quinta-feira, 27 de maio de 2010

ADORANDO ADONIRAN (4) - CEM ANOS DE ADONIRAN BARBOSA

ADORANDO ADONIRAN (4) - CEM ANOS DE ADONIRAN BARBOSA

Duas das mais divulgadas e conhecidas letras/músicas de Adoniran Barbosa são TREM DAS ONZE e SAUDOSA MALOCA. Na primeira, há referência a Jaçanã.

Distrito da zona Norte da cidade de São Paulo, Jaçanã está vinculado administrativamente à Subprefeitura de Jaçanã/Tremembé. Guapira era seu antigo nome e só a partir de 1930 passou a chamar-se JAÇANÃ por causa da grande quantidade de pássaros (chamados jaçanã) no local. Do antigo nome, restou a Avenida Guapira.


TREM DAS ONZE oferece a visão de um homem responsável, bom filho único que leva a sério os horários, o trabalho e os cuidados com a mãe – um personagem de forte agrado e aprovação populares

Se, de um lado, em TREM DAS ONZE e mesmo em SAUDOSA MALOCA, Adoniram cria a imagem do paulistano trabalhador, nordestino, lutador – mas também ético, de outro fica a sugestão do conformismo e da resignação diante da força policial e das autoridades (como em DESPEJO NA FAVELA)

É uma ordem superior ,
Ôôôôôôôô Ômeu senhor ,é uma ordem superior
Não tem nada não seu doutor , não tem nada não
Amanha mesmo vou deixar meu barracão
Não tem nada não seu doutor vou sair daqui pra não ouvir o ronco do trator
Pra mim não tem problema em qualquer canto me arrumo de qualquer jeito me ajeito
Depois o que eu tenho é tão pouco minha mudança é tão pequena que cabe no bolso de trás



Conformismo e resignação que soariam, no mínimo, estranhos e inaceitáveis nos tempos de hoje de movimentos dos sem teto, de defesa das favelas e, de um modo amplo, de afirmação e defesa das políticas públicas urbanas (habitação, saneamento básico, lazer, ambiente saudável, educação, saúde ...) e da cidadania de modo geraL "Os homens tá coa razão"(SAUDOSA MALOCA)

Mas nada disso reduz o brilho e a genialidade de Adoniran. Até mesmo porque sua obra fala de um Brasil com a consciência política da primeira metade do século XX – diferente, portanto, do Brasil politizado desta primeira década do século XXI. Também porque parece haver nos personagens adoniranianos um misto de aceitação e de resignação diante da mão opressora e de otimismo e ironia. O homem adoniraniano é, antes de tudo, alegre, ainda dá gargalhadas - "QUAS, QUAS, QUAS ...

O homem adoniraniano é, também, otimista e conciliador. Pacificador, não gosta de conflito, de confusão)...

Mato Grosso quis gritá
Mas encima eu falei:
Os homens tá coa razão
Nos arranja outro lugá
Só se conformemos quando o Joca falou :
"Deus da o frio conforme o cobertô"



Cantemos, com alegria, SAUDOSA MALOCA:

Si o senhor não ta le mbrado
Dá licença de con tá
Que aqui onde agora es tá
Esse edifício arto
Era uma casa véia
Um pala cete assobra dado
Foi aqui seu moço
Que eu Mato Grosso e o Joca
Constr uimo nossa mal oca
Mais, um dia
- Nois nem pode se alemb rá
Veio os home c'as ferra mentas
O dono m andô derru bá
Peg uemos todas nossas coisas
E fumo pro meio da rua
Preciá a demolição
Que tristeza que nos sent ia
Cada tábua que c aía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas encima eu fal ei:
Os homens tá coa razão
Nos arranja outro lu gá
Só se conformemos quando o Joca fal ou :
"Deus da o f rio conforme o cober tô"
E hoje nóis pega as p áia nas grama do ja rdim
E prá esq uecê nóis can temos a ssim:
Saudosa mal oca maloca que rida, dim, dim
Donde nóis pas semos os dias f eliz de nossa v ida.
Quas,quas,quas...



Há uma outra virtude no homem adoniraniano. Ele tem uma fixação escópica: ele gosta de ver, de apreciar .. até a própria desgraça.

Te reconhecer
Se hoje passa por aqui
Alguém que já faz
Algum tempo que não te vê
(
PRAÇA DA SÉ)

Peguemos todas nossas coisas
E fumo pro meio da rua
Preciá a demolição

(SAUDOSA MALOCA)


(AMANHÃ, SEXTA-FEIRA, TEM MAIS ADONIRAN)

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