quarta-feira, 20 de abril de 2011

DIVERSÃO ... NAS CULTURAS URBANAS (10)


DIVERSÃO ... NAS CULTURAS URBANAS (10)

"Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga"
(ditado popular brasileiro)

Vicente Deocleciano Moreira


Falei, anteriormente que os municípios em todo o Brasil e de todo os tamanhos antes tarde do que nunca descobriram a importância da construção de quadras poliesportivas, equipamentos de ginástica e musculação e de franqueamento  popular de terrenos baldios e áreas devolutas para a prática comunitária de esportes. Tudo bem. Eu só acrescentaria a estes equipamentos, mobiliários destinados ao ÓCIO; ou, em outros termos, mobiliários para o lazer contemplativo, ou seja, aquele tipo de lazer em que as pessoas sentam à um banco ou à um para-corpo (muro pouco baixo) para simplesmente olhar o mar,  árvores,  bosque, árvores, o movimento de transeuntes  e veículos ... 

Sei que falar de ÓCIO principalmente em cidades "que vivem a mil" (Rio de Janeiro ...) , "que não dormem" (New York ... ), "que não podem parar" (São Paulo ...) chega a parecer um insulto ao bom senso e às 'máquinas' e 'maquinistas' da produção de riquezas, às pessoas  empregadas e, principalmente, às desempregadas. Mas antes de vestir a postagem de amanhã (sexta-feira) e de sábado próximo com a honra de abrigar uma entrevista do sociólogo italiano Domênico de Masi (sobre sua teoria do Ócio Criativo), devo dizer que esse Blog advoga a possibilidade real de as pessoas começarem a dedicar 3, 5 ou mais minutos por dia para não fazer NADA ... entregar-se ao ÓCIO. Devo dizer também - ou melhor, antecipar - que o conceito de ÓCIO sugerido pelo nosso Blog difere um tanto daquele defendido por Domênico de Masi 



O ÓCIO, como tal, exclui todas as formas anteriores (Diversão, Ludicidade, Recreação) pois implica, ao menos no conceito defendido por este Blog, um NÃO FAZER NADA, um NADA FAZER (sem leitura, sem cochilo, sem jogo (dominó, dama, cartas, palavras cruzadas ... sem ginástica, musculação, sem esportes). Gestões urbanas jamais deveriam esquecer a existência concreta e a franca e saudável  possibilidade do ÓCIO em espaços urbanos - mais agitados, menos agitados. Chego a pensar com o seria interessante que o poder público instalasse - para fins OCIOSOS - redes individuais em 'parques' a beira mar ... como é o caso do Jardim de Alah (foto abaixo)  em Salvador - Bahia - Brasil.







MÁRIO PERSONA
COMUNICAÇÃO E MARKETING
PALESTRANTE
--
ESCRITOR
--
ESTRATEGISTA
http://www.mariopersona.com.br/image/reguacinza.gif


ENTREVISTA


Domenico De Masi

Você já imaginou fazer apenas o que
 gosta a vida inteira? Mas e daí, viveria 
do quê? Sonhos? Se imaginarmos o 
trabalho como um fardo, a situação
 realmente parece impossível. Mas e 
se o trabalho, o lazer e o estudo
 começassem a se misturar em 
nossas vidas de tal forma que não 
desse mais para diferenciar uma 
coisa da outra?

Esta é a proposta de Domenico de M

]La Sapienza,  de Roma, e presidente 
da Escola de Especialização em 
Ciências Organizativas, 
a S3 Studium. Ele defende a idéia que é 
chegado o momento de cultivarmos o ócio 
criativo para uma nova era. Utopia? Não. 
Cada vez mais pessoas e empresas 
aderem aos seus conceitos e passam 
a ter vidas mais felizes e produtivas.

A produção desta entrevista ocorreu

 dentro do conceito de teletrabalho e 
 envolveu pessoas comprometidas com 
esta idéia. Luiz Carlos Pires, jornalista
 e antropólogo, coordenou a equipe
Fernandes Neto e Mario Persona. 
A tradução é de Cristina Fioretti. 

Pergunta: Quais foram os ganhos 

 angíveis e os que continuam 
intangíveis na revolução virtual do 
trabalho e no tempo livre, observados
 no XV Seminário de Ravello, onde
 o senhor foi um dos organizadores ?

Domenico De Masi: Os ganhos tangíveis

 consistem no fato de que se consegue 
produzir mais bens e serviços com menor 
esforço físico e menos stress intelectual. 
Os ganhos intangíveis estão na
 possibilidadede se usufruir, em tempo 
real, de uma rede 
de interlocutores, de amigos, de 
colaboradores.

Pergunta: Reunidos no Japão na 

mesma época do Seminário, 
os sete países  mais ricos do mundo 
acharam que para 
a nova economia ser implantada 
em todo o 
planeta os ricos precisariam dar Internet 
para os pobres. Como os filósofos em 
Ravello viram isto ?

Domenico De Masi: De espontâne

a vontade 
os ricos nunca darão nada aos pobres. 
É necessário que os pobres saibam 
defender os seus direitos e obter 
 as próprias vantagens. Em todos 
estes anos nos quais o G7 se reuniu, 
na América o número de presos dobrou 
e em todo o mundo aumentou a 
distância entre ricos e pobres.

Pergunta: Na Widebiz, na Nova-e e 

na wwwWriters, empresas virtuais, 
o teletrabalho faz parte dos seus 
cotidianos, onde se mistura prazer, 
estudo e trabalho, mas também se sente 
culpa pela liberdade, o que nos leva a 
 trabalhar mais e, às vezes, não
 sabemos se estamos trabalhando 
por culpa ou diversão. 
O aprendizado do ócio criativo passa 
por esta etapa em que não
 percebemos que estamos 

transformando o paraíso num inferno ?

Domenico De Masi: O ócio 

criativo é uma arte que se 
aprende e se aperfeiçoa com 
o tempo e com o exercício. 
Existe uma alienação por 
excesso de trabalho 
 pós-industrial e de ócio criativo, 
assim como existia uma alienação 
por excesso de exploração pelo 
trabalho industrial. É necessário 
aprender que o
 trabalho não é tudo na vida e que existem
 outros grandes valores: o estudo para 
produzir saber; a diversão para produzir 
alegria; o sexo para produzir prazer; 
a família para produzir solidariedade, etc.

Pergunta: Hoje na Internet percebemos,

por um lado, os poderosos de sempre
 tentando cercear e organizar o caos,
 e por outro, os "criativos" inventando 
soluções que pulam estas barreiras, 
como os programas Napster e o
 Gutnella. 
A sociedade criativa sobre a qual
 o senhor fala estaria nascendo aqui e 
como se distribuiria nela o poder ?

Domenico De Masi: Na sociedade

 industrial a maioria das funções de 
profissionais. Mesmo um macaco 
poderia trabalhar na linha de montagem.
 Na sociedade pós-industrial a maioria 
das funções de trabalho exige notáveis
 aptidões intelectuais. Disso deriva o
 perigo de um superpoder das classes
 profissionais, de uma ditadura dos
 clérigos sobre os leigos.

Pergunta: O senhor acha que as 

novas empresas ponto-com
humanos de forma inovadora?

Domenico De Masi: Os call-center

 são linhas de montagem muito 
parecidas com aquelas com as
quais a Ford construía o 
pós-industriais ponto-com 
administram os recursos 
humanos como se fossem velhas 
empresas industriais. Ainda ninguém
 inaugurou modelos organizacionais
 baseados na motivação (no lugar do 
controle), na desestruturação do tempo 
e do espaço, na redução do horário de
trabalho, na perfeita igualdade entre 
homens e mulheres.

Pergunta: O senhor vê o 

teletrabalho que algumas 
empresas já adotam 
como a forma correta de motivar, 
bastando para isso estar longe da
 empresa no mundo real para ser mais
 criativo? O que é, na sua opinião, um 
modelo de relação de trabalho ideal?

Domenico De Masi: O teletrabalho 

serve para economizar tempo, dinheiro
 e stress. Sozinho, não 
assegura nenhuma criatividade. 
Uma relação de trabalho ideal
permite aos trabalhadores não apenas 
ganhar dinheiro, mas também de 
 satisfazer as necessidades de 
introspecção, amizade, amor, 
diversão, beleza e convivência.

Pergunta: O senhor enxerga 

a instituição do trabalho como 
a conhecemos hoje 
 como inadequada. Suas idéias não 
poderiam vir a se tornar em uma 
nova instituição, sujeita também 
ao envelhecimento?

Domenico De Masi: Todas as idéias

 estão sujeitas ao envelhecimento. 
Esta é a lei do progresso.

Pergunta: Idéias são importantes, 

porém colocá-las em prática 
são sempre um desafio.
 O senhor acredita que suas 
idéias devam ser colocadas 
em prática, ou seriam elas 
apenas uma previsão do que 
acontecerá naturalmente ?

Domenico De Masi: Nenhum 

progresso acontece 
automaticamente. 
É necessário criar um movimento 
de opinião e depois um grupo de luta 
para colocar em prática as idéias
 inovadoras.

Pergunta: Toda a economia 

convencional está baseada 
na forma como trabalhamos hoje. 
Não haveria 
uma mudança drástica na economia 
caso suas idéias fossem postas em 
prática, ou será que seria necessário
 primeiro uma mudança na economia 
para criar o ambiente propício 
à concretização de suas idéias?

Domenico De Masii: As mudanças estruturais 

e aquelas culturais se influenciam entre si. 
Eu espero que a difusão de minhas 
idéias consiga criar um grupo crítico 
de pessoas dispostas a mudar 
realmente o seu modelo de vida e
 lutar para conquistar a felicidade.

Pergunta: O senhor poderia dar 

um exemplo de algum país ou 
empresas que já estejam aplicando 
suas idéias, ou parte delas, com 
resultados positivos e que 
possamos identificar?

Domenico De Masi: Em todo o mundo

 começa a haver pessoas ou grupos ou
 empresas ou cidades que impõem os 
seus modelo de vida sobre bases
 completamente novas. No Brasil é
 suficiente ver o caso de Ricardo Semler
 em São Paulo, o caso de Lerner
 em Curitiba, o caso de Oscar 
Niemeyer no Rio.

Pergunta: Muitas pessoas 

simpatizamcom suas idéias. 
Estariam elas apenas 
 concordando com sua natureza
 abstrata porque não gostariam 
de mudar tanto ?

Domenico De Masi: A maioria das pessoas

 que concorda com as minhas
 idéias sente uma real necessidade de
 modificar o modelo de 
vida imposto ao ocidente americanizado 
sob o impulso do pensamento empresarial: 
 competitividade cruel, stress existencial,
 prevalência da esfera racional sobre
 a esfera emocional.

Pergunta: Sabemos que todos

 estamos, de um modo ou de outro,
 descontentes com o modo de vida que
 levamos, o que nos leva a filosofar 
sobre alternativas sonhadas. O sucesso 
de suas idéias não poderia ser atribuído
 justamente ao fato de poder ser tomado 
como algo intangível pelas pessoas, 
 algo irrealizável ?

Domenico De Masi: Espero que não.





_________________




AMANHÃ, SEXTA-FEIRA, 


MAIS ÓCIO COM DE MASI


Nenhum comentário:

Postar um comentário