DIVERSÃO ... NAS CULTURAS URBANAS (10)
"Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga"
(ditado popular brasileiro)
Vicente Deocleciano Moreira
Falei, anteriormente que os municípios em todo o Brasil e de todo os tamanhos antes tarde do que nunca descobriram a importância da construção de quadras poliesportivas, equipamentos de ginástica e musculação e de franqueamento popular de terrenos baldios e áreas devolutas para a prática comunitária de esportes. Tudo bem. Eu só acrescentaria a estes equipamentos, mobiliários destinados ao ÓCIO; ou, em outros termos, mobiliários para o lazer contemplativo, ou seja, aquele tipo de lazer em que as pessoas sentam à um banco ou à um para-corpo (muro pouco baixo) para simplesmente olhar o mar, árvores, bosque, árvores, o movimento de transeuntes e veículos ...
Sei que falar de ÓCIO principalmente em cidades "que vivem a mil" (Rio de Janeiro ...) , "que não dormem" (New York ... ), "que não podem parar" (São Paulo ...) chega a parecer um insulto ao bom senso e às 'máquinas' e 'maquinistas' da produção de riquezas, às pessoas empregadas e, principalmente, às desempregadas. Mas antes de vestir a postagem de amanhã (sexta-feira) e de sábado próximo com a honra de abrigar uma entrevista do sociólogo italiano Domênico de Masi (sobre sua teoria do Ócio Criativo), devo dizer que esse Blog advoga a possibilidade real de as pessoas começarem a dedicar 3, 5 ou mais minutos por dia para não fazer NADA ... entregar-se ao ÓCIO. Devo dizer também - ou melhor, antecipar - que o conceito de ÓCIO sugerido pelo nosso Blog difere um tanto daquele defendido por Domênico de Masi
O ÓCIO, como tal, exclui todas as formas anteriores (Diversão, Ludicidade, Recreação) pois implica, ao menos no conceito defendido por este Blog, um NÃO FAZER NADA, um NADA FAZER (sem leitura, sem cochilo, sem jogo (dominó, dama, cartas, palavras cruzadas ... sem ginástica, musculação, sem esportes). Gestões urbanas jamais deveriam esquecer a existência concreta e a franca e saudável possibilidade do ÓCIO em espaços urbanos - mais agitados, menos agitados. Chego a pensar com o seria interessante que o poder público instalasse - para fins OCIOSOS - redes individuais em 'parques' a beira mar ... como é o caso do Jardim de Alah (foto abaixo) em Salvador - Bahia - Brasil.
MÁRIO PERSONA
COMUNICAÇÃO E MARKETING |
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| Domenico De Masi
Você já imaginou fazer apenas o que
gosta a vida inteira? Mas e daí, viveria
do quê? Sonhos? Se imaginarmos o
trabalho como um fardo, a situação
realmente parece impossível. Mas e
se o trabalho, o lazer e o estudo
começassem a se misturar em
nossas vidas de tal forma que não
desse mais para diferenciar uma
coisa da outra?
Esta é a proposta de Domenico de M
]La Sapienza, de Roma, e presidente
da Escola de Especialização em
Ciências Organizativas,
a S3 Studium. Ele defende a idéia que é
chegado o momento de cultivarmos o ócio
criativo para uma nova era. Utopia? Não.
Cada vez mais pessoas e empresas
aderem aos seus conceitos e passam
a ter vidas mais felizes e produtivas.
A produção desta entrevista ocorreu
dentro do conceito de teletrabalho e
envolveu pessoas comprometidas com
esta idéia. Luiz Carlos Pires, jornalista
e antropólogo, coordenou a equipe
Fernandes Neto e Mario Persona.
A tradução é de Cristina Fioretti.
Pergunta: Quais foram os ganhos
angíveis e os que continuam
intangíveis na revolução virtual do
trabalho e no tempo livre, observados
no XV Seminário de Ravello, onde
o senhor foi um dos organizadores ?
Domenico De Masi: Os ganhos tangíveis
consistem no fato de que se consegue
produzir mais bens e serviços com menor
esforço físico e menos stress intelectual.
Os ganhos intangíveis estão na
possibilidadede se usufruir, em tempo
real, de uma rede
de interlocutores, de amigos, de
colaboradores.
Pergunta: Reunidos no Japão na
mesma época do Seminário,
os sete países mais ricos do mundo
acharam que para
a nova economia ser implantada
em todo o
planeta os ricos precisariam dar Internet
para os pobres. Como os filósofos em
Ravello viram isto ?
Domenico De Masi: De espontâne
a vontade
os ricos nunca darão nada aos pobres.
É necessário que os pobres saibam
defender os seus direitos e obter
as próprias vantagens. Em todos
estes anos nos quais o G7 se reuniu,
na América o número de presos dobrou
e em todo o mundo aumentou a
distância entre ricos e pobres.
Pergunta: Na Widebiz, na Nova-e e
na wwwWriters, empresas virtuais,
o teletrabalho faz parte dos seus
cotidianos, onde se mistura prazer,
estudo e trabalho, mas também se sente
culpa pela liberdade, o que nos leva a
trabalhar mais e, às vezes, não
sabemos se estamos trabalhando
por culpa ou diversão.
O aprendizado do ócio criativo passa
por esta etapa em que não
percebemos que estamos
transformando o paraíso num inferno ?
Domenico De Masi: O ócio
criativo é uma arte que se
aprende e se aperfeiçoa com
o tempo e com o exercício.
Existe uma alienação por
excesso de trabalho
pós-industrial e de ócio criativo,
assim como existia uma alienação
por excesso de exploração pelo
trabalho industrial. É necessário
aprender que o
trabalho não é tudo na vida e que existem
outros grandes valores: o estudo para
produzir saber; a diversão para produzir
alegria; o sexo para produzir prazer;
a família para produzir solidariedade, etc.
Pergunta: Hoje na Internet percebemos,
por um lado, os poderosos de sempre
tentando cercear e organizar o caos,
e por outro, os "criativos" inventando
soluções que pulam estas barreiras,
como os programas Napster e o
Gutnella.
A sociedade criativa sobre a qual
o senhor fala estaria nascendo aqui e
como se distribuiria nela o poder ?
Domenico De Masi: Na sociedade
industrial a maioria das funções de
profissionais. Mesmo um macaco
poderia trabalhar na linha de montagem.
Na sociedade pós-industrial a maioria
das funções de trabalho exige notáveis
aptidões intelectuais. Disso deriva o
perigo de um superpoder das classes
profissionais, de uma ditadura dos
clérigos sobre os leigos.
Pergunta: O senhor acha que as
novas empresas ponto-com
humanos de forma inovadora?
Domenico De Masi: Os call-center
são linhas de montagem muito
parecidas com aquelas com as
quais a Ford construía o
pós-industriais ponto-com
administram os recursos
humanos como se fossem velhas
empresas industriais. Ainda ninguém
inaugurou modelos organizacionais
baseados na motivação (no lugar do
controle), na desestruturação do tempo
e do espaço, na redução do horário de
trabalho, na perfeita igualdade entre
homens e mulheres.
Pergunta: O senhor vê o
teletrabalho que algumas
empresas já adotam
como a forma correta de motivar,
bastando para isso estar longe da
empresa no mundo real para ser mais
criativo? O que é, na sua opinião, um
modelo de relação de trabalho ideal?
Domenico De Masi: O teletrabalho
serve para economizar tempo, dinheiro
e stress. Sozinho, não
assegura nenhuma criatividade.
Uma relação de trabalho ideal
permite aos trabalhadores não apenas
ganhar dinheiro, mas também de
satisfazer as necessidades de
introspecção, amizade, amor,
diversão, beleza e convivência.
Pergunta: O senhor enxerga
a instituição do trabalho como
a conhecemos hoje
como inadequada. Suas idéias não
poderiam vir a se tornar em uma
nova instituição, sujeita também
ao envelhecimento?
Domenico De Masi: Todas as idéias
estão sujeitas ao envelhecimento.
Esta é a lei do progresso.
Pergunta: Idéias são importantes,
porém colocá-las em prática
são sempre um desafio.
O senhor acredita que suas
idéias devam ser colocadas
em prática, ou seriam elas
apenas uma previsão do que
acontecerá naturalmente ?
Domenico De Masi: Nenhum
progresso acontece
automaticamente.
É necessário criar um movimento
de opinião e depois um grupo de luta
para colocar em prática as idéias
inovadoras.
Pergunta: Toda a economia
convencional está baseada
na forma como trabalhamos hoje.
Não haveria
uma mudança drástica na economia
caso suas idéias fossem postas em
prática, ou será que seria necessário
primeiro uma mudança na economia
para criar o ambiente propício
à concretização de suas idéias?
Domenico De Masii: As mudanças estruturais
e aquelas culturais se influenciam entre si.
Eu espero que a difusão de minhas
idéias consiga criar um grupo crítico
de pessoas dispostas a mudar
realmente o seu modelo de vida e
lutar para conquistar a felicidade.
Pergunta: O senhor poderia dar
um exemplo de algum país ou
empresas que já estejam aplicando
suas idéias, ou parte delas, com
resultados positivos e que
possamos identificar?
Domenico De Masi: Em todo o mundo
começa a haver pessoas ou grupos ou
empresas ou cidades que impõem os
seus modelo de vida sobre bases
completamente novas. No Brasil é
suficiente ver o caso de Ricardo Semler
em São Paulo, o caso de Lerner
em Curitiba, o caso de Oscar
Niemeyer no Rio.
Pergunta: Muitas pessoas
simpatizamcom suas idéias.
Estariam elas apenas
concordando com sua natureza
abstrata porque não gostariam
de mudar tanto ?
Domenico De Masi: A maioria das pessoas
que concorda com as minhas
idéias sente uma real necessidade de
modificar o modelo de
vida imposto ao ocidente americanizado
sob o impulso do pensamento empresarial:
competitividade cruel, stress existencial,
prevalência da esfera racional sobre
a esfera emocional.
Pergunta: Sabemos que todos
estamos, de um modo ou de outro,
descontentes com o modo de vida que
levamos, o que nos leva a filosofar
sobre alternativas sonhadas. O sucesso
de suas idéias não poderia ser atribuído
justamente ao fato de poder ser tomado
como algo intangível pelas pessoas,
algo irrealizável ?
Domenico De Masi: Espero que não.
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AMANHÃ, SEXTA-FEIRA,
MAIS ÓCIO COM DE MASI |
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