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PORTUGAL - TRATAMENTO DA TUBERCULOSE EM RISCO
Tratamento da tuberculose em risco
23 de Abril, 2011
Por Catarina Guerreiro e Graça Rosendo
Por Catarina Guerreiro e Graça Rosendo
Os serviços do Ministério da Saúde que acompanham os doentes com tuberculose deixaram de ter disponível um dos medicamentos que faz parte do tratamento desta doença.
Pelo menos durante as duas ultimas semanas, alguns doentes foram encaminhados para as farmácias para comprarem o medicamento - que sempre foi distribuído gratuitamente -, invocando-se «uma ruptura de stock nos serviços». O caso deixou preocupados profissionais e doentes, que suspeitaram tratar-se de mais uma medida de poupança. Mas o Ministério da Saúde garantiu ao SOL que a situação está normalizada e que o tratamento da tuberculose continuará a ser gratuito.
A situação mais grave ocorreu no Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP) de Alcântara, onde o medicamento já não existe desde há três semanas. «Temos pedido a outros centros para ir tapando as falhas.
Mas, neste momento, já não há em lado nenhum», disse ao SOL uma fonte do centro.
Por isso, os médicos começaram a passar receitas aos doentes, para que comprem o medicamento nas farmácias, onde têm de pagar mais de quatro euros por embalagem. Este medicamento integra o cocktail básico de quatro antibióticos do tratamento obrigatório da tuberculose -, sendo que o único dos quatro que está à venda nas farmácias é precisamente aquele que deixou de ser dado nos CDP.
Uma fonte do laboratório que comercializa o medicamento, a Sanofi-Aventis, disse ao SOL que não há qualquer ruptura de stock: «O medicamento está disponível e pode ser fornecido imediatamente».
Tudo resolvido , diz a ARS
«A responsabilidade de abastecimento é da ARS de Lisboa (neste caso), que tem serviços farmacêuticos que compram e distribuem gratuitamente os medicamentos aos doentes», explicou, por seu lado, o coordenador do Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose, o médico Fonseca Antunes, lembrando que, «até hoje, nunca houve ruptura de stocks» nos centros de tratamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Já a ARS de Lisboa, contactada pelo SOL, garantiu que se tratou de um problema pontual - ocorrido apenas no serviço de Alcântara -, o qual foi rapidamente resolvido. Foi, ao que tudo indica, uma «má gestão do stock, que não podia nem devia ter acontecido». «Assim que nos apercebemos da situação, o stock foi reposto. Neste momento, está tudo normalizado», disse o presidente da ARS, Rui Portugal, salientando: «O tratamento da tuberculose é gratuito e continuará a sê-lo. É uma questão de saúde pública garantir este tratamento a todos os doentes».
A situação ocorrida no CDP de Alcântara provocou uma corrida às farmácias, que tiveram de encomendar o medicamento ao laboratório - uma situação inédita, uma vez que o Ministério da Saúde é o comprador quase exclusivo Fá-lo, aliás, por concurso, através da central de compras da Saúde, e para o ano inteiro.
«Este medicamento faz parte do regime standard, que inclui quatro antibióticos, e só com os quatro é que ele é eficaz», disse Fonseca Antunes. «A falta de um dos deles dificulta a cura e aumenta os riscos de tuberculoses multi-resistentes. Ou seja, tem mesmo de se tomar os quatro antibióticos», explicou ainda o coordenador do Programa Nacional, alertando: «A interrupção do tratamento (que dura seis meses) por falta de medicamentos é, por isso, incompreensível e intolerável».
Fernanda L. foi uma das doentes de Alcântara a quem não foi dado gratuitamente este medicamento. Como um familiar seu contou ao SOL, deslocou-se na primeira semana de Abril ao Centro de Diagnóstico Pneumológico (CDP) de Alcântara, para uma consulta, onde lhe foi diagnosticada a doença e prescrito o tratamento para 30 dias.
Mas, quando se dirigiu à dispensa dos medicamentos do CDP, foram-lhe dados apenas três dos quatro antibióticos receitados pela médica. A enfermeira disse-lhe que estavam à espera de um deles e que a informariam quando ele chegasse, para o ir levantar.
Dias depois, recebeu o telefonema e voltou ao centro. Mas disseram-lhe que o medicamento estava esgotado. Fernanda foi então a uma farmácia e em duas horas resolveu o problema. Mas teve de pagar pouco mais de quatro euros pelo medicamento - que é comparticipado em 37% pelo Estado, quando é comprado com receita médica do SNS na farmácia.
Segundo um relatório da Direcção-Geral de Saúde, revelado no mês passado, a incidência da doença em Portugal baixou para cerca de metade numa década - de 40 novos casos por 100 mil habitantes em 2001 para 22 em 2010. No ano passado, foram tratados 2.559 doentes em Portugal, incluindo casos novos e retratamentos. A incidência dos casos novos foi de 2.372, menos 11% relativamente a 2009.
A ARS de Lisboa decidiu, entretanto, juntar os quatro CDP existentes na capital e criar um único serviço. Os cinco clínicos que estavam espalhados pelos CDP vão agora trabalhar juntos, num único serviço de tratamento da tuberculose.
Tags: Sociedade
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