segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

OLINDA E RECIFE MANTÊM CARNAVAL TRADICIONAL

A CIDADE

Ribeirão Preto (São Paulo – Brasil) - Sábado, 26 de Fevereiro de 2011 - 21h51


Olinda e Recife mantêm Carnaval tradicional
Na cidade patrimônio da Unesco, o frevo e o desfile de bonecos tornam a festa mundialmente famosa
Maria Fernanda Rodrigues
Fora do eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador também é realizada uma grande festa de Carnaval, em que a tradição dos blocos ao som de marchinhas, frevo e maracatu ainda é conservada. Olinda e Recife, em Pernambuco, apresentam um dos mais belos e grandiosos Carnavais do País que, de tão animado, tem início uma semana antes da data oficial.



Em Olinda, cidade tombada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, as ruas e ladeiras estreitas transformam-se em passarelas para milhares de foliões e os famosos bonecos gigantes.
São cerca de 500 agremiações registradas oficialmente, entre clubes de frevo e maracatus, onde todos acompanham devidamente caracterizados. Para os turistas, o maior atrativo é acompanhar as troças carnavalescas.
E é justamente a riqueza cultural e a manutenção das tradições um dos principais atrativos oferecidos pelo município, que foi a primeira capital de Pernambuco.
"O Carnaval de Olinda é uma festa democrática, popular, feita pelo povo e para o povo, onde predomina a diversidade cultural e a irreverência", explica Marcia Souto, secretária de Cultura e Patrimônio de Olinda.
Passeio guiado
Para participar da festa e ainda aproveitar o passeio, a dica é procurar um guia local, que geralmente apresenta os principais pontos turísticos como os Mercados da Ribeira, do Varadouro, o Mirante do Alto da Sé, O Seminário, o Museu de Arte Sacra, o circuito das igrejas e os nichos espalhados pela cidade que contam a trajetória de Jesus até o calvário.
Os guias mirins chamam a atenção pela forma divertida como contam a história da cidade, sempre em rimas.
Na gastronomia, os destaques são a tapioca e o queijo coalho assado.
Bonecos
A cada ano a prefeitura de Olinda organiza um Carnaval produzido para receber os turistas. Além de oferecer cursos de capacitação para funcionários da rede hoteleira e donos de bares e restaurantes, também é disponibilizada a programação completa de cada dia no site oficial da cidade.
Hoje, por exemplo, serão realizados o Ensaio de Maracatus e o Bloco da Diversidade.
Mas, o melhor mesmo acontecerá entre os dias 4 e 8 de março, com a passagem dos bonecos gigantes e os grupos de frevo.
Entre os blocos e agremiações, vale a pena acompanhar aqueles mais famosos pelo número de integrantes e pela animação, como o Arrastão do Ceroula, Desfile das Virgens do Bairro Novo, O Babão, Bloco Projeto 50 e O Enquanto Isso na Sala da Justiça.
Recife
Na capital Recife, o carnaval mantém o título de "Multicultural". Para apresentar uma festa democrática, popular e diversificada, a prefeitura monta polos espalhados por toda a cidade com espetáculos gratuitos e de alta qualidade e que contam com agremiações carnavalescas e shows com artistas e orquestras.
Nos últimos 11 anos, o Carnaval Multicultural do Recife presta homenagem a grandes nomes da cultura pernambucana. Neste ano, os homenageados são o Maestro Duda e a artista plástica Tereza da Costa Rêgo.

Para a presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Luciana Félix, o Carnaval Multicultural do Recife é a maior festa popular do Brasil.
Em quatro dias, a capital pernambucana promove 350 shows de palco, 800 desfiles de agremiações carnavalescas em 8 polos centralizados, 9 polos descentralizados, 40 polos comunitários e 5 corredores descentralizados de agremiações, totalizando 3.000 apresentações simultâneas em toda a cidade.
"No Recife, o turista brinca um Carnaval que traduz uma política pública de cultura erigida sob os preceitos da descentralização, pluralidade, democratização e inclusão social. Quem vier para cá terá acesso a uma programação artística de qualidade, que mescla as nossas tradições: desfiles de agremiações carnavalescas, blocos líricos, troças, clubes, bois, maracatus, caboclinhos e afoxés, com as atrações de fora, a uma infraestrutura segura", diz Luciana.

Programação
Ela ressalta que a programação completa pode ser conferida no site oficial da prefeitura (www.meucarnavaldorecife.com.br), que apresentou uma estimativa de 2,5 milhões de foliões na ruas de Recife, entre o dia 4 e 9 de março.

Entre as novidades deste ano, está a decoração da cidade que se estende à orla do bairro de Boa Viagem, e a avenida Agamenon Magalhã

AQUÍFEROS URBANOS - LAGOA RODRIGO DE FREITAS - RIO

AQUÍFEROS URBANOS - LAGOA RODRIGO DE FREITAS - RIO DE JANEIRO - BRASIL






domingo, 27 de fevereiro de 2011

NOSSO BLOG VISTO NO BRASIL E NO MUNDO

NOSSO BLOG VISTO NO BRASIL E NO MUNDO

20/02/2011, às  20:00 – 27/02/2011, às  19:00
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Vicente
vicentedeocleciano@yahoo.com.br

CRÔNICA ... VIAJAR PARA A PRÓPRIA CIDADE

CRÔNICA DOMINICAL - 27 DE FEVEREIRO DE 2011.

VIAJAR PARA A PRÓPRIA CIDADE


Vicente Deocleciano Moreira



Quem mora em cidades médias ou grandes quse sempre sonha em viajar no final de semana, de modo a viver um domingo diferente.

Mas ... viajar para onde? Não raras vezes, as pessoas deixam de viajar com a família porque viajar  passou a significar deslocar-se (automóvel, aviaão, ônibus, trem ...)  para algum balneário, praia ... enfim ... para algum lugar fora, o mais distante possível, da cidade em que se reside.

Ouso sugerir que você viaje para a própria cidade ... sim ... em que você mora e/ou trabalha. Você pode viajar para um hotel, dentro de sua cidade, com piscina, quadras esportivas e mais outros itens de conforto não necessariamente luxuoso; saia de casa, com a família, sábado (pela manhã) e "mergulhe" - só você e sua família - num hotel; é isso, passe um final de semana num hotel mais perto menos perto de seu endereço residencial. E só saia de lá domingo à tarde/noite, quando tiver que voltar para casa. Trabalho, escola, compromissos da segunda-feira ...

Retire-se, faça um retiro com sua família.

Tome café da manhã sem precisar fazer ou mandar fazer café.

Almoce sem precisar fazer almoço e sem precisar mandar fazer almoço.

Jante sem precisar fazer o jantar  ou precisar mandar fazer a janta.

Não lave louças ou talheres; nem mande fazer isto.

Isole-se com seu cônjuge, com seus filhos; em casa voocê nunca tem tempo para eles, nem mesmo para brincar, ser informal com eles, ver televisão todos juntos ...

Passe um domingo diferente, sem gastar muito dinheiro e paciência  com estradas, pedágios  ou engarrafamentos. Sem ter que dividir com ninguém o doce bolo afetivo de estar só com seus familiares num espaço ecologica, fisica e psicologimente diverso das quatro paredes da  sua casa ou apartamento.

E  TUDO ISSO NUM DIA DE DOMINGO.

_____
Pense nisso. Todos agradecerão

MUNDO ... O POVO DESORGANIZADO , FERREIRA GULLAR

MUNDO VASTO MUNDO DE 27 DE FEVEREIRO/2011

O POVO DESORGANIZADO , FERREIRA GULLAR

[Folha de São Paulo. São Paulo (Brasil), 27 de fevereiro de 2011, p.E10]


FERREIRA GULLAR

O povo desorganizado


 



A fagulha que incendiou a nação egípcia foi o suicídio de um jovem, em resposta à repressão policial



O FIM da ditadura de Hosni Mubarak, no Egito, pode suscitar indagações acerca das consequências que podem advir dela, mas num ponto todas as opiniões parecem coincidir: foi o povo desorganizado que pôs abaixo o regime autoritário que durara 30 anos.

No Egito havia -e ainda há- numerosos partidos e organizações sociais que, de uma maneira ou de outra, vinham atuando na vida do país. Mas não partiu de nenhuma delas a mobilização popular que, concentrada na praça Tahrir, durante 18 dias, obrigou o ditador, obsessivamente apegado ao poder, a abrir mão dele. A fagulha que incendiou a nação egípcia foi o suicídio de um jovem, em resposta ao abuso da repressão policial.

Esse gesto desesperado despertou a revolta inicialmente de algumas dezenas de jovens, depois de centenas, de milhares e finalmente de milhões de cidadãos. Ignorando o poder repressivo do regime, foram para a rua, ocuparam a praça e receberam o apoio do povo egípcio. O povo desorganizado se mobilizou e através da internet passou a coordenar suas ações e seus objetivos. Parece um milagre? Pode parecer, mas não é. A razão disso é que o povo é, de fato, o detentor do poder, esteja ele organizado ou não.

Essa rebelião popular espontânea leva-me a refletir sobre o que chamo de "povo desorganizado". O que é, então, o povo organizado? Certamente aquelas parcelas da população que atuariam nos sindicatos e em outras entidades profissionais, estudantis e culturais. O objetivo de tais organizações, ao serem criadas, é defender os interesses das categorias e classes sociais que representam. A verdade, porém, é que isso nem sempre acontece e pode até mesmo ocorrer que tais organizações passem a se valer de sua suposta representatividade para atuar contra os interesses que deveriam defender.

Isso pode acontecer de várias maneiras, especialmente nos regimes autoritários. Por exemplo, no Brasil, quando os militares tomaram o poder, prenderam as lideranças sindicais e as substituíram por agentes do regime. A partir de então, essas entidades, que deveriam representar o povo organizado, agiam em sentido oposto, isto é, impedindo toda e qualquer manifestação contrária ao governo. Por isso que a primeira grande manifestação popular contrária à ditadura -a passeata dos Cem Mil- nasceu da mobilização espontânea de intelectuais e artistas que, em face da repressão policial, se concentraram num teatro e dali apelaram para a solidariedade da população, que aderiu a eles.

Mas essa noção da potencialidade política do povo desorganizado deveria ser acionada também no estado democrático, quando as entidades, que deveriam lutar pelos direitos da população, são cooptadas pelos que exercem o poder.

No Brasil, temos um péssimo exemplo: o de Getúlio Vargas, que, ao criar o imposto sindical, anulou a combatividade dos sindicatos de trabalhadores. Foi uma medida maquiavélica. Enquanto em outros países os sindicatos nascem da conscientização dos trabalhadores, que neles se organizam e os mantêm com sua contribuição mensal, os nossos, sustentados pelo imposto que é cobrado de todos os assalariados e controlado pelo governo, dispensam a participação efetiva dos assalariados.

Noutras palavras, são entidades-fantasmas, que não nasceram da necessidade dos empregados de se organizarem em entidades que defendam seus direitos. Por isso mesmo, poucos são os trabalhadores que delas participam, enquanto os oportunistas, com o apoio de minorais organizadas, passam a dirigi-las, impondo-se como lideranças fajutas.

Através delas, vinculam-se a partidos políticos, elegem-se deputados, tornam-se ministros e passam a atuar na vida política. Como a maioria dos trabalhadores ignora tudo ou quase tudo do que estou dizendo aqui, esses impostores passam por ser líderes de verdade e servem de "pelegos" para manter os trabalhadores submissos aos jogos de interesses.

Agora, mesmo esses falsos líderes apresentaram-se como defensores de um aumento do salário mínimo maior que o oferecido pelo governo, num jogo de cartas marcadas, demagógico, cujo resultado estava previsto.

E assim as coisas irão até que, um dia, o povo desorganizado perca a paciência e acabe com essas lideranças de araque e esses sindicatos de mentira.

ZARATUSTRA: DA MONTANHA PARA A CIDADE (7 - FINAL)

ZARATUSTRA: DA MONTANHA PARA A CIDADE (7 - FINAL)


"Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo..."

(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)



"A vida mais doce é não pensar em nada"
(Nietzsche)

Vicente Deocleciano Moreira

Já sentindo saudades, estamos a encerrar a série ZARATUSTRA: DA MONTANHA PARA A CIDADE. Com mais provocações e indagações  que soluções - vale marcar. Disse e repito que não tenho apetite para fazer ilações entre o modelo de  cidade 'da época' de Nietzsche (1844-1900) e a cidade


visitada por Zaratustra. Daí que não me perderei  em informações biográficas muito menos aquelas que façam referências às cidades por onde o filósofo passou ou viveu. O fato de a cidade, a "vaca malhada" ou a "vaca colorida", ser dotada de portas não significa necessariamente ser/ter sido uma cidade medieval.
Não sei se Salvador /capital da Bahia - Brasil/ pode ter sido uma "cidade medieval" por ter sido limitada - no século XVI, pelo pensamento urbanístico "medieval" do século XVI -  ao Norte pelas Portas do Carmo (no atual 'Largo do Pelourinho') e ao Sul  pelas Portas de Santa Catarina (na atual 'Praça Castro Alves').
No momento em que Zaratustra, cadáver do equilibrista sobre os ombros, transpõe as portas da "vaca colorida", ou (como queiram) da cidade, (sem dizer palavra em meio a tantos insultos e ameaças) talvez as portas não tenham sido - na cabeça genial de Nietzsche - um signo, uma porta concreta ... e sim uma metáfora. Um símbolo? Tanto que eu posso dizer muito bem que, ano passado,  ao sair das portas de Curitiba, encontrei um velho amigo,  etc, etc.
Como estamos in considerações finais autorizo-me a ser repetitivo até mesmo para (re)dizer que há três ecologias na trajetória zaratustriana: a montanha habitada pela águia e pela serpente e por toda a simbologia que esses animais carregam; a trajetória riscada pela solidão ... e o advento do 'santo' só faz realçar a solidão de Zaratustra; e a cidade. Que, como toda a cidade de todo e qualquer tamanho tem algo qualificado como principal: praça ou rua, não importa. Não importa, também, se o adjetivo (principal) tem origem no(s) princípio(s) ou no(s) príncipe(s) - mesmo que lá nuna tenha sido pisado por um príncipe ou princesa. A  rua principal  ou a praça principal quase sempre  abriga os principais equipamentos: sede da prefeitura, templo religioso mais importante, árvores mais copadas ou mais bonitas, jardins mais cuiodados, mais floridos, etc.


(Nietzsche)

Por que a cidade resiste e reponde com má vontade à insitência do 'novo' (do Super-homem) trazido por Zaratustra? Em meio a mil  possibilidades interpretativas e leituras,  de que representações  seriam representantes o equilibrista de um lado, e o 'palhaço' de outro?

Que gêneros de conflitos esses atores exibem sobre a corda insegura amarrada nas duas torres seguras? Torres que olham, vigiam ... e defendem  cavalos, bispos e reis; e (quem sabe?) peões.

À luz das construções teóricas de Émile Durkheim, direi - inclusive para fazer pensar - que nas duas primeiras ecologias (montanha e caminho para a cidade) reinaria a solidariedade orgânica; na cidade dominaria a solidariedade mecânica. Ainda sob esta douta luz, arriscarei que o equilibrista põe em xeque - 'desequilibra' o status quo (a ordem vigente, conformada e resignada) da cidade e de seus habitantes. E o que atrai toda essa gente à praça principal para ver o "show" do saltibanco é a necessidade (reprimida) de mudanças sociais. O saltibanco representa a representação da Democracia; contra o despotismo, ele é a ameaça em pessoa, ato e cosnequência.

O 'palhaço' é o representante da representação da Ditadura, do autoritarismo/ falei tá falado/ não quero discussão/ do "você calado já está errado". O 'palhaço' é o poder ditatorial que, no livro, vence a ousadia subversiva do equilibrista, mata-o. Homicídio doloso? Homicídio culposo? - Ora amig@s ... não importa!. É o Estado se autoatribuindo o poder de matar, através da pena de morte com  que o 'palhaço' condena o saltimbanco. É o Estado como se dissera: "faça o que eu mando, não faça o que eu faço".

Zaratustra, outro questionador do status quo ... do conformismo coletivo, não perde por esperar. Zaratustra identifica-se com o equilibrista, a ponto de carregar seu cadáver, horas e horas, retirando o corpo e a memória daquele ousado questionador daquele universo de solidariedade(s) mecânica(s) pintado, esculpido e assinado pelo todo-poderoso-ditador 'palhaço'. Por força dessa identificação ele é julgado e ameaçado pelo 'palhaço'. Por força dessa identificação, Zataustra é ridicularizado pelos coveiros da liberdade que têm medo do contágio trazido pelo cadáver e pelo que ele representa.

Zaratustra leva o corpo, do "cão", do "animal asqueroso" para longe dalí; sepulta-o no oco do tronco de uma árvore .. longe dos ataques dos lobos ... de todos os lobos ... Sim, todos  os lobos.

Senhores e senhoras, ou acreditamos em Hobbes ou não acreditamos que "o homem seja lobo do homem".

Sim neste momento, às 17 horas e  trinta minutos deste último domingo de fevereiro/2011, no Oriente Médio, nos "países árabes" ... quantos "palhaços" caíram, fugiram, ou estão na 'corda bamba' ou estão prestes a cair dela?

Quanto são os equilibristas mortos, vivos .. mas todos bem sucedidos? Precisa, ainda, perguntar quem é o Super-homem que  Zaratustra  traz à cidade .. todas as cidades ... ou basta ler as notícias internacionais (Oriente Médio) dos jornais e revistas das últimas semanas?

Não sou eu, Vicente,  quem assim vos fala. É que assim falou Zaratustra.


___________
( Recomendo-lhes a leitura/releitura de ASSIM FALOU ZARATUSTRA: UM LIVRO PARA TODOS E PARA NINGUÉM, de Nietzsche)





sábado, 26 de fevereiro de 2011

ZARATUSTRA: DA MONTANHA PARA A CIDADE (6)

ZARATUSTRA: DA MONTANHA PARA A CIDADE (6)

"Sem a música, a vida seria um erro"

(Nietzsche)

Vicente Deocleciano Moreira

Cadáver do saltibanco sobre os ombos, Zaratustra começa sua jornada, abandonando a cidade. Antes de dar cem passos, um homem lhe chegou subrepticiamente e lhe disse, ao ouvido, as seguintes palavras:

"Afasta-te dessa cidade, ó Zaratustra. Há aqui muita gente que te odeia. Os bons e os justos odeiam-te e dizem que és seu inimigo e os desprezas; os fiéia à verdadeira fé odeiam-te e dizem que és um perigo para o povo. Tiveste sorte em se terem rido de ti; e a verdade é que falaste como  um bobo. Tiveste sorte também  em te teres ligado a esse cão morto: ao rebaixara-te desse modo, salvaste-te por hoje. Mas afasta-te desta cidade - senão amanhã talvez pule por cima de ti, eu, vivo, por cima de um morto."

O homem - talvez dê para perceber - era o 'palhaço', o  qual, logo após as ameaças, desapareceu como por encanto. Ruelas sombrias testemunharam a marcha de Zaratustra que,  ao transpor as portas da cidade, teve o rosto iluminado pelos archotes de dois coveiros que dele zombaram e riram, a não poder mais:

"Vejam Zaratustra que leva este cão morto! Ainda bem que Zaratustra se fez coveiro! Sim, que nós não íamos sujar as mãos com semelhante animal. Com que então Zaratustra quer tirar a comida da boca do Diabo? Enfim, seja: muita coragem e bom apetite! Só esperamos que o Diabo não seja um ladrão mais astuto que Zaratustra!  É capaz de os levar aos dois, de os devorar a ambos!"

Os coveiros riam e cochichavam, enquanto Zaratustra prosseguia sua jornada que iria durar quatro horas - orientado pela luz das estrelas - entre bosques, animais selvagens, solidariedade de um velho solitário que lhe ofereceu pão e vinho ...

A alvorada surpreendeu Zaratustra numa floresta espessa, fechada, e sem nenhuma vereda. Colocou o falecido dentro do tronco oco de uma árvore; alí, o cadáver estava protegido contra o ataque  dos lobos e de outros animais.

Dormiu durante muito tempo, e - de repente - levantou exultante e confidenciou ao próprio coração:

"Deparou-se-me uma luz: tenho necessidade de companheiros vivos, não de companheiros mortos e de cadáveres que levo comigo para onde quero.
É de companheiros vivos que necessito, de compenhrios que me sigam porque desejarão seguir-me, e seguir-me para onde eu quero.
Deparou-se-me uma luz: não é à multidão que Zaratustra deve falar, mas a companheiros. Zaratustra não será nem pastor de um rebanho nem o cão de um pastor.
Vim para desviar do rebanho muitas ovelhas. É necessário que a multidão e o rebanho se irritem contra mim; Zaratustra quer que os pastores vejam nele um  ladrão.
(...)


(Amanhã, domingo, sétima e útlima postagem de ZARATUSTRA: DA MONTANHA PARA A CIDADE)


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

ZARATUSTRA: DA MONTANHA PARA A CIDADE (5)

ZARATUSTRA: DA MONTANHA PARA A CIDADE (5)


"Quanto mais me elevo, menor fico aos olhos de quem não sabe voar"
.
Nietzsche



Súbito, a multidão estava como que anestesiada. O saltibanco já estava em evolução, no meio do trajeto sobre a corda entre as duas torres,  uma pequena porta se abriu para a saída de  um homem vestido de palhaço, correndo sobre a corda na direção do equilibrista, e gritando:

"Toca a avançar, ó coxo ... avança paspalho, sonso, cara de enterro! E toma tento e não te vá eu espevitar com a ponta do sapato! Que fazes tu entre essas duas torres? Dentro da torre é que é o teu lugar, devis ser lá fechado. Assim impedes o caminho de quem vale mais que tu.



Mais e mais o palhaço avançava e cada vez menos a multidão hipnotizada respirava, quando o 'palhaço' soltou um grito aterrorizante e pulou por sobre o saltimbanco que perdeu o equilíbrio; soltou a vara e despencou caindo desajeitado sobre o chão. A queda abriu uma espécie de 'clareia' na turba. Todos fugiram da praça para diversas direções. Somente Zaratustra permaneceu imóvel, contemplando o corpo que tombou precisamente  ao seu lado. Praça vazia, ao recobrar a consciência, o equilibrista viu Zaratustra ajoelhado diante de si. E um diálogo precioso marcou  a solidão dos  dois homens:

Equilibrista - "Que fazes aqui? Já de há muito sabia que o Diabo viria a passar-me uma rasteira. E agora arrastar-me-á com ele para o inferno; podeis impedí-lo?

Zaratustra - "Por minha honra, amigo, tudo isso que falas não existe; não há Diabo nem inferno. A tua alma vai morrer ainda mais depressa que o teu corpo; não temas pois."

Equilibrista, com olhar desconfiado  - "Se falas verdade, nada perderei ao perder a vida. Não valho mais que o animal a quem ensinaram a dançar, à força de maus tratos e pouca comida."

Zaratustra - "Não é assim. Fizeste do perigo o teu ofício, e isso nada tem de desprezível. Agora vais morrer por causa desse mesmo ofício, e com as minhas mãos te enterrarei".

Sem nada mais poder dizer, o morimbundo tremeu a mão procurando  a mão de Zaratustra como se desejasse lhe agradecer.

A noite chegava na praça vazia onde comçava a escurecer. Zaratustra, mergulhado em seus pensamentos, continuava sentado junto ao morto.  Mas o veu escuro da noite, cada vez mais  fria, cobriu definitivamente a cidade. Zaratustra levantou-se e entoou um monólogo que acabava assim:

(...)

"Escura é a noite, escuros são os caminhos de Zaratustra. Vem, companheiro rígido e gelado! levar-te-ei para longe e, com minhas próprias mãos, te darei sepultura".

Zaratustra colocou o cadáver sobre as costas e começou a caminhar.

___________
(Amanhã, sábado, continuemos a acompanhar Zaratustra)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ZARATUSTRA: DA MONTANHA PARA A CIDADE (4)

ZARATUSTRA: DA MONTANHA PARA A CIDADE (4)

"Amo aquele que da sua virtude faz a sua tendência e a sua fatalidade; é assim que, por amor da sua virtude,  ele quer, ao mesmo tempo, continuar vivo e deixar de viver.
Amo aquele que não quer ter demasiado virtudes. Uma virtude é mais virtude que duas, é um nó mais seguro a que o destino se prende"

(Zaratustra)


Vicente Deocleciano. Moreira

No lugar do equilibrista, um profeta ... ou o que o valha ... que aproveita a multidão na praça principal da cidade e começa sua pregação:


"Venho anunciar-vos o Super-homem"
(...)
"Eis que venho anunciar-vos o Super-homem.
O Super-homem é o sentido da terra. Que a vossa vontade diga: Possa o Super-homem tornar-se o sentido da terra!
Eu vos conjuro, ó meus irmãos, mantende-vos fiéis à terra e não acrediteis naqueles que vos falam de esperanças supraterrenas. Cientes disso ou não, são envenenadores" 
(...)
"Eis que venho anunciar-vos o Super-homem. É ele esse raio, é ele essa loucura"


Movido pela frustração (afinal, todos estavam a esperar um   equilibrista!) ou pela descrença no Superhomem propagandeado por Zaratustra, um homem do meio da multidão gritou:


"Já basta de falar desse saltibanco! Mostra-no-lo agora!


Ato contínuo as  pessoas, pensando que o Super-homem era o saltibanco que os arrancou de suas casas e qual esperavam com ansiedade, começaram a zombar de Zaratustra. O autêntico e tão aguardado saltibanco estava ali, fazia tempo, e ao ouvir a palavra saltibanco imaginou que o chamavam, que exigiam sua presença.  E começou imediatamente sua exibição.


Assustado, Zaratustra exclamou:

"O homem é uma corda estendida entre o animal e o Super-homem - uma corda por cima de um abismo.
Perigoso é atravessar o abismo - perigoso seguir esse caminho - perigoso olhar para trás - perigoso ser tomado de pavor e parar!
A grandeza do Homem está em ser ele uma ponte e não um final; o que podemos amar no Homem, é ser ele transição e naufrágio."

Zaratustra prosseguiu sua doutrinação, e teve como resposta um conjunto de provocações:

"Dá-nos esse Último Homem, ó Zaratustra!"

"Transforma-nos nesses Últimos Homens! E guarda para tí esse teu Super-homem!"

Todos, então, começaram a estalar a língua; e isso muito afligiu Zaratustra que disse, desde o mais fundo de seu coração:

"Não nos compreendem, não sou eu a boca que convém a esses ouvidos".

Espírito cheio de mágoa, Zaratustra continua a queixar-se de si para si:

"Demasiado foi o tempo que vivi na montanha, demasiado escutei os ribeiros e as árvores; agora, falo-lhes como se fala aos cabreiros.
A minha alma não está turva, mas clara como a montanha na madrugada. Porém, eles julgam-me frio, tomam-me por algum sinistro farsante.
E agora olham-me, trocistas; não contentes com a troça, ainda por cima me odeiam. Há gelo nas suas risadas"

Mas um acontecimento transformou, de repente,  a algazarra reinante  em silêncio sepulcral, em mudez coletiva.

_____________
(Amanhã, sexta-feira, prosseguiremos)

LARGO DO ESTÁCIO - RIO DE JANEIRO - BRASIL


Largo do Estácio, anos 40, por Andre Decourt às 0:00



foi um RIO que passou

Um site sobre o Rio de Janeiro com fotos e textos


Em mais uma fantástica foto de Ferreira Júnior, gentilmente enviada por seu afilhado Sidney Paredes  Rodrigues vemos uma cena de cotidiano no Largo do Rio Comprido Estácio nos anos 40.

O Largo do Estácio é um dos logradouros que testemunha o avanço da cidade para os sertões, notadamente  a partir do séc. XVII para os engenhos dos Jesuítas, sendo o caminho natural após o Mata-Cavalos e posteriormente do caminho da Sentinela ou Novo do Conde Cunha. As primeiras vias que saiam do núcleo primitovo da cidade e iam se esqueirando junto a encosta ( Mata-Cavalos) ou por trechos mais altos entre os charcos, pântamos e Lagoas da região fronteira ao Mangal de São Diogo e os pântamos junto aos Morros de Santo Antônio e Senado.

Região apreciada pelos bandoleiros que no seticentismo praticavam assaltos pilhando cargas de alimentos e gêneros que se dirigiam a cidade, se escondendo logo após no denso matagal que envolvia os caminhos.

O largo possivelmente surgiu em virtude do entroncamento dos velhos caminhos urbanos, rumo ao sertão com a sua principal via de penetração, o Caminho do Engenho Velho, hoje rua Haddock Lobo. Nesses remotos tempos já havia sido erigida no local uma pequena capela dedicada ao Divino Espírito Santo, certamente para abençoar os viajantes que partiam e os que chegavam.

Pouco a pouco foi surgindo um pequeno núcleo urbano  em volta do largo e da pequena capela, que ia se transformando em igreja com o passar dos anos. No local por inciativa do Marquês do Lavradio foi montada uma das primeiras indústrias da cidade, uma fábrica de encordoamentos para navios, que dava uma noção da importância do porto do Rio naquela época.

Em 1899 a primitiva igreja, na realidade a velha capela com várias ampliações e modificações como pode ser visto em uma gravura de 1817 de Thomas Ender foi demolida para dar lugar ao templo que até hoje se encontra no local.

Antres da abertura da Pres. Vargas, e da construção do sistema viário do Trevo das Forças Armadas o largo tinha o papel da Praça da Bandeira de hoje, de ser a porta de entrada para a Zona Norte e Subúrbios da cidade, por quem se deslocava de carro, bonde ou ônibus, sendo nos anos 40,50 e 60 ponto constante de transito pesado e congestionamento.

A foto além do bonde mostra muitos elementos da época, como os carros, o mobiliário urbano, com destaque para a placa de parada de bonde, já sem os refúgios expondo os passageiros ao transito, um escondido posto da Standart Oil já com a bandeira Esso e um conjunto de sobrados muito antigo, na extrema direita da imagem, com velhas telhas canal,  hoje demolido.

Hoje o largo se encontra mutilado, sendo uma das vítimas das desastrosas “requalificações” urbanas implementadas no Catumbi e Cidade Nova e também pelas danosas demolições do Metrô, sendo fronteiro a ele  uma das mais importantes estações do sistema. A Estácio, ponto de transbordo norte do sistema do Metrô entre as linhas 1 e 2, e que com a construção da absurda e inconcebível linha 1-A está sendo abandonada como também todo o prolongamento da Linha -2 até a Carioca, destino natural e CERTO da Linha 2.

Agradecemos a colaboração do amigo Walter Govea, que descobriu o local com precisão, pois eu estava com dúvidas, principalmente pela anotação da foto, que indicava o Largo do Rio Comprido.
"Largo do Estácio, anos 40" foi publicado em 19 de fevereiro de 2010.


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 Comentários

  1. Luiz D´ comentou,
    Realmente a fotografia é espetacular. Compartilho da sua opinião sobre o Rio Comprido desta época. O viaduto, uma grande solução em termos de trânsito, acabou com o bairro. Fico imaginando os moradores da Avenida Paulo de Frontin que viveram até esta época num local agradabilíssimo e desde a década de 70 estão sufocados pelo trânsito. Isto sem falar, é claro, das favelas que circundam a área.
    JBAN respondeu em 28 de fevereiro de 2010 às 1:55:
    Espetacular o acervo.
  2. Honorio Vargas comentou,
    O Amparo Feminino, é o hospital que alguns chamavam de Hospital Alemão?
  3. Sidney Paredes comentou,
    Mais uma vez, agradeço a publicação da foto produzida por meu padrinho, enriquecida pelos comentários e referências históricas do André, que potencializam o trabalho do fotógrafo.
    O casamento de imagem e texto, novamente, ficou perfeito.
    As lembranças do Rio Comprido me são muito boas, pois lá moraram meus avós, meus pais e lá foi onde nasci.
    Pena que, como a Rua Jardim Botânico, a Av.Paulo de Frontin, tenha se transformado em mera via de passagem, descaracterizando um bairro tão bonito e repleto de tradições…
    Enfim, é o progresso…
  4. Walter Gouvea comentou,
    Caro Andre,
    Permita-me contribuir com uma correção. Na foto vemos o Largo do Estácio e não o Largo do Rio Comprido. A direita do bonde vemos o gradil do Hospital da Polícia Militar e uma frondosa arvoré que até hoje resiste. A esquerda do bonde fica a subida do Morro de São Carlos. O posto de gasolina também continua firme na mesma esquina, só que agora não tem mais bandeira, embora preserve as cores vermelha e branca. É interessante ressaltar que no prédio, encoberto pelas arvorés, situado em oposição ao posto de gasolina estava instalada a loja matriz das Casas da Banha. Todo o casario à direita foi derrubado para a construção da Estação Estácio do Metro. O itinerário do bonde que seguia na direção do Centro da Cidade indica “Estácio – Frei Caneca”.
    Andre Decourt respondeu em 19 de fevereiro de 2010 às 22:06:
    Walter, pensei também no Largo do Estácio, mas as fotos que eu tenho da Igreja do Divino a torre parece bem mais aguda que a da foto. E como ela veio identificada pelo fotógrafo como Largo do Rio Comprido, mesmo com dúvidas mantive o lugar. Para complicar o bonde 47 passava por ambos os lugares no seu caminho para o fim da Rua Santa Alexandrina, complica mais ainda pela verdadeira terra arrasada que transformou essa região, com as demolições entrando Haddock Lobo a dentro desde os anos 80.
    Abraços e obrigado
  5. Afranio comentou,
    Walter, você está certo, se fosse pegadinha já teria matado a charada. Vemos claramente o posto de gasolina que fica na esquina da rua Maia Lacerda. Mais a frente vemos a torre da igreja Divino Espírito Santo, no final da rua Estácio de Sá e início da Haddock Lobo, quase em frente a rua Joaquim Palhares. O lado direito da rua Estácio de Sá, realmente foi todo demolido a pouco mais de 10 anos.
  6. Henrique Filgueiras comentou,
    Depois do comentário do Walter Gouveia a situação foi muito bem esclarecida. Realmente , o lugar é o largo do Estácio. Em 1970, quando o Brasil foi tricampeão mundial de futebol, eu tinha um grupo de fãs do meu conjunto de rock que morava nesse prédio ao lado do posto Esso depois da Rua Maia Lacerda!!
    Excelente comentário seum Walter Gouveia!!!
  7. Augusto comentou,
    Ouvi hoje que o Ministério Público vai pedir a suspensão dos serviços da Linha 1A até que todas as obras estejam prontas. O argumento do MP foi o mesmo já descrito em vários posts do André, principalmente a questão do ângulo da descida dos trilhos para chegar aos da Linha 1 original.
  8. Rafael Netto comentou,
    O Estácio foi mutilado pelo Metrô, mas pelo menos vem escapando da destruição total sofrida pela vizinha Cidade Nova.
    Aliás é bom lembrar que aquela região é violentada pelo governo desde o século 19. Começando com a construção da linha férrea que desconectou o Santo Cristo da Cidade Nova, mais tarde a abertura da Presidente Vargas que fragmentou ainda mais a região, culminando com o Metrô e o Teleporto que arrasaram completamente o que restava. Talvez a única revitalização digna que a região sofreu foi a construção da Avenida do Mangue, que era bem aprazível até os anos 40.
    JBAN respondeu em 28 de fevereiro de 2010 às 1:56:
    A Cidade Nova está realmente virando uma nova cidade. Começa agora o movimento para construção dos edifícios, com 50 anos de atraso.
  9. Ricardo Galeno comentou,
    Estou me sentindo em casa!
    Depois que mudei para o Estácio, fiquei apaixonado pelo bairro!!
  10. Sidney Paredes comentou,
    Realmente a foto tirada por meu padrinho apresentava uma referência manuscrita como sendo o Largo do Rio Comprido. Ignoro quem a colocou, mas tenho certeza absoluta que não foi Ferreira Júnior, que, além de profundo conhecedor da cidade, sempre fora morador do Estácio, em um casarão, bem no início da rua de São Carlos.
    Eu não dispunha de conhecimento para fazer qualquer correção, tendo em vista, inclusive, a idade da foto.
    Peço desculpas ao André, por havê-lo induzido ao equívoco, e, também aos leitores, mas tudo ficou muito bem resolvido.

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