DIVERSÃO, RECREAÇÃO, LUDICIDADE, E ÓCIO NAS CULTURAS URBANAS (3)
"Apressado come cru"
(ditado popular brasileiro)
Vicente Deocleciano Moreira
E vidente que os games não são apenas uma realidade urbana; espaços não urbanos são, mais, dominados por este moderno tipo de jogo; também não são, necessariamente, uma atividade praticada sob a 'noite eterna' e dentro do aconchego e na condição de apêndice dos shopping centers. Games são também diversões domésticas no 'caldeirão' cultural doméstico, onde essa sofisticada diversão chegou ao ponto de abrigar a (hoje) velha batalha entre videogames e jogos de computador. No jornal Folha de São Paulo de hoje ( 13 de abril de 2011, p. F10), um artigo esclarecedor de Andté Conti, que transcrevemos na íntegra.
Do escritório para a sala
Andrté Conti
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Os consoles prosperam e atraem produtoras ligadas ao
mundo dos PCs, que vivem momento de carestia
mundo dos PCs, que vivem momento de carestia
Na semana passada, o site Maximum PC reacendeu uma
velha polêmica: estariam os videogames matando os jogos
de computador? Todo mundo sabe que a função principal
de um computador é rodar jogos, e foi nesse ambiente
privilegiado que a indústria vicejou. Durante anos, os PCs
estiveram à frente em termos de tecnologia, gráficos,
número de lançamentos, tudo.
velha polêmica: estariam os videogames matando os jogos
de computador? Todo mundo sabe que a função principal
de um computador é rodar jogos, e foi nesse ambiente
privilegiado que a indústria vicejou. Durante anos, os PCs
estiveram à frente em termos de tecnologia, gráficos,
número de lançamentos, tudo.
De uns tempos pra cá, a situação mudou. Os PCs
continuam à frente em tecnologia --qualquer computador
continuam à frente em tecnologia --qualquer computador
bem montado deixa esses consoles de última geração
no chinelo. Mas o cenário é desolador: lançamentos
no chinelo. Mas o cenário é desolador: lançamentos
esparsos, jogos problemáticos e cada vez menos
motivos para investir numa máquina possante. Enquanto
motivos para investir numa máquina possante. Enquanto
os consoles prosperam, atraindo produtoras tradicionalmente
ligadas ao mundo dos PCs, os computadores
ligadas ao mundo dos PCs, os computadores
vivem um momento de carestia.
Parte disso, segundo o Maximum PC, é culpa dos
próprios avanços de hardware. Se uma geração de
próprios avanços de hardware. Se uma geração de
consoles demora cerca de cinco anos para se
renovar, os computadores galopam quase mês a mês.
renovar, os computadores galopam quase mês a mês.
Com as produtoras voltadas aos consoles, ninguém
quer investir rios de dinheiro para extrair o
quer investir rios de dinheiro para extrair o
máximo dos PCs de uns poucos privilegiados
Mas ainda existe um mercado grande, e a solução
Mas ainda existe um mercado grande, e a solução
que as produtoras encontraram foi levar os jogos
de videogame aos PCs, em adaptações sempre
tardias e fatalmente mal-ajambradas.
Ou seja, o sujeito compra um prédio inteiro, mas
seus jogos exigem apenas o quartinho nos fundos
da garagem, que ninguém usa há três anos.
E ainda é obrigado a lidar com um sistema
antipirataria draconiano e hostil, bugs extremos
e configurações esotéricas. O que no console você
faz com um botão ("Ligar"), o PC tem potencial de
converter numa noite de pesquisas, suor e, basicamente,
trabalho.
seus jogos exigem apenas o quartinho nos fundos
da garagem, que ninguém usa há três anos.
E ainda é obrigado a lidar com um sistema
antipirataria draconiano e hostil, bugs extremos
e configurações esotéricas. O que no console você
faz com um botão ("Ligar"), o PC tem potencial de
converter numa noite de pesquisas, suor e, basicamente,
trabalho.
Claro que isso sempre foi parte da graça.
Um verdadeiro jogador não tem medo de chaves
Um verdadeiro jogador não tem medo de chaves
de fenda, fóruns de internet e adolescentes
sabichões e insolentes. Encara com galhardia
sabichões e insolentes. Encara com galhardia
a tarefa por vezes desumana de intermediar o
diálogo entre a máquina e o software.
diálogo entre a máquina e o software.
E vê com bons olhos uma discussão sobre as
melhores placas de vídeo. É, enfim, o síndico
feliz de um computador em bom funcionamento.
melhores placas de vídeo. É, enfim, o síndico
feliz de um computador em bom funcionamento.
Não que eu seja um xiita dos PCs, longe disso.
Gosto dos consoles na mesma
Gosto dos consoles na mesma
medida, mas sinto falta de colocar o
velho desktop à prova e de jogos que
levem em conta que
velho desktop à prova e de jogos que
levem em conta que
um computador tem teclado e mouse e
explorem isso, em vez de adaptar um
controle de videogame.
explorem isso, em vez de adaptar um
controle de videogame.
O computador permite uma série de
gêneros que não existem nos consoles,
justo por ser bem
gêneros que não existem nos consoles,
justo por ser bem
mais flexível. E ninguém passa a noite
ajustando o fluxo de ar das ventoinhas
para jogar Paciência.
ajustando o fluxo de ar das ventoinhas
para jogar Paciência.
Os jogos de PC não vão morrer. Enquanto
houver ao menos uma pessoa nos servidores de
houver ao menos uma pessoa nos servidores de
World of Warcraft (hoje são 12 milhões),
as produtoras continuarão apostando neles.
as produtoras continuarão apostando neles.
Quem segue fiel ganha público cativo, basta ver
o sucesso de Starcraft 2 ou Civilization V,
o sucesso de Starcraft 2 ou Civilization V,
jogos voltados estritamente aos PCs. Mas
nenhuma das fabricantes de consoles parece
nenhuma das fabricantes de consoles parece
interessada em dar início a uma nova geração;
se tudo que os computadores tiverem a oferecer
se tudo que os computadores tiverem a oferecer
forem os gráficos arrojados, mais e mais gente
vai migrar do escritório para a sala.
vai migrar do escritório para a sala.
chorume.org
@andreconti
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