quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

'LATRINA" ... (6) ..."Evolução dos Sistemas de Esgotamento (I)

"LATRINA - A MAIOR INVENÇÃO DA HUMANIDADE" (Vargas Llosa) (6)

"Evolução dos Sistemas de Esgotamento  (I)



"No final do século XIX, a construção dos sistemas unitários propagou-se pelas principais cidades do mundo na época, entre elas, Londres, Paris, Amsterdam, Hamburgo, Viena, Chicago, Buenos Aires, etc. Porém nas cidades situadas em regiões tropicais e equatoriais, com índice pluviométrico muito superior (cinco a seis vezes maiores que a média européia, por exemplo) a adoção de sistemas unitários tornou-se inviável devido ao elevado custo das obras, pois a construção das avantajadas galerias transportadoras das vazões máximas contrapunham-se às desfavoráveis condições econômicas características dos países situados nestas faixas do globo terrestre.
No entanto, a evolução tecnológica nas nações mais adiantadas, como a Inglaterra por exemplo, e a necessidade do intercâmbio comercial, forçavam a instalação de medidas sanitárias eficientes, pois a proliferação de pestes e doenças contagiosas em cidades desprovidas dessas iniciativas propiciavam, logicamente, aos seus visitantes os mesmos riscos de contaminação, gerando insegurança e implicando, portanto, que os navios comerciais da época retirassem seus portos de suas rotas marítimas, temendo contaminação da tripulação e, conseqüentemente, causando prejuízos constantes às nações mais pobres e dependentes do comércio internacional. No Brasil relacionavam-se nesta situação, notadamente os portos do Rio de Janeiro e Santos.
Temendo os efeitos deste desastre econômico o imperador D. Pedro II (14), contratou os ingleses para elaborarem e implantarem sistemas de esgotamento para o Rio de Janeiro e São Paulo, na época, as principais cidades brasileiras. Ao estudarem a situação os projetistas depararam-se com situações peculiares e diferentes das encontradas na Europa, principalmente as condições climáticas (clima tropical, com chuvas muito mais intensas) e a urbanização (lotes grandes e ruas largas).
Após criteriosos estudos e justificativas foi adotado na ocasião, um inédito sistema no qual eram coletadas e conduzidas às galerias, além das águas residuárias domésticas, apenas as vazões pluviais provenientes das áreas pavimentadas interiores aos lotes (telhados, pátios, etc). Criava-se, então, o Sistema Separador Parcial, cujo objetivo básico era reduzir os custos de implantação e, conseqüentemente, as tarifas a serem pagas pelos usuários.
Finalmente, em 1879, o engenheiro George Waring (15) foi contratado para projetar um sistema de esgotos para a cidade de Memphis, no Tennesee, EUA, região onde predominava uma economia rural e relativamente pobre, praticamente incapaz de custear a implantação de um sistema convencional à época. Waring, diante da situação e contra a opinião dos sanitaristas de então, projetou em sistema exclusivamente para coleta e remoção das águas residuárias domésticas, excluindo, portanto, as vazões pluviais no cálculo dos condutos. Estava criado então o Sistema Separador Absoluto cuja característica principal é ser constituído de uma rede coletora de esgotos sanitários e uma outra exclusiva para águas pluviais.
Rapidamente o sistema separador absoluto foi difundindo-se pelo resto do mundo a partir das idéias de Waring e de suas publicações e também de um outro famoso defensor do novo sistema, seu contemporâneo, Engenheiro Cady Staley. No Brasil destacou-se na divulgação do novo sistema, Saturnino Brito (16), cujos estudos, trabalhos e sistemas reformados pelo mesmo, fizeram com que, a partir de 1912, o separador absoluto passasse a ser adotado obrigatoriamente no país. Sua consagração veio em 1905, quando contratado pelo Estado para solucionar o saneamento de Santos, não só construiu e modernizou os sistemas de abastecimento de água e coletor de esgotos como replanejou toda a parte urbana, projetou as avenidas principais e os os canias de drenagem, efetuou aterros de pântanos e construiu parques litorâneos e várias obras de proteção ambiental.
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NOTAS
(1) Empédocles de Agrigento (492 - 432 AC), político, filósofo, médico, místico e poeta grego, nascido em Aeragas, cidade colonial grega no litoral sul da Sicília, no Mar Mediterrâneo. Um dos notáveis defensores da teoria da constituição da matéria de Pitágoras e um profundo teórico da evolução dos seres vivos. Substituiu a busca dos jônicos de um único princípio das coisas pelos quatro elementos: fogo, terra, água e ar. Em Carme Lustral apresentava-se como um profeta e mensageiro. Como político notabilizou-se por se opor a oligarquia e defender a democracia, sendo por isso, desterrado, contando a lenda que morreu atirando-se no Etna para provar que era um deus. Como administrador mandou construir sistemas de drenagem em várias localidades da Grécia. Escreveu dois poemas em jônico: Sobre a natureza e Purificações.
(2) Ares, Águas e Lugares (em grego Aeron HidronTopon) foi o priimeiro esforço sistemático para apresentar as relações casuais entre fatores do meio físico e doença. Esse livro tornou-se um clássico da medicina por mais de dois mil anos, até o surgimento da Bacteriologia e da Imunologia. Nele pela primeira vez foram feitas as definições de endemia e epidemia.
(3) Caio Júlio César Otaviano (ou Otávio), Augusto ou também César Augusto (63 AC – 14 DC), primeiro imperador romano, filho de Caio Otávio e Átia e sobrinho-neto de Júlio César, que o adotou e o fez seu herdeiro. Depois de várias manobras políticas e militares tornou-se senhor único do Império Romano, em 30 AC. O nome Augusto foi-lhe então outorgado pelo Senado em 27 AC. e no ano 2 AC. conferiu-lhe, também, o título de Pai da Pátria confiando-lhe o poder absoluto por 44 anos, embora jamais tenha governado de forma despótica. Governante moderado e enérgico deu a Roma um traçado urbanístico dividindo a cidade em bairros e ruas. Entregou as obras de infra-estrutura pública (construção de estradas, aquedutos, galerias, etc.) ao leal e competente ministro Agripa, que seria seu sucessor caso não tivesse também falecido logo após sua morte. Deixou uma autobiografia gravada em duas colunas de bronze, no Campo de Marte, em Roma, Res gestae divi Augusti (Manumentum Ancyranum) conservadas até hoje. Foi sucedido por Tibério, um seu filho adotivo e general nomeado, confirmando assim, o estabelecimento de um regime monárquico.
(5) Tarquinius Priscus, o velho (c. 580 - 514 AC), quinto rei romano de origem etrusca. Grande administrador, concluiu em Roma uma galeria com 740m de extensão e diâmetro equivalente de até 4,30m, de pedras arrumadas, denominada de Cloaca Máxima, concluída em 514 AC, para drenagem do solo encharcado aos pés da colina do Capitólio e esvaziando no Tibre. Ainda hoje esta obra é parte do sistema de drenagem da cidade de Roma.
(6) Marcus Vitruvius Pollio (c. 70 - 25 AC), arquiteto, engenheiro, agrimensor e pesquisador romano, compilou conhecimentos sobre hidráulica existentes à época, derivados principalmente da literatura grega, escrevendo a obra De Architectura, dedicando-a ao Imperador Augusto. Projetou e construiu várias rodas d’água para acionamento de dispositivos mecânicos rudimentares. Também se notabilizou como autor de obras sobre Arquitetura. Em seu livro De Architectura, o volume VII tinha o título de De aquae inventionibus.
(7) Flavius Josefus (37 – c. 96 DC), historiador judeu, do início da era pós-Cristo.
(8) Herodes (c. 73 – 4 AC), rei da Judéia de 37 a 4 AC.
(9) Istanbul (c. 7.000.000 hab), Turquia, situada no Estreito de Bósforo, foi fundada pelos gregos como a sede da colônia de Bizâncio , sete séculos antes de Cristo. por onze séculos foi denominada de Constantinopla, nome dado por Constantino, o Grande, quando a proclamou capital do Império Romano Oriental, em 330 DC. Lá ele e seus sucessores construíram muitos edifícios, aquedutos, cisternas e fontes públicas. Em 1453 caiou sob o poder dos Turcos Otomanos, tornando-se do novo império. Apo´s a Primeira Guerra Mundial, com a proclamação da República Turca, novamente seu nome foi mudado para Istambul e a capital do novo país passsou para a cidade de Ankara.
(10)John Snow (1813 - 1858), um dos mais influentes médicos do século XIX nascido em York, Inglaterra. Mais conhecido por sua trabalho em cólera e anestesiologia, é considerado um dos fundadores da moderna epidemiologia. Auxiliar de cirurgias de William Hardcastle, graduou-se na Universidade de Londres, em 1843. Solteirão convicto, dedicou toda sua vida aos seus pacientes e a pesquisa médica. Nos anos de 1840, desenvolveu pioneiramente equipamentos empregados para aplicação do éter com segurança para pacientes. Seu livro On Ether, publicado em 1847, permaneceu como referência padrão até meados do século XX. Talvez sua maior contribuição sanitária foi demonstrar, em 1854, que fezes contaminavam a água e esta era a origem da infecção pela cólera, embora que também sua transmissão poderia ocorrer de pessoa para pessoa e através do alimento contaminado, deduzindo ser um organismo vivo a causa da doença. A aprovação de suas recomendações sanitárias preventivas eliminou a cólera da totalidade das comunidades inglesas. Fundou a Epidemiological Society.
(11) John Harrington (1561 - 1612), cortesão e poeta satírico inglês nascido em Kelston, Somerset. Formado em Cambridge, entrou para a história do saneamento quando idealizou e convenceu sua protetora, a Rainha Isabel, a instalar no palácio, um recinto interno e fechado com vaso cloacal, a primeira latrina. Entre seus escritos destacaram-se uma tradução de Orlando Furioso, de Ariosto (1591), The Metamorphosis of Ajax (1596) e um tratado sobre a sucessão da coroa.
(12) Joseph Bramah (1748 - 1814), engenheiro, inventor e construtor inglês nascido em Stainborough, Yorkshire que inventou a bacia sanitária com descarga hídrica, em 1778, a tranca de Bramah, em 1784, e a prensa hidráulica, em 1796, em Londres.
(13) Edwin Chadwick (1800 - 1890), sanitarista britânico, pioneiro da saúde pública e incansável apóstolo da higiene, o primeiro a compreender a tremenda importância da purificação da água. Naquela época sua pátria achava-se em pleno desenvolvimento industrial e as condições de higiene haviam-se agravado, principalmente com o lançamento indiscriminado dos efluentes industriais líquidos nos arroios e rios. Seu famoso Relatório, de 1842, sobre doenças na classe trabalhadora inglesa, demonstrou a relação entre pobreza e insalubridade e tornou-se modelo para outros sanitaristas em várias outra nações. Após integrar várias comissões importantes na história da saúde pública inglesa, em 1848, com o estabelecimento do Conselho Geral de Saúde, considerado um marco na história da saúde pública mundial, consagrou definitivamente suas brilhantes "idéias sanitárias".
(14) Dom Pedro II (1825-1891) nasce no palácio da Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, e foi batizado como Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bebiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga. Sétimo filho de dom Pedro I e da imperatriz Leopoldina, herdou o direito ao trono com a morte de seus irmãos mais velhos Miguel e João Carlos. Tinha 5 anos quando o pai abdicou, ficando no Brasil sob tutela de José Bonifácio de Andrada e Silva e, depois, do marquês de Itanhaém. Sagrou-se imperador aos 15 anos, em 18 de julho de 1841, um ano depois de ser declarado maior e começar a reinar. Em 30 de maio de 1843 casou-se com a princesa napolitana Teresa Cristina Maria de Bourbon, filha de Francisco I, do Reino das Duas Sicílias. Teve quatro filhos, mas só dois sobrevivem: as princesas Isabel e Leopoldina. No início de seu governo fez viagens diplomáticas às províncias mais conflituadas. Culto, protegeu artistas e escritores e manteve correspondência com cientistas de várias partes do mundo, investindo nos setores públicos e importando tecnologias. Entre 1871 e 1887 fez, por contas próprias, três viagens ao exterior, procurando trazer para o Brasil várias inovações tecnológicas. Com a proclamação da República, deixou o país e foi com a família para Portugal, em 17 de novembro de 1889. Dois anos depois, em 5 de dezembro, morreu de pneumonia em Paris, aos 66 anos.
(15)George Edwin Waring ( morto em 1898), coronel e engenheiro norte-americano, empregou pela primeira vez em Memphis, capital da Geórgia, EUA, o Sistema Separador Absoluto.
(16)Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, engenheiro civil e o mais notável sanitarista nacional, fluminense da cidade de Campos, nascido em 14/07/1864 e falecido em Pelotas-RS em 10/03/1929, cujos estudos, trabalhos e sistemas reformados pelo mesmo, fizeram com que, a partir de 1912, o separador absoluto passasse a ser adotado obrigatoriamente no país". 

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Amanhã, quinta,  "Evolução ... (II)
 




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