segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

FCCV - SEM MIDIA: OS SINAIS DO EGITO

FCCV - FORUM COMUNITÁRIO DE COMBATE À VIOLÊNCIA - SALVADOR - BAHIA - BRASIL

Leitura de fatos violentos publicados na mídiaAno 11, nº 04, 07/02/11 

SEM MÍDIA: OS SINAIS DO EGITO

       
Não há Nilo, nem pirâmides. Em vez de humo para a atividade agrícola há uma enorme cidade, Cairo, e, numa grande praça, uma guerra de pedras. A civilização egípcia no final de janeiro e início de fevereiro de 2011 aparece nos jornais sem múmias e faraós. Populares contrários à permanência do presidente Hosni Mubarak são confrontados com defensores do regime atual e as cenas veiculadas pelos meios de comunicação evidenciam a perda de controle sobre a situação, levando à intensificação das ações violentas. Os jornais avisam que o chefe de estado está no poder há mais de 30 anos. Muito pouco se comparado com as pirâmides, mas uma eternidade para a população que relata décadas de arbítrio e de desrespeito aos direitos básicos.

O Egito que estava lá descansando nas páginas da história antiga insurge sobre as folhas dos jornais de agora dando ao mundo sinais de vida fora dos museus e dos percursos turísticos. Enquanto esteve relativamente calado ele parecia um “estado de graça” para onde convergiam os “sermões” do mundo árabe em busca de equilíbrio de conflitos, tão caro ao Ocidente. Quanto custava ao povo egípcio aquele ponto de estabilidade? Quantas mini-cúpulas foram realizadas naquele ponto avançado da racionalidade ocidental? E nos últimas 30 anos um mesmo chefe de estado fez as honras da casa sem que houvesse qualquer alarde ou mal-estar. Parece até que o Egito teria uma queda para a longa duração no poder, como um traço cultural.

E agora aquela imagem se desfaz. Não há mais o Egito do Sinai, mas dos sinais. E entre os variados sinais expostos, um ponto se revela fecundo para se imaginar o quão sufocado está o viver dos indivíduos que estão submetidos a um regime afeito ao despotismo. O mundo ficou sabendo da existência de uma censura “feitinha na hora”. A impossibilidade de se cobrir acontecimentos se tornou notícia básica através da qual se evidencia a certeza de que há muito mais que as tenebrosas imagens colhidas nas manifestações.

Jornalistas de várias partes do mundo sofrem ameaças, têm seus equipamentos apreendidos, são presos e expulsos do País. Aqueles que se mantêm no Egito incluem as suas condições de permanência como parte das notícias. Por eles se sabe, por exemplo, que a alimentação nos hotéis está se escasseando, que a eles não é permitido o livre trânsito e, cada vez mais, são criadas barreiras que excluem as suas presenças do centro dos acontecimentos. Já não podem mais portar os equipamentos de filmagem, já não encontram mais pessoas com coragem para lhes conceder entrevistas.

Estes sinais dão a impressão de que o poder estabelecido reconhece a comunicação massiva como arma capaz de provocar danos aos seus intentos. Ao que parece, controlar a informação, especialmente a de circulação universal, é procedimento avaliado como fonte de “suspiro” com o objetivo de dar à crise uma qualidade doméstica, interna e, quem sabe assim, evitar os constrangimentos  stica, interna e, quem sabe assim, evitar os contrangimentos .as ontecimentos. junto aos “parceiros internacionais” que, diante das pressões, estão sendo levados a pedir a renúncia de Mubarak.

A estratégia, entretanto, se revelou oposta à pretensão. A censura e a falta de respeito aos jornalistas se constitui, agora, prova em nível mundial de que aquele governo deve cair. Ao que parece, o governo egípcio não maneja bem as técnicas de comunicação. Tem-se a impressão de que ele acredita ter capacidade de controle sobre a auto-imagem e do País. Quem sabe os seus parceiros ocidentais não lhe tenham avisado sobre mudanças na natureza do valor da imagem na era da comunicação.


Ferida, a mídia vira parte do problema e não o seu silêncio. Seus profissionais ocupam o lugar de combatentes e, sem pedras para atirar contra as vidraças do poder, evidenciam as manobras ilegítimas através das quais os poderosos tentam manter-se no comando de um País tão importante e tão massacrado pela falta de democracia.  A Praça Tahrir já está no mundo inteiro cheia de jovens gritando “fora Hosni Mubarak!”. A separação entre o que está dentro e o que está fora daquele solo é mais uma fonte de notícia que anima a exaltação dos que apóiam os manifestantes egípcios em várias partes do mundo. E o efeito desfavorável à perspectiva do presidente Mubarak é que o Egito já não está ali grudado na terra dos faraós, ele agora está no ar.

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