CRANIK
CIDADE BAIXA (VÍDEO FILME)
CRÍTICA - CIDADE BAIXA: Se você parar para pensar, a beleza física com certeza não é um dos atributos da vida cotidiana, a não ser que você more em um folhetim qualquer da Rede Globo, ninguém acorda bonito, ninguém come com beleza, um beijo de verdade é feio, com língua para todos os lados, sem falar em sexo, esse então nem conta, suado, desajeitado etc., é claro que todo mundo ama fazer tudo isso que eu citei, mas ver as pessoas fazendo é outra coisa.
Em sua primeira experiência como ficção na cadeira de diretor, Sergio Machado, resolve mostrar para todos um mundo real, com pessoas reais, relacionamentos reais em um lugar real. “Cidade Baixa”, nome dado a parte portuária e mais pobre de Salvador, é isso, uma história de amor que deve acontecer aos montes não só pelo Brasil, como pelo mundo, e talvez isso seja o que dá mais impacto a ela.
Tudo é até bem simples, uma moça do interior resolve ir para salvador ganhar a vida como “dançarina de boate” até encontrar um gringo que a tirasse daquela vida, pega uma corona no barco de dois amigos, o final todo mundo já sabe, os dois se apaixonam por ela e amizade de anos é posta em prova.
O interessante da história é o desenvolvimento desse triangulo amoroso, com todos seus encalços, suas reviravoltas, tudo permeado por um mundo que pouca gente conhece, o da prostituição, da criminalidade, um que margeia esse bonito e limpo das capitais, onde tudo é sujo, feio, as vezes sem escrúpulos, onde o mocinho bonzinho não só não vence, como não existe.
Escrito pelo próprio diretor em conjunto com Karim Ainouz, repetindo a parceria de “Abril Despedaçado” e “Madame Satã”, esse último também dirigido por Ainouz, o roteiro é um exemplo de competência, extremamente bem amarrado, com um desenvolvimento impressionante. O modo como a situação do trio de personagens vai entrando nesse caminho sem volta é de gelar os ossos de tão visceral.
E visceral é com certeza a palavra mais apropriada para descrever a direção do filme, tudo é jogado na sua cara, fazendo com que as situações incomodem bem mais, do mesmo jeito que ele consegue com que a “cidade baixa” transborde pela tela, você enxerga ela, escuta ela, até imagina seu cheiro, sem em nenhum momento parecer algo forçado. Mas talvez a decisão mais acertada do diretor tenha sido apoiar seu filme nos personagens, e principalmente em seu trio de protagonistas.
Quando o assunto é o elenco antes de qualquer coisa é necessário deixar claro que com certeza a dupla de protagonistas, Lazaro Ramos e Wagner Moura, são com certeza dois dos melhores, senão os melhores, atores de sua geração, e nessa sexta parceria de sete nos cinemas (a próxima é no longa “A Máquina”), mostram mais uma vez que essa minha afirmação está bem longe de estar errada. Do mesmo modo que a protagonista Alice Braga, de 22 anos e que carrega o sobrenome da tia Sônia, ganha seu primeiro papel como protagonista e se mostra desde já como um promessa.
Em cena, os três dão uma sensação de intimidade incrível, com uma química perfeita, sem em nenhum momento perder a cena, tudo de um modo natural, mostrando que realmente entraram nos personagens com tudo, além de conseguirem captar todas nuances não só do roteiro como da direção, é como se a câmera procurasse por eles em cena, do close mais fechado e caustrofóbico ao plano mais aberto.
Produzido por Walter Salles e sua produtora VideoFilmes, o longa de Sergio Machado é um daqueles exemplos de filmes que ganham o exterior antes Dado por muitos da imprensa internacional, como o grande achado do último Festival de Cannes, chegando a ganhar o Prêmio da Juventude, escolhido pelo público, por aqui recebeu uma distribuição fora do circuito comercial e agora, chegando nas locadoras mostra a oportunidade perfeita, e quase obrigatória, para todo mundo ver o que para mim foi o melhor filme produzido no Brasil nesse ano que passou.
Gênero: Drama
Tempo: 110 min.
Lançamento: 2005 |
Eu participei foi muito bom
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