AS PRAÇAS E A QUALIDADE DA VIDA E DO BEM-ESTAR NAS CIDADES (3)
ONTEM, PRIMEIRO DE MAIO, SINDICALISTAS LOTARAM A PRAÇA CASTRO ALVES (SALVADOR – BAHIA – BRASIL). A HOMENAGEM CERTA NO LUGAR CERTO: LOGRADOURO QUE TEM O NOME DE UM POETA, BAIANO, QUE SE INSURGIU CONTRA O TRABALHO ESCRAVO, A CORRPÇÃO E AS INJUSTIÇAS SOCIAIS.
HOJE, DOMINGO DOIS DE MAIO/2010, VAMOS CELEBRAR O CENTENÁRIO DO CANTOR E COMPOSITOR JORGE VEIGA (1910-1979), QUE LAMENTAVELMENTE, TANTOS JÁ ESQUECERAM MAS QUE COMPÔS “COSME E DAMIÃO” – QUE QUASE ADOTOU COMO SUBTÍTULO “PRAÇA PARIS” E QUE LOUVA A SERIEDADE E A ÉTICA DOS BONS SOLDADOS.
VAMOS, POIS, ÀS LIÇÕES DE “COSME E DAMIÃO” (COMPOSIÇÃO DATADA 1945)
“Parei meu carro na PRAÇA PARIS
Eu e a Conceição
De repente ouvi um 'boa noite': - "como vai" ?
Era o Cosme e o Damião
Destacaram um papel amarelo
Que situação!
É que distraidamente
Eu estacionei na contramão
Conversei o Cosme,
Dei um cigarro pro Damião
Expliquei aos bons soldados
Que mostrava o Pão de Açúcar à Conceição
Eles acharam graça
E um me respondeu cheio de fé
'Dura lex sed lex',
Nem que o senhor fosse o Café
(Pois é)”(
Jorge Veiga – “Cosme e Damião”)
Vicente Deocleciano Moreira
vicentedeocleciano@yahoo.com.br
vicentedeocleciano@gmail.com
FONTE DIRETA Blog http://www.viverascidades.blogspot.com
Jorge Veiga (Jorge de Oliveira Veiga), cantor e compositor, nasceu no subúrbio do Engenho de Dentro no Rio de Janeiro/RJ em 6 de dezembro de 1910. Trabalhou desde menino como engraxate, vendedor de bananas fez vários biscates. Faleceu no Rio de Janeiro em 29 de maio de 1979.
“Cosme e Damião”, um dos maiores sucessos de Jorge Veiga, ajudou a divulgar nacionalmente a Praça Paris, localizada no centro do Rio de Janeiro. Andar pelo gramado da praça é programa de cariocas e visitantes. Bem cuidada e bem policiada, também atrai pela simetria, bem ao estilo francês de construção de praças – daí o nome Praça Paris.
Cosme e Damião são santos do hagiológio católico, segundo o qual ambos eram médicos dedicados aos pobres e às questões da 1saúde pública’ da época. Na linguagem coloquial da época, em todo o Brasil, Cosme e Damião era, também, a dupla de policiais militares sérios, tidos como incorruptíveis, que inspiravam confiança e eram muito respeitados pela população.
A letra mostra uma situação em que um motorista estaciona, “distraidamente” (sic), na contra-mão. Ainda no carro, ele recebe a abordagem (gentil) dosa policiais que lhe aplicam uma multa pela infração de trânsito. O motorista tenta subornar os policiais com “conversa” e com um cigarro. Ambos “acharam graça”, um deles usou a expressão latina “dura lex sed lex” (a lei é dura mas é lei) e concluiu que não retiraria a multa nem que o infrator fosse o Café.
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Quem era “o Café”? Era João Fernandes Campos Café Filho, então presidente do Brasil – popularmente tratado pela mídia e pelo povo como Café, Café Filho. Na época, 1954, charges e piadas com o sobrenome Café davam insustentável leveza à política. Café nasceu em Natal (Rio Grande do Norte), em 3 de fevereiro de 1899, era filho de um senhor de engenho. Depois do suicídio de Getúlio Vargas, 14 de agosto de 1954, assumiu a presidência mas, em novembro daquele mesmo ano, passou o cargo a Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados pois fora acometido de um ataque cardíaco. Quando se recuperou tentou voltar à presidência mas foi impedido pelos militares para a garantia da posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek emn 1961. Café, então, foi nomeado ministro do Tribunal de Contas da Guanabara. Faleceu em 20 de fevereiro de 1970 no Rio de Janeiro.
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Voltemos a “Cosme e Damião” – a letra. Ela exibe o peso e altura de um cacoete da nossa cultura política: o patrimonialismo do povo e dos políticos. O motorista estacionou na contra-mão. Distraidamente ou não, a ninguém é dados desconhecer a lei. O motorista não foi nem um pouco distraído na tentativa de subornar os incorruptíveis policiais. O patrimonialismo, no caso, foi querer usar uma via pública, numa praça pública, como patrimônio particular, privado. Daí a expressão patrimonialismo. Que vale também para classificar o ato de dispor de dinheiro público, de bens públicos – ad libitum (ao bel prazer) - como se estes fossem dinheiro particular, bens particulares.
Mas o nosso patrimonialismo não acomete apenas políticos. Ele está entre nós, eleitores, povo em geral, nos mínimos detalhes do cotidiano do serviço público. Para não perder o latim, eu diria ex digitas gigas. Quando um grupo de funcionários públicos faz uma “vaquinha” para comprar o pó do café (C minúsculo), para fazer o velho e habitual cafezinho – ou para comprar o garrafão de água mineral – tudo isso é patrimonialismo. Isto porque é ilegal, é antiético é imoral, utilizar centavos que sejam do salário, dos vencimentos, para aplicar no próprio serviço público. O setor que reúna condições para comprar e oferecer, gratuitamente é claro, água mineral, cafezinho.
Após tantos anos de bota-bota, algum funcionário pode partir para o tira-tira. Tudo pode começar com um simples e pequeno clips do serviço público que ele leva pra casa para prender as faturas já pagas do cartão de crédito ou para qualquer outra coisa ainda que mais simples e “ingênua”. Depois di clips pode vir ... Bem, deixo o restante da frase para que as livres asas da imaginação do leitor possa completar. O fato é que , de cafezinho em cafezinho, se pode chegar a uma cafezal.
Há um livro que expõe, sem piedade, as veias históricas e as vísceras abertas do patrimonialismo brasileiro. Um livro que nenhum brasileiro ou brasileira deveria concluir o segundo grau sem ter lido suas fascinantes páginas. “OS DONOS DO PODER”, de Raymundo Faoro (1925-2003), jurista, sociólogo, historiador, cientista político e escritor gaúcho. Data de 1958 a primeira edição da obra.
AMANHÃ, SEGUNDA-FEIRA, ESTAREMOS SENTADOS EM ALGUMA PRAÇA DE ALGUM LUGAR.
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Qdo criança ouvia meu pai cantarolando esta música e para mim "Dura Lex sed Lex" era só uma gíria... Hoje, com sessenta anos de idade ouço esta expressão novamente com seu significado. Me emocionei e muito!... Achei a música no YouTube e procurando a letra achei seu blog. Uauuuu qta sabedoria!... Parabéns e obgda pela ou pelas explicações
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