Largo do Estácio, anos 40, por Andre Decourt às 0:00
foi um RIO que passou
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Em mais uma fantástica foto de Ferreira Júnior, gentilmente enviada por seu afilhado Sidney Paredes Rodrigues vemos uma cena de cotidiano no Largo do Rio Comprido Estácio nos anos 40.
O Largo do Estácio é um dos logradouros que testemunha o avanço da cidade para os sertões, notadamente a partir do séc. XVII para os engenhos dos Jesuítas, sendo o caminho natural após o Mata-Cavalos e posteriormente do caminho da Sentinela ou Novo do Conde Cunha. As primeiras vias que saiam do núcleo primitovo da cidade e iam se esqueirando junto a encosta ( Mata-Cavalos) ou por trechos mais altos entre os charcos, pântamos e Lagoas da região fronteira ao Mangal de São Diogo e os pântamos junto aos Morros de Santo Antônio e Senado.
Região apreciada pelos bandoleiros que no seticentismo praticavam assaltos pilhando cargas de alimentos e gêneros que se dirigiam a cidade, se escondendo logo após no denso matagal que envolvia os caminhos.
O largo possivelmente surgiu em virtude do entroncamento dos velhos caminhos urbanos, rumo ao sertão com a sua principal via de penetração, o Caminho do Engenho Velho, hoje rua Haddock Lobo. Nesses remotos tempos já havia sido erigida no local uma pequena capela dedicada ao Divino Espírito Santo, certamente para abençoar os viajantes que partiam e os que chegavam.
Pouco a pouco foi surgindo um pequeno núcleo urbano em volta do largo e da pequena capela, que ia se transformando em igreja com o passar dos anos. No local por inciativa do Marquês do Lavradio foi montada uma das primeiras indústrias da cidade, uma fábrica de encordoamentos para navios, que dava uma noção da importância do porto do Rio naquela época.
Em 1899 a primitiva igreja, na realidade a velha capela com várias ampliações e modificações como pode ser visto em uma gravura de 1817 de Thomas Ender foi demolida para dar lugar ao templo que até hoje se encontra no local.
Antres da abertura da Pres. Vargas, e da construção do sistema viário do Trevo das Forças Armadas o largo tinha o papel da Praça da Bandeira de hoje, de ser a porta de entrada para a Zona Norte e Subúrbios da cidade, por quem se deslocava de carro, bonde ou ônibus, sendo nos anos 40,50 e 60 ponto constante de transito pesado e congestionamento.
A foto além do bonde mostra muitos elementos da época, como os carros, o mobiliário urbano, com destaque para a placa de parada de bonde, já sem os refúgios expondo os passageiros ao transito, um escondido posto da Standart Oil já com a bandeira Esso e um conjunto de sobrados muito antigo, na extrema direita da imagem, com velhas telhas canal, hoje demolido.
Hoje o largo se encontra mutilado, sendo uma das vítimas das desastrosas “requalificações” urbanas implementadas no Catumbi e Cidade Nova e também pelas danosas demolições do Metrô, sendo fronteiro a ele uma das mais importantes estações do sistema. A Estácio, ponto de transbordo norte do sistema do Metrô entre as linhas 1 e 2, e que com a construção da absurda e inconcebível linha 1-A está sendo abandonada como também todo o prolongamento da Linha -2 até a Carioca, destino natural e CERTO da Linha 2.
Agradecemos a colaboração do amigo Walter Govea, que descobriu o local com precisão, pois eu estava com dúvidas, principalmente pela anotação da foto, que indicava o Largo do Rio Comprido.
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Comentários
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O Amparo Feminino, é o hospital que alguns chamavam de Hospital Alemão?
Mais uma vez, agradeço a publicação da foto produzida por meu padrinho, enriquecida pelos comentários e referências históricas do André, que potencializam o trabalho do fotógrafo.
O casamento de imagem e texto, novamente, ficou perfeito.
As lembranças do Rio Comprido me são muito boas, pois lá moraram meus avós, meus pais e lá foi onde nasci.
Pena que, como a Rua Jardim Botânico, a Av.Paulo de Frontin, tenha se transformado em mera via de passagem, descaracterizando um bairro tão bonito e repleto de tradições…
Enfim, é o progresso…
Caro Andre,
Permita-me contribuir com uma correção. Na foto vemos o Largo do Estácio e não o Largo do Rio Comprido. A direita do bonde vemos o gradil do Hospital da Polícia Militar e uma frondosa arvoré que até hoje resiste. A esquerda do bonde fica a subida do Morro de São Carlos. O posto de gasolina também continua firme na mesma esquina, só que agora não tem mais bandeira, embora preserve as cores vermelha e branca. É interessante ressaltar que no prédio, encoberto pelas arvorés, situado em oposição ao posto de gasolina estava instalada a loja matriz das Casas da Banha. Todo o casario à direita foi derrubado para a construção da Estação Estácio do Metro. O itinerário do bonde que seguia na direção do Centro da Cidade indica “Estácio – Frei Caneca”.
Abraços e obrigado
Walter, você está certo, se fosse pegadinha já teria matado a charada. Vemos claramente o posto de gasolina que fica na esquina da rua Maia Lacerda. Mais a frente vemos a torre da igreja Divino Espírito Santo, no final da rua Estácio de Sá e início da Haddock Lobo, quase em frente a rua Joaquim Palhares. O lado direito da rua Estácio de Sá, realmente foi todo demolido a pouco mais de 10 anos.
Depois do comentário do Walter Gouveia a situação foi muito bem esclarecida. Realmente , o lugar é o largo do Estácio. Em 1970, quando o Brasil foi tricampeão mundial de futebol, eu tinha um grupo de fãs do meu conjunto de rock que morava nesse prédio ao lado do posto Esso depois da Rua Maia Lacerda!!
Excelente comentário seum Walter Gouveia!!!
Aliás é bom lembrar que aquela região é violentada pelo governo desde o século 19. Começando com a construção da linha férrea que desconectou o Santo Cristo da Cidade Nova, mais tarde a abertura da Presidente Vargas que fragmentou ainda mais a região, culminando com o Metrô e o Teleporto que arrasaram completamente o que restava. Talvez a única revitalização digna que a região sofreu foi a construção da Avenida do Mangue, que era bem aprazível até os anos 40.
Estou me sentindo em casa!
Depois que mudei para o Estácio, fiquei apaixonado pelo bairro!!
Realmente a foto tirada por meu padrinho apresentava uma referência manuscrita como sendo o Largo do Rio Comprido. Ignoro quem a colocou, mas tenho certeza absoluta que não foi Ferreira Júnior, que, além de profundo conhecedor da cidade, sempre fora morador do Estácio, em um casarão, bem no início da rua de São Carlos.
Eu não dispunha de conhecimento para fazer qualquer correção, tendo em vista, inclusive, a idade da foto.
Peço desculpas ao André, por havê-lo induzido ao equívoco, e, também aos leitores, mas tudo ficou muito bem resolvido.