DIVERSÃO ... NAS CULTURAS URBANAS (6)
"A pressa é inimiga da perfeição"
(ditado popular brasileiro)
Vicente Deocleciano Moreira
Muitas práticas podem correr o risco de desaparecer ou perder a especificidades no caráter genérico do termo DIVERSÃO; e, em particular, na sua conceituação etiimológica como qualquer atividade “que desvia alguém e se desvia ela mesma das responsabilidades profissionais, da trabalho, da produção da riqueza, da devoção religiosa ou partidária, etc, etc.” A RECREAÇÃO é uma das atividades que correm esse risco.
Para assim ser chamada, a RECREAÇÃO deve acontecer um espaço/tempo diferente do instante e do locus da atividade economicamente ativa /produtiva, do trabalho, das obrigações ...
É comum a mídia desportiva informar que, amanhã, haverá treino RECREATIVO para (a)s jogadore(a)s (do time de futebol, (volley, etc.). Quer dizer que será um treino descontraído, com brincadeiras, manejo informal da bola, das técnicas, das posições dos jogadore(a)s .. enfim, qualquer movimento que não se confunda com o treino tático, técnico, estratégico, rigoroso a tal ponto que não haja lugar para brincadeiras e descontração. O que há de comum entre esses dois tipos de treino é que ambos são dirigidos pelo técnico, pelo recreador, por algum profissional gabaritado para um e para o outro tipo de direção.
Tentar aplicar ou querer encontrar, na vida prática, o sentido original de RECREAÇÃO (do latim Recreare. Recriare), talvez não seja uma afazer tão fácil ... mas nada impossível.
O que se RECRIA na RECREAÇÃO? A DIVERSÃO – ao menos como a estamos conceituando nestas últimas postagens – corre solta , sem dirigimos para quem se DIVERTE ... para quem “compra” ou “consome” a DIVERSÃO (e não exatamente para quem "vende" a DIVERSÃO).
A HORA DO RECREIO, nas escolas, é algo cuja prática aparentemente contraria o caráter DIRIGISTA da RECREAÇÃO. Essa hora, embora possa ser DIRIGIDA clara e abertamente por um profissional recreador, na prática é um momento em que os professores “se livram” e “se escondem” dos alunos - e vice-versa. E, aí, tudo fica reduzido à “hora do lanche”. Lanche trazido pelo(a) aluno(a) ou comprado à cantina ou à porta da escola. Mesmo assim, o fato de ter hora para começar e hora para acabar (horas anunciadas às vezes por sirenes que mais lembram campos de concentração), o RECREIO escolar acontece, como prática RECREATIVA, graças à DIREÇÃO imposta por dois tempos e dois lugares: hora de começar e hora de acabar; espaço para o recreio e espaço para os compromissos com as aulas (salas, laboratórios, etc.).
Imaginem – absurdo dos absurdos – se, quando estivesse se DIVERTINDO assistindo o futebol pela TV, alguém resolvesse DIRIGIR a sua postura correta ao sentar sobre o sofá, coluna vertebral erecta, sola do pés bem apoiadas sobre o piso, distância regulamentar e saudável entre o aparelho televisivo e o sofá; ingestão de líquidos, alimentação apropriada, controle das emoções, medição de sua Pressão Arterial ... Nesse caso, teríamos não exatamente uma DIVERSÃO e sim uma RECREAÇÃO.
Qual a dimensão RECRIATIVA da RECREAÇÃO? Em outras palavras, o que se RECRIA na RECREAÇÃO?
Amanhã ... eis um bom dia para pensarmos nestas respostas.
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