo
Só indolá pra ver
Mas não vá sozinho, meu senhor
Que o senhor vai se perder

Praça da Sé
Praça da Sé
Hoje você é
Madame estação Sé


TREM DAS ONZE


Não posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã,
Se eu perder esse trem
Que sai agora as onze horas
Só amanhã de manhã.
Além disso mulher
Tem outra coisa,
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar,
Sou filho único
Tenho minha casa para olhar
E eu não posso ficar.



DESPEJO NA FAVELA



Quando o oficial de justiça chegou
La na favela
E contra seu desejo / entregou pra seu narciso um aviso pra uma ordem de despejo
Assinada seu doutor , assim dizia a petição dentro de dez dias quero a favela vazia /e os
barracos todos no chão
É uma ordem superior ,
Ôôôôôôôô Ômeu senhor ,é uma ordem superior 2x
Não tem nada não seu doutor , não tem nada não
Amanha mesmo vou deixar meu barracão
Não tem nada não seu doutor vou sair daqui pra não ouvir o ronco do trator
Pra mim não tem problema em qualquer canto me arrumo de qualquer jeito me ajeito
Depois o que eu tenho é tão pouco minha mudança é tão pequena que cabe no bolso de trás
Mas essa gente ai hein como é que faz???? 2x


SAUDOSA MALOCA

Si o senhor não ta le mbrado
Dá li cença de con tá
Que aqui onde agora es tá
Esse edifício arto
Era uma casa véia
Um pala cete assobra dado
Foi aqui seu moço
Que eu Mato Grosso e o J oca
Constr uimo nossa mal oca
Mais, um d ia
- Nois nem pode se alemb rá
Veio os home c'as ferra mentas
O dono m andô derru bá
Peg uemos todas nossas c oisas
E fumo pro meio da r ua
Preciá a demoliç ão
Que tristeza que nos sent ia
Cada tábua que c aía
Duia no cor ação
Mato Grosso quis gri tá
Mas encima eu fal ei:
Os homens tá coa raz ão
Nos arranja outro lu gá
Só se conformemos quando o Joca fal ou :
"Deus da o f rio conforme o cober tô"
E hoje nóis pega as p áia nas grama do ja rdim
E prá esq uecê nóis can temos a ssim:
Saudosa mal oca maloca que rida, dim, dim
Donde nóis pas semos os dias f eliz de nossa v ida.
Quas,quas,quas...



TOCAR NA BANDA

Tocar na banda
Pra ganhar o quê
Duas mariolas
E um cigarro iolanda

Num relógio
É quatro e vinte
No outro é quatro e meia
É que de um relógio pra outro
As horas vareia

Marquei com a minha nega
Às cinco
Cheguei às cinco e quarenta
Esperar mais
Que vinte minutos
Quem é que agüenta


IRACEMA


Iracema, eu nunca mais te vi.
Iracema meu grande amor foi embora.
Chorei, eu chorei de dor porque,
Iracema meu grande amor foi você.
Iracema, eu sempre dizia,
Cuidado ao atravessar essas ruas,
Eu falava, mas você não escutava não.
Iracema você atravessou na contra mão.
E hoje ela vive la no céu,
E ela vive juntinho de nosso senhor.
De lembrança guardo somente,
Suas meias e seu sapato,
Iracema eu perdi o seu retrato.

FALADO:
IRACEMA, FALTAVA VINTE DIAS PARA O NOSSO CASAMENTO,
QUE NÓIS IA SE CASAR.
VOCÊ ATRAVESSOU A SÃO JOÃO,
VEIO UM CARRO, TE PEGA, E TE PINCHA NO CHÃO.
VOCÊ FOI PARA ASSISTÊNCIA IRACEMA,
O CHOFER NÃO TEVE CULPA IRACEMA,
PACIÊNCIA IRACEMA, PACIÊNCIA..

E hoje ela vive lá no céu,
E ela vive juntinho de nosso senhor.
De lembrança guardo somente,
Suas meias e seu sapato,
Iracema eu perdi o seu retrato.


TIRO AO ÁLVARO

(com Oswaldo Moles)

De tanto levar
Flechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar
Não tem mais!...
De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar...
Teu olhar mata mais
Que bala de carabina
Que veneno estricnina
Que peixeira de baiano...
Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóvel
Mata mais
Que bala de revólver...
De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar
Não tem mais!...
De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar...
Teu olhar mata mais
Que bala de carabina
Que veneno estricnina
Que peixeira de baiano...
Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóvel
Mata mais
Que bala de revólver...
De tanto levar
Frechada do teu olhar
Meu peito até
Parece sabe o quê?
Táuba de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar...
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Iracema mru grande amor foi voce


ABRIGO DE VAGABUNDOS


Eu arranjei o meu dinheirinho
Trabalhando o ano inteiro
Numa cerâmica
Fabricando potes e lá no alto da Mooca
Eu comprei um lindo lote dez de frente e dez de fundos
Construí minha maloca

Me disseram que sem planta
Não se pode construir
Mas quem trabalha tudo pode conseguir
João Saracura que é fiscal da prefeitura
Foi um grande amigo, arranjou tudo pra mim
Por onde andará Joca e Matogrosso
Aqueles dois amigos
Que não quis me acompanhar
Andarão jogados na Avenida São João
Ou vendo o sol quadrado na detenção
Minha maloca a mais linda que eu já vi
Hoje está legalizada ninguém pode demolir
Minha maloca a mais linda deste mundo
Ofereço aos vagabundos
Que não tem onde dormir



UM SAMBA DO BEXIGA


Um domingo nóis fumo
Num samba no Bexiga
Na rua Major,
Na casa do Nicola
A mezza notte o'clock,
Saiu uma baita de uma briga.
Era só pizza que avoava
Junto com as brajola.
Nóis era estranho no lugar
E não quisemo se meter.
Não fumo lá pra brigá,
Nós fumo lá pra comê.
Na hora H se enfiemo
Debaixo da mesa,
Fiquemo alí de beleza,
Vendo o Nicola brigá.
Dali a pouco
Escuitemo a patrulha chegá
E o sargento Oliveira falá:
"Não tem importânça,
Vou chamar duas ambulânça.
Carma pessoá,
A situação aqui tá muito cínica.
Os mais pior
Vai pras Crínica."


VIADUTO SANTA IFIGÊNIA


Venha ver
Venha ver Eugênia
Como ficou bonito
O Viaduto Santa Efigênia
Venha ver

Foi aqui,
Que você nasceu
Foi aqui,
Que você cresceu
Foi aqui que você conheceu
O seu primeiro amor

Eu m e lembro
Que uma vez você me disse
Que um dia que demolissem o viaduto
Que de tristeza você usava luto
Arrumava sua mudança
E ia embora pro interior

Quero ficar ausente
O que os olhos não vê
O coração não sente


AMANHÃ, QUARTA-FEIRA, DIA 26, COMENTÁRIO SOBRE "SAMPA" (Caetano Veloso) E AS LETRAS DE ADONIRAN BARBOSA ACIMA SELECIONADAS.

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